Segundo a Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), uma a cada 11 pessoas tem a doença, o que representa 463 milhões de casos no mundo. Desse total, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS), 9,3% dos adultos, entre 20 e 79 anos, vivem com diabetes. Além disso, 1,1 milhão de crianças e adolescentes com menos de 20 anos apresentam diabetes tipo 1.
Com a perspectiva de aumento de 51%, considera-se para o ano de 2045, aproximadamente, 700 milhões de pessoas com a doença. O número de casos de diabetes praticamente dobrará em pouco menos de três décadas, segundo estimativas publicadas na revista científica “Lancet” no fim de junho. A publicação prevê que o mundo deverá ter 1,3 bilhão de pessoas com a doença em 2050.
As estatísticas e projeções acerca do diabetes são alarmantes e há um agravante: o número de diabéticos deve ser bem maior, já que por ser uma doença silenciosa, muita gente tem o problema e não sabe. Estima-se que em cada cinco pacientes diabéticos, um não tem o diagnóstico e só descobre após uma complicação causada pela doença.
As projeções sobre a doença reforçam a necessidade de mais conscientização. Por isso, desde 1991 a IDF e a OMS celebram o Dia Mundial do Diabetes (14 de novembro), para mostrar ao mundo os reflexos dessa doença na saúde e mortalidade da população. A data deve servir de alerta para as complicações que ela causa naqueles que não se cuidam corretamente.
Perda de sensibilidade nos pés pode provocar feridas
O diabetes se caracteriza pelo aumento da glicemia, e quando descontrolado, pode causar uma série de problemas, entre os quais, a perda da sensibilidade dos pés, podendo resultar em feridas e pequenos traumas em tecidos e ossos.
“Problemas de circulação dificultam a chegada do sangue, principalmente aos pés. As pessoas diabéticas perdem a sensibilidade no local e não sentem dor, o que faz com que não percebam quando se machucam. Isso acaba dificultando o processo de cicatrização, podendo causar a morte do tecido, tornando uma simples lesão em um problema bastante sério, como necrose ou gangrena”, explica Fernando Bacalhau, cirurgião vascular da HAS Clínica.
Segundo ele, é necessário um exame minucioso dos pés. “No caso de existir algum problema, é muito importante procurar um médico o mais breve possível, a prevenção ajuda o paciente diabético a melhorar, de um modo geral, a qualidade de vida e o seu bem-estar”, finaliza o especialista.
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Risco das complicações do pé diabético
O Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) alerta que o pé diabético requer bastante atenção e cuidados. Esse conjunto de alterações pode ocorrer nos pés de pessoas com diabetes, principalmente quando a doença não está devidamente controlada. Entre as complicações mais comuns, estão problemas na circulação dos membros inferiores, neuropatia, que podem levar ao surgimento de feridas , dificuldade de cicatrização e infecções.
Os pés diabéticos podem evoluir com ulcerações, infecções e destruição do tecido, provocada por alterações neurológicas, vasculares ou mistos (neurológica e vascular). A alteração acontece em pacientes que não estão com a doença controlada e que pode se tornar grave, resultando até mesmo na necessidade de amputação, caso não seja adequadamente tratada.
“É por esses possíveis problemas que os diabéticos precisam tomar cuidados extras com os pés, que acabam sendo mais delicados e propensos a gravidades médicas por conta da doença”, explica o ortopedista do Into, Isnar Moreira de Castro, chefe do grupo de cirurgia de pé e tornozelo..
Atenção aos sinais e sintomas e como tratar
- Os sintomas de pés diabéticos dependem da variedade da doença. Quando a origem é neuropática, há uma sensação de sensibilidade diminuída ou alterada, formigamento, queimação ou dormência, sensação de “agulhada” nos pés e pernas e fraqueza nas pernas. Já na origem vascular, há diminuição de pulsos, os pés do paciente ficam frios, pálidos e com a pele fina, podendo em alguns casos ficar inchados.
A partir do diagnóstico, é necessário o acompanhamento de um médico especialista, que vai definir o tratamento adequado para o nível da complicação. As possibilidades vão desde o uso de antibióticos, pomadas e curativos, até o encaminhamento para cirurgias, em casos graves.
“Uma vez que os machucados já estão estabelecidos é necessário o acompanhamento médico, ortopédico e vascular, pois as artérias ficam obstruídas e esta diminuição de fluxo de sangue no pé pode levar a isquemia, o que aumenta o risco de amputação de partes do membro”, alerta o dr Isnar.
Pé diabético: a importância do autoexame
Quem tem diabetes deve observar os pés frequentemente e procurar por pequenas feridas, áreas avermelhadas, alterações nas unhas, bolhas e mudança no formato dos pés. Também devem ficar atentos à falta de sensibilidade no local. Josualdo Euzébio da Silva, cirurgião vascular e endovascular, afirma que o autoexame é muito importante e deve ser realizado diariamente, em um lugar bem iluminado.
“Deve-se verificar a existência de frieiras, cortes, calos; rachaduras, feridas, alterações de cor da pele (se está arroxeada) e das unhas (se demoram a crescer) e ausência de pelos. Uma dica é usar um espelho para uma visão completa. Qualquer uma destas sensações deve ser comunicada imediatamente ao médico”, recomenda.
Para evitar complicações como o pé diabético, é muito importante manter controlado o nível de glicose no sangue. Além do controle da glicemia, a avaliação periódica multidisciplinar com endocrinologista, ortopedista, cirurgião vascular e outras especialidades pode ajudar a evitar complicações extremas.
“Aqueles que já tiveram convid-19 precisam realizar acompanhamento com um cirurgião vascular de confiança. Além disso, é necessário que fiquem atentos aos primeiros sinais de complicações circulatórias porque a evolução para um quadro grave de pé diabético pode ser rápida e levar, inclusive, a amputações”, avisa Dr. Josualdo Euzébio.
Como a podologia pode ajudar a prevenir pé diabético
O podólogo Pedro da Silva Matos, que atende em Goiânia, também destaca outros sinais do pé diabético. “A pele fica muito seca e quebradiça, dão muitos calos, as unhas começam a atrofiar, engrossar, dá muito fungo”. Ele explica como a modalidade pode ajudar os diabéticos.
“A podologia trabalha na intenção primária, prevenindo infecções, úlceras e amputações. Evita o encravamento de uma unha, faz o desbastamento de calos e calosidades para evitar uma lesão ou uma ferida. Também orienta o paciente a hidratar a pele, porque a pele fica muito seca, pode dar muita fissura e rachadura”, afirma
No entanto, Pedro salienta que a frequência no podólogo não precisa ser exagerada. “Nós orientamos o paciente a vir a cada 30 dias para realizar os cuidados. Iremos fazer o corte correto das lâminas, a hidratação da pele, a reflexologia, que ajuda a ativar a circulação, além de fazer um exame visual para ver se não tem nenhuma perfuração, ferimento, fissura ou rachadura, para que não possa ter nenhuma complicação no pé”, detalha o profissional.
Entenda os principais cuidados
Alguns cuidados, porém, são essenciais para um melhor prognóstico, conforme os especialistas:
Examine os pés diariamente ou peça a alguém para verificar se há alterações ou lesões, incluindo a área entre os dedos;
Evite andar descalço;
Use sapatos fechados, macios, confortáveis e de tamanho apropriado. Evite sapatos apertados e que possam machucar. Um especialista pode recomendar sapatos especiais para ajudar a prevenir deformidades;
Mantenha os pés aquecidos – nunca ande sem proteger os pés em meias. Uma dica para facilitar a circulação é utilizar meias sem costuras, produzidas em algodão ou lã; tecidos sintéticos, como o nylon, podem prejudicar o quadro;
Coloque os pés para cima quando estiver sentado, mexa os dedos periodicamente e faça exercícios frequentes se não houver feridas;
Realize a higiene regular e adequada com água morna e use toalhas macias para secar os pés;
Mantenha os pés sempre hidratados, mas cuidado com a umidade nos vãos dos dedos e em torno das unhas;
Mantenha as unhas dos pés cortadas e curtas. Corte a unha dos pés em linha reta e as mantenha curtas. As unhas arredondadas nas pontas podem crescer para dentro, levando à infecção;
Evite retirar calos e cutículas e trate o joanetes com cuidado. Nunca raspe calo ou tire pele excedente, pois isso aumenta o risco de infecção;
Mantenha o peso ideal e uma rotina diária de exercícios para as pernas, com caminhadas e subidas leves, fortalecendo as panturrilhas.
Com Assessorias