“Quando sei que tem uma pessoa com fome, eu não durmo direito”, afirma Morgana Alves, a primeira mulher trans quilombola no país e diretora do Quilombo Santa Luzia, fundado há 35 anos em Porto Alegre. São 420 famílias sem acesso a saneamento básico e outros direitos garantidos pela Constituição. Infelizmente, realidade de milhões de brasileiros. Um levantamento realizado pela Rede PENSSAN, no ano passado, aponta que, devido à desigualdade salarial, 6 de cada 10 lares comandados por mulheres ou por pessoas negras de ambos os gêneros, convivem com a insegurança alimentar.

“As pessoas que vivem nessa comunidade estão em insegurança alimentar grave. Elas têm que batalhar cada refeição delas. Trazer esse alimento pra elas é dar cidadania, pois quando a comida já foi negada é porque os outros direitos todos já se foram”, diz Melissa Bargmann, coordenadora estadual da Ação da Cidadania, que vem desenvolvendo um trabalho de longo prazo junto à comunidade quilombola, especialmente nessa região, onde será instalada, ainda este ano, uma cozinha comunitária.

Em fevereiro, 500 refeições oferecidas a quilombolas em situação de extrema pobreza de Porto Alegre pela Supergasbras, empresa do grupo SHV Energy, em parceria com a Ação da Cidadania.

“Não temos muita ajuda aqui. Por isso, o sentimento é de esperança e de muita gratidão por conseguirmos proporcionar um tipo de ação como essa”, disse Morgana. Em seu trabalho, além de administrar o quilombo, ela também acolhe pessoas em situação de rua e promove projetos na comunidade do Jardim Cascata.

Protagonismo da mulher na alimentação das famílias

No mês da mulher, o Instituto Fome Zero, uma organização apartidária criada para apoiar as políticas de combate à fome, reforça a importância e o protagonismo da mulher brasileira quando o assunto é alimentação. As mulheres, na maioria das vezes as responsáveis pela compra e preparo dos alimentos, podem transformar a situação nutricional de suas comunidades por meio de suas contribuições à segurança alimentar da sociedade.

Para Ana Cláudia, diretora de Articulação Social do Instituto Fome Zero, o lar das famílias brasileiras é comandado por uma mulher. Nada mais justo colocá-la como a principal envolvida, quando for se pensar na elaboração de políticas públicas.

Ana Cláudia Santos, diretora de Articulação Social do Instituto Fome Zero (Foto: Divulgação)

“A mulher está em uma posição muito vulnerável, pois deixa de comer para alimentar os filhos e a família. É lamentável que como chefe de família, ela seja a mais prejudicada. A hora de pensar em políticas públicas alimentares voltadas para as mulheres é agora, afinal a fome não espera”, acrescenta Ana Claudia Santos, destacando a desigualdade de gênero e fome no cenário brasileiro. Hoje, assim como no início do trabalho do Fome Zero, a mulher é o centro dos programas do Instituto.

 

Projeto incentiva descarte correto de óleo de cozinha usado

A ação realizada em fevereiro no Quilombo Santa Luzia faz parte da conclusão primeira fase de um piloto do projeto Super Recolhe, que está sendo realizada em Porto Alegre, com a ajuda da Ação da Cidadania para mapear as localidades que necessitam de apoio e terá continuidade ao longo do ano.

A iniciativa da Supergasbras visa incentivar o descarte correto do óleo de cozinha usado e revertê-lo em biocombustível. O recolhimento acontece tanto na unidade da companhia em Canoas como também em alguns restaurantes parceiros que estão participando da ação.

O projeto tem um viés educativo e socioambiental, pois além da conscientização e do impacto positivo ao meio ambiente, atua na questão da reciclagem e seus benefícios e reverte 100% da arrecadação obtida com o volume recebido, em ações sociais para a população. Este ano, a empresa pretende expandir a coleta para outros clientes, aumentando a capilaridade e o resultado da coleta.

“A ideia é trazermos para a pauta a questão do descarte correto de resíduos e seus benefícios para a saúde, o meio ambiente e a economia por meio do conhecimento e da informação. E esse projeto proporciona mais que isso.  Hoje, num momento grave de fome no Brasil, vários de nossos funcionários estão aqui voluntariamente no quilombo, trazendo esperança e minimizando a fome dessas pessoas”, explica Lucinda Miranda, a coordenadora de Responsabilidade Socioambiental da Supergasbras.

O líder do projeto e analista de Sustentabilidade, Gabriel Romero, ratifica todas essas afirmativas e a importância do engajamento de todos. “Estamos tendo a oportunidade de evitar o descarte de uma substância nociva ao meio ambiente e contribuir para transformá-la em energia renovável. Além disso, você faz a diferença por meio da ação social na sua própria comunidade. Muito orgulho em fechar a primeira fase desta forma”.

Mais sobre o Instituto Fome Zero

O Instituto Fome Zero foi criado em 2020, pelo agrônomo, professor, e escritor José Francisco Graziano da Silva e por um grupo de estudiosos e pesquisadores, com o objetivo de continuar lutando para que os objetivos do Fome Zero e suas conquistas fossem preservados. A entidade tem a missão de preservar a história do combate e luta contra a fome no país, além de trabalhar no desenvolvimento de políticas públicas que possam erradicar a fome.

A organização apartidária atua com a perspectiva de apoiar as políticas de combate à fome, todas as formas de má nutrição e torná-la a mais alta entre as prioridades do Brasil e da comunidade internacional. O objetivo é promover o direito à alimentação adequada e seu arcabouço jurídico, apoiar a formulação de políticas de combate à fome e à má nutrição, envolvendo as três esferas federativas, além do desenvolvimento local — a conexão entre agricultura familiar, novas tecnologias e produção sustentável e a cooperação sul-sul e compartilhamento de experiências no mundo pós-covid-19.

Com Assessorias

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