Conciliar a paternidade com a vida profissional pode ser difícil em ambientes de trabalho que seguem o regime presencial. Por conta da jornada de trabalho, muitos pais encontram dificuldades em compartilhar momentos com seus filhos no decorrer da semana. Mas a oficialização do home office no Brasil abre uma nova perspectiva, ao menos para servidores públicos.

Recentemente uma instrução normativa do governo federal estabeleceu parâmetros para o teletrabalho, ou home office, no serviço público. A medida busca, entre outras questões, otimizar recursos da administração.

A iniciativa privada também tem usufruído dos benefícios do trabalho remoto, tanto que para algumas famílias essa modalidade está fortalecendo a conexão entre pais e filhos e contribuindo para realização de sonhos.

Esse é o caso de Marcelo Jandre, analista ETL da Gateware, pai de primeira viagem do bebê de cinco meses Fernando. A sua função na empresa especializada em meios de pagamento em que está alocado é, em resumo, o cuidado da qualidade de dados de informação sobre despesas.

A atividade é tão minuciosa e relevante que já trouxe mais de R$ 60 milhões em economia para a organização em que presta serviço. Pode-se dizer que essa dedicação aos dados e à família seja já uma marca registrada do profissional e pai, que comemora a possibilidade de trabalhar em home office.

“A possibilidade de fazer home office contribuiu para um sonho que estou realizando, de ser pai e com mais tempo de qualidade com meu filho. O bebê foi planejado e muito esperado, e agora acompanhar cada momento tem sido recompensador”, conta o profissional.

O tempo que Marcelo ficaria em deslocamentos no trânsito é otimizado para ficar perto de Fernando. Dessa forma, de manhã quando acorda, o pai é o responsável por dar o apoio inicial e cuidar do bebê, e, nos finais de tarde, ele assume novamente o comando das fraldas.

“É claro que nos intervalos do trabalho lembro que tem um nenê fofo em casa e aproveito para dar uma olhada nele rapidamente, tudo organizado de forma que não dê problema. Aliás, para a saúde ocupacional é fundamental que haja intervalos”, garante Marcelo.

Quando Fernando chegou, ganhou da empresa Gateware uma luminária especial que a criança adora. “Ele olha para a luzinha e fica calmo, foi uma lembrança muito atenciosa que ajuda no dia a dia do pequeno”, fala, destacando que foi agraciado com um filho, em geral, muito tranquilo e sereno.

O pai, Marcelo, e o filho, Fernando: primeiro Dia dos Pais (Foto: Arquivo Pessoal)

Exceção deveria ser a regra

A história de Fernando e seu pai nos lembra que no Brasil, esse caso é uma exceção diante de um cenário de alto índice de abandono paterno no país. Números recente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que cerca de 5,5 milhões de crianças brasileiras não têm o nome do pai em suas certidões de nascimento.

“Penso nessas questões e, por isso, faço de tudo para ser o mais presente possível para meu filho. Quero que ele me veja, sim, como herói, porque eu vou estar do lado dele nos momentos felizes e tristes, ensinando tudo que sei”, reflete.

Mas vale dizer que a paternidade não apresentou surpresas para Marcelo, que se preparou muito para esse momento – inclusive para as noites em claro. “Nos preparamos para a gravidez, então tudo que está acontecendo, eu e minha esposa, já imaginávamos. Ela é uma parceira de vida maravilhosa, com quem faço questão de dividir as tarefas”, afirma.

Diante dos desafios superados, Marcelo garante que o teletrabalho funciona e dá dicas para os pais que estão em home office: “Em um mundo multitarefas, é um desafio termos tudo organizado, por isso a disciplina é uma aliada para se conseguir concluir todas as atividades no tempo certo”, destaca.

Planejamento é outra palavra-chave para evitar que algo não esteja no escopo da sua administração, como enfatiza. É claro que, para Marcelo, o primeiro dia dos pais será muito especial, até mais que o seu aniversário, próximo da data. “Tenho a missão de educar uma vida e quero que ele seja um exemplo de ser humano, sempre próximo dos seus pais“, almeja.

Pais optam por empresas com horários flexíveis

Empresas que possuem uma cultura de trabalho voltada à performance dos colaboradores, permitindo horários flexíveis – inclusive o home office. Este foi um dos fatores que pesou para que Elton Santos Bonifácio Leite, pai do Bernardo (4 anos) e da Izabela (2 anos), aceitasse a proposta de trocar o antigo emprego por um cargo na startup mineira eNotas.

“A minha experiência era com empresas tradicionais que tinham o foco em horário acima da produtividade. Precisava bater ponto e, por conta disso, muitas vezes tinha que deixar meu filho com minha sogra”, comenta Elton, que atualmente está no cargo de gerente de Relacionamento com Cliente na empresa.

Mesmo antes de aderir o modelo remoto na eNotas, Elton conta que o RH da empresa sempre se atentou à importância do tempo que o pai passava com os filhos.

“O RH disse que se eu precisasse ficar mais tempo trabalhando, não haveria problema de levá-lo [Bernardo] para ficar jogando videogame na empresa”, conta o gerente. Em outra ocasião precisou acompanhar sua filha enquanto ela estava internada e foi compreendido pelo seu chefe. “Não me pediram nem o atestado nessa ocasião”, aponta.

Tais cuidados também são reforçados por Eduardo Camilo Silva Brescia, pai da Ana Clara (1 ano) e supervisor de Onboarding da eNotas. Ele conta que sempre teve liberdade para passar tempo com sua filha.

“Minha filha tem quase o tempo que tenho de empresa. Um ano e seis meses, e eu consegui acompanhar todas as consultas dela no pediatra”, relata Eduardo, que destaca os benefícios de poder trabalhar com a presença da filha. “Ela já apareceu durante reuniões e a equipe lidou com isso de forma tranquila”.

Situações como a citada por Eduardo são comuns no dia a dia da empresa. Diferente da percepção que algumas pessoas possuem sobre a presença dos filhos durante o trabalho, o supervisor de Onboarding acredita que não é algo problemático, seja para mães ou pais. “Vejo de forma bastante positiva estar em casa ao lado da minha filha. Em nenhum momento me senti constrangido”, conclui.

Para o CEO da eNotas, Christophe Trevisani, a cultura de trabalho da empresa é essencial para permitir com que os pais possam passar tempo com seus filhos.

“Muitos de nossos colaboradores possuem filhos e precisamos, como empresa, implementar métodos de trabalho para que o contato entre pai e filho seja preservado. Isso faz bem para o negócio e busca humanizar nossos processos”, comenta o executivo.

Pandemia mudou as relações familiares

A pandemia do coronavírus mudou a dinâmica das relações familiares e aproximou a vida pessoal da profissional. Nos últimos cinco meses foram muitas dificuldades, aprendizados e desafios.

Para a cofundadora da consultoria Maternidade nas Empresas, Luciana Cattony, a pandemia exigiu uma nova relação interfamiliar, principalmente através da equidade de gênero. Ela acredita que essa nova forma de se relacionar das famílias pode trazer benefícios para todos os seus integrantes, seja a mãe, o pai ou os filhos. E até para as empresas.

“A partir do momento que mães e pais compartilham as tarefas domésticas e os cuidados com o filho, todos ganham. Os filhos faltam menos à escola, tem menos tendência a síndromes como TDAH. As esposas ficam mais felizes, vão mais à academia, tomam menos remédios. Os homens bebem menos, se drogam menos, vão ao médico mais para consultas preventivas”, explica. “Existem dados de que as empresas que têm uma paridade de gênero no topo das organizações são propensas a uma lucratividade até 21% a mais”, acrescenta.

Com Assessorias

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