‘O balão vai subindo. Vem caindo a garoa. O céu é tão lindo. E a noite é tão boa! São João! São João! Acende a fogueira, no meu coração’. Todo mundo que já foi criança um dia sabe. E muitos viram crianças de novo quando chega junho. Festa junina exerce um fascínio no imaginário popular. Mas é bom ter cuidado: o número de acidentes com fogos de artifício, rojões e bombas triplica nesta fase.
E é justamente as crianças as principais vítimas de acidentes com os artefatos barulhentos que ajudam a animar os festejos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot). De acordo como Núcleo de Trauma do Hospital Samaritano de São Paulo, no período de festas juninas e julinas aumenta em 25% o volume de acidentados que chegam ao pronto-socorro.
“Desses, 70 % são crianças e que, na maioria das vezes, vão ficar com sequelas para o resto da vida”, explica o coordenador Diogo Garcia. Segundo ele, entre os traumas mais comuns estão: amputação de membros, comprometimento da visão e perda parcial dos movimentos (lesão nos tendões).
As principais sequelas são cicatrizes, manchas permanentes e até mesmo amputações de membros. No caso das queimaduras mais graves, geralmente causadas pelos fogos de artifícios nestas festas, o ferimento pode ser tão profundo que atinja o músculo, necessitando de enxerto.
Na pele, os fogos de artifícios produzem dois tipos de danos. O primeiro dano é o térmico, expresso pela queimadura, como um resultado da explosão, do calor”, explica Flávio Luz, presidente da Sociedade de Dermatologia do Rio de Janeiro. O segundo dano é a própria implantação acidental dos fogos ou de fuligem dos fogos na pele.
Danos também aos ouvidos
Os artefatos também são um perigo para os ouvidos e podem causar danos irreversíveis à audição. Além dos riscos com a manipulação incorreta dos fogos, o som muito forte produzido por alguns deles pode acarretar uma perda auditiva severa, um trauma acústico com perda de audição uni ou bilateral, temporária ou – nos casos mais graves – irreversível.
“O grande problema é a intensidade do barulho dos fogos, em especial do rojão”, afirma a fonoaudióloga Isabela Carvalho, da Telex Soluções Auditivas. Segundo ela, a perda auditiva acontece porque o estrondo dos fogos, principalmente dos rojões, é inesperado. O forte ruído, que pode chegar a uma intensidade de 140 decibéis, percorre todo o ouvido de forma rápida, atingindo as células da cóclea.
“Para se ter uma ideia do quão forte é esse barulho, um avião durante a decolagem produz um som de 130dB”, compara a especialista em audiologia.
As células do ouvido envelhecem, morrem e não há reposição. Mas, pior do que isso, é a perda de audição que vem ocorrendo, cada vez mais cedo, por causa da exposição contínua a sons elevados, como o dos rojões, por exemplo.
Estima-se que 10% da população mundial têm algum grau de perda auditiva. Geralmente a perda de audição é unilateral (em um único ouvido) e se inicia com o aparecimento imediato de zumbido, problema que afeta cerca de 28 milhões de pessoas em todo o mundo.
ViDA & Ação selecionou algumas dicas destes especialistas para aproveitar as festas com segurança. Pais e responsáveis devem ficar bastante atentos para evitar acidentes com crianças, principalmente queimaduras. Confira também cinco dicas preparadas pela Oscip Criança Segura, dedicada à prevenção de acidentes com crianças e adolescentes de até 14 anos.
5 cuidados para evitar acidentes com crianças
1o dicas para curtir as festas com segurança
– Jamais deixem crianças e demais pessoas com limitação física e de reflexo próximos a quem está manuseando os artefatos. É questão de segundos para que o acidente aconteça e as consequências podem ser graves.
– A orientação é levar imediatamente a pessoa para o Pronto-Socorro. “Não faça e nem coloque nada no local lesionado. Pasta de dente, borra de café, açúcar, tomate e outras receitas são mitos e pioram o quadro. No máximo deve-se lavar a região com água corrente e procurar atendimento especializado o mais rápido possível
– Em caso de exposição a um impacto sonoro muito forte, o mais indicado é procurar um médico otorrinolaringologista, para avaliar se o dano auditivo causado pelos fogos é temporário ou irreversível
– Para evitar que o ouvido seja afetado, o ideal é manter-se distante do local da queima de fogos. Se for inevitável ficar próximo aos fogos, é aconselhável o uso de protetores de ouvido.
– Se a pessoa estiver nestas áreas, é importante que se afaste o máximo possível ou use protetores de ouvido, conhecidos como atenuadores. Eles reduzem o volume excessivo, mas quem usa não deixa de ouvir o som ambiente
– Na hora de se lançar os fogos de artifícios, use proteção nas mãos e que mantenha o rosto sempre virado para o outro lado e protegido. É importante direcionar os fogos sempre pra cima e para um lugar longe de aglomeração
– Em caso de acidentes, é preciso tratar as queimaduras de maneira correta. Procedimentos caseiros populares como passar açúcar, gelo, ovo, manteiga ou pasta de dente no local afetado oferece riscos de agravamento da lesão e/ou de contaminação do ferimento
– O correto é que se lave a queimadura com água corrente e que em seguida se passe um creme cicatrizante especifico ou vaselina
– No trato da lesão, o próprio curativo cumpre essa função de proteção solar. Outras proteções físicas como o uso de roupa que cubra a lesão também é eficaz. Os usos de pasta d’água ou de protetores de dióxido de titânio são ótimas alternativas.