Grávida de sete meses, a influenciadora Sofia Amorim, de 22 anos, postava nas redes sociais os preparativos para a chegada de seu primeiro filho. Natural de Pirenópolis (GO) e morando na capital Goiânia, a jovem escrevia resenhas de livros, dava dicas de gravidez e de produtos de beleza. Estava animada e feliz. Até que começou a sentir mal no dia 22 de março, com falta de ar, enjoo, dor de cabeça e indisposição.

No Hospital Mater Dei Premium, onde foi internada, em Goiânia (GO), o diagnóstico inicial foi de ‘ansiedade’. Quatro dias depois, após testagem positiva para dengue, o quadro da jovem se agravou. Com água no pulmão e falência múltipla de órgãos, Sofia precisou ser intubada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Os médicos chegaram a fazer uma cesariana de emergência. No dia seguinte, ela e seu bebê morreram.

Muito abalada, Niris Quirino, mãe de Sofia, está inconformada com a morte da filha e do netinho ainda em gestação – ambos foram velados e cremados na quinta-feira (28), em Goiânia (GO). Ela ainda cobrou a criação de um protocolo específico para atendimento a gestantes com dengue. 

Grávida de 7 meses, a influenciadora Sofia Amorim, de 22 anos, morreu com suspeita de dengue em Goiânia (Foto: Reprodução de Redes Sociais)

“Quero um protocolo [de atendimento em casos de dengue] específico para grávida. Para que nenhuma outra mulher perca seu sonho. Para que nenhuma outra mulher perca um filho. E para que nenhum familiar passe pelo que estou passando”, disse a mãe da jovem. “Não dá tempo de esperar dar um positivo para começar o tratamento. É preventivo”, completou.

Em fevereiro, a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), com apoio do Ministério da Saúde, lançou um protocolo orientando médicos ginecologistas e obstetras no atendimento em casos de dengue. De acordo com a Febrasgo, estudos apontam que grávidas têm risco até cinco vezes maior de morrer de dengue e por isso, em caso de suspeita da doença, devem receber atendimento prioritário e específico para evitar o agravamento do quadro.

Grávida de 7 meses, a influenciadora Sofia Amorim, de 22 anos, morreu com suspeita de dengue em Goiânia (Foto: Reprodução de Redes Sociais)

Goiânia deve investigar morte de gestante e seu bebê

O hospital onde Sofia e o bebê morreram informou que cumpre “rigorosamente os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde para assistência a pacientes com dengue”. “Prestamos nossa solidariedade à família e nos colocamos à disposição para esclarecimentos adicionais”, completou a nota do Mater Dei Premium.

Como as mortes ocorreram em hospital particular, a Secretaria de Saúde de Goiás informou que a causa será investigada pelo município (veja nota completa abaixo). Ainda não está confirmado que Sofia e o bebê morreram por causa da dengue, o que deverá levar pelo menos duas semanas, segundo informou a pasta.

“Em casos como o de Sofia, os médicos podem diagnosticar dengue com base nas indicações clínicas. No entanto, para uma conclusão definitiva, são necessárias contraprovas e a investigação realizada pelo Comitê Estadual de Investigação de Óbitos. Por essa razão, os casos que ainda estão sob investigação são classificados como mortes suspeitas por dengue”, esclareceu.

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Estado tem 74 mortes confirmadas por dengue e 106 suspeitas

Até quinta-feira (29), o estado registrava 72.747 casos confirmados de dengue em 2024, dentre os 159.148 casos notificados. Em comparação ao mesmo período de 2023, os números representam aumento de 257%.

Foram confirmadas 74 mortes pela doença e e outros 106 óbitos suspeitos estão em investigação pelo Comitê Estadual de Investigação de Óbito Suspeito por Arboviroses.

Anápolis é a cidade com mais registro de mortes, 14 pessoas, enquanto a capital tem dois óbitos. Ao todo, 145 municípios goianos estão em situação de emergência. Nos hospitais da rede pública do estado, foram registradas 1.702 internações.

Natural de Pirenópolis (GO) e morando na capital Goiânia, Lívia Amorim estava grávida de 7 meses (Foto: Reprodução de redes sociais)

Nota da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás 

‘A Secretaria Estadual de Saúde informa que só confirma mortes por dengue após a conclusão da investigação do óbito, processo que geralmente leva cerca de 14 dias.

Em casos como o de Sofia, os médicos podem diagnosticar dengue com base nas indicações clínicas. No entanto, para uma conclusão definitiva, são necessárias contraprovas e a investigação realizada pelo Comitê Estadual de Investigação de Óbitos. Por essa razão, os casos que ainda estão sob investigação são classificados como mortes suspeitas por dengue.

No caso específico de Sofia, dado que o falecimento ocorreu em um hospital particular da cidade, a investigação deve ser conduzida pelo município. Isso ocorre porque a conclusão da investigação depende de outros elementos, incluindo o acesso às informações do prontuário médico da paciente’.

Gestantes têm de 4 a 5 vezes mais chances de quadros graves da doença

O aumento significativo de casos de dengue no Brasil acende o alerta para um grupo específico: as gestantes. Dados epidemiológicos divulgados pelo Ministério da Saúde indicam que o número de casos de em gestantes cresceu 345,2% nas primeiras semanas de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Além do aumento geral de casos de dengue pelo país, o crescimento da infecção em gestantes pode ser explicado pelas diversas mudanças hormonais que ocorrem durante a gestação. Segundo estudo feito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), as gestantes têm um risco cinco vezes maior para complicações geradas pela dengue, em comparação com a população feminina.

Já a Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo) aponta que mulheres grávidas têm um risco de morte quatro vezes maior. Também há três vezes mais chances de morte do feto ou do bebê.

Anne Karollinne Oliveira, médica do pronto-socorro do Hospital Estadual de Formosa (HEF), unidade do governo de Goiás administrada pelo Instituto de Medicina, Estudos e Desenvolvimento (IMED), alerta que o início e o fim da gestação são os períodos que merecem maior atenção quando há confirmação da doença.

“Isso porque, nos primeiros três meses, os riscos de aborto são maiores do que quando comparado a gestantes não infectadas. Já no final da gravidez, a evolução para a forma hemorrágica é mais comum, além de haver riscos de parto prematuro”, destaca.

Sintomas podem ser confundidos com a própria gestação

Daniella Closer D’Amico, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz Osasco explica que a fisiopatologia da doença é a mesma que na pessoa não grávida.

“O que acontece é que a dengue afeta diretamente a cadeia plaquetária, favorecendo quadros hemorrágicos. As gestantes já passam naturalmente por alterações significativas em todo o organismo, que fica ainda mais sensível a essas alterações”, destaca a especialista.

A doença pode afetar tanto a gestante, quanto o feto. “Nos primeiros meses há um risco maior de aborto espontâneo. Já no fim da gestação, há algumas complicações como descolamento de placenta e parto prematuro do bebê, com todas as complicações relacionadas, como baixo peso e problemas de desenvolvimento”, explica Dra. Daniella.

Os sintomas da dengue consistem principalmente em dor no corpo e nas articulações, febre, manchas avermelhadas, enjoo e dores abdominais. Dentre os sintomas particulares às grávidas/lactantes, a ginecologista aponta a possibilidade de manifestarem-se quadros respiratórios, sangramentos intraplacentários ou durante e após o trabalho de parto, febre mais resistente, rash cutâneo (manchas avermelhadas pelo corpo) e desidratação mais grave.

Por conta disso, ela enfatiza: “Além de todas as medidas, é fundamental que a gestante contaminada procure um serviço de saúde com urgência, a fim de iniciar o atendimento e controle adequados para a saúde maternal e fetal”.

“Em caso de sintomas ou suspeita, a orientação é agir imediatamente. Procure um pronto-socorro de confiança e siga as orientações do seu obstetra. Em hipótese alguma use medicamentos por conta própria, pois alguns tipos aumentam os riscos de hemorragias”, alerta Dra. Daniella D’Amico.

Perda sanguínea pode ser sinal de quadro hemorrágico

No caso das gestantes, em que a imunidade é naturalmente mais baixa devido às diversas modificações que o seu sistema imunológico sofre ao longo dos nove meses, a grande preocupação é o desenvolvimento de complicações.

“Nos casos em que a dengue evolui para a forma hemorrágica, o número de plaquetas da gestante diminui, e os riscos de hemorragia aumentam. Esse quadro estimula deslocamentos placentários e hemorragias que, se não controlados, podem levar à interrupção da gravidez”, explica Anne Karollinne Oliveira, médica do pronto-socorro do HEF.

O diagnóstico pode ser retardado, já que em alguns casos é confundido com sintomas típicos da gestação, como perda sanguínea vaginal, que pode ser um sinal de evolução da dengue para o quadro hemorrágico. Por isso, a orientação é buscar atendimento para fazer o diagnóstico o quanto antes.

“O sinal de alerta máximo para as gestantes são os sangramentos, seja nasal, oral ou vaginal. Dor súbita ou hipotensão postural, que é aquele mal-estar ao levantar de forma abrupta, também são indicativos para buscar um pronto-socorro urgentemente”, orienta a obstetra do São Luiz Osasco.

O maior problema da infecção é a hemorragia. “Ao tentar conter a invasão do vírus, o sistema imunológico pode destruir as plaquetas responsáveis por coagular o sangue, causando a hemorragia”, explica Juan Boado, médico e diretor técnico do Hospital Bom Pastor.

“Com a perda de sangue causada pela dengue, a gestante pode enfrentar um aborto ou um nascimento prematuro, prejudicando sua saúde e a saúde do bebê”, completa o profissional que atua na unidade gerenciada pela Pró-Saúde, em Guajará-Mirim (RO).

Um problema causado pela dengue é o risco de desidratação. Portanto, a principal recomendação em casos de menor gravidade é se hidratar constantemente e repousar.

“É importante ressaltar que ao perceber febre alta, acima de 38ºC, acompanhada de dor muscular e dor intensa atrás dos olhos, nunca se deve usar remédios como aspirina, ibuprofeno ou nimesulida. Procure sempre ajuda médica na unidade de saúde mais próxima”, alerta o médico.

Outro momento que merece atenção especial é o do parto, onde há um risco elevado de hemorragia durante o procedimento.
Com informações de agências e assessorias
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