A endometriose, que afeta aproximadamente 10% das mulheres em idade reprodutiva mundo afora, tem sido um desafio tanto no diagnóstico quanto para o tratamento, com muitas mulheres sofrendo em silêncio devido à dor crônica e as complicações associadas. Por isso, a campanha Março Amarelo volta a atenção esse tema.

De acordo com especialistas, o diagnóstico clínico e por imagem muitas vezes é suficiente para o início do tratamento medicamentoso, utilizando hormônios e anti-inflamatórios, que pode aliviar a dor da paciente. Mas desde o ano de 2008, a endometriose passou a ser vista como uma doença crônica, que exige conduta terapêutica a longo prazo.

“O tratamento leve é realizado com contraceptivos hormonais e tem apresentado resultados muito satisfatórios principalmente no controle dos sintomas e melhora da qualidade de vida. Nos casos de endometriose profunda,  o tratamento medicamentoso pode levar a melhora dos sintomas e diminuição das lesões”, afirma o médico ginecologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Rogério Tadeu Felizi.

O tratamento clínico é para 80% dos casos. Mas em 20% dos casos, quando o tratamento clínico não melhora a qualidade de vida da paciente, a solução é cirúrgica. A opção preferencial dos médicos mais recentemente tem sido o tratamento cirúrgico minimamente invasivo, para a remoção de todos os focos da doença.

“Em situações em que a doença causa comprometimento anatômico e funcional, a cirurgia é a melhor indicação para remover os focos da doença, diminuindo a dor, proporcionando melhora na qualidade de vida e nos índices de fertilidade”, explica o ginecologista.

Segundo ele, cirurgia é indicada para os casos mais graves (infertilidade, comprometimento do sistema intestinal e urinário) ou nas pacientes sem resposta adequada ao tratamento clínico medicamentoso. Nesse contexto, um dos avanços mais significativos na saúde feminina é a cirurgia minimamente invasiva para o tratamento da endometriose.

Para o ginecologista, atualmente, os procedimentos robóticos são a melhor opção para o tratamento cirúrgico da endometriose, pois permitem a remoção do tecido excedente, e possibilitam ao cirurgião acesso a estruturas do organismo que não eram possíveis nos procedimentos laparoscópicos.

As cirurgias se tornam mais precisas, rápidas e menos invasivas, facilitando a recuperação das pacientes. Com a tecnologia da robótica o médico tem uma visão 3D ampliada em 10 vezes da área afetada e traz menos morbidade para as pacientes que, em geral, recebem alta hospitalar no dia seguinte ao procedimento. Além de menos riscos de complicações, a cirurgia robótica tem menos sangramento e dor no pós-operatório e pela recuperação mais rápida.

Cirurgia robótica como alternativa ao tratamento da endometriose

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), ligado à Universidade de São Paulo (USP), iniciou em 2024 um programa de cirurgia robótica como alternativa para o tratamento da endometriose. Desde o início do ano, professores e médicos do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP  já realizaram três cirurgias e a previsão é fazer ao menos uma a cada duas semanas.

“A cirurgia robótica representa avanço no tratamento da endometriose, oferecendo recuperação mais rápida, menor cicatriz, melhor precisão para o cirurgião, menor invasão e visualização da área cirúrgica aprimorada”, explica o professor da FMRP, Julio Cesar Rosa e Silva.

Professor da FMRP, Júlio César Rosa e Silva, especialista em endometriose (Foto: Divulgação)

“Estamos propiciando às nossas pacientes uma cirurgia mais avançada tecnologicamente. As cirurgias foram muito bem feitas, como sempre são, mas precisamos de dois, três meses para avaliar o impacto desse tipo de cirurgia nesses pacientes”, explica o professor da FMRP, Julio Cesar Rosa e Silva.

Ele explica que essa cirurgia pode ser realizada com a laparoscopia convencional sem que signifique comprometimento para paciente nem em termos de resultado nem de complicação. “A cirurgia robótica é mais cômoda e mais fácil para o cirurgião, mas o resultado em si é semelhante”, explica.

Endometriose é uma condição ginecológica crônica que afeta mulheres em idade reprodutiva e ocorre quando o tecido semelhante ao que normalmente reveste o interior do útero (endométrio) começa a crescer fora do útero.

Esses crescimentos de tecido endometrial fora do útero são chamados de implantes de endometriose e podem se desenvolver nos ovários, nas trompas de Falópio, no tecido que reveste a pélvis, e em raras ocasiões, em órgãos fora da região pélvica, como intestinos, pulmões e outras áreas.

“Felizmente, 80% das mulheres acometidas com essa doença têm a doença, que a gente chama inicial. Mas os 20% têm doença avançada, com comprometimento significativo na qualidade de vida dessas pacientes, com quadro de dor intensa, sendo uma das principais causas de infertilidade. Se o tratamento clínico não surte efeito, lançamos mão do tratamento cirúrgico para melhorar a qualidade de vida das nossas pacientes”, explica o professor.

Sintomas – A doença atinge uma em cada 10 mulheres em idade reprodutiva com redução significativa da qualidade de vida. O tratamento, é basicamente clínico para controlar os sintomas, que geralmente envolvem cólica menstrual com dor muito exacerbada, muito fora do normal, dor para ter relação sexual e dor às vezes sem ligação com o ciclo menstrual ou com a relação sexual, uma dor que a gente chama de dor acíclica. Então o quadro principal é dor pélvica crônica e infertilidade.

Segundo ele, a endometriose é uma doença que compromete muito a qualidade de vida da mulher com quadro de dor de cólica menstrual muito intensa, dor para ter relação sexual e frequentemente acaba comprometendo a fertilidade futura dessas dessas mulheres.

“O diagnóstico é feito pela suspeita clínica, pelos sintomas da paciente e muitas vezes precisamos lançar mão de exames de imagem (ressonância magnética e ultrassom transvaginal) para termos o diagnóstico correto da doença”, explica o professor.

Estamos no mês de conscientização e é importante que a gente dissemine esse conhecimento para que consigamos fazer diagnósticos cada vez mais precoce e melhorar a qualidade de vida das nossas pacientes”, afirma.

Diferenças entre cirurgia convencional e a mimimamente invasiva

Audrey Tsunoda, uma das principais especialistas internacionais na área e médica da equipe de ginecologia do Hospital Angelina Caron, explica as diferenças entre as cirurgias disponíveis no Brasil.

“Tradicionalmente, o tratamento inclui opções medicamentosas e cirurgias invasivas, que, embora eficazes, muitas vezes resultam em longos períodos de recuperação e maiores riscos de complicações. No entanto, a cirurgia minimamente invasiva está revolucionando o tratamento da endometriose. Utilizando técnicas avançadas como a laparoscopia e a cirurgia robótica, é possível realizar cirurgias com maior precisão e sem necessidade de grandes cicatrizes, promovendo uma recuperação mais rápida e menos dolorosa.”

endometriose ocorre quando um tecido semelhante ao revestimento interno do útero cresce fora dele, causando dor e inflamação, que pioram a cada ciclo menstrual. Nos casos severos, pode ocasionar cicatrizes endurecidas, que geram infertilidade e comprometem órgãos como intestino, bexiga e apêndice. Por isso, a inovação da cirurgia minimamente invasiva para a endometriose ganha ainda mais importância.

“A cirurgia minimamente invasiva tem sido um divisor de águas para as nossas pacientes. Com estas tecnologias, é possível realizar uma avaliação mais precisa, pois as lentes de alta definição ampliam as imagens e os instrumentos mais delicados permitem movimentos mais precisos e menos agressivos. É possível preservar nervos e outras estruturas nobres enquanto atingimos uma remoção altamente eficiente e muito mais segura dos focos de endometriose.”

Da cirurgia convencional à minimamente invasiva

A evolução no tratamento da endometriose é um salto de inovação e progresso, marcando a transição de procedimentos cirúrgicos convencionais, caracterizados por grandes incisões e longos períodos de recuperação, para as técnicas minimamente invasivas de hoje. Essa técnica não apenas oferece uma recuperação significativamente mais rápida e menos dolorosa para as pacientes, mas também reduz os riscos de complicações, permitindo uma precisão cirúrgica sem precedentes.

As estatísticas reforçam o sucesso desses avanços, com estudos mostrando uma melhora nos sintomas em até 80% das pacientes submetidas à cirurgia minimamente invasiva. Além disso, a capacidade de retornar às atividades diárias mais rapidamente não apenas beneficia a saúde física das mulheres, mas também impacta positivamente sua saúde mental e emocional.

A continuidade da pesquisa e inovação promete futuros avanços, com a expectativa de que o tratamento da endometriose se torne ainda mais eficaz e menos invasivo, assegurando que todas as mulheres tenham acesso a cuidados de saúde de alta qualidade e personalizados.

“A cirurgia combinada com uma estrutura e equipamentos modernos transformaram o tratamento da endometriose, oferecendo às mulheres uma melhor qualidade de vida com menos tempo de recuperação. Isso não só melhora os sintomas da endometriose, mas também aumenta as chances de fertilidade para muitas de nossas pacientes. Essa mudança no tratamento reflete um avanço significativo na medicina reprodutiva e no manejo da dor para mulheres afetadas por essa condição”, diz Audrey Tsunoda.

Benefícios também para a saúde emocional das mulheres

A cirurgia minimamente invasiva, embora não seja uma solução para todas, oferece esperança para muitas dessas mulheres, especialmente aquelas que buscam alívio da dor e melhora na fertilidade. A médica também enfatiza o impacto emocional e psicológico da endometriose e como a cirurgia minimamente invasiva pode ajudar.

“Além dos benefícios físicos, a recuperação rápida e eficaz pode melhorar significativamente a saúde mental das mulheres. Muitas de nossas pacientes relatam sentir-se mais otimistas e empoderadas após o tratamento”, afirma.

À medida que a cirurgia minimamente invasiva se torna mais acessível e conhecida, espera-se que mais mulheres com endometriose possam se beneficiar dessa opção de tratamento.

“Nosso objetivo é continuar aprimorando essa técnica e torná-la disponível para mais mulheres. A informação é poder, e quanto mais falarmos sobre endometriose e suas opções de tratamento, mais podemos ajudar”, conclui Dra Audrey.

Com Assessorias

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