O Dia Internacional da Epilepsia (13 de fevereiro) é um evento global, celebrado anualmente na segunda segunda-feira de fevereiro, para promover a conscientização sobre a doença que acomete 2% da população no Brasil e afeta em torno de 50 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Estima-se que cerca de 3 milhões de brasileiros sofram com a doença, de acordo com a Liga Brasileira de Epilepsia.
A epilepsia não é uma doença mental, e sim um distúrbio neurológico no qual as atividades cerebrais se tornam anormais, causando convulsões ou períodos de comportamento e sensações incomuns e, ocasionalmente, perda de consciência. Nas crises, há perturbação da atividade das células nervosas no cérebro, que resultam em atividade elétrica cerebral exagerada culminando em crises recorrentes. Suas consequências são cognitivas, psicológicas e lesões estruturais sociais.
“A doença é definida por crises epilépticas e, dependendo da região do cérebro em que houver a ativação, o paciente pode ou não perder a consciência e depois voltar ao normal, ainda com aspecto confuso, olhar perdido e com movimentos sem propósito com as mãos”, explica Guilherme Torezani, coordenador de Doenças Cerebrovasculares do Hospital Icaraí e do Hospital e Clínica de São Gonçalo.
Qualquer pessoa pode desenvolver epilepsia, que afeta homens e mulheres de todas as raças, etnias e idades. Apesar de não ser contagiosa, ainda há muito preconceito e falta de informação sobre a doença. Especialistas, entretanto, esclarecem que as pessoas com epilepsia podem ter uma vida normal, se seguirem o tratamento adequado com a medicação de uso contínuo prescrita pelo médico neurologista.
No Brasil a maioria dos pacientes utiliza apenas a medicação como forma de tratamento, entretanto mesmo com uma evolução dos medicamentos para epilepsia, o seu uso pode ocasionar efeitos colaterais significativos e também podem se mostrar ineficazes a depender da área do cérebro afetada.
O neurocirurgião Jamie Van Gompel, da Mayo Clinic, afirma que conviver com a epilepsia pode gerar prejuízos na qualidade de vida de um paciente , prejuízos estes que podem afetar tanto sua vida pessoal quanto profissional.
“As convulsões geralmente produzem uma sensação de eterna insegurança. Estes tratamentos têm um efeito muito positivo, visto que antes que cheguem a etapa de descontrole da doença eles entregam uma nova sensação de esperança. Vemos pacientes que utilizaram estes tratamentos e tiveram mudanças importantes em seu cotidiano,” completa Dr. Van Gompel.
O neurocirurgião alerta que a epilepsia é uma doença muito diversa. Cada paciente tem uma relação muito distinta com as convulsões, alguns pacientes podem durante as convulsões chegar ao risco de óbito pela falta de atividade respiratória, por isso ele ressalta que as pessoas com epilepsia devem consultar seu médico ou neurologista para encontrar o tratamento adequado e não hesitar em procurar uma segunda opinião em um centro de epilepsia, especialmente se tiverem efeitos colaterais relacionados à medicação ou continuarem a ter convulsões.
Uma opção comumente utilizada é uma cirurgia que consiste em remover a parte do cérebro que causa as convulsões, essa alternativa é escolhida sobretudo em casos quando a epilepsia é desenvolvida mais tarde na vida adulta em um local do cérebro no qual os remédios não fazem efeito . Nesses casos a cirurgia apresenta resultados bastante satisfatórios podendo melhorar 80 % dos casos , entretanto alguns efeitos como fortes dores de cabeça podem acontecer além de ser uma alternativa mais invasiva .
Nos últimos anos as pesquisas em relação à doença evoluíram muito e já em muitos países utilizam-se novos tratamentos mais modernos e menos invasivos que podem ajudar um paciente a controlar a doença. O especialista descreve as opções mais recentes de tratamento para além do uso da medicação e da cirurgia.
“Os medicamentos para epilepsia melhoraram e continuam sendo a forma mais comum de tratá-la. O tratamento com medicamentos ou, ocasionalmente, a cirurgia pode controlar as convulsões para a maioria das pessoas com epilepsia porem a variedade de possibilidades de tratamento é muito maior agora”, diz o Dr. Van Gompel.
As pesquisas na área continuam a se concentrar na prevenção ou predição (também conhecida como previsão de convulsões) e no tratamento das convulsões. Os tratamentos para epilepsia estão mudando tão rapidamente que pode haver algo novo que possa ajudar.
“Acredito que nas próximas décadas, teremos entendimento suficiente da estimulação cerebral para talvez nunca mais removermos o tecido cerebral. Talvez possamos tratar o cérebro com comportamento indevido com eletricidade ou algum outro tratamento. Talvez possamos usar a aplicação de medicamento diretamente na área que a reabilite para torná-la funcional novamente. É isso que esperamos.”
Alguns remédios antiepilépticos são utilizados para o controle e a frequência de crises. Outras opções de tratamento disponíveis, como cirurgias, são utilizadas apenas em casos mais graves, nas chamadas “epilepsias refratárias”. Mais recentemente, o canabidiol, conhecido como CBD passou a ser utilizado sob prescrição médica para o tratamento da epilepsia por controlar tanto a quantidade como a intensidade das crises convulsivas.
“A maioria das pessoas com epilepsia pode ter uma vida normal, com controle das crises. O importante é ter o diagnóstico o mais cedo possível para que o tratamento adequado possa ser prescrito ao paciente”, conclui o neurologista.
4 tratamentos que podem diminuir efeitos da doença
Confira abaixo 4 tratamentos que já estão sendo utilizados nos Estados Unidos que prometem diminuir os efeitos da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente.
- Estimulação cerebral profunda. É um tratamento feito por meio do uso de um dispositivo colocado permanentemente dentro do cérebro. Esse dispositivo libera sinais elétricos programados regularmente que interrompem a atividade indutora das convulsões. Esse procedimento é orientado por ressonância magnética. O gerador que envia o sinal elétrico é implantado no tórax.
- Neuroestimulação responsiva. Esses dispositivos implantáveis parecidos com marcapassos podem ajudar a reduzir significativamente a frequência da ocorrência das convulsões. Os dispositivos de estimulação responsiva analisam padrões de atividade cerebral para detectar convulsões logo no início e liberam uma carga elétrica ou um medicamento que interrompe a convulsão antes que ela provoque algum comprometimento. Pesquisas mostram que essa terapia tem menos efeitos colaterais e pode aliviar as convulsões a longo prazo. O dispositivo é colocado no crânio.
- Terapia térmica intersticial a laser (LITT). Essa opção é menos invasiva do que a cirurgia ressectiva. A terapia usa um laser para identificar e destruir uma pequena porção de tecido cerebral. Uma ressonância magnética é usada para orientar o laser.
- Cirurgia minimamente invasiva. Novas técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, como o ultrassom focalizado guiado por ressonância magnética, se mostram promissoras para tratar convulsões com menos riscos do que a tradicional cirurgia cerebral aberta para a epilepsia.
Sintomas e sinais da crise convulsiva
Segundo Torezani, são inúmeras as causas que podem levar à epilepsia, como: complicações do parto, predisposição genética, distúrbios neurológicos (ex: infecções do sistema nervoso central), reação à medicamentos, traumatismos, Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) e tumores, por exemplo.
“A idade também é um fator que deve ser levado em consideração, principalmente em crianças, uma vez que sua causa pode ser associada ao neurodesenvolvimento”, explica.
Os sintomas variam bastante, de amenos a manifestações mais graves, e alguns sinais das crises convulsivas são:
• Perda de consciência;
• Contrações musculares;
• Lapso de memória;
• Confusão mental;
• Morder a própria língua;
• Alterações de movimento ocular;
• Emissão de sons, como gritos.
Com Assessorias