Como parte das comemorações do dia 27 de novembro (última sexta-feira), no Dia Nacional de Combate ao Câncer, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) apresenta o perfil da mortalidade dos principais tipos de câncer no Estado do Rio de Janeiro de 2010 a 2020. Os dados fazem parte da análise de situação de neoplasias malignas (câncer) para elaboração do novo do Plano Estadual de Enfrentamento de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (DANT) para os anos entre 2021 e 2030. O objetivo do plano, é reduzir a mortalidade prematura (30 a 69 anos) por doenças crônicas não transmissíveis.  

A equipe da Vigilância em Saúde é a coordenadora do plano, que é elaborado intersetorialmente por um Comitê Gestor, que reúne outras áreas técnicas da Secretaria. No Brasil, essas doenças constituem o problema de saúde de maior magnitude. Elas são responsáveis por mais da metade das mortes no país, sendo identificadas, em 2018, 54,7% de mortes por doenças crônicas não transmissíveis e 11,5% de mortes por agravos. As ações de diagnóstico precoce, tratamento oportuno e a prevenção de novos casos através da redução da exposição a fatores de risco são as estratégias prioritárias da SES para este enfrentamento no estado.

Para Eralda Ferreira, coordenadora de Vigilância e Promoção da Saúde da SES, os dados levantados são importantes para que intervenções sempre mais efetivas possam ser feitas para prevenir doenças e reduzir o número de óbitos.

“Com  essa análise podemos saber a idade na qual as pessoas são mais afetadas, se um tipo específico de câncer têm maior impacto em uma raça/cor, sexo e ocupação específica, se é uma questão de estilo de vida e se é possível que façamos uma intervenção mais cedo para reduzir a mortalidade”, explica Eralda.

A coordenadora informa que com a avaliação também é possível saber se a mortalidade está ligada à escolaridade. Assim, Eralda conta que é possível pensar estratégias mais eficazes para contribuir com o acesso à informação e educação em saúde.

Outra análise que é possível com o levantamento é aquela que leva em consideração a raça e a cor dos pacientes. O câncer de colo de útero, por exemplo, apresenta mortalidade maior em pardos e pretos do que em brancos. Todos os outros cânceres têm incidência maior em pessoas brancas. Dados que, para Eralda, são importantes para embasar intervenções no sentido de comunicar a população, priorizar o atendimento e, até mesmo, controlar os fatores de risco.

Os dados também apresentam as diferenças na mortalidade do câncer entre os sexos. O câncer de vias respiratórias, por exemplo, tem uma prevalência maior no sexo masculino, mas é possível observar um crescimento também no sexo feminino.

Câncer de vias respiratórias

De acordo com o levantamento, entre as neoplasias malignas mais mortais está a de vias respiratórias (traqueia, brônquios e pulmão), seguida pela de mama, próstata, cólon, estômago, reto, colo de útero e boca.

De 2010 a 2020, 29.131 pessoas foram a óbito por câncer de traqueia, brônquios e pulmão. Analisando apenas o ano de 2020, até o início de novembro, 2128 pessoas foram à óbito devido à doença. Destes 1157 eram homens e 971 mulheres.

Entre os homens, a faixa etária mais afetada pela doença na década analisada está entre 60 e 69 anos com 5317 mortes. Essas mortes são consideradas prematuras e evitáveis. Logo em seguida, estão aqueles com idade entre 70 e 79 anos, com 5.089 mortes. Entre as mulheres, a faixa etária mais afetada também é a de 60 a 69 anos, seguida pela de 70 a 79 anos.

O médico da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), Alexandre Chieppe, informa que o câncer de vias respiratórias tem como principal fator de risco o hábito de fumar.

“Nem todos os cânceres de vias respiratórias estão relacionados ao tabagismo, mas é muito mais comum nessas pessoas. Por isso, a melhor prevenção é não fumar”, aconselha.

O médico informa ainda que o principal sintoma é a tosse persistente e o escarro com sangue, comum em outras doenças que atingem as vias respiratórias. Por isso, ressalta Chieppe, é importante investigar os sintomas.

 
Câncer de mama

No levantamento também são registrados 22.010 óbitos por câncer de Mama. Destes, 1704 mulheres foram à óbito em 2020. A faixa etária mais afetada pela doença é aquela entre 50 e 59 anos, com 5133 mortes, seguida pela que compreende aquelas entre 60 e 69 anos, com 5034 óbitos.

Eralda ressalta que a redução da obesidade e sobrepeso em mulheres pode diminuir em até 30% o risco de desenvolver este tipo de câncer, assim como a redução do consumo de gorduras na alimentação, o que inclui frituras, carnes com gordura aparente e embutidos.

A prevenção do câncer de mama também passa por evitar o tabagismo, mas, de acordo com Chieppe, a melhor maneira de prevenir maiores problemas com o câncer de mama é realizar o diagnóstico precoce. O médico explica que os casos da doença estão muito ligados à genética e ao histórico familiar da paciente, apesar de haver fatores de risco, como a reposição hormonal feita por mulheres durante a pós-menopausa.

“O câncer de mama não costuma apresentar sintomas além do nódulo, que às vezes sequer é palpável. Por isso, é necessário fazer o rastreio”, explica o médico.

Câncer de próstata

O câncer de próstata, por sua vez, levou 15.517 homens ao óbito nos dez anos do levantamento. Destes, 1196 morreram em 2020. De 2010 a 2020, 6308 mortos tinham mais de 80 anos, a faixa etária mais afetada pela doença. Em segundo lugar, foram aqueles com idade entre 70 e 79 anos, com 5516 mortes.

Assim como o câncer de mama, o principal fator de risco do câncer de próstata está relacionado à herança familiar. Por isso, Chieppe explica, mais importante do que a prevenção, é o diagnóstico precoce.

“Para que haja esse diagnóstico precoce é preciso haver avaliação médica regular, principalmente para os homens acima de 50 anos de idade ou aqueles acima de 45 anos que apresentam fatores de risco”, esclarece.              

Câncer Intestinal

O óbito de 14.567 pessoas de 2010 a 2020 se deve ao câncer de cólon. Apenas em 2020, o número é de 1051 pessoas, das quais 573 eram mulheres e 478 homens. Entre as mulheres, as faixas etárias mais afetadas são a de mulheres acima de 80 anos, com 2207 óbitos, e as entre 70 e 79 anos, 1946 óbitos. Entre os homens os mais afetados têm entre 70 e 79 anos, com 1836 óbitos, e 60 e 69 anos, registrando 1793 óbitos.

Eralda explica que, embora a predisposição genética tenha relação com a sua maior ocorrência, uma alimentação rica em fibras e com consumo regular de água, pode reduzir o impacto desse tipo de câncer em homens e mulheres de faixa etárias mais jovens.

Na década analisada pelo levantamento, também foram registrados 13.407 óbitos por câncer de estômago. Destes, 877 óbitos ocorreram apenas em 2020. Entre os homens, a faixa etária mais afetada pela doença é a entre os 60 e 69 anos, com 2268 óbitos, seguida pela faixa entre 70 e 79 anos, com 2172 óbitos.

A ocorrência de câncer de estômago também está relacionada à maior exposição a fatores de risco como o consumo abusivo de álcool e o tabagismo.

O câncer de reto levou ao óbito 8007 pessoas de 2010 a 2020, ano no qual foram registradas 706 mortes. As mulheres mais afetadas são as da faixa etária entre 60 a 69, com 983 óbitos registrados, seguida pela faixa de mulheres com idade igual ou maior a 80 anos, com 973 óbitos. Os homens mais afetados são os da faixa de 60 a 69 anos, com 1169 óbitos, seguidos pelos de idade entre 70 e 79 anos.

Chieppe informa que os cânceres do trato do intestinal têm alguns fatores de risco relacionados, como a alimentação pobre em fibras, o tabagismo e a infecção por HPV. A prevenção, segundo o médico, passa por parar de fumar, ter uma alimentação adequada e pelo diagnóstico precoce. Alguns sintomas comuns são a constipação e a presença de sangue nas fezes.

Câncer de colo de útero      

O levantamento também registra 5805 óbitos por câncer de colo de útero de 2010 a 2020. Apenas em 2020, foram 424. A faixa etária das mais afetadas são aquelas entre 50 e 59 anos, com 1378 óbitos. Aquelas entre 40 e 49 anos, por sua vez, registram 1234 óbitos.  

Chieppe informa que o câncer de colo de útero é um dos que mais afetam as mulheres. A doença pode ser causada pelo HPV, de forma que a prevenção passa pela vacinação contra a doença. Essa medida protege contra os quatro principais tipos de HPV, dos quais dois dos causam o câncer. Outra medida preventiva importante é o uso de preservativo. Chieppe também ressalta a importância de realizar exames preventivos de forma regular.

“O diagnóstico precoce, com a realização do exame Papanicolau, é fundamental. O exame é capaz de identificar não apenas o câncer, mas também lesões pré-cancerígenas, o que permite o tratamento da paciente antes que o câncer se desenvolva”, explica o médico.

Os sintomas do câncer de colo de útero estão relacionados ao trato genital. Entre eles, lesões no colo de útero que podem chegar ao sangramento e dor local, que costumam aparecer já nas fases iniciais.

Câncer de boca

De 2010 a 2020, 3512 pessoas foram a óbito por câncer de boca. Em 2020, o número é de 217. Entre as mulheres, as faixas etárias mais afetadas são aquelas entre 60 a 69 anos, com 198 óbitos, e 70 a 79 anos, com 194 óbitos. Entre os homens, os mais afetados são aqueles com idade entre 50 e 59 anos, seguidos por aquelas com 60 a 69 anos.      

Chieppe informa que o câncer de boca tem muita relação com o tabagismo, que talvez seja o seu principal fator de risco. Os sinais ou sintomas mais comuns são as lesões na boca.

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