As notícias sobre um novo surto de febre amarela têm levado muita gente a correr para os postos de vacinação. Para atender a tantos casos, o Ministério da Saúde decidiu antecipar para 25 de janeiro o ínicio da campanha de doses fracionadas da vacina no Rio de Janeiro e São Paulo. Quem ainda não se vacinou, desconfia. Será mesmo que a dose fracionada faz o mesmo efeito? Será que a vacina é mais fraca e não estarei imunizado? De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), quem já tomou a vacina contra a febre amarela pelo menos uma vez na vida não precisa de uma nova dose. Já a vacina fracionada tem a mesma eficácia, porém, a duração da proteção será menor e as pessoas deverão ser revacinadas após oito anos – e não a vida toda, como na dose plena.
“Estudos realizados por Bio-Manguinhos/Fiocruz apontam a presença de anticorpos contra febre amarela, após oito anos, semelhante ao observado com a dose padrão neste mesmo período”, afirma o Ministério da Saúde. De acordo com a pasta, a dose fracionada é a utilização de um quinto de uma dose padrão (0,5 mL) da vacina febre amarela (VFA), ou seja, 0,1mL. No entanto, assegura, a proteção e segurança da dose fracionada é a mesma do que a dose padrão. Até 2014, a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) era de que a dose fosse reforçada de dez em dez anos. Em julho de 2016, a OMS revisou evidências existentes que demonstraram que o uso de dose fracionada da vacina febre amarela proporciona proteção contra a doença similar à observada com o uso da dose padrão. E recomenda a utilização da dose fracionada em situações de surtos, quando existe o risco de expansão da doença em cidades com elevado contingente populacional e que exigem intensificação das estratégias de vacinação em curto período de tempo.
(Veja perguntas e respostas sobre a febre amarela, com ênfase nas doses fracionadas)
No Rio, 7,7 milhões de pessoas deverão receber a dose fracionada e 2,4 milhões a padrão, em 15 municípios: Belford Roxo, Duque de Caxias, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Queimados, Rio de Janeiro, São Gonçalo, São João de Meriti e Seropédica. Em São Paulo, 54 municípios participarão da campanha, com previsão de vacinar 8,3 milhões de pessoas, sendo 6,3 milhões com a dose fracionada e 2 milhões com a padrão. Já no Rio de Janeiro, Na Bahia, o período fica mantido entre 19 de fevereiro e 9 de março e 2,5 milhões de pessoas serão vacinadas com a dose fracionada e 813 mil com a dose padrão em oito municípios.
Conheça as reações adversas à vacina da febre amarela
Especialista responde dúvidas sobre a febre amarela
Há muitas outras dúvidas relacionadas à vacina da febre amarela, principalmente entre as pessoas que sofrem de alergias, que estão passando por algum tratamento – como quimioterapia – ou sofrem de doenças autoimunes. Andrey Soares, oncologista do Centro Paulista de Oncologia (CPO) – Grupo Oncoclínicas, diz que o paciente oncológico que está recebendo quimioterapia, por estar com a imunidade fragilizada e com uma capacidade menor de produzir anticorpos, ao receber o vírus da febre amarela vivo atenuado, corre mais riscos de apresentar efeitos colaterais. Ana Karolina Marinho responde abaixo às principais dúvidas que tem recebido no consultório.
1 – Pessoas com mais de 60 anos podem se vacinar contra a febre amarela?
Sim. Pessoas com mais de 60 anos podem receber a vacina da febre amarela, desde que não estejam fazendo uso de medicamentos imunossupressores ou sejam portadoras de doenças crônicas descompensadas. Sugerimos sempre uma avaliação médica prévia, mas a prescrição para a vacina não é necessária.
2 – Quem está passando pelo tratamento quimioterápico pode receber a vacina?
Não. Pessoas com neoplasias em uso de quimioterapia ou radioterapia não devem receber a vacina de febre amarela. Por ser de vírus vivo atenuado, a vacina pode causar eventos adversos graves em indivíduos imunocomprometidos.
3 – Quais as outras doenças que impedem a vacinação contra a febre amarela?
· Imunodeficiências primárias ou congênitas
· Doenças prévias do timo
· Pessoas com HIV com contagem das células T CD4 < 350
· Doenças autoimunes em uso de imunossupressores
· Transplantados
· Alergia grave ao ovo
4 – Toda criança pode ser vacinada?
Crianças acima de 9 meses de idade, que residam ou que vão se deslocar para as áreas de risco, devem ser vacinadas.
5- Quem é alérgico ao ovo pode receber a vacina?
Devemos considerar duas situações: pacientes alérgicos ao ovo, com quadros leves ou moderados, podem ser vacinados e orienta-se a observação por 30 minutos até uma hora após a aplicação da vacina.
Pessoas com história de alergia grave ao ovo, como por exemplo anafilaxia, não devem receber a vacina. Se o risco de infecção pela febre amarela for muito levado, orienta-se uma avaliação do médico alergista para considerar a possibilidade de dessensibilização com a vacina.
6 – Quem já teve alergia ao ovo pode receber a vacina?
Pessoas que tiveram alergia ao ovo e se tornaram tolerantes (comem ovos e alimentos com ovo sem reações atualmente) podem receber a vacina da febre amarela.
7 – E quem tem alergia ao leite?
Não há proteínas do leite de vaca ou traços nas vacinas atualmente disponíveis no Brasil, portanto, os alérgicos à proteína do leite de vaca podem receber a vacina da febre amarela.
8 – A vacina da febre amarela pode dar reação alérgica cruzada com algum outro alimento, principalmente aqueles que desencadeiam alergias mais frequentes, como o trigo, por exemplo?
Não. Entretanto, além da proteína do ovo, a vacina de febre amarela pode conter conservantes e outros excipientes como canamicina, eritromicina e gelatina bovina, que têm um potencial alergênico em indivíduos sensíveis ou com história de reações prévias a vacina.
9 – Por que está sendo feito o fracionamento da dose da vacina?
O fracionamento das doses da vacina de febre amarela é uma estratégia de emergência adotada pelo Ministério da Saúde para que um maior número de pessoas sejam vacinadas, com o objetivo de impedir a propagação da doença em alguns Estados.
10 – A vacina fracionada é menos eficaz?
A vacina fracionada tem a mesma eficácia, porém a duração da proteção será menor e as pessoas deverão ser revacinadas após 8 anos.
Pacientes de câncer em tratamento não devem tomar a vacina
A vacina contra a febre amarela é segura, no entanto, há restrições em casos de gestantes, idosos, crianças com menos de nove meses e pessoas que apresentem imunodeficiência. No caso específico de pacientes com câncer, a recomendação é que a vacina não seja tomada durante o período de tratamento. “Nesses casos, a vacinação só pode ocorrer três meses após a finalização do tratamento quimioterápico”, comenta Andrey Soares, oncologista do Centro Paulista de Oncologia (CPO) – Grupo Oncoclínicas.
Já em casos de pessoas que estão recebendo a imunoterapia e radioterapia, é recomendado aguardar a conclusão do tratamento para receberem a imunização. “Vale ressaltar que não há motivo para pânico. Cada situação é avaliada de acordo com a saúde do paciente e a região onde reside, é possível indicar outros mecanismos de proteção contra a doença. A transmissão da febre amarela se dá por meio da picada do mosquito contaminado. Por isso, pacientes em tratamento de câncer, assim como outros de grupos que não tenham recomendação de imunização, devem utilizar roupas adequadas que cubram maior parte da pele, repelente e considerar o uso de mosquiteiros na janela e/ou sobre a cama”, finaliza especialista.
Verdades e mentiras sobre a vacinação da febre amarela
Fonte: Ministério da Saúde, Asbai e CPO, com Redação