espiritualidade

Estudos comprovam: preces diárias ou em momentos de crise ajudam a vencer sintomas depressivos, além de trazer mais conforto e bem-estar espiritual. A eficácia dessas atitudes é similar à psicoterapia convencional, com resultados duradouros após o tratamento, afirma o o especialista Alexander Almeida (MG), que ministrou “TCC integrada à espiritualidade”, uma revisão sistemática de 46 estudos sobre o tema, durante o 34º Congresso Brasileiro de Psiquiatria (CBP), realizado em São Paulo.

“Um levantamento feito com psiquiatras mostra que a maioria considera importante a abordagem da espiritualidade, mas não fazem por falta de conhecimento. Por isso a ABP tem tanto interesse em divulgar e ampliar essa informação para os colegas”, diz o especialista, que participou da mesa redonda “Psicoterapia e espiritualidade: teoria e prática”, em que psiquiatras mostraram que a espiritualidade pode ser usada como meio para auxiliar o tratamento de pacientes.

 O psiquiatra Leandro Pizutti chamou a atenção para um dado em que mostra que mais de 83% dos adultos e cerca de 74% dos adolescentes veem com importância o tema religião/espiritualidade. Alexander Almeida completa: “O terapeuta pode aprender alguns aspectos religiosos do paciente para ajudá-lo em sua recuperação, independentemente de sua crença ou religião”.

Pizutti também falou sobre situações como “mindfullness”, de tradição budista, que é um estado flexível da mente no qual se pensa no presente, percebendo coisas novas e sensíveis nesse contexto. O “mindfullness” e a mente sábia permitem o equilíbrio das ideias e emoções. As técnicas são usadas no tratamento de pacientes com transtorno de Borderline, por exemplo.

Foram ainda apresentadas as palestras “Psicoterapia de orientação analítica e espiritualidade”, por Bruno Mosqueiro, e “Psicologia analítica: integrando espiritualidade à psicoterapia”, por Anahi Fonseca.

Segundo maior encontro da área no mundo, o evento é organizado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e termina neste sábado (19), apresentando temas relacionados à saúde mental em seus múltiplos aspectos com a participação de mais de 50 conferencistas internacionais e cerca de 450 palestrantes, psiquiatras cientistas e pesquisadores do Brasil.

O tema central desta edição é “A psiquiatria e as ideologias em saúde mental”. “Bem sabemos que não somos os responsáveis pelo estabelecimento dessas ideologias, mas é o nosso papel, enquanto associação, fomentar o debate relacionado a uma assistência em saúde mental digna e de qualidade para a sociedade como um todo, no que se refere ao nosso país e ao nosso continente”, diz Antônio Geraldo da Silva, presidente da ABP.

Saúde mental de crianças e adolescentes

Outro tema de destaque é a saúde mental de crianças e adolescentes. Uma em cada dez crianças no mundo apresenta indícios de algum problema de saúde mental. Os desafios do diagnóstico, como os jovens se percebem em relação ao problema e a influência de fatores socioeconômicos, foram amplamente discutidos por especialistas nacionais e estrangeiros na mesa-redonda “Perfil da saúde mental de crianças e adolescentes brasileiros e ingleses – Trajetória, facilitadores e barreiras para assistência”.

A pesquisadora inglesa S Evans-Lacko apresentou os resultados de um estudo sobre a auto-identificação de doenças mentais por parte de brasileiros e ingleses. O levantamento concluiu que as crianças e os jovens do Reino Unido revelaram uma maior preocupação em ter doenças mentais do que os brasileiros – 24,3% acredita ser o tipo de pessoa que, provavelmente, teria uma doença mental. Entre os brasileiros, apenas 11% deram a mesma resposta.

Já o brasileiro Pedro Mario Pan foi categórico ao afirmar que “as doenças mentais são as doenças crônicas dos jovens” e ao reforçar a importância do cuidado com o diagnóstico psiquiátrico entre crianças e adolescentes, que pode sofrer alterações com o passar dos anos, já que a idade de início dos transtornos mentais está diretamente relacionada ao nosso neurodesenvolvimento.

Transtornos do humor associados ao uso de drogas

Os transtornos do humor associados ao uso de drogas, lícitas ou ilícitas, foram debatidos na mesa-redonda “Transtorno bipolar e abuso de substâncias: como tratar”. Especialistas na área elencaram dados assustadores, entre eles o Brasil como um dos principais mercados consumidores de cocaína no mundo: “Dezoito por cento da droga produzida no mundo é consumida aqui”, revela José Alberto Del-Porto.

Após explicar os inúmeros riscos de pessoas com transtorno bipolar que são usuários de cocaína, inclusive de tentativas de suicídio, ele defendeu um maior aprofundamento nas pesquisas com este grupo de pessoas: “Há poucos estudos sobre o uso de cocaína por pessoas com transtornos bipolares, talvez porque os próprios dependentes não querem ser estudados”, afirma.

Outro dado alarmante, apontado pelo psiquiatra Alexandre Duarte Gigante, é que pessoas com transtorno bipolar têm 10 vezes mais chances de serem acometidas pelo abuso do álcool do que a população em geral. E, apesar da associação do abuso de álcool com transtornos bipolares ser maior entre os homens, é preocupante como a taxa vem crescendo entre o sexo feminino nos últimos anos.

Estresse pode levar ao suicídio

Em uma das conferências internacionais sobre o suicídio, a especialista Victoria Arango, dos Estados Unidos, falou sobre “Serotonina cerebral e estresse no suicídio”. Na ocasião, ela apresentou a diferença entre estresse agudo, que é considerado normal e benéfico ao corpo, e o contínuo, que é crônico e prejudica o cérebro, levando a vários problemas de saúde. Pacientes com esta doença podem apresentar aspectos parecidos ao do indivíduo com depressão.

Segundo a conferencista, o estresse contínuo, em situação extrema, pode levar uma pessoa a cometer suicídio. Um estudo avaliou o histórico de crianças e adolescentes de até 15 anos que tentaram ou cometeram suicídio. A maioria delas tinha desenvolvido estresse crônico, causado por diferentes motivos, como a separação dos pais – que encabeçou a lista – e violência física ou sexual.

Mais sobre o evento

Voltado para psiquiatras, médicos de outras especialidades, psicólogos e demais profissionais da saúde, o CBP chega a reunir de oito a dez mil participantes por edição. Nos primeiros dias, foram debatidos temas diversos, como suicídio, transtorno bipolar, aspectos psicossociais do terrorismo, espiritualidade e perfil da saúde mental de adolescentes.

Até sábado, o evento ainda contará com o Simpósio Internacional do Presidente, no qual Antônio Geraldo da Silva coordenará um debate sobre esquizofrenia, que reunirá nomes, como Brian Leonard (Reino Unido), Cameron Carter (EUA), Hans-Jürgen Möller (Alemanha) e Paolo Brambilla (Itália). Os departamentos e comissões da ABP apresentarão também um simpósio sobre a Psiquiatria da Infância e da Adolescência.

Mais informações sobre a programação do CBP estão disponíveis no site www.cbpabp.org.br e também por meio do aplicativo da Associação Brasileira de Psiquiatria para iOS e Android.

Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

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