Os efeitos da epidemia de dengue no município do Rio de Janeiro vão além da rede pública de saúde. Em unidades que recebem pacientes de planos de saúde ou para atendimentos particulares, a procura tem sido intensa. Depois da rede D´Or, que divulgou um aumento de 2.300% nos atendimentos de casos suspeitos de dengue nas primeiras três semanas de janeiro em seu hospital de Jacarepaguá – o Rio´s D´Or -, mais hospitais e pronto atendimentos da rede privada na cidade divulgaram aumento de casos.
O Hospital Samaritano Barra, um dos mais caros da cidade, e o Hospital Vitória, instalados no mesmo complexo na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, e pertencentes à Rede Américas, informaram nesta sexta-feira (9 de fevereiro) que identificaram um aumento de 66% dos atendimentos aos casos suspeitos de dengue nas últimas três semanas.
O aumento de casos é notado também entre pacientes na ala infantil. A emergência pediátrica do Hospital Vitória registrou um aumento de 44% de atendimentos de casos suspeitos de dengue nas últimas duas semanas. Houve uma alta de 50% no atendimento de pacientes pediátricos com indicação de internação.
“Essa percepção de aumento de casos suspeitos também é verificada, na avaliação do quantitativo de testes específicos para dengue, solicitados nas unidades, com um aumento progressivo”, diz Leonardo Kalab, médico infectologista das unidades.
Também foi observado o aumento no atendimento de casos suspeitos de síndrome febril aguda. Além disso, foi notada uma estabilidade no percentual de pacientes com indicação de internação hospitalar, por suspeita de dengue para observação dos sintomas, avaliação diagnóstica e terapêutica.
72% de aumento em janeiro nas emergências próprias da Unimed-Rio
Uma das maiores redes de emergências privadas da cidade, os Prontos Atendimentos da Unimed-Rio também informaram que registraram um crescimento de 72% nos casos de dengue no mês de janeiro, em relação a dezembro. Foram 603 atendimentos com diagnóstico para a doença, contra 351 no mês anterior.
Quanto às internações provocadas por quadros mais graves, as mesmas unidades registraram uma alta de 33% frente ao mês anterior (12 registros, contra 9 em dezembro). Os números foram levantados nos Prontos Atendimentos Barra da Tijuca, Copacabana e Méier da operadora de planos de saúde.
O aumento reflete uma preocupação dos órgãos públicos de saúde em todo o estado. De acordo com a Agência Brasil, em apenas um dia de janeiro, a rede de saúde da prefeitura do Rio de Janeiro teve 362 pessoas internadas por causa da dengue. Esse número é um recorde na série histórica iniciada em 1974. O recorde anterior datava de 2008.
Ainda em janeiro deste ano, a cidade teve cerca de 10 mil casos da doença – uma taxa de incidência de 160,68 por 100 mil habitantes. Isso representa quase metade de todos os 22.959 registros de 2023.
“Estamos atentos ao número de atendimentos e, principalmente, ao crescimento das internações, que são justamente os casos mais graves. Vivemos uma situação bem preocupante, e continuamos trabalhando para prestar o melhor atendimento possível aos nossos beneficiários neste momento delicado”, afirma a diretora dos Prontos Atendimentos da Unimed-Rio, Denise Altomar.
Quando é preciso procurar o hospital?
Leonardo Kalab, dos hospitais Samaritano Barra e Vitória, explica quando se deve procurar uma unidade de saúde, diante do cenário que a cidade enfrenta.
“As pessoas precisam estar atentas a presença de quadro de febre de início repentino, bem como outros sintomas associados: dor de cabeça, cansaço, dores musculares e/ou articulares e atrás dos olhos, devendo procurar um serviço de saúde a fim de obter diagnóstico e tratamento oportunos.
“Além disso, após o período febril, o paciente deve ficar atento. Com o declínio da febre (entre o 3° e o 7° dia do início da doença), a presença de sinais de alarme podem identificar a piora do quadro clínico e a evolução para as formas mais graves”, alerta o médico infectologista.
De acordo com Kalab, esses sinais indicam o extravasamento de plasma dos vasos sanguíneos e/ou hemorragias, sendo assim caracterizados por evidências como:
- dor abdominal (dor na barriga) intensa e contínua,
- vômitos persistentes,
- acúmulo de líquidos em cavidades corporais (ascite, derrame pleural, derrame pericárdico),
- alteração da pressão arterial (hipotensão postural) e/ou alteração do nível de consciência,
- letargia e/ou irritabilidade,
- aumento do tamanho do fígado (hepatomegalia) maior do que 2cm,
- sangramento de mucosa e
- alteração nos exames sanguíneos (aumento progressivo do hematócrito).
Em relação às crianças, Maria da Glória Neiva, médica coordenadora da pediatria do Vitória, orienta que os pais e responsáveis devem ficar atentos com os sintomas como febre, vômitos e dor abdominal.
“Estes são sintomas também de outras infecções, e, principalmente nos lactentes e pré-escolares evoluem rápido para um quadro de desidratação, sendo muito importante a orientação do pediatra para o correto diagnóstico diferencial e tratamento. Outra orientação importante é a atenção ao calendário vacinal, e na dúvida procurar sempre a orientação do pediatra assistente”, finaliza.
Medidas urgentes de hidratação contínua podem evitar mortes
Leonardo destaca a importância da hidratação contínua e um reforço nos pacientes que estejam com a doença. Ele também alerta para a identificação precoce e adequada dos casos de dengue, uma doença febril aguda de amplo espectro de sinais e sintomas
“É extremamente importante para a tomada de decisões e a implantação de medidas de tratamento adequado, visando à redução dos óbitos associados”, pondera Kalab.
Ele reforça também as medidas preventivas, como a revisão constante de possíveis focos do mosquito transmissor nas residências, bem como o uso de repelentes e a vacinação específica.
Com Assessorias