A pandemia provocada pelo novo coronavírus tem causado angústia e insegurança por tudo o que está causando nos campos da saúde e da economia, mas quando se olha para o cenário da mídia, a situação se torna ainda mais assustadora, já que as notícias falsas sobre a Covid-19 parecem se espalhar na mesma velocidade que o SARS-CoV-2.
“Você leu algo sobre a Covid-19. Você lê um pouco mais. De repente você lê coisas que se contradizem. Isso se tornou uma rotina diária para muitos de nós. A Covid já preocupa o suficiente, quando você adiciona um tsunami de informações ao seu redor, você poderá ficar realmente muito estressado com tantas informações”, comenta o o geriatra Rubens de Fraga Júnior, professor de Gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou em fevereiro que não estava apenas combatendo o SARS CoV-2, o vírus que causa a Covid-19, mas também uma “infodemia”, que definiu como “uma superabundância de informações – algumas corretas e outras não – isso dificulta que as pessoas encontrem fontes sérias e orientações confiáveis quando precisam realmente”. “A sobrecarga de informações provoca ansiedade. Se as pessoas obtiverem informações erradas de fontes não confiáveis, podemos ter problemas em retardar a propagação do vírus”, explica o geriatra.
As prevenções mentirosas contra a doença vão desde inofensivas, como bebidas quentes, chá de alho e alimentos com alto/baixo Ph, até as mais absurdas, como a ingestão de álcool, maconha ou cocaína. “Para o tratamento, existem rumores sobre medicamentos para Aids e a famosa cloroquina. Nenhum deles comprovado pela OMS ou qualquer estudo, podendo gerar sérios efeitos colaterais”, afirma o médico Vitor Asseituno, CEO e fundador da Sami.
Site em português verifica nível de confiabilidade das informações
A iniciativa global das Nações Unidas para combater a desinformação durante a pandemia do novo coronavírus – também chamada de “infodemia” – ganha nesta segunda-feira (22) a sua versão brasileira. Com o objetivo de aumentar o volume e o alcance de informações precisas e confiáveis sobre a Covid-19, o site ‘Verificado’ disponibiliza conteúdo inteiramente em português e pode ser acessado pelo endereço compartilheverificado.com.br.
Lançado em 21 de maio, Verificado é liderado pelo Departamento de Comunicação Global (DCG) da ONU e traz dados, orientações e números relacionados ao novo coronavírus vindos de fontes seguras e confiáveis, graças a parcerias feitas pelas Nações Unidas com agências, influenciadores, sociedade civil, empresas e organizações de mídia.
O projeto oferecerá informação sobre três temas: ciência – para salvar vidas; solidariedade – para promover cooperação local e global; e soluções – para defender o apoio a populações impactadas. Também promoverá pacotes de recuperação que abordem a crise climática e tratem das causas principais da pobreza, da desigualdade e da fome.
Os leitores também podem se cadastrar para receber as novidades do site por e-mail e se tornar “voluntários de informações”, compartilhando dados e orientações confiáveis com suas redes de amigos e familiares. O Verificado é uma colaboração com a “Purpose”, uma das organizações líderes mundiais em mobilização social, com apoio da Fundação IKEA e Luminate.
Dicas de médico para avaliar as informações
Para Rubens Fraga, é importante saber que médicos e pesquisadores do mundo todo ainda estão aprendendo sobre o novo vírus; portanto, informações e conselhos – mesmo de fontes respeitáveis como o Centro de Controle de doenças (USA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) – provavelmente mudarão à medida que novos dados estejam disponíveis. “Desconfie de informações que pedem para você repassar ao maior número de pessoas possíveis”, afirma o geriatra. Veja algumas recomendações do médico:
- 1) Pesquise os dados da Covid-19 – com cuidado!2) Não pule para o estudo mais recente da Covid-19
3) Desconfie das informações da Covid-19 nas mídias sociais
- Não repasse nada sem antes verificar veracidade e fonte das informações. Abaixo estão alguns órgãos que podem ajudar a separar fatos de rumores:
– WHO: Mythbusters
– Federal Emergency Management Agency (FEMA) Coronavirus Rumor Control
– CDC Stop the Spread of Rumors
– U.S. Department of Defense Coronavirus: Rumor Control
– Utilize o aplicativo Coronavírus SUS. - 4) Não permita que a sobrecarga de informações afete sua saúde mentalDiminua o tempo de ouvir, ler ou assistir notícias sobre a Covid-19 que fazem com que você se sinta ansioso ou angustiado. Procure informações apenas de fontes confiáveis, para que você possa tomar medidas práticas para se proteger e de preferência no mesmo horário do dia.
- 5) Algumas coisas que você precisa saber
O distanciamento social, a lavagem das mãos e o uso de máscaras são estratégias-chave para prevenir a Covid-19. Embora os médicos ainda possam aprender mais sobre os sintomas, o CDC relata três principais: tosse, febre e falta de ar. Pessoas portadoras assintomáticas também transmitem a doença.Se sentir algum destes sintomas, você deve contactar o seu médico. Você também precisa saber sobre novos anúncios de governos federais, estaduais ou locais sobre a restrição de viagens e quarentena. -
Como denunciar notícias falsas pelas redes sociais
O WhatsApp é o maior aplicativo de mensagens do mundo. Ele atingiu, no início de 2020, a marca de 2 bilhões de usuários e hoje em dia é difícil encontrar quem não seja adepto da plataforma. A conversa em grupo seja da família, trabalho, amigos ou da academia, costumam ser movimentadas, com muito assunto.
Tanto o WhatsApp quanto o Facebook possuem ferramentas que permitem que fake news sejam devidamente denunciadas. Entre os quase 10 mil jovens que votaram à pergunta “Você denuncia fake news?” no Quinto, 52% sinalizaram positivamente. E aqui, a diferença se mostrou considerável nessa prática entre os dois sexos.
As mulheres mostram maior engajamento na iniciativa de identificar e denunciar a propagação de notícias falsas: 55% responderam ter esse costume. Já entre os homens o índice é bem mais baixo: apenas 47%.
Movimento lança campanha contra fake news
- Após estudo recente que mostrou que 110 milhões de brasileiros acreditam em, ao menos, uma fake news sobre o novo coronavírus, o movimento Avaaz lançou uma campanha contra fake news na pandemia para cobrar que os CEOs das redes sociais, como Facebook e Twitter, além das plataformas de vídeos Youtube e de pesquisa Google, combatam as chamadas fake news sobre o vírus, que se espalham diariamente por milhões de páginas na internet.
- A campanha contou com uma carta publicada em um anúncio de página inteira nos jornais O Globo e New York Times, pedindo a correção dos fatos para os usuários que foram expostos às desinformações. O documento reúne assinaturas de pesquisadores, médicos, enfermeiros e lideranças de entidades como Conselho Federal de Enfermagem, Fundação Oswaldo Cruz, Sociedade Brasileira de Imunizações e Instituto de Ciência Biomédicas da USP (ICB).
Os responsáveis pelas redes sociais costumam dizer que suas plataformas não são veículos de imprensa (que precisam se responsabilizar pelo conteúdo), mas, sim, espaços de convivência, como praças públicas. Mas, uma das responsabilidades de quem cuida de uma praça é mantê-la limpa e bem iluminada. Então, se as redes são como praças, seus administradores devem cuidar de remover o lixo da desinformação e parar de expor o obscurantismo”, enfatizou a microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto.
O IQC endossa a preocupação com o impacto das fake news sobre o comportamento das pessoas. Com a pandemia da Covid-19, a entidade tem atuado no combate à disseminação de informações falsas ou cientificamente não comprovadas, que colocam em risco a saúde e a vida de milhões de pessoas. Para Natalia, é uma obrigação do IQC apoiar esse tipo de iniciativa, pois a desinformação em plena pandemia expõe cidadãos ao risco e, ainda, agrava a ansiedade que muitos têm durante esse período.
Nossos hábitos de saúde e higiene tendem a refletir aquilo que sabemos ou acreditamos a respeito desses assuntos. Se somos levados a acreditar que uma conduta prejudicial é benéfica ou neutra, corremos o risco de nos prejudicar e só saber desse erro quando for tarde demais. E, numa pandemia, comportamentos perigosos têm potencial de afetar a sociedade como um todo”, afirma.
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Legislação e multas pesadas para combater notícias falsas
Profissionais de saúde de 17 países também assinaram carta contra as fake news. Uma pesquisa apontou que 21 estados brasileiros estão propondo projetos de multa para quem divulgar essas informações erradas. No Brasil, iniciativas como o PL 1429/2020, que institui a “Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet”, indicam um importante passo para demandar que as redes sociais combatam as fakes news, apresentando informações corretas.
Em um momento em que médicos no mundo inteiro trabalham na linha de frente para combater o coronavírus, especialistas em desinformação da Avaaz alertam: as redes sociais precisam fazer a sua parte na luta contra o vírus da desinformação, e apresentar aos usuários correções para as notícias falsas que colocam a vida de milhões em risco.
Precisamos de legislações que estabeleçam como redes sociais devem agir. Estudos comprovam que a solução mais eficiente é corrigir o erro: todos que receberem fake news deverão receber correções de checadores de fatos independentes. Esse é o ponto central que apoiamos neste projeto e em outras iniciativas”, afirma Laura Moraes.
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Internet pode propagar ódio, medo e mentiras
“Não podemos ceder nossos espaços virtuais para aqueles que publicam mentiras, medo e ódio. Desinformação é divulgada online, em aplicativos de mensagem e de pessoa para pessoa. Seus criadores usam produção e métodos de distribuição maliciosos. Para combater isso, cientistas e instituições como as Nações Unidas precisam alcançar pessoas com informação acurada, na qual possam confiar”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, ao anunciar a iniciativa.
“A internet tem uma influência poderosa, assim como a televisão. Quando há fontes de informação fortes e conflitantes, em quem a pessoa vai acreditar e como ela chegará a uma conclusão firme? Eu acredito que o site Verificado assegura ao mundo que as Nações Unidas se mantêm como uma fonte de informação independente e confiável, por meio do seu Departamento de Comunicação Global”, disse Kimberly Mann, diretora do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio de Janeiro).
“Em muitos países, a crescente desinformação em canais digitais está impedindo a resposta de saúde pública e provocando instabilidade. Há esforços inquietantes de explorar a crise para avançar nativismo ou atingir grupos minoritários, o que pode piorar na medida em que a pressão aumenta nas sociedades e instabilidades econômicas e sociais entram em cena”, afirma a subsecretária-geral da ONU para Comunicação Global, Melissa Fleming.
- “Corremos o risco de nos prejudicar e só saber desse erro quando for tarde demais, pois, em uma pandemia, comportamentos perigosos tem potencial de afetar a sociedade como um todo. As redes sociais são o epicentro do contágio: WhatsApp e o Facebook estão entre as fontes mais citadas de todas as notícias falsas”, afirma a microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto.
- Para conferir o texto completo da carta contra a infodemia, acesse aqui.
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Voluntários da informação
O site Verificado está chamando pessoas do mundo todo a se inscrever e se tornarem “voluntários da informação” para compartilhar conteúdo confiável para manter famílias e comunidades seguras e conectadas. Descritos como primeiros contatos digitais, os voluntários receberão diariamente uma lista de conteúdo verificado, otimizado para compartilhamento com mensagem simples e convincente que ou enfrenta diretamente a desinformação ou preenche um vácuo de informação.
O DGC irá fazer parceria com agências da ONU e equipes de país da ONU, influenciadores, sociedade civil, empresas e organizações de mídia para distribuir conteúdo confiável e acurado e trabalhar com plataformas de mídia social para erradicar afirmações de ódio e prejudiciais sobre a Covid-19.
“A iniciativa Verificado também trabalhará para enfrentar a esta tendência com conteúdo de esperança que celebre atos locais de humanidade, as contribuições de refugiados e migrantes, e defenda a cooperação global”, diz o texto. Voluntários podem se inscrever aqui. (inicialmente, apenas em inglês)
- Com Assessorias