Julho é o mês dedicado à conscientização sobre as hepatites virais, infecções silenciosas que podem causar sérios danos ao fígado e evoluir para complicações graves, como cirrose, falência hepática e câncer, se não forem diagnosticadas a tempo. Causadas por diferentes tipos de vírus (A, B, C, D e E), essas doenças representam um sério problema de saúde pública em todo o mundo.
De acordo com o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil registra anualmente cerca de 45 mil novos casos de hepatites viraid; Entre os tipos mais comuns estão as hepatites A, B, C, D e E, sendo as três primeiras as que preocupam mais devido à sua prevalência e formas de transmissão.
Marilia Imthon, médica de família, explica a importância da conscientização sobre o combate às hepatites para a saúde pública, uma vez que a doença é uma inflamação do fígado causada por diferentes fatores.
O fígado é um órgão vital, responsável por uma verdadeira central de operações no nosso corpo. Ele filtra toxinas do sangue, armazena e distribui nutrientes e produz proteínas importantes – como as do sangue e as que ajudam a combater infecções –, além de ser essencial para a digestão de gorduras e o metabolismo de medicamentos e hormônios”, destaca a médica.
Ela lembra ainda que, embora o fígado seja o principal órgão afetado, complicações podem atingir outros órgãos, como os rins e o cérebro. Dra. Marília destaca que, sem diagnóstico e tratamento adequados, as hepatites B e C podem evoluir para quadros graves, como cirrose e câncer de fígado.
Hepatites A, B e C são as que mais preocupam
As hepatites B e C são as mais preocupantes por seu alto potencial de cronificação e evolução sem sintomas aparentes. A hepatite B é a de mais prevalência, com aproximadamente 1,5 milhão de brasileiros infectados, com 35 mil novos casos por ano.
Já a hepatite C atinge cerca de 1 milhão de pessoas, com 20 mil novos diagnósticos anuais. De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 700 mil brasileiros vivem com hepatite C, e cerca de 70% dessas pessoas nem sabem que estão infectadas.
Os grupos de maior risco incluem profissionais de saúde, usuários de drogas, população LGBTQIA+ e pessoas com múltiplos parceiros sexuais. A região Norte do País apresenta os maiores índices de infecção, seguida pelo Nordeste.
Não há faixa etária específica mais atingida, mas certos grupos são mais prevalentes, como usuários de drogas injetáveis, pessoas com múltiplos parceiros sexuais sem proteção e profissionais da Saúde que estão mais expostos aos tipos B, C e D. Essas hepatites são chamadas de “hepatites de transmissão parenteral”, pois o vírus entra no corpo através do contato com sangue contaminado ou outros fluidos corporais.
Já a hepatite A e E é transmitida por via fecal-oral, sendo transmitida pelo consumo de água e alimentos contaminados. Embora menos grave, a hepatite A apresenta 10 mil novos casos por ano, concentrados principalmente em regiões com saneamento precário.
A hepatite A, por exemplo, é transmitida principalmente pela água ou por alimentos contaminados, já a B e a C pela exposição ao sangue ou contato sexual”, esclarece.
Segundo ela, também é essencial que a população se informe sobre a vacinação para hepatite A e B, que é a forma mais eficaz de prevenção, com cobertura vacinal próxima a 80% em crianças e adolescentes.
Outras formas de hepatite
Além das hepatites causadas por vírus, existem outras formas de inflamação do fígado: a hepatite alcoólica, provocada pelo consumo excessivo e regular de álcool, que prejudica as células do fígado e pode levar à cirrose. Certos remédios, quando usados em excesso ou sem orientação médica, também podem causar inflamação no fígado.
Também existe a hepatite autoimune: imagine o corpo “se confundindo” e atacando as próprias células do fígado como se fossem invasores. É uma condição mais rara, influencia fatores genéticos e ambientais, e requer tratamento específico”, disse.
Esteatose hepática: a popular ‘gordura no fígado’
Outra forma é a Doença Hepática Gordurosa Metabólica (MASLD), antiga esteatose hepática, que é associada ao acúmulo de gordura no fígado e geralmente relacionada ao sobrepeso, obesidade, diabetes e colesterol alto. A MASLD é uma das causas mais comuns de doenças hepáticas atualmente.
Recentemente o cantor João Gomes (foto), de 22 anos, anunciou que parou de beber após ser diagnosticado com gordura no fígado, como é popularmente conhecida a esteatose hepática (MASLD). É estimado por especialistas que a doença atinja entre 25% e 30% da população mundial.
A esteatose hepática é uma condição caracterizada pelo acúmulo de gordura nas células do fígado, e o consumo excessivo de álcool é um dos principais fatores de risco. João Gomes relatou que as primeiras semanas sem álcool foram difíceis, com sintomas como alucinações e estresse. Ele enfatizou que a decisão de parar de beber foi por conta própria e visando melhorar sua saúde.
Como identificar as diferentes formas de hepatite?
Identificar a hepatite pode ser um desafio, já que os sintomas iniciais são geralmente leves ou inexistentes. Porém, sinais como cansaço, dor no lado direito do abdôme, urina escura e icterícia — aquele amarelado na pele e olhos — merecem atenção. “Ao notar esses sinais é fundamental procurar um médico para avaliação”, recomenda Dra. Marilia.
Segundo ela, prevenir é mesmo o melhor caminho e manter bons hábitos de higiene, usar preservativos, evitar o compartilhamento de objetos pessoais cortantes e exigir materiais descartáveis em procedimentos como tatuagens e piercings são atitudes fundamentais”, reforça a médica.
“Por isso, durante este mês reforçamos a importância da informação. Independentemente da causa, pois todas as hepatites têm potencial de comprometer gravemente a saúde do fígado. Prevenção, diagnóstico precoce e acompanhamento médico são fundamentais para evitar complicações graves”, conclui Dra. Marília Imthon, médica assistente da BSL Saúde, que administra os residenciais Cora, Vivace, Bem Viver, Cora Premium, a Assistcare Home Care, as Clínicas Sainte Marie e a Gaia Cuidadores
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Julho Amarelo acende o alerta sobre a importância da prevenção e diagnóstico precoce contra o avanço das hepatites virais
A campanha Julho Amarelo tem como principal objetivo alertar a população sobre os riscos das hepatites, incentivar a testagem e promover ações de prevenção, como a vacinação. Na maioria das vezes, ela não dá sinais imediatos.
Muitos pacientes só descobrem quando a função do fígado já está comprometida. Muitas pessoas vivem com o vírus por anos sem apresentar sintomas. Quando sinais como cansaço, pele amarelada (icterícia), urina escura e dor abdominal aparecem, o fígado já pode estar bastante comprometido”, alerta Raphael Gomes, médico gastroenterologista e professor do Centro Universitário UniRedentor, do grupo Afya Educação Médica.
O especialista também destaca que o diagnóstico precoce é decisivo para a recuperação. Para ele, a hepatite tem tratamento e, em muitos casos, pode ser curada, desde que o diagnóstico ocorra a tempo. Quanto mais cedo a doença for identificada, maiores são as chances de evitar danos graves ao fígado.
Quem deve fazer o teste?
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente testes rápidos para detecção das hepatites B e C em unidades básicas de saúde de todo o país. O exame é seguro, não exige agendamento prévio e pode ser fundamental para o diagnóstico precoce e o início do tratamento adequado.
De acordo com o professor Dr. Raphael, alguns grupos devem ficar especialmente atentos à testagem: pessoas que receberam transfusão de sangue antes de 1993, já compartilharam seringas, agulhas ou objetos cortantes, possuem tatuagens ou piercings, tiveram múltiplos parceiros sexuais ou relações sem preservativo, são gestantes (o exame deve ser incluído no pré-natal), vivem com HIV, atuam na área da saúde ou estão em situação de vulnerabilidade social, como a população privada de liberdade.
Mesmo indivíduos que não se enquadram nesses grupos devem considerar realizar o teste ao menos uma vez na vida, especialmente para hepatite C, de acordo com recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Prevenção é o melhor caminho
Além da testagem, a vacinação é uma das formas mais eficazes de prevenção contra as hepatites A e B, e ambas estão disponíveis gratuitamente nas unidades básicas de saúde. O uso de preservativos, o não compartilhamento de objetos cortantes, e o cuidado com higiene em procedimentos estéticos e odontológicos também são essenciais para evitar a infecção.
A mensagem do Julho Amarelo é clara: informar, prevenir, testar e tratar. Vivemos um momento em que o conhecimento está ao nosso alcance, e isso pode salvar vidas. Hepatite tem cura, tem tratamento, e o diagnóstico precoce faz toda a diferença. Não espere os sintomas aparecerem. Faça o teste e incentive outras pessoas a fazerem o mesmo”, finaliza o médico da Uniredentor Afya.
Tipos de hepatite e formas de prevenção
As hepatites virais são classificadas em cinco tipos principais: A, B, C, D e E, cada uma com formas de transmissão e prevenção distintas:
- Hepatite A: transmitida por água e alimentos contaminados, é comum em locais com saneamento básico precário. A prevenção inclui boa higiene, consumo de água tratada e vacinação.
- Hepatite B: é sexualmente transmissível e também pode ser adquirida por contato com sangue contaminado, seringas, instrumentos de manicure ou durante o parto. É prevenível por vacina, oferecida gratuitamente pelo SUS.
- Hepatite C: a principal via de transmissão é o sangue contaminado. Apesar de ainda não ter vacina, é altamente curável com medicamentos disponíveis no SUS. A prevenção envolve evitar o compartilhamento de objetos perfurocortantes e usar preservativos.
- Hepatite D: só afeta pessoas que já têm hepatite B. A vacinação contra o tipo B, portanto, previne automaticamente a hepatite D.
- Hepatite E: mais comum na Ásia e África, é transmitida por água contaminada, como a hepatite A. A prevenção está ligada à melhoria do saneamento e higiene alimentar.