O mundo enfrenta uma epidemia de doenças do fígado, que vão desde a esteatose hepática (conhecida como ‘gordura no fígado’) e as hepatites virais até outras mais graves, como fibrose, cirrose e câncer de fígado. Muitas vezes, exames laboratoriais não revelam alterações, mesmo com o fígado já comprometido. Por isso, o diagnóstico precoce, por meio de exames como ultrassom abdominal, ressonância magnética e elastografia hepática, é essencial.

Ainda pouco conhecida de boa parte dos pacientes, a elastografia hepática – já disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) por força de lei e recentemente com cobertura obrigatória nos planos de saúde – é um exame de imagem não invasivo, similar a uma ultrassonografia que utiliza ondas sonoras para medir a rigidez (elasticidade) do órgão e identifica gordura no fígado.

A tecnologia pode ser uma alternativa à biópsia hepática em muitos casos e permite acompanhar complicações associadas às hepatites B e C com mais conforto e segurança para a população. O exame classifica o grau de fibrose em diferentes estágios (de F0 a F4) e é indicado para pacientes em acompanhamento clínico, orientando condutas terapêuticas, além de prevenir o avanço da doença.

Instituto estadual no Rio passa a oferecer o exame

Diagnosticado com hepatite B após descobrir a infecção em uma doação de sangue, Paulo Rogério da Silva, de 49 anos, foi um dos primeiros a passar pelo exame na rede pública do Rio de Janeiro. Ele se trata no Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (Iaserj) Maracanã, que é referência no cuidado às hepatites virais e acaba de receber um aparelho para realizar a elastografia hepática.
Fiquei surpreso com o equipamento novo, que é muito valioso pra nós. O exame foi excelente, rápido, indolor e com um resultado muito bom. Fico tranquilo de saber que agora temos um exame mais profundo e com resultado rápido. É tranquilo, não dói, e cuidar da saúde é fundamental”, disse o paciente.
O exame será ofertado aos pacientes do Iaserj e àqueles encaminhados pela Atenção Primária via Sistema Estadual de Regulação (SER). A estimativa inicial é realizar 80 a 100 exames por mês, e, paralelamente, os profissionais serão treinados para a condução do exame e até mesmo para avaliar os casos clínicos que indicam essa necessidade.

Aparelho mede o grau de fibrose e a quantidade de gordura no fígado

De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), o  exame moderno que possibilita avaliar com precisão a evolução de doenças como fibrose e cirrose, sem a necessidade de procedimentos invasivos. Antes da chegada da elastografia, a principal forma de avaliar a progressão das hepatites era a biópsia hepática, um exame invasivo, com necessidade de internação e risco de complicações.
Esse equipamento é fundamental para monitorar e avaliar o fígado de pacientes com hepatites virais e outras doenças hepáticas, substituindo a necessidade de uma biópsia, que é um procedimento invasivo”, declarou a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.
Segundo ela, esse aparelho mede o grau de fibrose e também a quantidade de gordura no fígado, o que ajuda não só quem está em tratamento, mas também quem já foi curado e precisa acompanhar riscos futuros. Com o novo aparelho e a previsão de instalação de um segundo polo em local a ser definido, a SES-RJ ampliará significativamente o acesso ao diagnóstico.
Junto com o subsecretário de Vigilância e Atenção Primária à Saúde, Mário Sérgio Ribeiro, ela acompanhou os primeiros atendimentos realizados com o novo aparelho. O novo equipamento, de tecnologia francesa, foi adquirido pelo Governo do Estado com investimento de R$ 670 mil e foi inaugurado nesta quarta-feira (19/11),

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Planos de saúde também são obrigados a cobrir elastografia

A elastografia hepática já constava da lista de procedimentos dos planos de saúde, mas a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) decidiu adequar a norma aos critérios estabelecidos para o SUS. Assim, o exame passou a ter cobertura obrigatória, de acordo com suas diretrizes de utilização, a partir de 3 de novembro.

A atualização seguiu a Lei 14.307/2022, que determina que, após a recomendação positiva pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) para inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS), as tecnologias devem ser incluídas no Rol da Agência.

A Diretoria Colegiada da ANS aprovou a alteração de diretriz de utilização (DUT) 119, referente à elastografia hepática. Assim, o exame passa a incluir a esquistossomose entre as doenças já listadas na DUT, ficando da seguinte forma:

– Cobertura obrigatória para pacientes com diagnóstico de Hepatite B, Hepatite C, Hepatite C pós-transplante, HIV, esquistossomose ou doença de fígado não alcóolica, com suspeita ou diagnóstico de fibrose/cirrose hepática, em pelo menos uma das seguintes condições:

  1. diagnóstico inicial;
  2. estadiamento;
  3. acompanhamento.

O Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde conta com tecnologias disponíveis aos beneficiários entre terapias, exames, procedimentos e cirurgias, atendendo às doenças listadas na Classificação internacional de Doenças (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Diagnóstico de hepatites e outras doenças do fígado

Especialistas chamam a atenção para os riscos de uma condição silenciosa e progressiva que afeta mais de 115 milhões de pessoas no mundo: a chamada Doença Hepática Esteatótica Associada à Disfunção Metabólica (MASLD, na sigla em inglês).

A doença que ataca o fígado pode evoluir para quadros mais graves, como a Esteato-hepatite Associada à Disfunção Metabólica (MASH), fibrose hepática e até cirrose – mesmo em pessoas que não consomem álcool. A MASLD está fortemente ligada a fatores como síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares — esta última, a principal causa de morte entre os pacientes.

As hepatites virais também representam uma ameaça real. As hepatites B e C, quando evoluem para a forma crônica, podem causar inflamação e danos progressivos ao fígado. A hepatite B tem na vacinação sua principal forma de prevenção, com doses disponíveis gratuitamente para todas as idades. Já a hepatite C não possui vacina, tendo como forma de prevenção os cuidados para não compartilhar objetos que entrem em contato com sangue e usar preservativo.
O monitoramento das hepatites virais é feito de forma contínua e, com o novo equipamento, será possível estabelecer o estágio da doença hepática crônica causada pelas hepatites B e C. E contribui para melhorar as informações sobre a evolução dos portadores de hepatites virais. Da mesma forma, poderemos adequar a rede de assistência para os vários níveis de complexidade observados, oferecendo um acompanhamento médico adequado e oportuno”, explicou a gerente de Hepatites Virais da SES-RJ, Clarice Gdalevici.
Além do diagnóstico, o tratamento e a prevenção envolvem mudanças no estilo de vida, como alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e controle do estresse — pilares essenciais para preservar a saúde hepática.
Com Assessorias
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