A fimose é muito conhecida – e comentada – por ser uma condição genética que afeta diretamente o sexo masculino, em que a pele que cobre a ponta do pênis é estreita, dificultando ou impossibilitando a exposição da glande. O que muitas pessoas não sabem é que existe uma condição parecida, também com o sexo feminino.
Com o nome de sinéquia vaginal ou vulvar, a chamada fimose feminina é uma condição rara, que atinge cerca de 0,6% a 5% das meninas entre os 3 meses e os 10 anos de idade, e se torna mais comum entre bebês de 1 a 2 anos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a condição é comum entre meninas de três meses a seis anos, podendo ser uma obstrução parcial ou total.
A taxa de recorrência da fimose feminina é de cerca de 30%, tanto em casos tratados com estrogênio tópico, quanto corticoide ou debridamento cirúrgico, conforme dados da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
A sinéquia ocorre quando há aderência entre os pequenos lábios, obstruindo a abertura vaginal. Isso faz com que o revestimento dos tecidos da vulva da criança seja mais suscetível a processos inflamatórios crônicos. Dessa forma, o epitélio das mucosas dos lábios internos podem ser lesionados e cicatrizados de forma inadequada, com a formação de membranas fibrosas ou sinéquias.
A sinéquia vaginal acontece quando há uma cicatrização inadequada dos tecidos. Os pequenos lábios da vagina se juntam, fechando um pouco ou completamente o canal vaginal”, explica a pediatra Patrícia Terrível.
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Má higienização e longo período entre troca de fraldas
Além da baixa taxa de estrogênio, hormônio sexual feminino, a má higienização, o longo período entre trocas de fraldas e a umidade perineal também são apontados pela Faculdade de Medicina da UFMG como fatores que propiciam o desenvolvimento da condição.
Por isso, é muito importante que os pais e responsáveis adotem cuidados com a higiene local das meninas e troquem as fraldas sempre que necessário, evitando inflamações por atrito ou acúmulo de urina. Além disso, é preciso ter atenção a possíveis alergias aos produtos utilizados para a limpeza e tratar precocemente possíveis inflamações.
“As principais causas são má higiene na vagina, a baixa taxa de estrogênio, dermatites causadas pela fralda ou calcinhas, e umidade perineal. A sinéquia vaginal geralmente não apresenta sintomas, porém podem acontecer coceira, ardor, assaduras e corrimento vaginal”, explica Dra. Patrícia.
O Ministério da Saúde indica que o diagnóstico médico é realizado por um pediatra ou ginecologista infantil, a partir da observação da vulva. Não são necessários exames complementares ou de imagem. A causa do problema pode estar relacionada aos baixos níveis hormonais, naturais na infância.
Quando buscar tratamento
O tratamento para a fimose feminina depende da gravidade do caso. De acordo com a SPSP, pode não ser necessário em pacientes assintomáticos, pois em 80% dos casos, as sinéquias vulvares se resolvem espontaneamente, com o aumento dos níveis hormonais da adolescência.
Para os casos sintomáticos, quando são observados coceira, ardor ou corrimento vaginal, o tratamento mais indicado pelo Ministério da Saúde é a aplicação de pomada com estrogênio, que deve ser feita de forma criteriosa e sob supervisão de especialistas da Pediatria.
A SBP informa que os cremes à base de estrogênio de baixa absorção devem ser usados por 10 dias, podendo ser entendido, no máximo, por 30 dias. Quando o tratamento é realizado por mais tempo, corre o risco de desencadeamento da puberdade periférica, quando as glândulas responsáveis pelos hormônios sexuais começam a trabalhar por conta própria antes do esperado.
Cirurgia pode ser necessária?
Segundo a SBP, a separação dos lábios vaginais, após o uso do creme de estrogênio, também pode ser realizada em ambulatório, com anestesia do local, utilizando o creme de xilocaína a 5%.
Um pequeno número de casos resistente ao tratamento clínico ou com aderências muito espessas podem necessitar de tratamento cirúrgico. O profissional de saúde é o responsável pelo entendimento da gravidade da condição e por determinar a abordagem adequada. Entretanto, a cirurgia em crianças com sinéquia vulvar é raramente indicada.
Fimose feminina pode ser prevenida
De acordo com as informações da Ebserh, manter a higiene local, evitar o uso de roupas apertadas e utilizar roupas íntimas de algodão são formas de prevenir o problema. No caso das meninas que já passaram pelo tratamento da sinéquia vulvar, umedecer a região com óleo infantil ou cremes a base de vitamina A e D, por pelo menos 30 dias após a separação dos pequenos lábios, também é uma indicação do Ministério da Saúde para prevenir que a condição apareça novamente.
É fundamental ter uma boa higiene íntima, evitando permanecer com a fralda molhada por muito tempo, realizando a higienização da forma correta de frente para trás, dar preferência para roupas de algodão. Esses são cuidados que naturalmente deveríamos ter, mas que vale redobrar atenção principalmente em dias mais quentes e após uso de piscina”, explica Dra. Patrícia.
Por que grande parte dos meninos nasce com fimose?
A família sempre deve estar atenta à saúde das crianças e, no caso de pessoas do sexo masculino, algo que sempre deixa dúvidas é a fimose. A maioria (97%) de nascidos, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) nasce com a fimose devido ao desenvolvimento natural do prepúcio (pele que cobre o pênis).
A fimose costuma desaparecer naturalmente à medida que a criança cresce. Normalmente, a exposição completa da glande ocorre entre os 3 e 5 anos de idade, mas há casos nos quais há necessidade de cirurgia.
O procedimento para a retirada pode ser necessário quando há problemas de saúde, como infecções recorrentes do trato urinário, dificuldade para urinar ou no caso dos adultos, dor durante a ereção”, explica o médico pediatra e professor do curso de Medicina do Centro Universitário de João Pessoa (Unipe), Bruno Leandro.
Segundo ele, a cirurgia na infância pode ser recomendada em situações em que a abertura do prepúcio é muito estreita e não se resolve naturalmente ao longo do tempo. “Se tratando das crianças, o médico especialista avaliará a necessidade com base nos sintomas e no grau da fimose”, completa o pediatra.
A cirurgia para corrigir a fimose na infância é geralmente realizada sob anestesia geral ou local. O procedimento envolve a remoção cirúrgica do excesso de pele prepucial ou uma incisão para alargar a abertura do prepúcio, dependendo do caso.
Puxar a pele durante o banho é uma boa ideia?
Leandro informa que esse ato não deve ser realizado. “Não é recomendado puxar a pele durante o banho da criança, pois isso pode causar dor, irritação e até lesões. A higiene adequada deve consistir em limpar delicadamente a região externa do pênis com água e sabão neutro”, sugere.
Para quem passa pela cirurgia, o especialista ressalta o dever de garantir que a criança mantenha a área limpa e seca, evitando atividades intensas por um período determinado, além de administrar corretamente os medicamentos prescritos.
É importante lembrar que cada caso é único, e é fundamental consultar um médico especialista para obter um diagnóstico preciso e obter as orientações adequadas sobre a fimose e seus tratamentos”, finaliza o pediatra.
Com Assessorias