A hanseníase é uma doença crônica e infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, também conhecida como bacilo de Hansen, que afeta principalmente a pele e os nervos periféricos ao longo do corpo. Ainda cercada de muito estigma e preconceito, essa enfermidade apresenta sinais iniciais que podem passar despercebidos ou ser confundidos com outras condições dermatológicas.
O principal sintoma é o surgimento de manchas na pele, que podem ser claras, avermelhadas ou escuras, e geralmente insensíveis ao toque. Muitos pacientes demoram a buscar ajuda porque acreditam que as manchas são apenas marcas de sol ou alergias. No entanto, esse é o principal alerta da hanseníase e deve ser investigado imediatamente”, explica Orlando Jorge da Conceição, infectologista do Hospital e Maternidade São Luiz Anália Franco, da Rede D’Or.
Os sintomas, que podem ocorrer em diferentes graus, incluem manchas com alteração de sensibilidade, sensação de formigamento ou dormência em mãos, pés e outras áreas do corpo; redução de pelos e do suor nas áreas afetadas; perda de força muscular; presença de caroços ou nódulos e dificuldade para movimentar pálpebras ou mãos e, em estágios mais avançados, deformidades físicas.
Sem tratamento, a hanseníase pode causar complicações graves, como paralisia, cegueira e lesões profundas, que podem necrosar. Essas alterações, frequentemente irreversíveis, resultam do comprometimento dos nervos periféricos pela infecção”, explica o médico.
Casos mais avançados, que já apresentam sequelas, podem necessitar de intervenções adicionais, como cirurgias para correção de deformidades, fisioterapia para recuperação de movimentos e acompanhamento psicológico.
Vivemos tempos de cura e tratamento adequado. A hanseníase precisa ser enfrentada sem preconceito. Portanto, se você ou alguém que conhece apresenta sinais suspeitos, procure um médico imediatamente. Diagnóstico precoce salva vidas e evita complicações”, conclui o infectologista o São Luiz Anália Franco.
Diagnóstico precoce facilita o tratamento
Após o período de incubação, a doença se manifesta em média, em dois a sete anos, sem distinção de idade ou gênero. Por isso, o diagnóstico precoce e tratamento rápido são fundamentais para evitar complicações e a transmissão.
Luana Vieira, médica especialista em dermatologia e Medicina do Estilo de Vida, também reforça a importância de detectar a doença o quanto antes. “O diagnóstico precoce é crucial para evitar complicações mais graves e impedir a transmissão. A doença tem cura, mas quanto mais cedo o tratamento começar, menores serão as chances de sequelas”, destaca.
O tratamento da hanseníase é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e consiste na poliquimioterapia, que combina medicamentos para eliminar a bactéria e interromper sua transmissão. “A doença tem cura. Hoje, temos um protocolo eficaz baseado em três antibóticos, todos disponibilizados gratuitamente pelo SUS”, afirma Conceição.
O tratamento dura de seis meses a um ano, dependendo da gravidade do caso. Durante esse período, o paciente deixa de transmitir a doença após as primeiras doses, o que torna o diagnóstico precoce ainda mais crucial.
A hanseníase é curável e, se diagnosticada precocemente, não causa deformidades. Quando iniciado nas fases iniciais da doença, o tratamento garante a cura e evita sequelas”, afirma a dermatologista da Rede Oto, Luíza Riotinto.
Dra. Luana também reforça a importância de os pacientes não abandonarem o tratamento. “A adesão ao tratamento é essencial para garantir a cura, e é importante lembrar que, após as primeiras doses, o paciente já não transmite mais a doença.”
Doença não pega por abraço ou compartilhamento de objetos
A hanseníase é transmitida por meio de gotículas de saliva ou secreções respiratórias de pacientes sem tratamento, eliminadas na fala, tosse e espirro, especialmente em casos de convívio próximo e frequente com doentes que ainda não iniciaram tratamento e estão em fases adiantadas da doença. Contudo, o contágio não ocorre em contatos casuais, como abraços ou compartilhamento de objetos.
A vacina BCG, amplamente administrada no Brasil, oferece proteção parcial contra a doença e é recomendada para familiares e pessoas que convivem intimamente com pacientes diagnosticados.
A profissional enfatiza a importância de buscar informações corretas sobre a hanseníase e de procurar atendimento médico ao perceber qualquer sinal da doença. “É fundamental que a população esteja atenta aos sintomas e procure um serviço de saúde para fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento o mais rápido possível”, conclui.
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A história e o estigma
Conhecida antigamente como lepra, a hanseníase é uma das doenças mais antigas da humanidade, com registros que remontam à Antiguidade. Por muitos séculos, os acometidos foram estigmatizados e isolados, o que reforçou o preconceito em torno da condição. Em 1873, o médico norueguês Gerhard Hansen descobriu a origem bacteriana da doença, dando início a uma nova era no tratamento e no combate à discriminação.
Apesar de avanços na medicina, o preconceito e a discriminação ainda são os maiores desafios no combate à hanseníase, que continua sendo um problema de saúde pública, acometendo principalmente populações mais vulneráveis. Estigmas e desinformação muitas vezes levam pacientes ao isolamento social. “Muitas pessoas com essa condição sofrem isolamento social e perdem seus empregos por causa do estigma”, ressalta a médica.
Por isso, campanhas como o Janeiro Roxo são essenciais para disseminar informação, combater o estigma associado à doença e incentivar o diagnóstico precoce. O Dia Mundial de Combate à Hanseníase (26 de janeiro) reforça a campanha, voltada para a conscientização e o enfrentamento dessa doença infecciosa e curável.
A iniciativa busca alertar a população sobre os sintomas da hanseníase, a importância do diagnóstico precoce e o combate ao estigma. Com ações de informação e busca ativa de casos, o objetivo é reduzir o impacto da doença na vida das pessoas e promover mais acesso ao tratamento.
Educar a população sobre a hanseníase é tão importante quanto tratar a doença. Preconceitos históricos ainda dificultam que muitas pessoas procurem ajuda médica. Precisamos normalizar a busca por diagnóstico e reforçar que é uma condição tratável e curável”, reforça a médica.
Número de casos no Brasil preocupa
Apesar de ser uma das doenças mais antigas da humanidade, a hanseníase ainda é um desafio global de saúde pública, com mais de 200 mil novos casos registrados anualmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O Brasil ocupa a segunda posição global em novos casos.
De acordo com o Boletim Epidemiológico de Hanseníase divulgado ano passado, foram registrados em todo o mundo 174.087 casos novos da doença, o que corresponde a uma taxa de detecção superior a 20 casos a cada 1 milhão de habitantes. O Brasil permanece em segundo lugar no ranking de novos casos
Com Assessorias