A Ciência já concluiu que os processos neurodegenerativos podem se iniciam até duas décadas antes das primeiras manifestações clínicas como o caso da Doença de Alzheimer. Algumas vezes começam a se manifestar com sintomas diferentes das clássicas dificuldades de memória. Então, o que fazer para acelerar o diagnóstico e ampliar as chances de tratamento?

Dados do relatório da Alzheimer’s Disease International (ADI) apontam que o Alzheimer representa a sétima causa de mortalidade globalmente e uma das mais longas e de alto custo. A ADI estima que apenas 25% dos casos de demência são diagnosticados.

Em países de baixo desenvolvimento, o número representa menos de 10%, mostrando a importância de se falar sobre assunto e alertar a população, pois dados do mesmo relatório mostram que duas em cada três pessoas ainda acham que o declínio cognitivo seja natural do envelhecimento – isso mesmo entre os profissionais de saúde.

Para a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), há uma avidez por soluções melhores com relação às demências, pois o último lançamento para o tratamento da doença de Alzheimer ultrapassa 20 anos.

“Contrapõe-se ao tempo de estudo do Alzheimer para novas drogas e soluções, as estimativas com a incidência da doença no mundo. As condições são alarmantes. As estimativas é possível ter cerca de 50 milhões de pessoas acometidas no mundo com perspectivas de triplicar até 2050”, relata o vice-presidente da ABRAz-SP, o médico geriatra Jean Pierre de Alencar.

Tomando por base novos conceitos de diagnóstico, novas drogas começaram a ser desenvolvidas e pela primeira vez visando impedir ou conter os processos responsáveis pela neurodegeneração. A primeira droga com ação modificadora da doença de Alzheimer, o aducanumabe, foi aprovada em caráter emergencial pelo FDA (agência estadunidense que regulamenta medicamentos e alimentos), sob grande polêmica.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) barrou a chegada da medicação no início deste ano. “No entanto, outras tantas estão em vias de terem seus estudos divulgados e prontamente serão submetidas a análise dos órgãos competentes”, diz a presidente da ABRAz-SP e médica geriatra, Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira.

O vice-presidente da ABRAz-SP, o médico geriatra Jean Pierre de Alencar – Crédito: Arquivo pessoal

Diagnóstico precoce: novas fronteiras, novas possibilidades

Com o tema ‘Diagnóstico Precoce – Novas Fronteiras, Novas Possibilidades’, a Associação Brasileira de Alzheimer – Regional São Paulo (ABRAz-SP) se coloca no papel de trazer para o centro da discussão os novos conhecimentos sobre a demência.

A quinta edição da Jornada Paulista de Alzheimer, que será realizada no dia 17 de setembro, se propõe a evidenciar a necessidade de um diagnóstico precoce para que se estabeleça novos critérios no tratamento. O objetivo é levar informação de forma abrangente e gratuita aos profissionais de saúde, familiares e cuidadores de pacientes com demência.

“Traremos à baila, todos os aspectos do diagnóstico, mais especificamente do diagnóstico precoce, abordando os conceitos, exames, os desafios do cenário atual”, afirma Celene. Segundo ela, em decorrência de um diagnóstico precoce, os progressos de entendimento e lida com a doença ganharam novos contornos.

“Como o paciente ainda preserva a cognição e entendimento da doença, questionamentos sobre o tratamento tornam-se relevantes. Nestes casos o paciente não pode ser tratado como coadjuvante pela família ou justiça. Ele tem autonomia para as decisões sobre o próprio futuro”, diz Celene.

Segundo ela, com o diagnóstico precoce, o paciente passa a ser protagonista, como ele deseja que o seu tratamento seja feito, como quer que sua vida financeira seja conduzida, questões legais de herança, e detalhes do cotidiano podem ser pensados enquanto houver cognição..

A presidente da ABRAz-SP e médica geriatra, Celene Queiroz Pinheiro de Oliveira – Crédito: Sacha Ueda

Aspectos éticos, inovações e conhecimento científico

A jornada, que ocorrerá em 17 de setembro, sábado, das 8 às 12 horas, no formato on-line, será dividida em duas salas com palestras. A sala interdisciplinar irá abordar os aspectos éticos ao apresentar o diagnóstico ao paciente e a família e ainda a maneira mais apropriada de se planejar o tratamento, considerando questões jurídicas, trabalhistas, financeiras e emocionais. Já a sala exclusiva para médicos trará inovações e conhecimento científico – fruto de estudos e pesquisas para entender como a Doença de Alzheimer se desenvolve.

A aula inaugural trará conceitos sobre como, quando e para que se busca o diagnóstico precoce de Doença de Alzheimer com o médico neurologista norte-americano, Kirk Daffner, chefe da Division of Cognitive and Behavioral Neurology Director, Center for Brain/Mind Medicine e Virginia Wimberly, professora de Neurologia de Harvard Medical School, autora de livros como Improving Memory: Understanding Age-related Memory Loss (Melhorando a Memória: Entendendo a Perda de Memória Relacionada à Idade).

Evento aborda os sintomas iniciais da doença

A pergunta “Cognição ou comportamento? Quais são os sintomas iniciais da doença de Alzheimer será o tema que o médico neurologista Fabricio Ferreira de Oliveira irá debater com os participantes no evento. Os primeiros sinais da Doença de Alzheimer e outras patologias neurodegenerativas podem ser alterações de comportamento ou transtornos de humor.

“Conhecendo melhor as marcas registradas (biomarcadores) dessas doenças e a partir delas foram estabelecidos novos critérios diagnósticos”, diz o médico neurologista e diretor científico da ABRAz-SP, Fábio Henrique de Gobbi Porto.

O médico neurologista e diretor científico da ABRAz-SP, Fábio Henrique de Gobbi Porto – Crédito: Arquivo pessoal

Ele explica que o depósito de proteínas específicas como a β-amiloide e tau podem ser notados no tecido cerebral através de exames de cintilografia, as mesmas proteínas podem ser dosadas no líquor e outros fluidos como sangue e saliva.

“A ação do depósito dessas proteínas no tecido cerebral leva a atrofia de determinadas áreas cerebrais e são detectadas em exames de imagem como a ressonância”.

Os médicos Artur Coutinho (especialista em medicina nuclear) e Lucas Francisco Botequio Mella (psiquiatra) irão esclarecer sobre a importância dos dados biomarcadores identificáveis em exame de imagem e sangue na investigação diagnóstica.

Barreiras e aspectos psicológicos do diagnóstico precoce

‘As barreiras para o diagnóstico precoce no Brasil’ será o tema que o médico neurologista Paulo Caramelli, professor titular da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenador do Conselho Consultivo da ISTAART (The Alzheimer‘s Association International Society to Advance Alzheimer‘s Research and Treatment), irá abordar na terceira palestra do dia.

Encerra as atividades da sala dos médicos a palestra ‘Aspectos psicológicos do diagnóstico precoce’, com a psicóloga e ex-presidente da ABRAz, Fernanda Gouveia, que discutirá os pontos positivos e negativos do diagnóstico precoce como aceitação e o sofrimento psicológico a que paciente e família ficam expostos.

A Jornada trará, ainda, questões éticas que envolvem o médico, paciente e familiar como a revelação do diagnóstico: para o paciente ou só para a família?, como informar de forma clara sem alarmismo e preconceitos.

A ABRAz – Associação Brasileira de Alzheimer, que integra uma rede de pessoas e organizações nacionais e internacionais formada por 132 países, que estão filiadas à ADI.

A programação completa pode ser acessada aqui com os detalhes de cada palestra e palestrante e as inscrições podem ser realizadas por este canal.

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