“Não sabemos se esse vírus vai se transformar em uma doença sazonal, como a gripe. É um gigantesco quebra-cabeça. Estamos esperando a peça que encaixe e nos tranquilize. Enquanto isso, devemos manter os cuidados e as medidas de prevenção”. A declaração é do médico sanitarista e ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão ao Portal ViDA & Ação nesta quarta-feira (5/8), Dia Nacional da Saúde.
Ex-ministro da Saúde no segundo governo de Lula (2007-2011), Temporão esteve à frente da pasta no período em que o Brasil sofreu com a epidemia de H1N1, em 2009. Na décima live do projeto #PapodePandemia, ele conversou com a jornalista Rosayne Macedo, editora do Portal ViDA & Ação sobre as políticas públicas de enfrentamento à pandemia da Covid-19, que se aproxima das 100 mil mortes no país. A live está disponível no Facebook VIDA & Ação e também no canal do Youtube.
Confira algumas declarações do ex-ministro durante a live:
H1N1 X COVID-19
O coronavírus se diferencia da H1N1. Ele atinge vários órgãos como fígado, pulmão, coração, sistema nervoso central.
A Covid-19 tem uma taxa de letalidade alta.
Nós estamos vivendo um momento radicalmente diferente do que vivemos em 2009.
GESTÃO DA CRISE
A situação é tão dramática que ninguém confia nos dados oficiais. Há falta de diretrizes governamentais.
A postura negacionista de Bolsonaro gera confusão.
Todos os países que fizeram o isolamento social, onde a população ficou em casa por dois meses e meio, voltaram em uma situação melhor do que a nossa.
TESTAGEM NO BRASIL
O Brasil continua testando muito pouco. É um dos países que menos testa.
Hoje temos baixa capacidade de colher o material, faltam insumos e a capacidade de analisar os exames ainda é muito limitada.
Nós perdemos a dimensão de saber como essa situação está evoluindo, infelizmente.
ISOLAMENTO X FLEXIBILIZAÇÃO
Em muitos lugares do mundo, a reabertura foi mal planejada, como aqui no Rio.
Em bares do Leblon, por exemplo, vimos as aglomerações e outras atitudes do carioca.
VACINA E MEDICAÇÃO
Temos duas vacinas sendo testadas no Brasil. Por que aqui, exatamente? Isso caiu de paraqueda? Claro que não. É resultado de décadas de investimento em sistema de imunização.
Não existe nenhum estudo que comprove que exista alguma droga com impacto eficiente contra o vírus.
SOBRE O SUS
Todo sistema de saúde, em qualquer lugar do mundo, precisa de melhorias na gestão. O SUS também. O Brasil investe pouco. O sistema está gravemente subfinanciado.
O SUS vem mantendo a sua resiliência. Sem ele, a situação estaria mais difícil. Mas infelizmente está sucateado.
Quero deixar aqui duas dimensões importantes que devemos nos ater: o SUS universal para todos de verdade e a ciência brasileira, que precisa ser prestigiada.
Cada cidadão tem de ter a consciência de defender o SUS, especialmente para as próximas gerações.
HOSPITAIS DE CAMPANHA
Em relação aos hospitais de campanha, o Rio tem uma particularidade, além do desvio de recursos, a rede federal de saúde ficou de fora desse planejamento de atendimento, lamentavelmente.
Ex-ministro previa colapso na saúde pública
Em entrevista publicada em nosso portal em abril, Temporão previa um colapso na rede pública de saúde brasileira por conta da Covid-19, o que acabou acontecendo, especialmente em abril e maio, quando a doença acelerou em várias capitais, que não tinham infraestrutura hospitalar para atender tantos doentes.
Temos o pior dos cenários: crise econômica, crise política e crise sanitária. As condições políticas que o Brasil vive estão comprometendo drasticamente a capacidade de o país responder com qualidade a esse desafio de saúde pública”, disse na ocasião, atribuindo ao presidente Jair Bolsonaro a responsabilidade pelo caos.
Na entrevista publicada no ViDA & Ação, Temporão também traçou um paralelo entre a pandemia da Covid-19 e a epidemia de H1N1, que assustou o mundo em 2009, e falou do bem-sucedido modelo português para enfrentamento da pandemia. Também falou de sua preocupação com a nomeação de militares para funções estratégicas no combate à pandemia.
Hoje, a realidade brasileira mostra a pandemia avançando pelo interior em diversas cidades e estados brasileiros. O número de mortes vem se mantendo na casa dos 1.200 por dia (foram mais de 94.700 mortes por Covid-19 até esta segunda-feira 3). Enquanto isso, a flexibilização do isolamento social representa um risco de segunda onda em muitas regiões, principalmente no Rio de Janeiro.
Queremos saber como o dr. Temporão analisa a situação hoje, principalmente neste momento em que o discurso do isolamento social vai perdendo força, enquanto o coronavírus parece não dar trégua. Com a sua experiência, queremos saber o que podemos esperar nos próximos meses, no nosso “novo normal”, enquanto vemos a corrida para a entrega da vacina avançar”, disse Rosayne Macedo.
Projeto surgiu em junho, no quarto aniversário do ViDA & Ação
O #PapodePandemia é um projeto criado em junho de 2020, por ocasião do quarto aniversário do Portal ViDA & Ação, voltado para os temas de saúde, bem-estar, qualidade de vida e sustentabilidade. A proposta é promover uma conversa virtual sobre temas importantes da atualidade, com especialistas de diferentes áreas, de uma maneira mais simples, leve e descontraída, contando com a participação do público por meio de mensagens em tempo real, durante o período de enfrentamento da pandemia mundial do novo coronavírus.
Além de especialistas em diferentes áreas, o projeto traz histórias incríveis pessoas comuns que contam suas experiências de SuperAção em diferentes contextos. Apresentadas pela jornalista Rosayne Macedo, editora do Portal ViDA & Ação, as lives são promovidas pela plataforma StreamYard, sendo transmitidas ao vivo pelo Facebook. Os encontros virtuais ficam disponíveis na íntegra também no canal do site no Youtube, com uma edição especial no IGTV do perfil @vidaeacao, além de contar com ampla divulgação nas redes sociais e em grupos especializados nos temas afins no Facebook e Whatsapp, com apoio do grupo JornalistasRJ. A partir desta semana, o projeto do Portal ViDA & Ação ganha duas lives semanais: às quartas e sábados.
Sobre o convidado
José Gomes Temporão é médico sanitarista e político luso-brasileiro. Foi ministro da Saúde durante o segundo mandato do governo Lula, de 2007 a 1 de janeiro de 2011. Atualmente é diretor executivo do Instituto Sul-americano de Governo em Saúde e membro da Academia Nacional de Medicina.
Temporão se formou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1977. Especializou-se em Doenças Tropicais na mesma Universidade. Fez mestrado em Saúde Pública na Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz e doutorado em Medicina Social no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Foi secretário de Planejamento do Inamps, presidente do Instituto Nacional do Câncer (Inca), presidente do Instituto Vital Brazil (IVB), sub-secretário Estadual de Saúde do Rio de Janeiro e sub-secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
Sobre a apresentadora
Empreendedora, consultora e palestrante, a jornalista Rosayne Macedo fundou e dirige desde 2010 a TAO Inteligência em Comunicação, especializada em produção de conteúdo, projetos digitais e eventos. É pós-graduada em Comunicação Empresarial e com MBA em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial (MBKM/Crie/Coppe/UFRJ), com especializações em Jornalismo de Políticas Públicas Sociais (UFRJ), Coaching e Marketing Digital, entre outras.
Rosayne Macedo foi editora–assistente responsável pelas páginas de Saúde e Vida & Meio Ambiente do jornal O Dia, além de assinar aos domingos a coluna Conta Social, com foco em Sustentabilidade, Responsabilidade Social e Terceiro Setor. Em 5 de junho de 2016, Dia Mundial do Meio Ambiente, criou o blog ViDA & Ação, projeto autoral inicialmente no Dia Online, que se tornou um site independente em agosto de 2017.
Nas áreas de Saúde, Bem-Estar e Nutrição, Rosayne Macedo colaborou como repórter da revista Pense Leve e editora das revistas Mundo Verde e Esporte & Vida. Entre 2018 e 2019, atuou como consultora em Comunicação pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) para a Secretaria Estadual de Saúde no Tocantins. Em julho de 2020, deixou a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro, onde era assessora-chefe de Comunicação.
(Matéria atualizada em 06/08/2020)
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