Para as pessoas que desejam ter filhos mas não podem, uma das soluções é a fertilização in vitro (FIV), técnica de reprodução assistida. Com o avanço da medicina no cenário de reprodução humana, muitas mulheres vêm conquistando o sonho da gravidez mesmo após os 35 anos, e fazem crescer a procura por congelamento de óvulos nas clínicas especializadas. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre 2011 e 2016 o número de FIVs realizados no Brasil saltou de 13.527 para 30.790.
Diversas famosas anunciaram a vontade de fazer o procedimento e algumas delas inclusive já tiveram filhos após congelarem os óvulos. Entre elas, está Ivete Sangalo, que deu a luz às gêmeas Marina e Helena em pleno sábado de carnaval. A cantora que já era mãe do primogênito Marcelinho, decidiu congelar seus óvulos aos 45 anos de idade, não escondendo o seu desejo de ser mãe novamente, e revelou que a medida foi apenas uma precaução de fertilidade, já que não abriria mão dos métodos tradicionais. Após quatro meses do nascimento das gêmeas, Ivete gravou um vídeo em apoio ao Movimento da Fertilidade, da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
A apresentadora Karina Bacchi, de 40 anos, congelou óvulos com 35 anos enquanto não pensava em ter filhos. Atualmente, é mãe de Enrico e engravidou através de uma fertilização in vitro, com sêmen doado por um doador internacional. A também apresentadora Sabrina Parlatore, de 42 anos, por causa de um câncer de mama, congelou os óvulos para realizar o seu desejo de ser mãe, já que o tratamento pode causar infertilidade.
Graciele Lacerda, 36 anos, a namorada do Zezé di Camargo, que também pretende ter filhos com o cantor, está na lista, assim como Luciana Gimenez, de 47 anos, que é mãe de dois meninos Lucas, 18, e Lorenzo, 5, mas tem o desejo de aumentar a família e engravidar de uma menina. A apresentadora Sabrina Sato, de 36 anos, nunca escondeu o desejo de ser mãe, e já declarou diversas vezes que tem vontade de congelar seus óvulos. Mesmo numa correria de 12 horas de trabalho por dia, a japa já quis garantir sua gravidez para o futuro, se submetendo ao congelamento de óvulos.
Movimento da Fertilidade no Rio e Curitiba
Junho foi escolhido como o Mês Mundial de Conscientização da Infertilidade. Mas a campanha para preservar a fertilidade natural e os riscos da gravidez tardia não parou por aí. Este também é o objetivo do Movimento da Fertilidade que desembarca na cidade do Rio de Janeiro neste sábado (21), das 8 às 11h, para uma manhã de atividades esportivas e um bate papo descontraído com equipes médicas especializadas em reprodução humana. O público-alvo são jovens em idade reprodutiva – dos 20 aos 35 anos, que representam hoje cerca de 25% da população do país. As atividades físicas acontecem na Praia de Copacabana, na altura do posto 6.
Além de dar dicas de como otimizar a fertilidade por meio dos métodos naturais, os ginecologistas e embriologistas vão tirar dúvidas sobre os procedimentos de reprodução assistida. A iniciativa da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) também vai orientar àqueles que desconhecem os riscos de uma gravidez tardia. “Por isso, queremos estimular nas pessoas uma consciência sobre o tema e sobre a importância de adotar hábitos saudáveis de vida somado à uma rotina de acompanhamento médico”, afirma a presidente da SBRA, Hitomi Nakagawa.
“A preservação da fertilidade, ou seja, da capacidade de poder ter filhos quando desejado, deve ser uma prioridade na informação dos indivíduos. Assim, a SBRA está fazendo uma grande campanha informativa, junto com todos os profissionais brasileiros que atuam na área. Estaremos todos reunidos para conversar sobre nossa saúde reprodutiva, curtir o sol, a vida e como programar nossas famílias”, explica a especialista em reprodução humana e coordenadora do evento no Rio, Maria do Carmo Borges de Souza.
Em Curitiba, o movimento chega no dia 28 de julho, com ações voltadas para a saúde, entre elas atividades esportivas e recreativas, orientação nutricional, quick massagem e um bate-papo com especialistas que vão focar em hábitos de vida saudáveis e alternativas existentes para preservar a saúde reprodutiva. “Queremos alertar uma parcela da população que desconhece os riscos de adiar a gravidez e, também, informar que existem alternativas para quem opta em ter um filho após 35 anos”, explica o especialista em reprodução humana Álvaro Ceschin, membro da SBRA e representante do evento na cidade.
Quem deve se submeter ao tratamento
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a infertilidade atinge cerca de 15% da população mundial – são mais de 50 milhões de pessoas no mundo que desejam ter filhos e não conseguem. A infertilidade atinge cerca de um a cada dez casais em idade fértil no Brasil e estima-se que aproximadamente dois milhões de casais venham a apresentar algum tipo de dificuldade ao longo de suas vidas reprodutivas. A OMS considera infértil um casal que mantém relações sexuais sem métodos contraceptivos durante 12 meses sem engravidar.
Uma tendência mundial e também no Brasil envolve o avanço da idade das mulheres que buscam a gravidez. Cada vez mais independentes, com sonhos, profissões renomadas e com a agenda cheia de compromissos, as brasileiras estão optando pela gravidez tardia, geralmente a partir dos 35 anos. No Brasil, o número de mulheres que optam por ser mãe após os 40 anos aumentou 49,5% nos últimos anos.
Os dados do Ministério da Saúde não são recentes, mas reiteram o pensamento atual das mulheres. “Ter filhos hoje não está na fila de prioridades quando se está com idade entre 20 e 30 anos. Nesta faixa, as mulheres valorizam os estudos e a carreira, por exemplo”, esclarece o especialista em reprodução humana Álvaro Ceschin, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e representante do evento na cidade.
De acordo com o IBGE, as gestações entre 30 e 39 anos aumentaram de 22,5% para 30,8% nos últimos anos. Existem diversas técnicas e procedimentos disponíveis para o tratamento da infertilidade, como indução da ovulação, inseminação artificial ou fertilização in vitro, além do ICSI (técnica chamada de injeção intracitoplasmática de espermatozoide em que um único espermatozoide especialmente selecionado é injetado em cada óvulo disponível), ovodoação e congelamento de óvulos ou embriões (criopreservação).
A idade é um fator determinante para a fertilidade da mulher e do homem. Ao longo da vida, os óvulos envelhecem e a produção de espermatozoides perde qualidade e é justamente isso que o movimento quer reforçar. “Uma parcela da população desconhece os riscos da uma gravidez tardia, que pode ter consequências para a saúde da mãe e do bebê. A decisão de ter um filho tem sido tomada cada vez mais tarde. Todo esse processo demanda um planejamento prévio”, complementa Álvaro Ceschin.
Álvaro Ceschin explica ainda que a Sociedade não defende o uso das técnicas de reprodução assistida como primeira opção àqueles que desejam engravidar, pois o momento adequado para recorrer à assistência especializada é a partir do momento em que as mulheres interrompem o uso do método contraceptivo e, após um ano de relação sexual, não conseguem engravidar. “Se a idade da mulher for acima de 35 anos, recomenda-se orientação com 6 meses de tentativas. Caso haja algum fator identificado, como distúrbios menstruais ou infecções pélvicas anteriores, o acesso deve ser imediato”, completa o especialista.
Como funciona o congelamento de óvulos
Especialista em reprodução humana, o médico Matheus Roque explica que o congelamento de óvulos é indicado para mulheres que desejam postergar ou não tenha definido se desejará uma gestação no futuro. A idade ideal para isso acontecer é abaixo dos 36 anos, apesar de não existir uma contraindicação sobre esse fator. Mesmo feito esse procedimento, há também a chance da mulher ter uma gravidez de forma natural, mas se isso não ocorrer, esses óvulos podem ser utilizados para uma reprodução assistida”, explica o especialista.
Com o passar dos anos, o relógio biológico feminino diminui a quantidade e a qualidade dos óvulos que a mulher possui, uma vez em que ela já nasce com todos os óvulos que terá durante toda a sua vida, até que chegue um certo limite e entre em menopausa. “Talvez ainda mais importante que a diminuição da reserva ovariana esteja o fato da piora da qualidade dos óvulos, que também ocorre com o passar dos anos. Esta piora leva a uma menor chance de gravidez, maiores riscos de abortamentos, malformações e síndromes com o avanço da idade. Estas alterações passam a ser mais significativas após os 36 anos de idade”, salienta o médico.
Em casos de câncer, o risco de infertilidade aumenta. “Os tratamentos oncológicos, principalmente a quimioterapia e radioterapia podem causar um dano aos ovários das pacientes e levar à diminuição da reserva ovariana, levando a uma antecipação da menopausa nestas pacientes. Assim, todas as pacientes em idade reprodutiva que irão submeter-se a tratamentos oncológicos têm a indicação formal de realizarem um tratamento de preservação de fertilidade – congelamento de óvulos/embriões – antes de submeterem-se aos tratamentos oncológicos”, finaliza Roque.
Causas são investigadas após um ano sem anticoncepcional
O distúrbio não deve ser motivo para que casais desistam do sonho de gerar um filho. Ainda, nem sempre a gravidez tão desejada não ocorre somente por causa da mulher, bem como a infertilidade não deve ser confundida com a incapacidade de concepção.
Em geral, as causas da infertilidade começam a ser investigadas após 12 meses de tentativas sem o uso de qualquer método contraceptivo. Se a mulher tem mais de 35 anos, o prazo para a investigação diminui para seis meses de tentativas de forma natural, já que a partir dessa idade a capacidade reprodutiva da mulher vai diminuindo progressivamente. Em 20% dos casos, os fatores devem-se à infertilidade do casal, do homem e da mulher simultaneamente. Em 40% dos casos a causa de infertilidade está somente no homem e nos outros 40% na mulher.
Dos casais que buscam entender quais as causas da infertilidade, existe uma parcela que não consegue encontrar uma razão específica. Essa situação é também chamada de ‘Infertilidade Sem Causa Aparente’ e seu diagnóstico se dá após o casal passar por diversos exames com resultados normais, ou seja, que não possuam alterações orgânicas ou fisiológicas que justifiquem a falta de sucesso para engravidar.
“Vários motivos ocasionam a infertilidade. Nas mulheres, os mais comuns são a síndrome do ovário policístico, a baixa reserva de óvulos, a endometriose e a obstrução nas trompas. Já nos homens, varicocele (dilatação das veias que drenam o sangue dos testículos, também chamada de varizes das veias testiculares), distúrbios hormonais e infecções que possam causar alterações nos espermatozoides, além da própria vasectomia, são considerados fatores. Pessoas com histórico de infertilidade na família ou que precisaram fazer quimioterapia ou radioterapia também têm um risco maior de ter perda na fertilidade”, diz Claudia Gomes Padilla, médica especialista em reprodução humana do Grupo Huntington.
“É preciso confiar em seu médico e entender qual o tipo de tratamento mais adequado a ser realizado. Ainda, ser mãe ou pai é uma questão muito sensível para algumas pessoas. O acompanhamento psicológico pode favorecer o tratamento de reprodução assistida, uma vez que ansiedade e estresse podem contribuir para o comprometimento da fertilidade de homens e mulheres, ainda que não seja o fator principal na maioria das vezes. O equilíbrio emocional do casal pode trazer ferramentas para trilhar esse momento da vida e aumentar as chances de sucesso dos tratamentos”, finaliza Dra. Claudia.
Da Redação, com Assessorias