Considerada a “mãe” da enfermagem moderna, Florence Nightingale reduziu a mortalidade de 42% para apenas 2% ao aplicar medidas simples, como a lavagem das mãos, durante a Guerra da Crimeia, em 1854, demonstra o poder de ações que parecem pequenas, mas salvam vidas. Hoje, essa prática é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das mais eficazes na prevenção de infecções hospitalares.

Dados da OMS de 2022 revelam que, em países de baixa e média renda, de 7 a 10 em cada 100 pacientes hospitalizados adquirem uma infecção relacionada à assistência à saúde. No Brasil, até 14% das internações podem evoluir para infecções da corrente sanguínea, pneumonia associada à ventilação mecânica e infecções do trato urinário relacionadas ao uso de cateteres.

Em um relatório mais recente, divulgado em 2024, a OMS destaca que a taxa de infecções hospitalares no Brasil é quase três vezes superior ao recomendado pela instituição, atingindo até 14% entre os pacientes internados, enquanto a recomendação da OMS é de 5%. Outro fato preocupante é a resistência aos antibióticos, que causa 1,27 milhão de mortes diretas e indiretas anuais no mundo, além de contribuir para mais de 4,19 milhões de outras mortes.

O Palácio do Congresso Nacional recebe iluminação verde, de 12 a 14 de maio, em comemoração do Dia Internacional da Enfermagem (12/05), que visa valorizar esses profissionais de saúde, além de chamar a atenção para a regulamentação da jornada de trabalho e o reajuste do piso nacional da categoria.

Esses profissionais atuam como verdadeiros heróis anônimos que vão muito além de administrar medicamentos e monitorar sinais vitais. Esses profissionais criam conexões humanas, acolhem com empatia e transformam a ciência em uma ponte para o bem-estar de milhões de brasileiros.

Segundo o Cofen – Conselho Federal de Enfermagem, a categoria representa a espinha dorsal da assistência à saúde, presente em todas as etapas do cuidado ao paciente, concentrando mais de 60% da força de trabalho na saúde. Hoje, responde por aproximadamente 1,5% da população brasileira, com mais de 3,2 milhões de profissionais, registrados nos 27 Conselhos Regionais de Enfermagem do país.

Esses profissionais – em sua grande maioria, mulheres – são responsáveis por cuidar de 211 milhões de pessoas todos os dias, em mais de 5.500 mil cidades. Em muitas instituições, eles representam entre 60% e 70% do atendimento ao paciente.

Valorizar a enfermagem é garantir a segurança do paciente

Profissionais bem treinados, valorizados e envolvidos nas decisões estratégicas das instituições de saúde são essenciais para elevar a qualidade do cuidado, como destaca a enfermeira, Alessandra Roscani, diretora de Comunicação da Sobrasp – Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente.

A cultura da segurança deve ser prioridade em todas as instituições de saúde. A prevenção de infecções está diretamente ligada à qualidade do cuidado, e a enfermagem é protagonista nesse processo”.

O profissional de enfermagem acaba tendo contato muito intenso com os pacientes – por vezes, maior até que o tempo dedicado pelo próprio médico. E, em alguns procedimentos, o profissional acaba sendo de extrema importância para reforçar os cuidados necessários para que os pacientes sigam as orientações indicadas pelo médico responsável pelo caso.

A necessidade de valorização da categoria

“Ser enfermeira vai muito além da técnica. É estar presente nos momentos mais delicados da vida de alguém, com escuta, acolhimento e responsabilidade”

A Semana da Enfermagem é comemorada anualmente em maio e marca duas datas significativas para a profissão. A comemoração acontece entre os dias 12 e 20 maio, sendo dia 12 o Dia Internacional da Enfermagem – em homenagem ao nascimento de Florence Nightingale – e dia 20, a data da morte de Anna Nery (1814-1880), pioneira na enfermagem brasileira , que se voluntariou para cuidar dos soldados na Guerra do Paraguai. No mesmo dia, é lembrado o Dia Nacional do Técnico e Auxiliar de Enfermagem, instituído no Brasil em 2004.

O Dia Internacional da Enfermagem  é um momento não apenas para homenagens, mas também para reflexões sobre o papel essencial desses profissionais na construção de um sistema de saúde mais humano, eficiente e seguro. A categoria ainda enfrenta desafios em relação à valorização e ao reconhecimento do seu papel estratégico.

Para Marcela Padilha, enfermeira Doutora em Ciências pela EERP-USP, cientista com expertise em biossegurança em radiologia, e responsável pelo Desenvolvimento de Produtos e Suporte Clínico na Alko do Brasil, é necessário reforçar a importância deste ofício também nas decisões institucionais e políticas.

A enfermagem está presente em cada momento da jornada do paciente e é essencial em equipes multidisciplinares. Valorizá-la significa garantir não apenas melhores condições de trabalho, mas também mais segurança e qualidade no atendimento à população”, afirma.

Ainda há caminhos a serem trilhados para que os profissionais recebam, na prática, o reconhecimento proporcional à sua entrega diária. Para Padilha, este Dia Internacional da Enfermagem reafirma a importância de investir na formação, no bem-estar e no reconhecimento dos profissionais que, com dedicação e empatia, garantem o cuidado integral e contínuo de milhões de brasileiros. Afinal, cuidar de quem cuida é também um compromisso com a saúde de todos.

Ser enfermeira vai muito além da técnica. É estar presente nos momentos mais delicados da vida de alguém, com escuta, acolhimento e responsabilidade. É uma escolha diária pelo cuidado. Ver o impacto que nosso trabalho causa na vida dos pacientes e de suas famílias é o que nos move. E é por isso que acredito que toda valorização começa pelo reconhecimento da nossa entrega – silenciosa, mas essencial”, finaliza.

Alerj entrega o Prêmio Anna Nery  a 32 profissionais da Enfermagem

As deputadas federais Enfermeira Rejane e Jandyra Feghali prestigiam entrega do Prêmio Ana Nery pela deputada estadual e também enfermeira Lilian Bhering na Alerj (Foto: Divulgação)

 

No Rio de Janeiro, a Semana da Enfermagem foi aberta com a entrega do Prêmio Anna Nery, a mais importante honraria da saúde concedida pelo Parlamento fluminense a profissionais de Enfermagem que atuam no estado. Em uma manhã marcada por emoção, reconhecimento e compromisso com a saúde pública, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) homenageou 32 profissionais, que foram agraciados com o Prêmio Ana Nery. A  premiação foi instituída com o objetivo de reconhecer a dedicação e a excelência dos trabalhadores da enfermagem, o prêmio celebrou histórias de superação, competência técnica e compromisso com a vida.

Hoje não homenageamos apenas nomes, mas trajetórias de coragem, empatia e resistência”, declarou a deputada Lilian Behring (PCdoB), que é enfermeira e presidiu a sessão. “É um orgulho entregar esta homenagem a quem, todos os dias, enfrenta jornadas exaustivas para garantir cuidado e dignidade aos pacientes. A enfermagem é o coração pulsante do nosso sistema de saúde.”

A solenidade comemorou ainda o Dia Internacional da Enfermagem e teve forte simbolismo ao destacar a relevância de uma categoria muitas vezes invisibilizada, apesar de sua presença fundamental nas unidades de saúde, tanto públicas quanto privadas. A Semana da Enfermagem segue até o dia 20 de maio com uma série de atividades voltadas à formação, mobilização e valorização da categoria em todo o estado.

O Prêmio Anna Nery é uma resposta institucional ao apagamento histórico da nossa categoria. Ao premiar esses 32 profissionais, reconhecemos, simbolicamente, milhares de colegas que mantêm vivo o sentido de cuidado humanizado, mesmo com recursos escassos”, disse Lilian, responsável pelas indicações.

Criadora do Prêmio Ana Nery quando ocupou uma cadeira na Alerj, a deputada federal Enfermeira Rejane (PCdoB), também foi homenageada durante o evento, e destacou a relevância da premiação. “Ter esse prêmio sendo entregue por outra enfermeira deputada no estado do Rio de Janeiro é muita coisa, um simbolismo imenso, ainda mais no Dia Internacional da Enfermagem.”

Já a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) – que é médica – ressaltou a importância histórica do momento e o papel estratégico da enfermagem.

É histórica a Semana da Enfermagem, é um período onde os debates acontecem, onde essa pauta ganha relevância, onde as lideranças da Enfermagem também se apresentam. A Enfermagem é a maior categoria da saúde, que está na beira do leito, que está no ambulatório, que está na UTI, que está na cobertura e no acompanhamento, na formulação das políticas da grande massa populacional brasileira. A Enfermagem merece tudo!”

A mesa do evento, promovido no Plenário do Palácio Tiradentes, foi composta também pela vice-presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren), Rosimere Maria; por Ricardo de Mattos,da Associação Brasileira de Enfermagem (Aben-RJ) e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ); por Cássia Gonçalves, presidente do Sintuperj e representante do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUPE); e por Ellen Peres, do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

Agenda Positiva

Hospital das Clínicas de BH promove Semana da Enfermagem

O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG), administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), juntamente com a Escola de Enfermagem da UFMG (EE-UFMG) promovem, entre os dias 12 e 16 de maio, a 35ª Semana da Enfermagem. O evento faz homenagens a profissionais do campo (auxiliares, técnicas e enfermeiras) e, este ano, tem como tema “Comprometimento, Conhecimento e Ética: a excelência que se constrói a cada dia”.

Ao longo da semana, os participantes contarão com uma programação diversificada, com conferências, mesas redondas, minicursos, práticas de autocuidado e momentos culturais. Os temas, igualmente diversos, vão tratar da formação e aperfeiçoamento profissional, construção da identidade dos trabalhadores da enfermagem, uso da inteligência artificial e inovação, aspectos históricos da evolução do campo da enfermagem. Além dessas atividades haverá palestras e debates com temáticas sobre luta antimanicomial, prevenção a infecções, excelência nas práticas da enfermagem.

A professora da Escola de Enfermagem e integrante do Núcleo Gestor da Divisão de Enfermagem, Jaqueline Barbosa, destaca que o HC-UFMG conta com aproximadamente mil profissionais, entre auxiliares e técnicos de enfermagem, além de 500 enfermeiros. Um número significativo de trabalhadores que são cruciais para a prestação de serviço na instituição, por isso destaca a importância da Semana.

O evento configura um presente para a enfermagem, com possibilidade de atualização, aperfeiçoamento, confraternização, reconhecimento e valorização. Além disso, teremos ações de promoção do bem-estar dos profissionais”, enfatiza.

Alguns dos momentos da Semana abordam a história e a memória da formação de enfermeiras e enfermeiros, além de homenagem a quem fez e ainda faz parte dessa trajetória, tanto na Escola de Enfermagem da UFMG, quanto no Hospital das Clínicas.

Faremos uma linha do tempo de pessoas que fizeram história, teremos um vídeo em homenagem aos profissionais, entrega de placas. Portanto, o evento divulga a importância da profissão para a sociedade e é uma forma de mostrar nossa força política”, acrescenta Jaqueline.

A 35ª Semana da Enfermagem do Campus Saúde da UFMG é um evento gratuito e aberto aos estudantes de graduação, pós-graduação e profissionais da área. Todas as atividades são gratuitas e podem ser acessadas neste link, onde é possível também realizar as inscrições para os minicursos diversos, visita guiada ao Centro de Memória da EE-UFMG e as práticas de autocuidado (yoga e massagem relaxante).

Saúde planetária é tema da Semana de Enfermagem em hospital universitário

Também vinculado à vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV-Ufam), em Manaus, promove entre 12 e 20 de maio a Semana da Enfermagem 2025. A iniciativa integra as comemorações alusivas aos 60 anos da instituição e está alinhada com a Semana Brasileira de Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn),

Com a temática “Saúde planetária: desafios e a atuação crítica da Enfermagem, a semana também visa homenagear enfermeiros, técnicos, auxiliares, docentes e estudantes de Enfermagem que atuam no HUGV no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O evento conta com a oferta de palestras, oficinas, minicursos, mostra de extensão, mostra de trabalhos científicos, premiação para as produções científicas de destaque e homenagens aos profissionais da enfermagem do HUGV.

A programação visa promover reflexões importantes sobre o cenário de mudanças climáticas, crises ambientais, impactos na saúde física, mental e coletiva, assim como a sobrecarga sobre os profissionais da saúde, de acordo com o tema proposto. Dentre as palestras da semana, estão “Saúde Planetária: Desafios e a Atuação Crítica da Enfermagem”, “Judicialização da Assistência à Saúde no Brasil e Impacto da Enfermagem” e os “Os Benefícios do uso da Inteligência Artificial na Área da Saúde”. Para ficar por dentro de toda a programação acesse o Link.

Segundo Kharla Lilibeth Belsuzarri D’Amazonas, chefe da Divisão de Enfermagem, para contribuir com a saúde planetária, é preciso adotar práticas que visem a sustentabilidade e o bem-estar de todos. Ela completa: “É fundamental que a enfermagem se faça presente na formulação de políticas públicas que impactem diretamente a preservação do planeta e seus elementos constituintes. Entendemos a saúde planetária como um esforço para tratar a sustentabilidade e a vida humana sob a ótica de ações integrativas, transdisciplinares e globais.

Diante desse desafio, a enfermagem deve estar ancorada em uma educação transformadora, capaz de formar agentes críticos e socialmente ativos na busca pela integração do planeta e da vida humana. Devemos refletir sobre o nosso papel como agentes de transformação, a repensar nossas práticas e a nos engajarmos em ações que promovam a saúde planetária em todas as suas dimensões. Que esta semana seja um momento de aprendizado, troca de experiências e renovação do nosso compromisso com a saúde e o bem-estar de todos os seres que habitam este planeta”, finalizou.

 

Mais sobre Florence Nightingale

Celebrado em 12 de maio, Dia Internacional da Enfermagem ou Dia do Profissional de Enfermagem, é comemorado mundialmente desde 1965. Porém, a data só foi estabelecida em 1974, a partir da decisão do Conselho Internacional de Enfermeiros. O dia foi escolhido como homenagem ao nascimento de Florence Nightingale.

De nacionalidade inglesa, Florence nasceu em Florença, na Itália. Aos 17 anos decidiu ser enfermeira e  foi durante a guerra da Crimeia que seu trabalho se tornou conhecido e ela foi nomeada como a “Dama da Lâmpada”, instrumento que utilizava durante a noite para auxiliar os enfermos.
Florence treinou enfermeiras e organizou o atendimento aos soldados feridos em meio à Guerra da Crimeia, conflito que se estendeu de 1853 a 1856, na península da Crimeia (no mar Negro), no sul da Rússia e nos Bálcãs. Em 1860, Florence foi responsável por fundar a primeira Escola de Enfermagem secular do mundo, no Hospital St. Thomas, em Londres, um marco para a história contemporânea da carreira.
De lá para cá, muitas mudanças aconteceram com o avanço da medicina e da profissão de técnico de enfermagem. No Brasil, a atividade também passou a ganhar mais profissionais em decorrência de guerras, mesmo o país não tendo em sua história grandes participações. Entretanto, esses movimentos foram importantes para formalizar e expandir o ensino da profissão..

 

Com Assessorias
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