O estresse é um dos grandes vilões da saúde contemporânea. Dados do IBGE levantados durante os anos de 2013 e 2019 evidenciam um aumento de 34% nos casos de depressão no Brasil. No ano de 2019, cerca de 10% das pessoas com mais de 18 anos teriam recebido o diagnóstico. Até mesmo antes da pandemia, o país já dominava os casos de ansiedade. Uma pesquisa de 2017 da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicava que 18 milhões de brasileiros sofriam com o transtorno.

O impacto costuma ser maior no período de fim de ano. De acordo com uma pesquisa da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), o estresse aumenta em até 75% no mês de dezembro em comparação aos outros meses do ano.

Isso eleva também a ansiedade (70%) e prejudica o sono (38%), fatores diretamente relacionados ao desenvolvimento do bruxismo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 30% da população mundial sofre com o problema, e no Brasil esse índice pode chegar a 40%.

O que muita gente não sabe é que os efeitos do estresse vão muito além da mente. Problemas relacionados à depressão, ansiedade e doenças mentais de modo geral trazem consequências que impactam a saúde bucal. Bruxismo – hábito de ranger ou apertar os dentes involuntariamente, especialmente à noite – , o desgaste dental e as inflamações gengivais entre os problemas mais comuns.

Muitas vezes o paciente nem percebe que está apertando ou rangendo os dentes, mas acorda com dores na mandíbula e na cabeça, além de sinais de desgaste nos dentes”, explica Cesar Rodrigues, especialista em odontologia estética. Ele alerta que o bruxismo pode causar sérios danos, como fraturas nos dentes, retração gengival e até perda de estrutura dental.

O bruxismo também pode ser grave para quem sofre com doenças e transtornos mentais. Integrante da Câmara Técnica de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, Katia Akemi Uezu, explica que o bruxismo é autorrelatado (ou relatado por alguém próximo) ao ser notado o apertamento ou ranger dos dentes, das contrações involuntárias dos músculos da mastigação e/ou movimentos parafuncionais da boca.

A profissional ressaltou que as medicações prescritas para o tratamento das doenças e dos transtornos mentais também podem levar à ocorrência ou piora do bruxismo. A condição pode desgastar e trincar os dentes, causar disfunção temporomandibular e dor nos músculos da mastigação, lesões em mucosas por mordedura, entre outras consequências.

Problemas bucais em pessoas com depressão

O dentista Marcelo Cavenague, presidente da Câmara Técnica de Periodontia =do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP),  relata que existem vários níveis de  transtornos mentais, desde estresse, passando por ansiedade, depressão e até situações mais graves como esquizofrenia.

Apesar dessas diferenças, em todos esses contextos, o paciente acaba tendo menos foco na saúde bucal, além do impacto que certas medicações podem ter no fluxo salivar. Em períodos de maior pressão, as pessoas tendem a negligenciar a higiene bucal, agravando os problemas.

A depressão é um exemplo típico do paciente que deixa de dar atenção a suas necessidades básicas por conta de seu transtorno. O paciente depressivo mal toma banho ou se alimenta, tem dificuldade em sair de casa ou realizar as tarefas comuns do dia a dia. O paciente depressivo dificilmente terá condições de dar a devida atenção à sua higiene bucal e, como consequência, terá maior risco de ter cárie e doença periodontal, necessitando um acompanhamento mais próximo do profissional”, alerta.

O profissional explica que os pacientes com transtornos mentais podem ter quadros de cárie, visto que a higienização fica comprometida, em decorrência do estado emocional do indivíduo, além das medicações que diminuem o fluxo salivar, desregulando o pH bucal.

Saúde bucal e transtornos alimentares

Transtornos alimentares também podem implicar na piora da saúde bucal. Anorexia, bulimia e compulsão alimentar colocam o paciente em situações de risco; a anorexia faz com que a pessoa tenha resposta imunológica muito baixa.

Já a bulimia provoca acidez bucal, o que pode gerar erosão ácida na região palatina dos dentes anteriores superiores pelo contato com ácido estomacal. No caso de compulsão alimentar, corre o risco de ter cárie, pois o paciente tem o hábito de comer a todo momento, o que o leva a uma constante alteração de pH.

Outro problema relacionado ao estresse é a gengivite, uma inflamação da gengiva que, se não tratada, pode evoluir para a periodontite, uma condição mais grave que pode levar à perda de dentes. O estresse reduz a imunidade, tornando a boca mais vulnerável a infecções bacterianas”, destaca o Dr. Cesar.

Com a adoção de medidas preventivas e o acompanhamento profissional adequado, é possível evitar os danos causados pelo estresse e garantir que seu sorriso continue saudável e bonito.

O tratamento é realizado por profissionais capacitados e é multidisciplinar, interdisciplinar e multiprofissional. As consultas desses pacientes não devem ser muito longas para não afetar a sua condição geral. A escuta e o acolhimento são importantes, além da orientação e educação quanto à relação e o impacto dessas condições na saúde oral”, orienta a Dra. Katia.

Visitas regulares ao dentista

Para evitar as consequências do estresse sobre a saúde bucal, é fundamental investir em práticas que promovam o bem-estar geral, como exercícios físicos, técnicas de relaxamento e uma alimentação equilibrada. No âmbito odontológico, o uso de placas miorrelaxantes pode proteger os dentes durante o sono, enquanto visitas regulares ao dentista garantem a detecção precoce de danos.

Em todos os contextos, o papel do cirurgião-dentista é de extrema importância no acolhimento e análise clínica do histórico do paciente, a fim de orientá-lo a seguir o melhor tratamento para a resolução/manejo dos impactos causados na saúde bucal da pessoa com doença e/ou transtornos mentais”, alerta o Crosp.

Com Assessorias

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