Nesses tempos olímpicos, ao assistir nossas estrelas dos esportes desfilarem sob os holofotes da mídia, muita gente sonha com um corpo escultural, em ganhar massa muscular, diminuir o percentual de gordura. E, se for atleta amador, ainda quer atingir um alto rendimento esportivo. E é neste cenário que, dentro e fora das quadras e arenas, o fantasma do doping cerca a todos, amadores e profissionais.
A injeção e a ingestão de asteroides anabolizantes, alerta a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia- regional RJ (SBEM-RJ), podem acarretar efeitos colaterais como acne grave, calvície, alterações hepáticas, trombose, doença cardíaca, comportamento agressivo, paranoia, alucinações. quando o anabolizante é utilizado sem indicação médica.
“Em mulheres, podem causar alterações permanentes na voz e genitália, além de aumento de pelos e irregularidade menstrual. Nos homens o uso pode levar à atrofia dos testículos, redução da produção de espermatozóides e infertilidade”, adverte a presidente da SBEM-RJ, Flavia Conceição.
Para a entidade, esse tipo de medicamento pode ser utilizado com supervisão dos endocrinologistas apenas em determinadas situações. Como no caso dos homens com deficiência na produção de testosterona, mais comum na terceira idade, mas que pode ocorrer também em outras épocas da vida. A sociedade médica elaborou uma cartilha completa que pode ser acessada no site da entidade: www.endocrino.org.br
Usar ou não: muito além de simples opção
Quando se fala em exercício físico, há uma associação imediata à força, velocidade e questão estética. As pessoas precisam estar conscientes o suficiente para pensar que estão fazendo algo para melhorar a própria saúde, o que torna automaticamente um contrassenso o uso de qualquer metodologia que contrarie este objetivo, explica o especialista em medicina do esporte José Kawazoe Lazzoli.
“Na medicina do esporte, para um indivíduo poder ser campeão mundial, campeão olímpico em uma determinada modalidade precisa ter genética favorável, somada a treinamento e nutrição adequados. Há um conjunto muito grande de fatores que constrói um campeão mundial e um campeão olímpico. A diferença entre o primeiro e o décimo colocados é muito pequena, por isso muitos se sentem tentados a recorrer a algo mais para lograr um determinado resultado desportivo”, esclarece.
Segundo ele, o doping é um assunto importante até mesmo para quem nunca fez uso dele, como é o caso do atleta petropolitano de mountain bike Henrique Avancini, representante do Brasil na modalidade olímpica. “Eu fiz uma escolha muito tempo atrás, mas é importante alertar os atletas que o caminho do doping não é mais eficiente do que a infinidade de recursos tecnológicos que ajudam no desenvolvimento do atleta de forma lícita.
O desenvolvimento para um atleta ‘não dopado’ requer estudo, autoconhecimento, trabalho a longo prazo, evolução por meio de erros e acertos e o principal: maturação esportiva. “O atleta ‘dopado’, eventualmente, anda rápido. Eventualmente, vence provas. Porém nunca – nunca mesmo — evolui”, complementa o ciclista, que disputa a prova de Cross-country masculino, no domingo, dia 21 de agosto.
Suplementos esportivos saudáveis
O papel da nutrição na performance de amadores e profissionais é fundamental. O primeiro passo é ter uma alimentação equilibrada e de preferência de acordo com a modalidade praticada. A diferença entre os atletas de maior pros de menor rendimento está tanto na ingestão calórica quanto na ingestão de nutrientes como carboidratos e proteínas.
De acordo com a nutricionista Nathália Pinho, que atende na Clínica Cor Diagnose, em Petrópolis, os atletas de maior rendimento têm necessidade de usar suplementos esportivos, saudáveis e éticos específicos para cada modalidade. “Os mais comuns são os à base de carboidratos de absorção rápida ou média, como dextrose, maltodextrina, frutose ou waxy maize e os feitos de aminoácidos, proteínas e também os de proteínas do soro do leite ou whey protein e a cafeína que têm ganhado cada vez mais destaque em diversas modalidades”, enumera.
Para a profissional, também é importante alimentar-se em horários regulares, principalmente, antes do treino para proporcionar a energia necessária para a realização da prova e após o treino ou prova, promovendo uma maior recuperação dos exercícios. Entretanto, a quantidade vai variar de acordo com a modalidade que o atleta ou praticante de atividade física faz. “Existem casos extremos de atletas que podem chegar a consumir cerca de 8000 calorias/dia ou até mais, mas isso varia de acordo também com idade, sexo, quanto tempo pratica a atividade física, qual a intensidade diária, qual modalidade, quantas horas treina por dia, quais tipos de treino, dentre outros fatores”, explica.
Exames antidoping na Rio 2016
A notícia do banimento de mais de cem atletas russos escancarou de vez as portas da Rio 2016 para o velho fantasma do doping que assombra os esportes de alto desempenho. Federações internacionais de modalidades como atletismo e levantamento de peso basearam-se nos resultados da investigação realizada pela Agência Mundial Antidoping (WADA), que aponta uma política de estado para encobrir casos positivos no controle antidoping, na Rússia.
Esteroides anabólicos são drogas que são quimicamente relacionadas com o principal hormônio masculino, a testosterona. São conhecidos por seus efeitos na massa muscular. Porém, o uso inapropriado de esteroides anabólicos pode causar efeitos colaterais importantes, incluindo alterações no comportamento, aumento do risco de doenças cardíacas e hepáticas. Além disso, injeções de esteroides podem causar AIDS ou hepatite com o uso de seringas compartilhadas.
Um documento científico onde constarão as estatísticas sobre controle antidoping dos Jogos Olímpicos Rio-2016 será apresentado no XXVIII Congresso Brasileiro de Medicina do Exercício do Esporte, entre 13 e 15 de outubro, na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina.
Como funcionam os exames antidoping
Os exames antidoping nos atletas verificam o uso de alguma substância proibida para turbinar o rendimento dos competidores. O conceito de doping diz respeito a três situações, sendo que se duas delas estiverem presentes, uma substância pode ser considerada ilícita. Primeiro, melhorar o desempenho de forma artificial. Segundo, ser prejudicial à saúde. Terceiro, ser contrária aos valores do esporte.
Em princípio, as modalidades em que há maior incidência de casos positivos no controle antidoping são as lutas, levantamento de peso, atletismo e natação. A WADA, que monitora atletas com auxílio da Interpol, tem o objetivo de assegurar condições de igualdade nas competições, priorizando a preservação da saúde do atleta. A entidade atualiza a lista de substâncias proibidas anualmente no site www.wada-ama.org. A listagem que começa a ser divulgada em novembro e dezembro é publicada no mês de janeiro do ano seguinte.
Nela estão substâncias como esteroides anabolizantes (cujas consequências frequentes são infertilidade, agressividade e câncer no fígado), cocaína, canabis, além de estimulantes (relacionados a aumento da pressão arterial, arritmias e morte súbita em indivíduos com pré-disposição cardiovascular), reguladores hormonais e diuréticos.
Fontes: SBEM-RJ, Wada e Clínica Cor Diagnose