Novembro não é apenas o mês da conscientização sobre o câncer de próstata, conhecido como Novembro Azul, mas também abraça a causa da prematuridade, sendo designado como o mês internacional de conscientização sobre o tema. No dia 17, ações de sensibilização são realizadas em diversos países, visando educar a população sobre os desafios enfrentados pelos bebês prematuros e suas famílias. Geralmente, considera-se um período de gestação ideal entre 38 a 42 semanas, mas quando o parto ocorre antes das 37 semanas, classifica-se como prematuro.

A prematuridade é um desafio global de saúde que afeta milhões de famílias todos os anos. São considerados prematuros os bebês que nascem antes das 37 semanas de gestação – o comum é entre 38 e 42 semanas.  De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa global de prematuridade atinge a marca alarmante de 15 milhões de bebês a cada ano. E o mais triste: a estimativa é que mais de um milhão de bebês percam a vida todos os anos por causas relacionadas a prematuridade.

 

Com registro de 152 milhões de partos de bebês prematuros no mundo entre os anos de 2010 e 2020, a OMS declara o problema uma “emergência silenciosa”. O levantamento, realizado em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), aponta que, somente em 2020, cerca de 13,4 milhões de bebês nasceram precocemente, o equivalente a cerca de 1 em cada 10 crianças nascidas em diferentes partes do mundo.

Gravidez na adolescência, ausência de pré-natal, doenças relacionadas à gestação e a desinformação são alguns dos principais motivos dos altos índices de parto prematuro no Brasil, segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef/2021).

No Brasil, a taxa de nascimentos prematuro apresentou queda nos últimos 10 anos. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2011 e 2021, 11,1% dos bebês nascidos vivos foram prematuros. Esse percentual estava em 12% em 2010, segundo o relatório “Nascido cedo demais: década de ação contra o parto prematuro” (Born Too Soon), divulgado durante a Conferência Internacional de Saúde Materno Infantil (IMNHC) 2023, na África do Sul

A queda, além de pequena, ainda deixa o país como uma das nações com maior taxa de nascidos prematuros na América Latina, figurando na terceira posição dessa lista. O Brasil ocupa a 10ª posição entre as nações com maior incidência de casos de nascimentos prematuros. A incidência da prematuridade no Brasil ainda é o dobro do índice de países europeus. Nos países desenvolvidos, a taxa de nascimentos prematuros é significativamente menor, cerca de 5%, o que faz deste um dos problemas sociais mais graves no Brasil.

Avanços da tecnologia e mais recursos nas UTIs neonatais

Hospital da Mulher, na Baixada, é o maior no Estado do Rio (Foto: Divulgação SES-RJ)

Apesar de apresentar uma queda importante na última década, a taxa de prematuridade ainda é alta e requer ações contundentes para combater o problema. A constante evolução na área da medicina vem contribuindo para melhora na sobrevida desses bebês. Hoje, com o avanço dos tratamentos, mesmo crianças que nascem com menos de 400 gramas conseguem sobreviver e levar uma vida normal.

Boa parte dos hospitais e maternidades – inclusive públicos – dispõe de equipamentos mais modernos, protocolos de atendimento estabelecidos e profissionais mais qualificados, que fazem diferença no tratamento dos casos e aumentam consideravelmente as chances de recuperação de bebês cada vez mais prematuros.

O Novembro Roxo – que marca o Dia Mundial da Prematuridade 17/11) – tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre a prevenção dos partos prematuros e dos cuidados essenciais para os recém-nascidos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e as instituições que compõem a Aliança Global para o Cuidado do Recém-nascido (GLANCE) – incluindo a ONG Prematuridade.com, que representa o Brasil nessa rede – escolheram enfatizar novamente o cuidado nas UTIs neonatais em 2023.

“O parto prematuro tem um impacto social imenso. Além do alto custo para a saúde, a prematuridade pode ter repercussões de longo prazo que afetam diretamente a saúde mental e física dos bebês e suas famílias e, consequentemente, impacta outros setores da sociedade como Assistência Social, Educação, Cidadania. Se unirmos forças com organizações da sociedade civil, governos, entidades profissionais e científicas e iniciativa privada, conseguiremos mudar esse cenário”, diz a diretora-executiva da ONG Prematuridade.com, Denise Suguitani.

Um entre 10 bebês nascidos no Estado do Rio é prematuro

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), entre 10% e 11% dos bebês nascem prematuros nas maternidades do Rio de Janeiro, que adotam cuidados humanizados e não-farmacológicos para aumentar as chances de sobrevida. A rede estadual dispõe de quatro maternidades: Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti; Hospital Estadual da Mãe (HMãe), em Mesquita; Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL), em Niterói; e Hospital Estadual Estadual dos Lagos – Nossa Senhora de Nazareth, em Saquarema.

Com a maior rede UTI neonatal da rede pública e da privada, o Hospital da Mulher em Meriti se destaca pelo atendimento humanizado a gestantes, mães e bebês em seus 53 leitos da UTI neonatal. A média de internação diária é de 12 a 15 bebês abaixo de um quilo por mês.A unidade é a primeira da rede estadual totalmente especializada em gestação de médio e alto risco. Este ano, já realizou 3.378 partos cirúrgicos e vaginais, além de 41. 518 consultas, encaminhadas pelo Sistema Estadual de Regulação (SER).

As outras três unidades são hospitais de “portas abertas”, que aceitam pacientes ao darem entrada pela emergência e contam com UTIs neonatais. Segundo o Governo do Estado, somente em 2023, estão sendo aplicados R$ 36 milhões por mês nas maternidades estaduais, além do investimento de R$ 8 milhões em obras de modernização. Em 2022, foram destinados R$ 450 milhões no atendimento especializado a mães e bebês fluminenses.

Taxa de prematuros no município do Rio chega a 15,6%

Em 2022, a taxa de partos prematuros correspondeu a 15,6% nas unidades da rede pública do município do Rio de Janeiro, proporção dentro da média esperada, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS-Rio). Para combater a prematuridade na cidade, a SMS-Rio informa que tem realizado algumas ações para aumentar os cuidados em relação à segurança da gravidez.

A oferta de pré-natal de alto risco, por exemplo, aumentou em 200% e o tempo de espera da primeira consulta desse procedimento conseguiu ser reduzido de 96 para 26 dias. Entre as medidas, estão o tratamento de infecções e controle de doenças crônicas como hipertensão e diabetes, dois principais fatores da causa de parto prematuro. Recentemente, a Secretaria começou a distribuir aparelhos de pressão arterial para garantir o controle das hipertensas durante a gestação. As futuras mamães também são orientadas para a adoção de hábitos de vida mais saudáveis.

Serviços especializados garantem o crescimento e o bem-estar desses pacientes também na rede pública municipal do Rio de Janeiro. Ao todo, as maternidades municipais oferecem 684 leitos obstétricos, 124 leitos de UTI Neonatal, 152 leitos de UCINCo (Unidade de cuidado intermediário convencional) e 39 leitos de UCINCa (Unidade de Cuidados Intermediários Canguru) em 11 maternidades municipais e uma Casa de Parto. 

O superintendente de Hospitais Pediátricos e Maternidades da SMS, Márcio Ferreira, esclarece que há a criação de ambientes favoráveis na evolução do bebê que nasceu prematuro. Chamado de “cuidado desenvolvimental”, a preocupação nesta fase é com o ganho de peso e o avanço semana a semana. O intuito é favorecer o crescimento saudável desse bebê nos primeiros mil dias de vida, que vai influenciar nos períodos posteriores: a fase infantil, adolescência e na forma adulta.

“Os enfermeiros, os técnicos de enfermagem, os médicos neonatologistas, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais proporcionam um amparo ao bebê e à mãe. A unidade neonatal garante o controle da luminosidade e do som. A incubadora vai ter uma temperatura e umidade calculados de acordo com a idade gestacional, o pequeno vai ser posicionado de maneira a delimitar os movimentos para produzir neurônios mais sadios, assim como a musculatura corporal”, complementou.

12% de prematuros em hospital municipal do Rio de Janeiro

 

No Hospital da Mulher Mariska Ribeiro (HMMR), administrado pelo Cejam, em parceria com a Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, um levantamento mostra que, de março de 2022 ao mesmo mês de 2023, 12% dos bebês nascidos com vida foram prematuros. Desses, 62 foram admitidos na UTI neonatal, com peso abaixo de 1,5 kg, e 60% tiveram alta. Entre os óbitos, predominaram os bebês abaixo de 30 semanas de idade gestacional e menos de 1 kg, sobretudo aqueles abaixo do limite de viabilidade.

A diretora médica do HMMR, Brunna Milanesi explica que todo bebê que nasce abaixo de 34 semanas de idade gestacional e abaixo de 1,8 kg precisa de um cuidado de terapia intensiva neonatal fino. Para oferecer uma assistência segura, a unidade conta com equipe multiprofissional especializada em serviço de terapia intensiva, formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais. 

““Investimos não só em equipamentos e insumos, mas também na capacitação da equipe para o cuidado neonatal. São treinamentos constantes que visam reduzir o número de partos prematuros e impactam positivamente o tratamento dos bebês, como o Método Canguru e o aleitamento materno. O gerenciamento de protocolos também tem sido essencial na melhoria da nossa qualidade assistencial. Todos esses profissionais seguem diferentes protocolos que proporcionam as condutas necessárias”, destaca.

Segundo ela, o bebê prematuro já sai de alta hospitalar com acompanhamento em unidades ambulatoriais assegurado pela contrarreferência e com menos comorbidades para uma vida melhor. “Nossa meta é aumentar a sobrevida dos bebês cada vez mais imaturos e que eles tenham qualidade de vida após a alta e autonomia no futuro”, reforça Brunna.

Fisioterapia auxilia na recuperação dos bebês prematuros

Um dos trabalhos importantes que são realizados com os bebês internados na UTI é a fisioterapia. O trabalho dos fisioterapeutas com os bebês prematuros visa mantê-los bem com a ventilação mecânica e dar assistência para que eles possam desenvolver a respiração até que consigam respirar sem qualquer ajuda.

Ediele Azevedo dos Santos, 29 anos, acompanha há três meses a recuperação e o desenvolvimento do filho Nicolas. Ele nasceu com 26 semanas de gestação e chegou com apenas 700 gramas à UTI Neonatal do Hospital Regional do Baixo Amazonas Dr. Waldemar Penna (HRBA), em Santarém, oeste do Pará. Hoje, pequeno Nicolas já consegue respirar o ar ambiente – sem a ajuda da ventilação mecânica – e já alcançou um quilo e 180 gramas.

“É importante para a melhora dele. Quando o Nicolas chegou, ele teve pneumonia e ficou bastante cansado. E todos os dias eles faziam as manobras e retiravam a secreção, o que ajudou na respiração dele. Tudo isso foi importante para que ele saísse da ventilação. E hoje ele está bem desenvolvido, ganhando mais peso e com a respiração boa”, comemorou a mãe, moradora do município de Belterra, também no oeste paraense.

A fisioterapeuta  Iana Bruna Parente Cardoso, explica que muitas vezes, bebês prematuros precisam ser intubados ou necessitam da ventilação não invasiva. E são os fisioterapeutas os principais responsáveis em mantê-los nestes métodos de ventilação.

“Além disso, fazemos manobras no tórax para que eles consigam respirar melhor, atuando na expansibilidade toráxica e na higiene brônquica. Vamos diminuindo e adequando os parâmetros ventilatórios até o desmame, quando o bebê consegue respirar espontaneamente”, explicou.

Outro ponto desenvolvido pelos profissionais durante o atendimento é o desenvolvimento do sistema sensório-motor dos pequenos. “A gente faz o estímulo sensorial com diferentes objetos, como tecidos, com a mão do bebê; mobilização articular dos membros superiores e inferiores para prevenir que o paciente tenha qualquer atraso sensório-motor. São pacientes que precisam de muita vigilância e delicadeza, pequenos, que necessitam de uma atenção redobrada no cuidado e recuperação”, ressaltou Iana.

O HRBA conta hoje com nove fisioterapeutas, divididos em três turnos (entre 7h e 1h), atuando na UTI Neonatal, que conta com 29 leitos para os recém-nascidos. O setor ganhou recentemente mais dez leitos para atender os bebês que seriam recebidos pelo Hospital Municipal de Santarém – os atendimentos na unidade local foram paralisados após um incêndio ocorrido em setembro.

“Agora, temos três alas de UTI Neonatal no hospital, então a cada turno temos três profissionais trabalhando, um para atender cada ala pela manhã, à tarde e também à noite”, explicou a fisioterapeuta.

Referência no atendimento de alta complexidade em neonatologia no oeste paraense, o HRBA recebe bebês prematuros – que são aqueles nascidos antes da 37ª semana de gestação – ou com alguma complicação durante a gestação. A unidade pertence ao Governo do Pará e é administrada pelo Instituto Social Mais Saúde.

Na rede privada, apoio integral e multidisciplinar

No maior e mais completo hospital exclusivamente pediátrico do país,  o Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), referência no atendimento a bebês prematuros, a UTI Neonatal conta com 20 leitos equipados para atender quadros de alto risco e de alta complexidade.

A instituição recebe casos de doenças de difícil diagnóstico ou de malformações ­– neurológicas, renais, cardíacas, hepáticas, intestinais, hemato-oncológicas, imunológicas, oftalmológicas, otorrinolaringológicas –, alterações de esqueleto e/ou cutâneas.

A UTI Neonatal atende recém-nascidos de todas as idades gestacionais que necessitem de intervenção cirúrgica, cuidados intensivos e tratamentos especializados. Esses pacientes recebem cuidados especiais de manutenção da temperatura, preservação da nutrição e minimização dos riscos de infecção.

Recém-nascido na uti neonatal do Hospital Pequeno Príncipe (Foto Camila Hampf)

A equipe multiprofissional – formada por médicos de várias especialidades, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, fisioterapeutas, farmacêuticos, assistentes sociais e odontólogos, entre outros – promove o monitoramento das perdas fisiológicas, a infusão de soro, medicamentos e oferta de leite e, alguns casos, também oferecem vacinas.

Em São Paulo, hospitais de luxo apostam em novidades. Inaugurada em agosto de 2022, a Maternidade São Luiz Star, da Rede D’Or, já realizou mais de 8,1 mil partos. Entre os diferenciais que atraem as gestantes estão acolhimento para irmãos mais velhos, uso de pulseira inteligente com rastreamento e o Life Lounge, espaço exclusivo para a família acompanhar e celebrar a chegada do bebê, após o parto cesárea.

Localizada na Vila Olímpia, zona Sul da capital paulista, a unidade oferece novidades em tecnologia hospitalar e corpo clínico formado por especialistas renomados. Conta com pronto-socorro obstétrico 24h, centro de diagnósticos, sala para parto de emergência, além de check-in e exames no leito.

Inaugurado em maio deste ano, o São Luiz Campinas, também da Rede D’Or, é considerado maior hospital privado do interior paulista e conta com uma maternidade para casos de alto risco e prematuridade, com pronto-socorro obstétrico exclusivo para atendimento de gestantes, duas salas de parto normal e pré-parto, apartamentos individuais e UTIs adulto e neonatal, além de equipe multiprofissional especializada.

“Nesses casos, assim como em gestações de alto risco, é importantíssimo buscar serviços com estrutura e profissionais adequados para atendimento e suporte em caso de intercorrências”, ressalta a médica do São Luiz Campinas.

Agenda Positiva

Novembro Roxo: ações para sensibilizar a sociedade

A ONG Prematuridade.com dá início à campanha do Novembro Roxo, mês internacional de sensibilização para a causa da prematuridade, com a missão de educar, informar e inspirar ações que reduzam essa problemática de saúde pública. O objetivo é chamar a atenção da população para as causas e consequências do nascimento prematuro e debater estratégias para mudanças positivas no cenário do parto prematuro nacional.

Haverá encontros presenciais (caminhadas, piqueniques e palestras) por todo o Brasil, assim como ações virtuais – lives e webinários com profissionais de saúde, formadores de opinião e famílias de bebês prematuros. Nas atividades programadas, estão confirmadas as participações de representantes da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), do Ministério da Saúde, da Sociedade Brasileira de Pediatria e de outras instituições.

Somando às ações online e offline, monumentos, estádios de futebol e prédios públicos serão iluminados na cor roxa, a cor-símbolo da causa. Em solidariedade ao Novembro Roxo, o Congresso Nacional recebe iluminação especial nesta sexta e sábado (17 e 18). Para mais informações acesse o sitehttps://prematuridade.com/

Com Assessorias

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