De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2025, estima-se que 31% da população adulta brasileira vivam com obesidade, e 68% estejam com excesso de peso. As projeções indicam que, sem medidas eficazes, o número de adultos com Índice de Massa Corporal (IMC) elevado pode chegar a 119 milhões até 2030. Além disso, a obesidade está associada a mais de 60 mil mortes prematuras por ano no Brasil, relacionadas a enfermidades como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares.
Mais do que uma questão individual, a obesidade é um problema complexo e multifatorial, influenciado por elementos invisíveis no dia a dia das pessoas. Entre esses “vilões ocultos”, estão as mudanças climáticas, que afetam a qualidade e a disponibilidade dos alimentos in natura; a falta de planejamento urbano, que reduz as oportunidades de prática de atividade física; e os ambientes escolares, que muitas vezes oferecem opções alimentares ultraprocessadas e reduzem a quantidade de aulas de educação física.
Nesta quinta-feira, 20 de março, o monumento ao Cristo Redentor será iluminado em uma ação, a partir das 20h, promovida pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). A iniciativa faz parte da campanha global “Mudar o Mundo Pela Nossa Saúde”, que busca conscientizar a sociedade sobre os fatores ocultos que têm impulsionado o avanço da obesidade no país e no mundo.
Não podemos mais tratar a obesidade como uma responsabilidade apenas do indivíduo. Fatores sistêmicos e estruturais desempenham um papel crucial nesse cenário. Iluminar o Cristo Redentor é uma forma de dar visibilidade a essas questões e chamar a atenção da sociedade para a necessidade de mudanças concretas”, afirma Fabio Trujilho, presidente da Abeso.
Clima e Obesidade
As mudanças climáticas afetam diretamente a produção e a qualidade dos alimentos. Alterações nos padrões de temperatura e precipitação comprometem a produtividade agrícola, levando a uma menor disponibilidade de alimentos frescos e nutritivos.
Eventos climáticos extremos podem prejudicar colheitas inteiras, aumentando a dependência de alimentos processados e menos saudáveis. Estudos indicam que essas mudanças podem reduzir a qualidade nutricional dos alimentos e aumentar seus preços, exacerbando a insegurança alimentar e contribuindo para o aumento da obesidade.
Cidades e Obesidade
O ambiente urbano pode ajudar a determinar se uma comunidade promove ou previne a obesidade. Muitas cidades brasileiras carecem de infraestrutura adequada para a prática de atividades físicas, como parques, calçadas seguras e iluminação pública eficiente.
A falta de segurança e de espaços públicos apropriados desencoraja a população a se engajar em atividades físicas regulares, favorecendo um estilo de vida sedentário que contribui para o ganho de peso.
Embora entre janeiro de 2019 e agosto de 2022 tenham sido concluídas 4.400 instalações esportivas nas 27 unidades federativas do Brasil, ainda há um déficit significativo em muitas regiões.
Escolas e Obesidade
O ambiente escolar é fundamental na formação de hábitos alimentares e de atividade física. Segundo o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a merenda escolar é projetada para fornecer entre 20% e 70% das necessidades diárias de energia e nutrientes das crianças, dependendo do número de refeições oferecidas na escola.
Entretanto, a falta de uma lei federal específica que proíba a oferta de refrigerantes ou alimentos ultraprocessados nas cantinas escolares ainda compromete a qualidade nutricional das refeições dos estudantes. Além disso, a ocorrência de bullying relacionado ao peso pode afetar negativamente a autoestima e a saúde mental dos alunos, levando a comportamentos alimentares prejudiciais.
A redução da obrigatoriedade das aulas de educação física em algumas séries no Brasil também limita as oportunidades de atividade física regular, contribuindo para o aumento das taxas de obesidade infantil e adolescente. Dados do IBGE revelam que apenas 27% das escolas públicas municipais possuem instalações esportivas adequadas, como campos de futebol, ginásios, piscinas ou pistas de atletismo.
Campanha Abeso
A ação no Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor reforça a mensagem da campanha “Mudar o mundo pela nossa saúde”, que propõe um olhar mais amplo para o problema, destacando a importância de políticas públicas eficazes, ambientes urbanos mais saudáveis e a promoção de escolhas nutricionais equilibradas e acessíveis a toda população.
A iluminação do monumento ao Cristo Redentor possui um simbolismo poderoso, pois lança a luz sobre um problema que afeta milhões de brasileiros e mobiliza a população com um chamado à mudança e à solidariedade; já que o reconhecimento dos vilões ocultos da obesidade e a luta por um ambiente saudável é um problema de todos”, afirma Cynthia Valerio, diretora da Abeso e coordenadora da campanha.