Nos últimos anos, vem ocorrendo um aumento do uso de hormônios anabolizantes para fins estéticos, tanto para homens como para mulheres. Isso trouxe preocupação às sociedades médicas com relação à segurança dos usuários e levou o ao Conselho Federal de Medicina (CFM) a publicar esta semana uma resolução que proíbe a prescrição de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes (EAA) para pessoas que buscam melhora de desempenho atlético e físico, profissionais ou amadores.

Os hormônios esteróides (derivados da testosterona) são indicados para casos de deficiência hormonal ou outras condições consumptivas em que o efeito anabolizante é necessário, como em caquexia em pacientes oncológicos, por exemplo. Mas em que situações o uso pode ser autorizado? Especialistas do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais) esclarecem algumas das principais dúvidas:

De acordo com Francisco Tostes (@doutortostes), médico endocrinologista, os hormônios podem ser utilizados por via injetável (intramuscular), transdérmica (gel/creme aplicado na pele), por via oral ou através de pellets/implantes que são aplicados sob a pele e liberam o hormônio ao longo de 6 meses a 1 ano.

Segundo Thomáz Baêsso, médico cirurgião e nutrólogo, com atuação em emagrecimento, hipertrofia e saúde sexual, estas substâncias são muito úteis na prática clínica para algumas doenças e condições clínicas, como em indivíduos sarcopênicos com baixa massa magra, pois esse hormônio diminui a chance do paciente ter fraturas ósseas e outras doenças relacionadas à deficiências hormonais de testosterona.

O endocrinologista e médico do esporte, mestre em cardiologia Guilherme Renke (@endocrinorenke), em entrevista ao portal EU Atleta, completa ao apontar que as substâncias seguem liberadas, dentro de condições respaldadas por sintomas e exames laboratoriais, em casos de:

  • Mulheres com transtorno sexual hipoativo (que gera queda de libido), incluindo as que estão na menopausa e não conseguiram resolver o problema com outros tipos de reposição hormonal;
  • Homens com hipogonadismo, condição em que a redução dos níveis de testosterona é acompanhada de sintomas que vão de alterações de humor a aumento da circunferência abdominal, passando também pela perda de libido;
  • Pessoas de qualquer idade com osteoporose grave;
  • Pessoas de qualquer idade com sarcopenia grave.

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‘Não existe medicamento para reduzir danos causados por anabolizantes’, diz hepatologista

Os esteróides anabolizantes têm sido cada vez mais utilizados por pessoas que buscam ganho de massa muscular ou melhora do desempenho esportivo. No entanto, o uso dessas substâncias traz graves riscos para a saúde, especialmente para o fígado.

Para a médica hepatologista Daphne Morsoletto, do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (CIGHEP), do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), “a medida do CFM é muito importante para evitar que pessoas sejam expostas a riscos desnecessários.

Segundo ela, o uso de esteroides anabolizantes deve ser restrito a casos específicos, como no tratamento de algumas doenças hormonais, e sempre sob orientação médica. Os esteroides anabolizantes podem levar a esteatose hepática (gordura no figado), colestase (dificuldade de drenagem da bile a nível celular), perda de funcionamento do fígado, inflamação e até câncer.

De acordo com a Dra. Daphne, a lesão hepática induzida pelo uso de esteroides anabolizantes, assim como outras doenças do fígado, pode ter uma apresentação silenciosa e traiçoeira, podendo surgir sintomas somente em casos graves e irreversíveis. “Sintomas como perda de apetite, icterícia, perda de massa muscular, dor abdominal e náuseas podem surgir em momentos menos reversíveis”, afirma.

A especialista ressalta que a única medida preventiva que pode ser usada para prevenir lesões de fígado é não usar esteroides anabolizantes, visto que qualquer dose pode ser tóxica. “Vale ressaltar de forma enfática que não existem medicamentos hepatoprotetores que possuem qualquer evidência científica para reduzir danos hepáticos induzidos por estes produtos. A manipulação de alguns produtos fitoterápicos com este intuito faz parte do combo anticientífico prescrito por estes médicos”, alerta a especialista.

Além dos riscos hepáticos, o uso de esteroides anabolizantes também pode afetar outras áreas do corpo, como o sistema cardiovascular, o sistema endócrino e o sistema musculoesquelético.

O uso prolongado de esteroides anabolizantes pode levar a uma série de efeitos colaterais, como aumento da pressão arterial, aumento do colesterol ruim (LDL) e diminuição do colesterol bom (HDL), aumento do risco de doenças cardíacas, disfunção erétil, diminuição da produção de testosterona pelo organismo, ginecomastia (crescimento das mamas em homens), acne, queda de cabelo, entre outros”, explica a Dra. Daphne.

Problemas em adolescentes

Em adolescentes pode afetar o desenvolvimento do sistema reprodutivo e causar alterações irreversíveis na estrutura óssea. Em mulheres, o uso das substâncias pode causar masculinização, como aumento de pelos, engrossamento da voz e diminuição do tamanho dos seios. Além disso, o uso de anabolizantes pode levar à dependência, tanto física quanto psicológica.

A proibição pelo CFM da prescrição de anabolizantes para fins estéticos e de ganho de massa muscular foi um grande avanço no combate à medicina de má qualidade que expõem o indivíduo a riscos desnecessários. Tal decisão foi comemorada por inúmeras sociedades médicas, incluindo a Associação Paranaense de Hepatologia“, explica a hepatologista do CIGHEP que integra a diretoria da associação.

Quais são os riscos do uso abusivo de anabolizantes

Guilherme lista os riscos do uso indiscriminado, que passam por alterações físicas e de saúde:

  • Aumento da pressão arterial, levando a um estado de hipertensão;
  • Formação de placas (ateromas) nas artérias;
  • Aumento do colesterol;
  • Maior risco cardíaco, em consequência das situações acima. Especialmente de desenvolvimento de doença arterial coronariana;
  • Risco de falência renal em consequência do aumento da pressão arterial e da retenção de sódio;
  • Sobrecarga no fígado, causando hepatite medicamentosa, especialmente nos casos de anabolizantes orais, que são metabolizados pelo fígado;
  • Alteração de comportamento, com possibilidade de a pessoa ficar mais agressiva e agitada;
  • Risco de infertilidade;
  • Possibilidade de aumento da queda de cabelo e da calvície;
  • Acne;
  • Voz grossa;
  • Em caso de atletas profissionais, doping.

CFM proíbe prescrição médica de anabolizante para fins estéticos

A Lei 9.965 de 27/04/2000 já restringia a venda de esteroides e peptídeos anabolizantes, exigindo a prescrição médica. No entanto, nos últimos anos, houve um aumento de prescrições e estímulo ao uso dessas substâncias, especialmente com objetivos estéticos, o que tem levado a um descontrole no uso dessas substâncias, minimizando ou ocultando os possíveis riscos.

Diante dos riscos associados ao uso de esteroides anabolizantes, o Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu proibir a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes com finalidade estética, para ganho de massa muscular ou melhora do desempenho esportivo em resolução publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (11 de abril). Segundo a entidade, a decisão foi tomada em razão da inexistência de comprovação científica suficiente que sustente o benefício e a segurança do paciente.

De acordo com a resolução, estão vedados:

I – Utilização em pessoas de qualquer formulação de testosterona sem a devida comprovação diagnóstica de sua deficiência, excetuando-se situações regulamentadas por resolução específica;

II – Utilização de formulações de esteroides anabolizantes ou hormônios androgênicos com a finalidade estética;III – Utilização de formulações de esteroides anabolizantes ou hormônios androgênicos com a finalidade de melhora do desempenho esportivo, seja para atletas amadores ou profissionais;

IV – A prescrição de hormônios divulgados como “bioidênticos”, em formulação “nano” ou nomenclaturas de cunho comercial e sem a devida comprovação científica de superioridade clínica para a finalidade prevista nesta resolução.

V – A prescrição de Moduladores Seletivos do Receptor Androgênico (SARMS), para qualquer indicação, por serem produtos com a comercialização e divulgação suspensa no Brasil.

VI – Realização de cursos, eventos e publicidade com o objetivo de estimular e fazendo apologia a possíveis benefícios de terapias androgênicas com finalidades estéticas, de ganho de massa muscular (hipertrofia) ou de melhora de performance esportiva.

Com Assessorias

 

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