No início de abril, a Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês) reconheceu oficialmente uma nova versão da doença: o diabetes tipo 5, associado à desnutrição, que afeta principalmente adolescentes e jovens adultos magros e desnutridos. Estima-se que entre 20 milhões e 25 milhões de pessoas no mundo convivam com essa condição, sobretudo em países de baixa e média renda na Ásia e África, sendo mais comum na Índia, Tailândia, Uganda, Etiópia, Nigéria, dentre outros.
Descrito pela primeira vez há quase 70 anos, esse tipo de diabetes já foi chamado de diabetes tropical, pois aparecia mais em países tropicais, e diabetes tipo J, porque o primeiro caso foi descrito na Jamaica, em 1955. O reconhecimento oficial do diabetes tipo 5 foi feito durante o Congresso Mundial de Diabetes de 2025, que ocorreu entre os dias 7 e 10 de abril em Bangkok, na Tailândia.
O diabetes tipo 5 ainda é subnotificado e pouco compreendido. No Congresso da IDF, o presidente da entidade, Peter Schwarz, anunciou a criação de um grupo de trabalho para desenvolver um diagnóstico formal e diretrizes terapêuticas para a doença nos próximos dois anos.
É uma doença que afeta jovens de muito baixo peso, normalmente com IMC [índice de massa corporal] abaixo de 19, antes dos 30 anos”, explica o endocrinologista Fernando Valente, diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e professor da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), em São Paulo.
Brasil ainda não trem casos descritos de diabetes tipo 5
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, ainda não há dados oficiais sobre a prevalência do novo tipo de diabetes no país. “Talvez existam casos, mas possivelmente estejam rotulados como DM1 por causa da sobreposição de características, como a idade precoce de aparecimento do diabetes e o baixo IMC”, explica o médico.
Muitos casos possam estar sendo erroneamente classificados como tipo 1. “Pode ser que exista uma subnotificação por desconhecimento desse tipo de diagnóstico”, especula Valente. Por isso, a SBD informou que está atenta às novidades sobre o diagnóstico e tratamento deste tipo de diabetes e aguarda as diretrizes internacionais relacionadas a ele.
Para o endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein, o Brasil ainda não tem experiência clínica significativa com esse tipo de diabetes. “O que sabemos é que a doença é associada à desnutrição e o uso de insulina sozinho não vai reverter o processo”, afirma.
A IDF anunciou ainda a criação de um grupo de trabalho que, nos próximos dois anos, será responsável por desenvolver diretrizes específicas de diagnóstico e tratamento para essa forma de diabetes. “Essa nova classificação serve para ficarmos atentos a esse tipo de diagnóstico e vai nos ajudar a aprender sobre isso”, diz Rosenbaum.
Tipo 5 é mais comum em homens
A IDF também observou que o diabetes tipo 5 atinge mais homens do que mulheres, especialmente os que vivem em áreas rurais, onde o acesso a diagnóstico e tratamento é mais limitado. Sem diagnóstico correto, muitos dos pacientes acabam sem o acompanhamento necessário e sem a reposição adequada de insulina, o que eleva o risco de complicações como cegueira, amputações e doenças renais.
De acordo com Fernando Valente, os estudos sobre esse tipo de diabetes indicam que é mais comum em homens residentes na zona rural. Por isso, podem até não receber o diagnóstico correto justamente por se tratar de países de baixa renda, onde as pessoas quase não vão ao médico, não recebem o tratamento adequado e ficam com os níveis glicêmicos muito altos, o que favorece o desenvolvimento de complicações crônicas do diabetes, como cegueira, problemas renais, cardíacos e amputações de membros inferiores.
Diferenças para outros tipos de diabetes
As pessoas provavelmente sofreram uma desnutrição calórico-proteica relevante na vida intrauterina ou na primeira infância, na fase de formação dos órgãos, o que causou uma diminuição das células pancreáticas produtoras de insulina, chamadas de células-beta. Por isso, a secreção de insulina é pequena, mas maior do que no caso do DM1″, explica.
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Exames para identificar a diabetes tipo 5
Embora o mecanismo exato da doença ainda não seja totalmente conhecido, uma das hipóteses é que esteja associada à pouca massa de células pancreáticas. “Por isso, a capacidade de secreção de insulina dessas pessoas é menor; mas, ao mesmo tempo, maior do que em quem tem o tipo 1 da doença”, explica o médico.
Para diferenciar os dois tipos, dois exames são essenciais: a dosagem de anticorpos contra o pâncreas (presentes no tipo 1) e a análise da reserva de insulina, medida pelo peptídeo C. No tipo 1, essa reserva se esgota rapidamente; já no tipo 5, ainda há alguma produção de insulina – insuficiente para controlar a glicose, mas suficiente para evitar complicações graves como a cetoacidose diabética, que pode ser fatal quando não tratada no tipo 1. Essa produção residual de insulina é uma das principais características que distinguem o diabetes tipo 5 do tipo 1.
Além da reposição de insulina, é importante oferecer uma reestruturação nutricional adequada para os pacientes com diabetes tipo 5, com reposição de proteínas, carboidratos, micronutrientes, eletrólitos e outras vitaminas essenciais para o funcionamento do organismo.
Fonte: Agência Einstein e SBD