Diante do cenário de alta alarmante dos casos de dengue em todo o país neste verão de 2024, o caminho para desacelerar o crescimento e evitar uma epidemia em todo o Brasil é a conscientização da população. Afinal, mais de 70% dos focos do Aedes aegypti, mosquito responsável pela transmissão da dengue e vetor de Zika e Chikungunya, se desenvolvem, principalmente, em locais com concentração de água parada nas residências.
Com o verão, o índice de chuvas cresce por conta das temperaturas altas, facilitando o surgimento de criadouros. Isso porque o aumento da temperatura e o acúmulo de água da chuva no verão favorecem a proliferação do mosquito. A Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (Abipla) alerta que a preocupação com a eliminação dos criadouros é ainda mais pertinente em um ano de El Niño. Isso porque o fenômeno climático pode provocar chuvas acima da média em determinadas regiões e seca em outras.
“Nos dois casos, há risco de aumento de locais de acúmulo de água, já que a população tende a armazenar água para enfrentar a estiagem e as chuvas naturalmente podem criar locais de acúmulo. Além disso, nesta época do ano, há tendência de chuvas volumosas e localizadas, o que pode ampliar o risco de enchentes”, esclarece Paulo Engler, diretor-executivo da Abipla.
Prevenção e combate ao mosquito é responsabilidade de todos
Marcela Rodrigues, médica da Clinica Salus Imunizações, lembra que a prevenção e o controle da dengue dependem de medidas efetivas de controle de vetores. Além de ser uma preocupação individual, a prevenção da dengue é uma responsabilidade coletiva.
“Iniciar o ano com hábitos saudáveis e medidas preventivas contribui para um ambiente mais seguro para todos. Cuide da sua saúde e da comunidade ao seu redor, adotando práticas que evitem a proliferação do mosquito transmissor da dengue, Colabore com a comunidade: engaje-se em ações comunitárias para conscientização sobre a prevenção da dengue. O trabalho conjunto fortalece a proteção de toda a comunidade”, afirma.
Jeferson de Andrade, pesquisador de Desenvolvimento de Produto e Mercado da Basf, também destaca a importância da colaboração da sociedade no combate ao mosquito.
“As arboviroses, que são as doenças causadas por vírus transmitidos principalmente por mosquitos, são cíclicas, com aumentos e quedas no decorrer dos anos. O crescimento no número de casos prováveis pode apontar para um possível cenário epidêmico. Por isso, medidas simples, como o uso de telas em portas e janelas, areia nos vasos de plantas e a manutenção de ambientes livres de entulhos, são cruciais”.
O pesquisador ainda destaca alguns pontos importantes sobre a reprodução e os locais utilizados como criadouros do inseto.
“Sabemos que os principais focos do mosquito ficam principalmente nas residências e arredores. O Aedes aegypti pode depositar seus ovos em qualquer tipo de recipiente, embalagens e até no lixo descartado incorretamente. Por isso, é importante eliminar objetos com água parada independentemente da exposição ao sol. As piscinas podem se tornar criadouros potenciais, por isso é altamente recomendado que elas sejam esvaziadas quando não estiverem em uso, ou tratadas de forma adequada após as chuvas”.
O especialista da Basf finaliza: “O controle do mosquito deve ser contínuo, mesmo no inverno, porque os ovos podem sobreviver durante essa estação e retomar o desenvolvimento na primavera. Eles possuem a capacidade de permanecerem ativos por até um ano, mesmo em água suja ou em ambientes secos.”
Dicas para manter sua família protegida da dengue
-
1. Manutenção em dia e descarte adequado
O mosquito da dengue precisa apenas de uma colher de chá de água para botar ovos. Caixas d’água e tambores representam 39,6% dos focos de água parada que podem vir a ser criadouros de mosquitos da dengue, seguido de vasos, garrafas, calhas e lajes, que são 36,45%.
- Por isso, é importante evitar o acúmulo de água. Mantenha a limpeza de calhas, ralos e áreas propensas ao acúmulo de água parada. Essa prática é essencial para eliminar possíveis criadouros do mosquito. Sem manutenção, a água parada é o local mais propício para o mosquito colocar seus ovos.
- No caso de vasos de plantas, é recomendado usar terra nos pratos para impedir o acúmulo de água. No caso de caixas d’água, não deixe de criar uma rotina de limpeza frequente, impedindo, além da criação de mosquitos, o acúmulo de sujeira. Além disso, é recomendado lavar, escovar e tampar os recipientes onde fica armazenada a água, trocar a água dos vasos a cada três dias, assim como os bebedouros dos animais.
Certifique-se de descartar corretamente objetos que possam acumular água, como garrafas, latas e potes. Verifique se seus recipientes não tenham fendas para evitar que os mosquitos depositem seus ovos ali. A eliminação desses locais de reprodução é um passo crucial na prevenção. “Embalagens, copos descartáveis e recipientes que podem se tornar criadouros para o mosquito precisam ser descartados corretamente, afirma Dra Marcela.
2. Foco na higiene e limpeza de áreas externas
Além da eliminação de criadouros, a população deve ficar atenta à limpeza de ambientes e superfícies. Manter a limpeza em dia, principalmente em áreas externas como quintais e jardins, impede a criação de focos de mosquito. A OMS também recomenda a coleta e descarte corretos do lixo para não atrair insetos e outras pragas.
A limpeza adequada deve ser realizada após o descarte da água parada, como alerta a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (Abipla). Além da remoção da água parada, locais de acúmulo de água devem ser limpos com a ajuda de escova, sabões ou detergentes, mesmo depois de secos, .
“Há pesquisas que atestam que os ovos do mosquito podem sobreviver por longos períodos, mesmo em objetos secos, por isso, é necessário que, além de eliminar a água parada, as pessoas realizem a limpeza mecânica e química, com escovas, detergentes, sabões e desinfetantes, em locais de maior possibilidade de acúmulo de água, como pratos e vasos de plantas, latões de lixo e calhas”, afirma Paulo Engler.
3. E quando não é possível eliminar a água parada?
É fundamental adotar práticas de prevenção contínuas para interromper o ciclo de vida do Aedes aegypti e, assim, reduzir a incidência de doenças transmitidas por esse vetor, como dengue, zika e chikungunya. De acordo com o MS, os ovos do Aedes aegypti medem cerca de 0,5mm, o que pode dificultar a visualização. Além disso, eles possuem resistência à seca e podem se manter viáveis no ambiente por cerca de um ano, até entrarem novamente em contato com a água.
Nos casos em que não é possível eliminar a água parada, como caixas de descarga, ralos e vasos sanitários, a indicação é aplicar pequenas quantidades de água sanitária nestes locais. Conforme estudo realizado pelo Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP – Universidade de São Paulo, o produto mostrou eficácia maior que 90% na mortalidade das larvas do mosquito após 48 horas.
As quantidades variam de uma colher de chá (vasos sanitários de uso não diário) até dois copos de 200ml (para barris de 200 litros de água). “É importante ressaltar que essa indicação é apenas para água que não será consumida por seres humanos ou animais”, alerta Paulo Engler, diretor-executivo da Abipla.
4. Proteção de portas e janelas e uso de telas
- É importante fechar as portas e colocar telas nas janelas das casas, para evitar a entrada de mosquitos. Caso queira reforçar a barreira de proteção contra os invasores, vede a parte inferior e frestas das portas e aposte em telas de proteção para as janelas também ajuda a impedir que os mosquitos acessem a casa. Instale telas em janelas e portas para evitar a entrada do mosquito em ambientes internos.
5. Inseticida para proteção contínua no ambiente
A solução complementar, em caso da constatação da presença do mosquito adulto, é o uso de desinfestantes (inseticidas), que, inclusive, fazem parte das campanhas públicas de combate ao Aedes aegypti, especialmente em ações de nebulização de espaços abertos.
Você pode se proteger dentro de casa com inseticidas de ação instantânea. “Produtos como repelentes líquidos elétricos funcionam como uma camada de proteção para o ambiente, ou seja, repelem mosquitos em cômodos entreabertos (importante deixar uma frestinha da porta ou da janela abertas)”, informa o Centro SC Johnson para Ciência de Insetos e Saúde da Família,
Por funcionar com liberação contínua, o produto mantém os mosquitos a distância e é um grande aliado para ter noites mais tranquilas de sono. Anna Niemiec, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Reckitt Industrial, fabricante das marcas SBP e Repelex, alerta que, “no caso do uso de produtos como repelentes e inseticidas, é indispensável conferir as recomendações do rótulo antes da utilização e seguir as instruções de uso.
“Deve-se atentar, no entanto, que o uso de desinfestantes é adequado no combate ao mosquito adulto. No caso de ovos e larvas, a melhor solução é eliminar a água parada e realizar a limpeza completa dos possíveis focos de criadouro, mesmo que tenham secado após um período de acúmulo de água”, finaliza o diretor-executivo da Abipla.
6. Uso de repelentes e roupas adequadas
- Durante as atividades fora de casa, recomenda-se o uso de roupas que cubram o corpo, especialmente durante o período de maior atividade do mosquito. Evite áreas onde haja grande concentração de mosquitos, como locais úmidos. O uso de repelentes está entre as orientações médicas para proteger contra o Aedes aegypti.
-
“Fora de casa, o item é um grande aliado na prevenção contra mosquitos que podem transmitir doenças, seja no caso de viagens e imersões na natureza, ou idas ao parque e saídas esporádicas”, afirma Anna.
- De acordo com órgãos estaduais de saúde, repelentes de uso tópico também podem ser usados por gestantes, desde que estejam devidamente registrados e regularizados na Anvisa. Também existem linhas especializadas na proteção de bebês a partir de dois meses, garantindo proteção para toda a família. Consulte seu médico para mais orientações.
Como manter o mosquito da dengue longe da sua casa
Manutenção e controle de água parada:
Remova todos os recipientes que possam acumular água em sua propriedade, como vasos, pratos, pneus velhos, garrafas e latas vazias.
Esvazie piscinas sem uso regularmente.
Certifique-se de que as caixas d’água estejam bem vedadas, sem frestas que possam permitir a entrada de mosquitos.
Adicione cloro em piscinas e outros produtos para evitar o desenvolvimento das larvas.
Cuidados com áreas comuns:
Instale telas em portas e janelas para impedir a entrada dos mosquitos adultos.
Mantenha o quintal limpo, eliminando folhas e detritos que possam acumular água.
Coloque uma camada de areia nos vasos de plantas para evitar o acúmulo de água e criar uma barreira contra a reprodução do mosquito.
Faça inspeções regulares em sua propriedade para identificar e eliminar potenciais criadouros.
saiba mais sobre a dengue
Nas Américas, o principal vetor da dengue é o mosquito Aedes aegypti. Esses mosquitos também transmitem chikungunya e zika. A dengue é generalizada ao longo dos trópicos, com variações locais de risco influenciadas pela precipitação, temperatura e rápida urbanização não planejada.
“Existem quatro distintos, porém intimamente relacionados, sorotipos do vírus que causa a dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). A recuperação da infecção fornece imunidade vitalícia contra o sorotipo adquirido. Entretanto, a imunidade cruzada para os outros sorotipos após a recuperação é apenas parcial e temporária. Infecções subsequentes aumentam o risco do desenvolvimento de dengue grave”, afirma Dra Marcela.
Febre alta e abrupta é um dos primeiros sintomas apresentados em casos de dengue, de acordo com o Ministério da Saúde. Entre os sintomas, também pode haver dor de cabeça, dores no corpo e articulações, além de falta de energia e erupções cutâneas. Em casos de suspeita, procure o médico mais próximo.
“Não existe tratamento específico para dengue ou dengue grave. No entanto, a detecção precoce e o acesso a cuidados médicos adequados reduzem as taxas de mortalidade para abaixo de 1%”, afirma a médica.
dengue nas américas
- A incidência global da dengue cresceu drasticamente nas últimas décadas. Aproximadamente metade da população mundial está em risco de contrair a doença.
- A dengue ocorre em climas tropicais e subtropicais, principalmente em áreas urbanas e semiurbanas. A dengue grave é uma das principais causas de doenças graves e morte entre crianças em alguns países da Ásia e da América Latina. Confira alguns dados e números:
Cerca de 500 milhões de pessoas nas Américas correm o risco de contrair dengue.
O número de casos de dengue na região aumentou nas últimas quatro décadas, passando de 1,5 milhão de casos acumulados na década de 1980 para 16,2 milhões na década de 2010-2019.
Em 2013, ano epidêmico para a região, foram registrados pela primeira vez mais de 2 milhões de casos e uma incidência de 430,8 por cada 100 mil habitantes. Também foram notificados 37.692 casos de dengue grave e 1.280 mortes no continente. Em 2019, foram registrados pouco mais de 3,1 milhões de casos, 28 mil graves e 1.534 óbitos.
Os quatro sorotipos da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DEN-V 4) circulam pelas Américas e, em alguns casos, simultaneamente.
A infecção com um sorotipo seguida por outra infecção com um sorotipo diferente aumenta o risco de dengue grave e até morte.
Nas Américas, o Aedes aegypti é o mosquito vetor da dengue e está amplamente distribuído por todo o território, apenas o Canadá e o Chile continental estão livres da dengue e do vetor. O Uruguai não tem casos de dengue, mas tem o Aedes aegypti.
Dengue no Brasil
- Dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam que houve aumento de 16,8% dos casos prováveis de dengue no país em 2023, com mais de 1,6 milhão de notificações e recorde de mortes (1.079). Além disso, foram 145,3 mil casos de chikungunya em 2023, com 100 mortes. Os dados da zika, publicados apenas até abril do ano passado, superaram 7 mil contaminações.
- O ano de 2024 começou com números também recordes da doença e possibilidade de epidemia da doença em ao menos três regiões do País: Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
- O país registrou nas quatro primeiras semanas do ano mais de 217 mil casos de dengue. O número é mais que o triplo de notificações do mesmo período em 2023.
- O painel de monitoramento de arboviroses do governo contabilizou 15 mortes pela doença neste ano e 149 óbitos seguem em investigação. Em 2023, 41 mortes foram registradas.
- Quatro estados decretaram emergência pública de saúde, além da cidade do Rio de Janeiro, que está em epidemia de dengue, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
- Na capital, foram registrados em janeiro 10.156 casos — quase a metade de todo o ano passado e mais que o dobro de 2022 inteiro. Isso também causou um recorde histórico de internações pela doença. Foram 362 hospitalizações em janeiro, segundo os dados divulgados.
-
Agenda Positiva
Exposição na Fiocruz – ‘Aedes: que mosquito é esse?’
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dengue é o arbovírus com o maior número de casos na região das Américas, com epidemias ocorrendo a cada três a cinco anos. Em 2022, mais de 2.8 milhões de casos de dengue foram notificados nessa região, sendo esse o terceiro ano com o maior número de casos na série histórica, ficando atrás apenas dos anos 2016 e 2019, quando houve maior número de casos. Além disso, dados do último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde mostram um aumento de 16,5% no número de casos quando comparado como mesmo período do ano anterior.
Com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre os cuidados e a importância do combate ao Aedes aegypti, está em cartaz no Castelo da Fiocruz, no Rio de Janeiro, a exposição ‘Aedes: Que mosquito é esse?’, apresentada pelo Museu da Vida da Fiocruz, em parceria com a SC Johnson.
Por meio de recursos tecnológicos e visuais, o público pode explorar o complexo universo do mosquito em diferentes formatos, Uma das grandes atrações é a escultura gigante de um mosquito fêmea, com mais de dois metros, do artista plástico Ricardo Fernandes. A entrada é gratuita e a classificação livre.
Cartilha ajuda na limpeza de ambientes
Para ajudar a população a lidar com a limpeza de ambientes nestes casos, a Abipla, o Conselho Federal de Química (CFQ), a Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas (Aprag) e oSindicato das Empresas de Controle de Vetores e Pragas Urbanas (SindPrag) lançaram uma cartilha gratuita sobre o tema.
A cartilha Enfrentando Estragos Causados por Chuvas Fortes, Alagamentos e Enchentes oferece soluções de higienização de objetos, superfícies e ambientes e medidas para garantir a sanitização da água para consumo. Ela aborda ainda medidas de controle de pragas e vetores, como ratos, baratas e mosquitos transmissores de doenças, além de informar sobre as principais formas de contato das autoridades que podem ser acionadas em caso de inundações e enchentes.
- Com Assessorias