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Atire a primeira pedra aquele que nunca afogou as mágoas em um pote de sorvete, uma pizza ou uma barra de chocolate gigante? Quando a tristeza e o estresse aparecem, é comum nos voltarmos para a comida para aliviar a tensão. Essa compulsão é chama da de periódica, ou, mais comumente conhecida como “comer sentimentos”.

Comer além da conta em festas ou nos finais de semana pode se tornar um problema quando usamos a comida como válvula de escape para qualquer frustração. Seja um dia ruim no trabalho, a tensão com uma prova ou para preencher o vazio após o término de um relacionamento. As desculpas para ingerir alimentos além da conta são as mais diversas e essas pequenas fugas podem demonstrar o início de um quadro de compulsão alimentar.

Os Transtornos de Compulsão Alimentar atingem cerca de 3% da população mundial e no Brasil acomete 4% da população, e podem desencadear várias patologias orgânicas, entre elas a hipertensão e a obesidade. Costuma ocorrer mais em mulheres (60%), mas a presença em homens (40%) é maior do que dos outros distúrbios alimentares, de acordo com publicação do Hospital Sírio-Libanês.

Vários são os motivos que podem desencadear uma compulsão alimentar. Fatores como brigas com namorado (a) ou familiares, uma prova importante ou até uma frustração podem ser os vilões causadores desse tipo de problema.  A ex-BBB Fani Pacheco é um exemplo de quem desconta na comida quando sofre uma perda. Após a morte da mãe, ela conta que engordou 15 quilos em 9 meses.

Outra famosa que admitiu ter sofrido com o transtorno é a atriz Alice Wegmann, a Marina da novela ‘A Lei do Amor’, da Globo. Ela disse sofrer de ansiedade e por esse motivo ter engordado muito rápido durante a trama. A também atriz Thaila Ayala diz que ama comer e que desconta tudo na comida afirmando que já teve até indigestão. Thaila diz ter feito terapia para tratar a compulsão.

Para o psicanalista João Nolasco, diretor executivo do Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, Ciências Humanas e Sociais (IBRAPCHS), a compulsão alimentar faz com que a pessoa sinta a necessidade de comer mesmo quando não tem fome, perdendo totalmente o controle da quantidade do que está comendo e das vezes que repete o ato, embora no momento sinta prazer, após o episódio sente-se frustrado por não ter conseguido o autocontrole.

“A compulsão é uma forma de fugir da realidade, pois nesse momento o prazer é tão significativo que não há espaço para a realidade, no entanto como a vida não pode ser prazer 100%, quando o indivíduo retorna à realidade o sofrimento é muito maior”, afirma.

Os sintomas são, segundo Nolasco, comer em excesso, ou seja, além do que realmente o sacia, comer quando não está com fome, comer escondido independente do horário, os famosos assaltos à geladeira.  Os excessos trazem tristeza ou arrependimento após comer demasiadamente. “É importante ressaltar que, embora a pessoa em alguns momentos esteja consciente de suas atitudes, as motivações são de fatores inconscientes. ”

Mais forte que alcoolismo e tabagismo

Diversos estudos constataram que a compulsão alimentar periódica pode ser considerada tão séria e tão forte quanto o alcoolismo e o tabagismo. O estresse ativa as glândulas supra-renais para liberar cortisol, aumentando o apetite, ele também “trava” hormônios da fome, como a grelina, que regulam o apetite, outro fator para o aumento da fome é a falta de sono.

Um novo estudo, publicado na revista Biological Psychiatry, revelou que mulheres que relataram estresse estavam ​​queimando menos calorias e gordura, e tinha uma resposta de insulina mais elevados depois de comer uma refeição de gordura superior. Os pesquisadores concluíram que essas mudanças induzidas pelo estresse levara as mulheres a queimar cerca de 100 calorias a menos por dia – uma diferença que pode fazer engordar 4kg por ano.

Segundo o psiquiatra Higor Caldato, com formação em Transtornos Alimentares pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, os sintomas iniciais são pouco visíveis e algumas vezes até mascarados pelos pacientes: “As primeiras manifestações podem ser muito próximas do comportamento alimentar normal ou mesmo ser ocultados ativamente pelos pacientes”.

A compulsão, ocasionada pela ingestão de grande quantidade de alimento é bastante comum em indivíduos que buscam tratamento para emagrecer e tem relação significativa com à obesidade. “O diagnóstico precoce ajuda no tratamento, mas em geral, só com o agravamento dos casos e quando surgem complicações clínicas ou psiquiátricas é que o paciente procura ajuda ou é encaminhado para avaliação médica. Ainda assim as taxas de remissão do transtorno podem chegar a 80% ”, explica o psiquiatra.

A endocrinologista e metabologista Flavia Junqueira explica que a compulsão alimentar periódica tem basicamente  dois critérios: ingestão , em um período limitado de tempo , de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria em período idêntico e a falta de controle sobre o episódio (sentimento de não conseguir parar de comer).

Segundo ela, a compulsão afeta o organismo de diferentes maneiras, devido à alta ingestão de alimentos , e pela falta de critério na escolha dos mesmos, podendo ocasionar :obesidade , diabetes , hipertensão arterial , hiperuricemia , esteatose hepática. “Os transtornos alimentares são doenças multifatoriais (têm vários fatores  envolvidos),  porém, como toda doença psiquiátrica as predisposições genéticas e constitucionais influenciam muito, além de influências sociais e  alterações psicológicas individuais. Dietas extremamente restritivas podem levar a episódios de compulsão alimentar como uma medida compensatória do metabolismo”, afirma.

Pedro Assed, Mestre em endocrinologia pela UFRJ, e Pesquisador do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares -GOTA-PUC-Rio-IEDE, explica que o transtorno de compulsão alimentar periódico ou conhecido pela sigla TCAP, e um transtorno alimentar no qual o individuo comete episódios de exagero alimentar, geralmente comendo quantidades de comida muita grandes em intervalos curtos de tempo.

Além disso, há associação com sensação de perda de controle, sentimento de culpa ou outro sentimento negativo apos o ataque de comer, comer de forma escondida dos outros familiares e amigos, e sentir-se mais calmo apos o ataque de comer (binge eating). Para ser considerado Transtorno de Compulsão Alimentar o individuo de ter estes ataques de comer numa frequência igual ou superior a 2 ou 3 vezes por semana nos últimos 6 meses.

Por conta destes ataques de comer o individuo frequentemente desenvolve obesidade grave e suas consequências para saúde do individuo como hipertensão arterial, diabetes, osteoartrose de joelhos por conta do peso, apneia obstrutiva do sono, dislipidemia entre outras comorbidades associadas a obesidade.

1 – É comum ter mais compulsão na TPM ? Por quê?

Flávia Junqueira – A TPM ocorre antes da menstruação e está relacionada a queda abrupta  de hormônios para que o endométrio descame e ocorra a menstruação . Existe uma ligação direta entre esses hormônios e as endorfinas (substâncias que têm sua ação direta no cérebro, relacionadas ao prazer) e os neurotransmissores – principalmente a serotonina ! A serotonina tem ação direta no centro do controle do apetite, o que explica a maioria dos casos da compulsão relacionada a TPM .

Pedro Assed – E comum a mulher ter mais fissura por determinados alimentos ou grupos de alimentos como os açucares e gorduras no período pré-menstrual , porem na maioria das vezes isso não configura um episodio de compulsão alimentar e também não se encaixa no diagnostico de transtorno de  compulsão alimentar periódico. É comum acontecer com indivíduos que são de famílias de obesos, ou de famílias com histórico de compulsão alimentar ou outro transtorno alimentar. Especialistas sugerem um caráter genético e associado a isso a predisposição do meio em que o individuo vive também são determinantes para o surgimento do transtorno.

2 – Como não sucumbir às gordices  quando estiver passando por um estresse ou por outro problema emocional?

Flávia – Existem alguns alimentos que podem minimizar a compulsão, principalmente aqueles que geram saciedade e aqueles que contêm o aminoácido triptofano, (capaz de estimular a produção da Serotonina ). São eles: aveia, oleaginosas, banana, cacau, alimentos integrais , chia , batata doce . Praticar atividade física minimiza muito a compulsão pela produção das endorfinas produzidas durante o exercício. Beber muita água, a hidratação correta otimiza a produção hormonal e  consequentemente diminui episódios de compulsão alimentar.

Pedro – Existem medicações antidepressivas que aumentam concentração de serotonina no Sistema Nervoso Central, e com isso diminuem muito a chance de a pessoa se perder na alimentação errada. Outro ponto que ajuda muito é a pratica regular de atividade física.  Estudos mostram que mulheres que fazem atividade física regularmente tendem a ter muito menos TPM, e tendem a se desvirtuar muito menos da dieta no período pré-menstrual. Os exercícios aumentam a liberação de endorfina no sistema nervoso central e com isso melhoram a sensação de bem-estar e diminuem a ansiedade.

3 – Por que  tem gente que quando está triste perde o apetite e outras comem sem nem perceber?

Flávia Junqueira – As pessoas tendem a compensar as emoções negativas na alimentação. O contrário também pode acontecer. A explicação está no que foi falado anteriormente, os neurotransmissores , principalmente a serotonina estão diretamente ligados à fome! Quando ocorre tristeza, frustração, temos baixa desde neurotransmissor, o que pode ocasionar tanto falta de apetite quanto excesso .

Pedro Assed – Isso é algo muito individual. Alguns indivíduos em situação de estresse físico ou emocional disparam gatilho de fome, e tendem a comer mais muito em função da ansiedade associada. Outros indivíduos tendem a perder o apetite e não se alimentarem em períodos de estresse, porem não existe uma regra para isso.

Medicamento ajuda a controlar

Para o especialista, o mais indicado para essas pessoas que reconhecem o transtorno, é compreender melhor suas conflitivas, reavaliar o que está de real trazendo incomodo gerando tanta ansiedade. Nolasco diz que deve-se buscar por profissionais como psiquiatras, psicólogos, psicanalistas e nutricionistas, para tratar a compulsão. “Há outros métodos eficazes como a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), que também pode colaborar neste tratamento por meio da acupuntura, Auriculoterapia e outras técnicas de relaxamento”, sugere.

Recentemente foi aprovado pelo FDA um medicamento chamado Lisdexanfetamina, e que já é vendido no Brasil com o nome de Vanvanse. Ele controla os ataques compulsivos de comilança, e é usado para tratar pacientes com Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica, ou Binge Eating Disorder. Quando ingerimos doces o nosso cérebro libera os opióides e segundo alguns estudos compulsão por doces produz no órgão o mesmo efeito químico da heroína e da morfina e o corpo “aprende” a pedir mais e mais açúcar para conseguir o efeito prazeroso que ele produz no organismo. Ou seja, se essa compulsão é grande, junte-se aos Viciados Por Doces Anônimos!

Características do Transtorno:

– Comer grande quantidade de alimentos em curto intervalo de tempo;

– Sentimento de falta de controle sobre a alimentação;

– Comer muito rapidamente;

– Comer até sentir-se fisicamente mal;

– Comer sozinho por vergonha da quantidade de alimento no prato;

– Sentir repulsa por si mesmo, depressão ou culpa após comer excessivamente.

Da Redação, com assessorias

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