O inverno é conhecido pela queda das temperaturas que pode afetar o sistema circulatório de várias maneiras. Quando chega o tempo frio, muitas pessoas sentem formigamento ou dor em suas extremidades, especialmente os dedos das mãos e dos pés, bem como uma alteração da cor da pele. Esses sintomas podem estar associados à síndrome de Raynaud, condição que afeta entre 4% e 20% da população, quando os dedos ficam arroxeados ou esbranquiçados no frio.
Dor, formigamento, pele fria, pálida e arroxeada podem ser indícios dessa doença vascular que costuma aparecer ou descompensar com maior frequência em dias frios. Esse distúrbio é caracterizado pela diminuição temporária do fluxo sanguíneo para as extremidades: existe um espasmo (contração) da artéria em reação ao frio, o que torna os pés ou mãos gelados, pálidos e com alteração de coloração.
O fenômeno é causado por uma resposta exagerada dos vasos sanguíneos a estímulos como o frio ou o estresse emocional. O cirurgião vascular Fabio Rossi, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), explica que “essa doença funcional vasoespástica é uma resposta circulatória funcional da microcirculação, desencadeada por emoções extremas e exposição ao frio”.
Fenômeno pode levar a úlcera, necrose e até infarto e AVC
Na maioria das vezes, segundo os especialistas, é uma condição benigna que melhora com o aquecimento do corpo, e não demanda tratamento específico. mas nos casos mais graves, há chances de ocorrer úlceras necróticas nas polpas digitais. Indivíduos com esse fenômeno devem investigar a possível presença de doenças autoimunes e reumatológicas em curso, ou que possam se manifestar futuramente.
Quando o fenômeno de Raynaud é secundário às doenças autoimunes, geralmente é mais grave podendo levar ao surgimento de úlceras isquêmicas e até necrose digital. Nestes casos, um tratamento vasodilatador, ou seja, que tem como objetivo dilatar os vasos sanguíneos para melhorar a irrigação das extremidades, é necessário”, esclarece Marília Furquim, reumatologista da Imuno Brasil,.
A angiologista Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, faz um alerta. “Essa má circulação pode ser extremamente perigosa, porque há riscos de desenvolvimento de insuficiência arterial periférica, infartos do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC)”.
Pessoas com doenças imunes são mais vulneráveis
Você sabia que aquela sensação de dormência e formigamento do frio pode ser grave para pacientes autoimunes? O fenômeno de Raynaud costuma, inclusive, ser o motivo de muitos pacientes ainda sem diagnostico buscar um reumatologista.
Segundo Marília Furquim, reumatologista da Imuno Brasil, qualquer pessoa pode apresentar a condição, no entanto existem alguns fatores que elevam a possibilidade para sua predisposição, tais como histórico familiar e condições médicas específicas, como as doenças autoimunes.
Mas então todos pacientes autoimunes desenvolverão a Síndrome de Raynaud? Não. Porém, os portadores de Esclerose Sistêmica, Doença Mista do Tecido Conjuntivo, Lúpus Eritematoso Sistêmico e Artrite Reumatoide, por exemplo, devem estar atentos aos sintomas (veja abaixo).
Pacientes com Síndrome de Raynaud, artrites inflamatórias e fibromialgia crônica podem sentir desconforto maior durante o inverno, como explica a reumatologista Ana Clara Ribeiro,
O Raynaud é mais frequente no frio, geralmente por diminuição da circulação sanguínea natural em baixas temperaturas.Em quem tem alguma doença autoimune associada, como esclerose sistêmica, pode provocar úlceras nas pontas dos dedos. Já no caso das artrites, osteoartrite e dor crônica, as pessoas sentem uma espécie de intensificação das dores e aumento de rigidez articular”.
Saiba mais sobre o fenômeno de Raynaud
Marina Furquim, reumatologista da Imuno Brasil e especialista pela Sociedade Brasileira de Reumatologia, resume as principais características da síndrome que costuma ficar mais frequente nos dias frios.
– O Fenômeno de Raynaud caracteriza-se por episódios reversíveis de vaso espasmos nas extremidades. A enfermidade pode também estar associada a alteração na cor da pele das mãos e pés.
– Ocorre geralmente após episódios de estresse emocional ou exposição ao frio.
– Qualquer pessoa pode apresentar a condição, no entanto existem alguns fatores que elevam a possibilidade para sua predisposição, tais como histórico familiar e condições médicas específicas, como as doenças autoimunes.
– Portadores de Esclerose Sistêmica, Doença Mista do Tecido Conjuntivo, Lúpus Eritematoso Sistêmico e Artrite Reumatoide, por exemplo, devem estar atentos aos sintomas.
– O Fenômeno de Raynaud na maioria das vezes é uma condição benigna que melhora com o aquecimento do corpo, e não demanda tratamento específico. No entanto, quando ele é secundário às doenças autoimunes, geralmente, é mais grave podendo levar ao surgimento de úlceras isquêmicas e até necrose digital.
– A prevalência estimada do fenômeno na população geral flutua entre os 4 e os 20%, sendo mais frequente em mulheres jovens e em doentes com histórico familiar.
– Está presente em mais de 90% dos doentes com esclerose sistêmica (ES) e em 85% dos doentes com doença mista do tecido conjuntivo.
– Associação ao Lúpus: O fenômeno de Raynaud, está presente em 16% a 40% dos pacientes com lúpus.
As três fases do fenômeno de Raynaud
Quando as extremidades, como mãos e pés, entram em contato com o frio extremo, pode ocorrer um fenômeno trifásico. Inicialmente, há uma intensa vasoconstrição e palidez dos dedos.
Após algum tempo (segundos ou minutos), os dedos se tornam azulados (cianóticos) devido à falta de oxigênio e acúmulo de dióxido de carbono no sangue da extremidade. Em uma terceira fase, as arteríolas e capilares se dilatam novamente devido a uma vasodilatação compensatória (hiperemia reativa).
Marina Furquim explica que o Raynaud tipicamente se manifesta em três fases.
- Primeiro, com o fechamento repentino dos vasos sanguíneos, um ou mais dedos das mãos ou dos pés ficam pálidos, esbranquiçados.
- Em seguida, devido à falta de oxigênio no local, já que há redução do fluxo sanguíneo, surge a fase de cianose, em que os dedos ficam arroxeados ou azulados.
- Por fim, quando os vasos voltam a se abrir, há uma vasodilatação compensatória e os dedos podem ficar avermelhados, com aspecto que lembra uma inflamação.
A ocorrência da síndrome varia de pessoa para pessoa, inclusive, sua presença pode depender de vários fatores, incluindo a gravidade da doença autoimune e a resposta vascular individual de cada um.
Portanto, se houver sintomas que indiquem a presença da síndrome de Raynaud, principalmente em portadores de doenças autoimunes, é necessário que um médico especializado seja consultado para o diagnóstico e tratamento correto”, diz o dr Fábio Rossi.
Leia mais
Risco de amputações em pessoas com diabetes aumenta no inverno
Inverno acende alerta para casos de bronquiolite em crianças
9 dicas para manter a pele bem cuidada no inverno
Não é só no calor: também é preciso beber água no inverno
Obesidade e sedentarismo
O tempo frio estimula a contração dos vasos sanguíneos, principalmente das artérias periféricas, o que pode ser perigoso principalmente para pessoas com quadro de obesidade e sedentarismo. “Quando há excesso de gordura na parede das artérias, isso atrapalha ainda mais o sangue chegar até alguns tecidos”, explica Dra Aline Lamata (foto).
De acordo com a especialista, o acúmulo de gordura deixa as paredes das artérias endurecidas e estreitas, então o processo de circulação se torna mais lento. “Esse tipo de problema atinge mais pessoas com fatores de risco como as que estão acima do peso, tabagistas, colesterol aumentado, hipertensos e diabéticos”, comenta.
Quando há predisposição genética ou quadros de obesidade, alimentação desequilibrada e sedentarismo, a preocupação se torna ainda maior. “Diabéticos ou hipertensos precisam controlar a doença, praticando exercícios físicos regularmente, mantendo alimentação balanceada e evitando fumar”, esclarece a cirurgiã vascular.
A médica explica que o corpo pode dar sinais de que está com a circulação “comprometida”: “O paciente pode sentir dormência ou inchaço nos membros, formigamento nas mãos e nos pés. No caso de câimbras, dor ao caminhar, paralisia ou fadiga muscular pode ser um indício de arteriosclerose”.
Em qualquer sinal de alteração, um médico deve ser consultado, alerta a Dra. Aline. “O tratamento para as doenças circulatórias pode ser feito por meio de medicamentos ou cirurgia se for necessário. Mas a prevenção é o melhor tratamento, especialmente para pacientes que já tenham alguma doença que contribui para a obstrução das artérias”, comenta.
Como o frio afeta pacientes com doenças reumáticas
Circulação pode ficar comprometida nos períodos frios. Pacientes com problemas de saúde devem redobrar a atenção
Nos meses mais frios ou em que as oscilações de temperaturas tendem a ser mais bruscas, alguns fatores contribuem para o agravamento dos sintomas em pessoas com doenças reumáticas, como a redução da atividade física, essencial para aliviar dores em boa parte dos quadros clínicos. A tendência de ficarmos mais “encolhidos” aumenta a rigidez e a chance de contraturas musculares, gerando gatilhos, especialmente na coluna, que podem irradiar dores. De acordo com um estudo realizado pela Universidade de Utrecht (Holanda), pessoas com doenças reumáticas são vulneráveis às condições meteorológicas.
As articulações possuem barorreceptores sensíveis à pressão que podem detectar mudanças atmosféricas antes da chegada de uma massa de ar frio, fazendo com que algumas pessoas sintam a mudança do tempo. O frio também pode desencadear alodínia – condição em que estímulos normalmente não dolorosos provocam dores, afetando particularmente pacientes com quadros de fibromialgia”, explica a reumatologista Ana Clara Ribeiro.
Medidas para minimizar o impacto do frio
A médica da SPR ressalta algumas medidas preventivas para minimizar o impacto do frio:
- Mantenha-se aquecido com roupas adequadas, incluindo luvas e meias, conforme a necessidade;
- Não deixe de se movimentar. Manter a rotina de atividade física é essencial para a saúde das articulações;
- Esteja em dia com o tratamento médico para evitar crises.
“Existe uma máxima que diz que ‘exercício bom é aquele que você consegue fazer com certa frequência’. Então, manter a prática, ou se não tinha uma, tratar de iniciar para melhorar a resposta a qualquer tratamento. E não deixar de fazer atividades aeróbicas, fortalecimento e alongamentos. Alongar apesar de não ‘aquecer’ o corpo é super importante nessa fase do ano em que estamos mais ‘encolhidos’”, completa.
7 dicas para evitar doenças circulatórias na estação
É essencial adotar medidas preventivas para manter uma boa saúde durante esta estação. Veja as principais:
- Usar roupas confortáveis e quentes, evitar peças justas (elas podem comprimir os músculos das pernas e cintura);
- Consumir alimentos ricos em fibras, já que auxiliam na boa digestão e controle do colesterol;
- Fazer exercícios físicos sob orientação médica;
- Optar por alimentos com gorduras poli-insaturadas;
- Controle adequado da pressão e diabetes;
- Beber muita água (entre dois e três litros) por dia;
- Cuidado ao usar meias elásticas sem orientação médica, nesses casos ela pode piorar a situação.
Com Assessorias