Conhecido anteriormente apenas como autismo, hoje, a sigla Transtorno do Espectro Autista (TEA) é muito mais abrangente, e é justamente essa mudança de diagnóstico que aumentou o número de casos. Como os sintomas apresentam uma variabilidade muito grande o uso da palavra espectro é o mais acertado.
O termo engloba diversos transtornos do neurodesenvolvimento. O diagnóstico passou por evoluções e agora será realizado de forma mais detalhada com a 11ª versão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11).
A nova classificação passou a vigorar no Brasil a partir de 1º de janeiro de 2025 e traz mudanças significativas sobre o diagnóstico e na classificação de condições relacionadas ao autismo e ao neurodesenvolvimento (veja mais detalhes abaixo).
Essa condição apresenta como característica central prejuízos na comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos. No entanto, além desses sintomas principais, muitas pessoas com TEA também enfrentam outras condições que podem agravar os sintomas e afetar sua qualidade de vida: as comorbidades que em geral o acompanham”, explica Gladys Arnez.
As comorbidades no autismo podem variar de pessoa para pessoa, mas algumas são mais comuns:
- Epilepsia
Entre 25% a 40% das pessoas com TEA também sofrem de epilepsia. Convulsões podem ocorrer e precisam ser detectadas e tratadas. Fatores como deficiência intelectual, histórico familiar de epilepsia e atraso cognitivo grave aumentam o risco de epilepsia no TEA. Os sintomas incluem: mudanças abruptas no comportamento, como olhar fixo, enrijecimento dos músculos e distúrbios do sono.
- Transtornos de Ansiedade e Depressão
O autismo frequentemente coexiste com transtornos de ansiedade e depressão. Essas condições podem agravar os sintomas do TEA e afetar o bem-estar emocional. É essencial abordar essas comorbidades por meio de intervenções psicossociais e, quando necessário, medicação. A cada dia acabam surgindo tratamentos alternativos, como os Tratamentos com a Toxina Botulínica e o Canabidiol CBD), dos quais falaremos mais tarde.
- TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade)
O TDAH é outra comorbidade comum no autismo. Dificuldade de concentração, impulsividade e hiperatividade são características desse transtorno. Abordagens terapêuticas, como terapia comportamental e medicamentos, podem ajudar a gerenciar os sintomas.
- TOD (Transtorno Opositivo-Desafiador)
O TOD envolve comportamentos desafiadores, como teimosia, agressividade e desobediência. Terapia comportamental e apoio familiar são essenciais para lidar com essa comorbidade.
- Ecolalia
A ecolalia é a repetição involuntária de palavras ou frases. Embora seja mais comum em crianças com autismo, também pode ocorrer em adultos. Estratégias de comunicação alternativa e terapia da fala podem ajudar a minimizar esse sintoma.
Mudanças no diagnóstico e mais possibilidades de tratamento
A nova classificação categoriza o TEA considerando a presença de deficiência intelectual e o nível de comprometimento da linguagem funcional. Com a atualização, antigos códigos como o F84.0 (Autismo Infantil) e F84.5 (Síndrome de Asperger) foram integrados ao novo código 6A02.
Dessa forma, o diagnóstico do TEA pode ser realizado de maneira mais detalhada e específica, com a análise dos níveis de suporte necessários e as particularidades de cada pessoa”, diz Silviane Andrade, neuropsicóloga e sócia-diretora do Neuropsicocentro (NPC), clínica especializada em atendimento multidisciplinar para pacientes até 13 anos com diagnóstico de TEA.
Ela considera a nova classificação um importante avanço.
A atualização na classificação internacional é mais do que uma mudança técnica. Representa um avanço significativo no entendimento do TEA, permitindo diagnósticos mais humanizados e garantindo maior inclusão e suporte às pessoas com autismo”, destaca.
A neuropsicóloga ressalta ainda que os laudos com o CID-10 (F84) permanecem válidos até 2027. “Com a mudança, os diagnósticos passam a ser mais assertivos e favorecem a compreensão das características únicas de cada pessoa com TEA. A nova classificação possibilita o planejamento de intervenções personalizadas, com a utilização de estratégias mais eficazes para o desenvolvimento, além da inclusão ampliada em políticas públicas”, ressalta.
Como está disponibilizada a classificação do Transtorno do Espectro Autista (TEA) na CID-11:
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6A02.0: Sem deficiência intelectual, com leve ou nenhum prejuízo da linguagem funcional.
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6A02.1: Com deficiência intelectual, com leve ou nenhum prejuízo da linguagem funcional.
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6A02.2: Sem deficiência intelectual, com prejuízo de linguagem funcional.
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6A02.3: Com deficiência intelectual, com prejuízo de linguagem funcional.
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6A02.5: Com deficiência intelectual, ausência de linguagem funcional.
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6A02.Y: Outro TEA especificado.
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6A02.Z: TEA não especificado.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (Anvisa) emitiu um parecer orientando que a atualização dos laudos CID-10 (F84) para o CID-11 (6A02) só precisará ser feita em 2027. “Dessa forma, os laudos continuarão vigorando com a classificação anterior, sem necessidade de atualização imediata”, frisa.
Tratamento multidisciplinar
O tratamento da comorbidade autismo e suas comorbidades é individualizado e multidisciplinar. Além de abordagens médicas, terapias como ABA, terapia ocupacional, fonoaudiologia e fisioterapia desempenham um papel importante. Gladys Arnez, médica neurologista infantil e especialista em Tratamentos do Neurodesenvolvimento, destaca a relevância de considerar todas essas dimensões no cuidado integral das pessoas com TEA.
Compreender e tratar as comorbidades associadas ao autismo é fundamental para melhorar a qualidade de vida das pessoas no espectro. A busca por soluções integradas e o apoio de profissionais especializados são essenciais para enfrentar esses desafios de forma abrangente e eficaz.
Ao abordar o tema do tratamento do autismo e suas comorbidades, é crucial reconhecer a complexidade dessa condição e a importância de uma abordagem holística. Especialistas continuam a pesquisar e desenvolver estratégias para melhorar a vida das pessoas com TEA, promovendo inclusão, bem-estar e compreensão.
A Dra. Gladys também alerta como um dos fatores mais importantes dentro de tudo isso, é o fato de que quanto mais cedo os pais tiverem o diagnóstico correto da criança, maiores serão sua qualidade de vida e chances de melhora. “A busca por um médico capaz, especializado no assunto e de sua confiança é absolutamente necessário”, completa.