Que atire a primeira pedra quem nunca comeu um tiquinho a mais só porque a comida estava muito saborosa. Seja numa festinha de aniversário, em um churrasquinho no fim de semana, ou em um simples jantar em casa, a gula é um dos pecados capitais mais presentes no nosso cotidiano, tanto que tem até data própria: 26 de janeiro.

Na religião católica, a gula é um dos sete pecados capitais. Diferente do que muitos pensam, o Dia da Gula não foi criado como uma desculpa para furar a dieta ou comer como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Pelo contrário, essa data foi criada como uma maneira de conscientizar a população sobre os perigos que a compulsão alimentar oferece à saúde.

Afinal, se não observado com o devido cuidado, o ato de se alimentar além do que a fome exige pode se transformar em um transtorno grave e causar prejuízos à saúde. O assunto se torna ainda mais frequente em janeiro, considerado o  mês internacional da dieta, quando muita gente tenta se livrar dos excessos gastronômicos do fim de ano.

Um dos assuntos mais comentados da internet é a relação da modelo Yasmin Brunet no BBB 24, que tem dado o que falar desde que o programa começou. A própria participante revelou que sofre de compulsão alimentar, fato que foi confirmado por sua mãe aqui fora, Luiza Brunet.

Quase 5% da população sofre algum tipo de transtorno alimentar

De acordo com os dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde – OMS, cerca de 4,7% da população brasileira sofre de algum tipo de transtorno relacionado à alimentação. Os transtornos alimentares descrevem doenças que são caracterizadas por hábitos alimentares irregulares e sofrimento grave ou preocupação com o peso ou a forma do corpo.

A compulsão alimentar é um desses exemplos. Nela, a questão é o exagero, o excesso no consumo: a pessoa devora uma quantidade enorme de comida. Alguns chegam a ingerir de 4 mil a 15 mil calorias em poucos minutos — a média recomendada para um adulto saudável são 2 mil calorias por dia.

Esse transtorno pode estar aliado à obesidade, uma vez que a parte excedente do    alimento consumido será armazenado na forma de gordura, como também pode estar aliado à bulimia, com episódios de vômitos forçados, exercícios excessivos, uso frequente de laxantes ou diuréticos, após o maior consumo calórico.

Todos os casos ligados aos transtornos alimentares precisam de muita atenção. Há um grande desbalanceamento do corpo e da mente que precisam de cuidados simultâneos.

Segundo a nutricionista Fernanda Larralde, especializada em Nutrição Esportiva, Saúde da Mulher e Fitoterapia, formada em Coaching Nutricional e  palestrante, há cuidados que precisam ser tomados com a ajuda de um profissional.  Um dos cuidados primordiais é a aplicação dos princípios da Nutrição Comportamental, que está diretamente ligada à parte emocional do paciente.

“Quando uma pessoa não se relaciona bem com o alimento, não percebendo a hora da fome e o momento da saciedade, é extremamente necessário que essa pessoa seja conduzida a enxergar isso, acolhendo os sentimentos e não se sentindo culpada”, diz a especialista.

Todo esse processo acontece de forma guiada, cuidadosa e amorosa, para que seja um processo o mais leve possível. Por meio de um nutricionista capacitado, a Nutrição Comportamental considera as emoções, os hábitos e as condutas de cada paciente para orientá-lo a adotar mudanças de maneira personalizada e adequar sua rotina alimentar na busca de uma alimentação saudável, nutritiva e prazerosa, considerando os aspectos sociais, fisiológicos e emocionais que influenciam o ato de comer.

A profissional comenta que é mais comum do que se imagina que as pessoas utilizem a alimentação como forma de compensação para um problema emocional mais profundo.

“Com o diagnóstico obtido por meio da anamnese e recordatório alimentar, eu, como nutricionista comportamental, percebo a ligação direta com fatores emocionais associados à ansiedade, traumas e inseguranças, etc. Em casos que envolvam transtornos, sempre há algum fator emocional que é compensado na comida”, afirma Fernanda.

Reintrodução alimentar, como se fosse um bebê

Após aprender a se relacionar emocionalmente com o ato de comer é feita uma reintrodução alimentar, como se fosse com uma criança pequena. “Primeiro, partimos pelos alimentos que o paciente gosta mais, que há uma familiaridade, tendo em vista também a acessibilidade a esses alimentos, sem uma dieta rígida estabelecida. E tempo a tempo o tratamento vai evoluindo.

Desde o início do processo com o paciente, indicamos uma dieta rica em proteínas, fibras, gorduras saudáveis, cereais integrais e outros produtos que colaboram diretamente com a saciedade e que também auxiliam o organismo a responder de maneira mais saudável.

“O olhar do comedor compulsivo precisa ser guiado e por isso, em um supermercado cheio de oportunidades que podem se tornar um problema, será ainda mais difícil manter o posicionamento. Então, num primeiro momento, é super interessante que esse paciente compre seus alimentos em locais especializados em comida viva, saudável e que ofereçam opções de produtos naturais e nutritivas”, aconselha  a especialista.

Diante dessa nova realidade, é recomendável que o paciente busque lojas e locais onde a alimentação saudável esteja estampada nas prateleiras, corredores e carrinhos, como a Bio Mundo, onde ela e seus pacientes costumam encontrar itens para manter uma dieta de qualidade, com diferentes tipos de produtos naturais e saborosos.

“A loja tem uma infinidade de alimentos e produtos que ajudam nesse processo, como as oleaginosas, alimentos proteicos, as farinhas naturais à granel ou embaladas, os chás e petiscos que auxiliam em receitas fáceis e saborosas, afinal todos esses pacientes precisarão passar pela fase de readaptação do paladar”, finaliza.

E já tem muita gente mordendo a sugestão da nutricionista. Segundo a agência de pesquisa Euromonitor, o setor cresceu 33% em todo o país nos últimos anos. Com isso, o Brasil é o 7º no mundo no mercado de alimentos e bebidas saudáveis, movimentando R$100,2 bilhões, e até 2025, o setor deve crescer mais 27%. Isso inclui produtos sem glúten, vegetariano, vegano e fitness.

Como identificar e tratar a compulsão alimentar

Psicóloga explica em que ponto o pecado capital se transforma em transtorno e dá dicas de como começar a se cuidar

A psicóloga Juliana Meneghelo explica que exagerar na comida vez ou outra como forma de aliviar o estresse pode acontecer com qualquer um. Episódios desse tipo são conhecidos como fome emocional e só se configuram um transtorno caso aconteçam com constância.

“Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (DSM-IV-TR), a compulsão alimentar pode ser compreendida como transtorno quando ocorrem episódios frequentes, pelo menos duas vezes por semana, e quando esse comportamento se prolonga por um período específico, de pelo menos 6 meses”, destaca a especialista.

Juliana também ressalta que, para ser caracterizado como Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica, o comportamento deve necessariamente estar acompanhado de outros, como perda de controle, culpa ou vergonha após comer, e não pode estar associado a comportamentos compensatórios para perder peso, como uso de diuréticos, laxantes ou até mesmo vômitos voluntários, o que configuraria um quadro de bulimia.

Além de carregar a culpa pela incapacidade de controle, as pessoas acometidas pela compulsão podem ter problemas sérios de saúde. O transtorno pode acarretar doenças e comorbidades como obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, cálculo renal, apneia do sono, diminuição da capacidade respiratória, gastrite e refluxo.

Mas, para quem sofre com o problema, nem tudo está perdido. Juliana destaca que com comprometimento e o apoio profissional adequado é possível reverter o quadro. Normalmente, o tratamento é feito de forma multidisciplinar, com a participação de psiquiatras e nutricionistas, além de psicólogos. Em alguns casos, o uso de medicamentos é necessário.

“O primeiro passo é identificar o motivo real da busca pelo alimento”, diz a psicóloga. “A ansiedade é um dos fatores que apresentam relação direta com a compulsão alimentar, pois os estímulos ansiosos para a comida, aos poucos, tornam-se um hábito. Muitas vezes, o ato de comer compulsivamente resulta de quadros associados à fome emocional, que surge de repente e a pessoa se vê dominada por ela.”

Ciente da origem do problema, pouco a pouco, o paciente pode dar pequenos passos que vão levar à melhora de seu quadro. “É importante que a pessoa ingira muita água, não faça dietas restritivas e não fique sem se alimentar por grandes intervalos de tempo”, afirma Juliana.

Porém, destaca a psicóloga, a dica mais importante é encontrar estratégias de manejo da ansiedade. “Buscar atividades de distração para os momentos que a ‘vontade de comer’ bater, como por exemplo ler um livro, passear com o pet, tomar um banho ou ouvir uma música, é de grande ajuda nesses momentos, assim como a prática da respiração profunda”, ressalta.

Com assessorias

 

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