O combate ao câncer é um dos maiores desafios da Medicina. Com o crescimento da doença que tem expectativa de 600 mil novos casos no Brasil em 2018, a busca pela cura e de alternativas de tratamento tem levado pesquisadores por caminhos diversos.
A imunoterapia, que consiste em estimular o sistema imunológico para que crie os anticorpos necessários para o combate das células cancerígenas, é um deles. E também o mais promissor na atualidade, o que tem acendido a chama da esperança a muitos pacientes e seus familiares.
O Instituto Nacional do Câncer (Inca) até reconhece a técnica de tratamento, mas enfatiza que “ainda é um método experimental, devendo se aguardar resultados mais conclusivos sobre sua eficácia e aplicabilidade clínica”. Enquanto isso, em nível mundial, a imunoterapia conquista cada vez mais credibilidade.
O método foi mais uma vez reconhecido como maior avanço no tratamento do câncer nos últimos anos. No dia 1º de outubro, o Prêmio Nobel de Medicina foi entregue a James P. Allison e Tasuku Honjo, os dois cientistas responsáveis pela descoberta da terapia que permite que o sistema imunológico reconheça e combata as células doentes.
Em evento realizado em agosto em São Paulo, com a presença de ViDA & Ação, foram apresentados alguns imuno-mediadores utilizados em estudos clínicos experimentais e os tumores em que são mais indicados. O pesquisador Antônio Buzaid, especialista nos hospitais Albert Einstein, Sírio-Libanês e chefe do Centro Oncológico da Beneficência Portuguesa, mostrou que é possível empregar a imunoterapia com chances de cura.
O câncer ocorre porque o sistema imunológico falhou e é como quando o sistema de segurança da nossa casa falha e o bandido entra. Então vestígios sutis podem apontar o procedimento a ser adotado. Imunoterapia não é para todos, testes vão revelar quem pode se submeter ao tratamento”, destacou.
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Diferencial está no diagnóstico
Atualmente os tratamentos combinam medicamentos com atuação específica nos mecanismos da doença e apresentam taxas de 20% a 30% de cura. Os dados bem sucedidos dos tratamentos realizados por Dr. Buzaid apresentam regressão de tumores externos e casos em que os exames do paciente apontavam várias metástases, que reduziram consideravelmente com o tratamento.
Segundo Fernando Maluf, chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes e membro integrante do Centro de Oncologia do Hospital Albert Einstein, hoje é possível identificar 315 genes relacionados ao câncer.
Quando a gente consegue detectar o gene e conhecê-lo, é possível entender porque o tumor de um paciente apresenta as metástases. Entendendo o mecanismo individualmente, conseguimos atuar com o tratamento de acordo com o funcionamento dele e a resposta é melhor”, afirmou.
Sistema imune deve reconhecer o tumor e eliminá-lo
Realizado pelo Instituto Vencer o Câncer, o ‘Workshop Imunoterapia de A a Z‘ reuniu alguns dos principais especialistas em Oncologia do país, no Museu de Arte de São Paulo (Masp). O objetivo era disseminar o importante conceito da Imunoterapia, visando ao melhor acesso e à melhor adesão para o paciente oncológico e onco hematológico. A finalidade da imunoterapia é fazer com que o sistema imune do paciente reconheça o tumor e o elimine.
De acordo com os organizadores, a transformação maligna modifica as células a tal ponto que o sistema imunológico do organismo consegue, em geral, reconhecê-las como estranhas e disparar uma resposta imunológica contra elas.
O tumor, entretanto, tem vários mecanismos que fazem com que a célula maligna não seja reconhecida pelo sistema imune (como uma camuflagem) ou produz substâncias que suprimem o sistema imune. Por isso, vários tratamentos foram desenvolvidos com o objetivo de estimular a resposta imunológica contra as células malignas. Outras intervenções se baseiam na administração de anticorpos ou de células imunologicamente competentes, especificamente preparadas para destruir células tumorais.
Como funciona a imunoterapia
Bernardo Garicochea, oncologista e especialista em genética do Grupo Oncoclínicas, explica como funciona a imunoterapia. “Por meio de diferentes substâncias que são aplicadas de forma intravenosa ou subcutânea, a o método estimula nosso sistema imunológico, fazendo com que o nosso organismo seja capaz de identificar e combater as células tumorais” explica.
Segundo ele, o tratamento tem trazido ótimos resultados, principalmente para cânceres de pulmão, bexiga e melanoma, estômago, além de rim. Ainda segundo o especialista, estudos atestam a eficácia no tratamento de Linfoma de Hodgkin e tumores de mama triplo negativo.
Mesmo havendo um longo caminho e muitas variáveis a serem avaliadas no que diz respeito às indicações da imunoterapia, ela pode ser tratada como uma abordagem promissora que pode beneficiar diversos pacientes”, ressalta o oncologista.
Apesar dos avanços, ele lembra que é cedo para afirmar que a imunoterapia seria a chave para a cura do câncer. De toda forma, os passos já trilhados são observados com otimismo e lançam boas perspectivas para tratamentos de cânceres metastáticos e que não respondem às medicações convencionalmente indicadas, tais como quimioterápicos e drogas alvo-moleculares.
A Imunoterapia já tem aprovação da Anvisa para uso em casos de melanoma, câncer de rim e câncer de pulmão e vem sendo oferecido por hospitais privados e instituições públicas que participam de pesquisa clínica em Oncologia.
Tratamento no Brasil é aprovado em alguns casos
Na última década, a imunoterapia passou de um tratamento teórico promissor para um padrão de cuidados que está contribuindo para respostas positivas de pacientes oncológicos. Desde 2011, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou 15 novas drogas imunoterápicas para o tratamento do câncer, sendo cinco só no ano passado. No Brasil, a imunoterapia tem aprovação da Anvisa para uso em casos de melanoma, câncer de rim , câncer de pulmão e câncer de bexiga.
De forma simplificada, o nosso sistema imunológico é programado para combater quaisquer sinais que representem ameaças à saúde. Porém, para manter um equilíbrio que assegure plenamente o nosso bem estar, o mecanismo de defesa do corpo também tem freios que impedem uma ação exagerada nesta resposta – caso contrário, ele pode desencadear as chamadas doenças auto-imunes, como lúpus, esclerose múltipla e artrite reumatoide.
Quando, contudo, ocorre uma falha nesse processo de combate ao inimigo e, em consequência, o surgimento de um tumor, a medicação imunoterápica pode ser adotada para inibir a ação desses freios e provocar a resposta necessária para combater as células malignas. “A imunoterapia cria uma memória imunológica no paciente contra o tumor. A concepção é gerar uma resposta imunológica exacerbada no paciente. Ao fazer isso, o sistema imunológico volta a reconhecer o tumor como um agente externo”, explica Daniel Gimenes, oncologista do CPO.
Quando a imunoterapia é a melhor opção?
Apesar dos avanços promissores, o especialista explica que ainda é cedo para afirmar que a imunoterapia seria a chave para a cura do câncer de mama. De toda forma, os passos já trilhados são observados com otimismo e lançam boas perspectivas para tratamentos do câncer de mama triplo-negativo metastático e que não responde às medicações convencionalmente indicadas, tais como quimioterápicos e drogas alvo-moleculares.
O que tem se observado de forma global no tratamento do câncer é que nos casos onde o médico pode optar pela imunoterapia, a resposta dos pacientes têm sido satisfatórias. “Ela tem alguns efeitos colaterais, porém o paciente tem melhor qualidade de vida. É um tratamento mais sustentável para a saúde do paciente, pois ataca diretamente o tumor. E uma das principais vantagens da adoção destes imunoterápicos da nova geração é que, mesmo após o fim do tratamento, a imunidade desse indivíduo pode continuar respondendo a células tumorais, diminuindo a recidiva de tumores e aumentando o tempo livre de progressão da doença”, conclui o Dr. Daniel Gimenes.
Com Assessorias
A repórter Ana Carolina de Almeida viajou a São Paulo a convite do Instituto Vencer o Câncer.