Quem nunca sentiu aquela dorzinha chata no joelho? Pois é, esse incômodo pode ser um verdadeiro obstáculo para uma vida ativa e saudável. As dores nessa região são mais comuns do que se imagina e podem afetar pessoas de todas as idades, gêneros e níveis de condicionamento físico. O joelho é uma das articulações mais complexas e sobrecarregadas do corpo humano. As dores no joelho são um problema de saúde comum e podem ser causadas por diversos motivos. Um deles é a sobrecarga provocada por excesso de peso.

“Uma pessoa que enfrenta dores constantes no joelho está mais propensa a ter uma qualidade de vida reduzida, por isso é tão importante realizar o diagnóstico e começar o tratamento. Quando mais cedo descoberta a causa mais chances há de ter uma vida mais ativa e sem dores”, afirma Raquel Silvério, fisioterapeuta e diretora clínica do Instituto Trata unidade de Guarulhos.

Ela aponta as cinco causas mais comuns de dores no joelho:

Sobrecarga e excesso de peso: O excesso de peso coloca uma pressão adicional sobre as articulações dos joelhos, podendo resultar em dor e inflamação. A sobrecarga crônica devido a um estilo de vida sedentário também pode contribuir para o problema.

Desgaste da cartilagem: A osteoartrite, um processo degenerativo que afeta a cartilagem protetora das articulações, é uma causa comum de dores no joelho. Com o tempo, a cartilagem pode se desgastar, levando a fricção e desconforto durante o movimento.

  • Condições médicas pré-existentes: Algumas condições médicas, como a artrite reumatóide, podem causar inflamação nas articulações, incluindo os joelhos. Essas inflamações frequentemente resultam em dores e limitações na mobilidade.

Má postura e alinhamento: Uma postura inadequada e um alinhamento desfavorável das pernas e quadris podem causar desequilíbrios musculares, colocando pressão irregular nos joelhos. Com o tempo, isso pode levar a dores e desconforto.

  • Lesões esportivas: Atividades esportivas e exercícios intensos podem resultar em lesões nos ligamentos, tendões e cartilagem do joelho. Torções, impactos diretos e movimentos bruscos podem levar a danos que desencadeiam dores significativas.

Como tratar o joelho e o excesso de peso ao mesmo tempo?

Muitos pacientes com obesidade ou sobrepeso relatam dificuldades em emagrecer, pois não conseguem se movimentar adequadamente em razão de dores no joelho, que são causadas justamente pela obesidade e o sobrepeso. Isso porque o excesso de gordura corporal provoca inflamação em diversos órgãos e favorece o desgaste e degeneração das articulações, principalmente nos joelho, por causar um trauma repetitivo no joelho por conta da ‘sobrecarga’. Com as dores dos joelhos, pacientes com obesidade não conseguem ter a ajuda da atividade física para perder peso.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado que a prevalência de obesidade triplicou em todo o mundo desde 1975. No Brasil, a doença crônica afeta quase 1/4 da população, mas o sobrepeso acomete quase seis em cada 10 brasileiros. “Isso significa predizer que teremos uma ‘epidemia’ ainda maior de artrose nos joelhos”, diz o ortopedista Marcos Cortelazo, especialista em joelho e traumatologia esportiva, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).

Então, como sair desse círculo vicioso? Segundo o médico, é preciso lidar também com o problema metabólico, incentivando o paciente a adotar novos hábitos de vida e perder peso. “Pessoas com sobrepeso ou obesidade podem se beneficiar de uma diminuição no peso corporal para prevenir ou retardar os defeitos estruturais na osteoartrite (artrose) do joelho”, explica.

Dieta e medicamentos podem ser  indicados para ajudar a diminuir o peso e a inflamação nas articulações, ajudando o paciente a ingressar na atividade física para manutenção da massa magra. O ortopedista diz que é importante a inclusão da atividade física, uma vez que a articulação foi desenvolvida para estar em movimento. A musculação pode vir depois, para fortalecer as articulações.

“Devemos primeiro ter como meta o controle ou adequação de peso, evitando o excesso de peso. E em segundo lugar a manutenção da massa magra ou musculatura que tem como efeito secundário a proteção das articulações. Assim, além dos exercícios físicos, devemos privilegiar a ingestão de proteínas e uma correta hidratação. Tudo isso será benéfico para os joelhos e saúde metabólica”, ressalta o Dr. Marcos.

A fisioterapeuta Raquel comenta que para reduzir o risco de dores no joelho, é importante ter hábitos saudáveis, como manter um peso equilibrado, realizar exercícios de fortalecimento muscular, usar calçados adequados para atividades esportivas e adotar técnicas de treinamento condizente com cada caso.

“Além disso, em caso de dores persistentes no joelho, é fundamental procurar a orientação de um profissional de saúde, como um fisioterapeuta, para obter um diagnóstico preciso e um plano de tratamento personalizado. Lembrando sempre que a prevenção e o cuidado adequado são fundamentais para manter a saúde e a funcionalidade dessa importante articulação do corpo humano”, finaliza a fisioterapeuta.

Excesso de peso transforma células em ‘maçãs podres’ e causam artrose

Segundo Marcos Cortelazo, a causa da dor nos joelhos por excesso de peso corporal é bem estabelecida na literatura científica. A obesidade poderia promover o tipo de inflamação destrutiva nas articulações que vai muito além do esperado pelo desgaste, pois acontece mesmo em articulações que não suportam peso, como as mãos.

“O tecido adiposo que foi metabolicamente alterado pela obesidade libera proteínas chamadas citocinas e adipocinas, que são conhecidas por promover a inflamação em todo o corpo. Esse estudo mostrou que a obesidade também altera o ambiente dentro da própria articulação, deixando as células na articulação vulneráveis a serem ‘transformadas’ naquelas que promovem a inflamação”, acrescenta o médico.

Mas não é só essa explicação para a obesidade ser maléfica para as articulações: um estudo recente descobriu que ela promove condições pró-inflamatórias que pioram a artrite. O excesso de peso transforma células em ‘maçãs podres’ pró-inflamação. “Os pesquisadores descobriram que células específicas no tecido de revestimento articular (sinóvia) de pacientes com osteoartrite estão sendo alteradas devido a fatores associados à obesidade”, explica Marcos Cortelazo.

Segundo o médico, pesquisas anteriores mostraram que o tecido adiposo que foi metabolicamente alterado pela obesidade libera proteínas chamadas citocinas e adipocinas, que são conhecidas por promover a inflamação em todo o corpo.

“Esse estudo, no entanto, observou que em células retiradas de biópsias de articulações artríticas, a obesidade também altera o ambiente dentro da própria articulação, deixando as células na articulação vulneráveis a serem ‘transformadas’ naquelas que promovem a inflamação”, acrescenta o médico. Assim, a obesidade poderia promover o tipo de inflamação destrutiva nas articulações que vai muito além do esperado pelo desgaste, pois acontece mesmo em articulações que não suportam peso, como as mãos.

“Mas com essa observação, concluímos que a obesidade é duplamente lesiva aos joelhos: por conta do excesso de peso e em razão da inflamação gerada dentro da articulação”, destaca o médico.

“A obesidade está criando um ambiente no corpo que está afetando negativamente as células chamadas fibroblastos sinoviais, que são células-tronco envolvidas na regulação do fluido lubrificante das articulações. Então, como maçãs-podres em um barril, eles começam a afetar toda a articulação, aumentando a secreção de substâncias químicas que degradam a articulação e aumentam a progressão da osteoartrite”, acrescenta o médico.

A pesquisa

O peso não foi elencado como o fator determinante para afetar as células das articulações, levando a uma maior inflamação, segundo a pesquisa. A equipe de pesquisadores usou informações de biópsia de uma variedade de articulações, incluindo articulações que suportam peso, como quadris e joelhos, bem como as mãos, para determinar se a tensão física adicional nas articulações associada à obesidade estava impulsionando citocinas pró-inflamatórias.

Os resultados descobriram que houve impactos independentes da obesidade nas articulações que suportam e não suportam carga, e que entre os 16 pacientes com IMC acima de 30, o peso sozinho não foi responsável pelas alterações moleculares nessas articulações. “Este estudo fornece mais evidências de que a osteoartrite não é apenas inevitável ‘desgaste’, mas o resultado de alterações bioquímicas complexas e diversas na articulação.

A pesquisa revelou que a obesidade pode levar a uma alteração nas células do revestimento articular para torná-las mais inflamatórias, e que essas alterações ocorrem não apenas nas articulações que suportam carga, como joelho e quadril, mas também nas articulações que não suportam carga, como a mão”, explica o médico. Os pesquisadores acreditam que as descobertas aumentam a compreensão do que pode causar osteoartrite, aproximando da descoberta de tratamentos mais eficazes no futuro.

Com Assessorias

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