As fortes chuvas que atingem diversos estados do país, desde o início do mês, devem se intensificar com a chegada do verão. O último mês de 2022 começou sob chuva intensa em muitas regiões do país e deve continuar assim ao longo do primeiro mês de 2023, de acordo com as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia.

Causa de muitos estragos na infraestrutura e na saúde pública das cidades, o grande volume de água aumenta os riscos de enchentes, alagamentos e deslizamentos de terra e de enfermidades diversas, a exemplo da leptospirose (causada pelo contato com a urina de ratos), transmitidas pelo contato com águas contaminadas.

As temperaturas mais altas e as chuvas intensas aumentam, ainda, a preocupação dos especialistas com a proliferação de casos de dengue, zika e chikungunya, doenças que são transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, cuja reprodução é maior durante a estação mais quente do ano, que neste ano começa no dia 21de dezembro.

O excesso de chuva também contribuiu para um aumento de 184,6% no número de casos de dengue em comparação com o mesmo período de 2021. Somente até o mês de outubro foram registrados 1,3 milhão de casos da doença neste ano, com 909 óbitos confirmados. Por isso, o Ministério da Saúde está empenhado na campanha “Todo dia é dia de combater o mosquito” — com o objetivo de conscientizar a população brasileira sobre os perigos do inseto e a importância de combate aos criadouros do mosquito.

Uma das principais recomendações é para que os cidadãos façam limpeza frequente em suas casas, não deixando água parada em pneus, vasos de plantas, calhas, garrafas, caixas d’água ou outros recipientes que possam permitir a reprodução do mosquito. Manter lixeiras bem tampadas, ralos limpos, e usar lonas esticadas para cobrir materiais de construção são outros cuidados para evitar o acúmulo de água.

De acordo com o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB), Walter Ramalho, geralmente a transmissão acontece na casa das pessoas — já que o mosquito tem uma maior atividade no começo da manhã e no final da tarde. “São os momentos em que os membros das famílias normalmente se reúnem em suas residências, principalmente nos finais de semana”. Os sintomas da dengue geralmente se apresentam com febre alta, que começa de maneira abrupta, dores no corpo, dor de cabeça e manchas vermelhas na pele.

Leptospirose: como proceder em contato com as águas contaminadas

Especialistas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz orientam sobre como proceder em caso de contato com águas contaminadas e durante a manifestação de sintomas relacionados às principais doenças causadas por elas.

  • Com a ocorrência de enchentes e transbordamentos de rios e córregos, a urina de ratos (causadora da Leptospirose) existente em esgotos e bueiros mistura-se à água das enxurradas e à lama.
  • Os principais sintomas da leptospirose são dores pelo corpo principalmente nas panturrilhas , febre, icterícia rubínica (coloração amarelada na pele e nos olhos, que por vezes podem ficar avermelhados) e dor de cabeça. A qualquer sinal de sintomas é importante procurar um médico, para que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível.
  • O período de incubação da leptospirose pode chegar a até 30 dias, mas normalmente os sintomas se manifestam entre sete e 14 dias após a exposição ao risco. O diagnóstico é feito por meio de exame de sangue e o tratamento consiste no uso de antibióticos e medidas de suporte clínico (muitas vezes, requer internação hospitalar).

Aumento nos casos de doenças causadas pelo Aedes aegypti

  • A principal forma de prevenção da Dengue, Zika e Chikungunya é eliminar pontos que podem acumular água parada e que provocam o surgimento de poças. Dessa forma é possível evitar a proliferação das lavras do mosquito transmissor dessas três doenças. Os recipientes usados como bebedouros de animais de estimação também pedem atenção, já que podem se tornar focos do mosquito.
  • Os principais sintomas dessas doenças são febre alta, manchas na pele, dores de cabeça e pelo corpo, principalmente nas articulações. A qualquer sinal de sintomas, é importante procurar um médico ou pronto atendimento, pois são doenças potencialmente graves.

Água sanitária é eficaz para eliminar larvas do mosquito?

Um estudo conduzido pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP) revelou que o uso de água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) é 100% eficaz na eliminação de larvas do mosquito Aedes aegypti. Basta diluir 10 ml de água sanitária em um litro de água corrente e passar no chão e em superfícies que atraem moscas e mosquitos para acabar com todas as larvas depositadas em 24 horas, evitando sua propagação.

João César de Freitas, diretor comercial da Katrium Indústrias Químicas, fornecedora de todo cloro empregado no tratamento de água do Estado do Rio de Janeiro, diz que o uso da água sanitária é um importante trunfo na prevenção de doenças que se intensificam com as chuvas de verão e deveria ser amplamente divulgado, principalmente em comunidades com alta densidade populacional — em que um único mosquito pode fazer várias vítimas.

“Além de ajudar a prevenir a população contra as doenças provocadas pelo Aedes aegypti, o uso de água sanitária também previne a leptospirose — doença transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais, especialmente de ratos”.

De acordo com o executivo, essa solução de uma tampinha de água sanitária para um litro de água deveria fazer parte da rotina diária na limpeza de cozinhas e banheiros, na rega de plantas (já que nessa proporção é inofensiva ao meio ambiente), bancadas, mesas de bar etc.

“A população se acostumou a reforçar a limpeza da casa com água sanitária durante a fase crítica da Covid-19. Mas esse hábito deveria se estender permanentemente, já que é tão importante manter a higiene dos lares, escolas, clubes, instituições de saúde e todo negócio voltado para o atendimento público”.

Como realizar a limpeza de moradias

  • Para a limpeza de moradias alagadas por águas contaminadas, o ideal é utilizar luvas, botas de borracha ou outro tipo de proteção, como sacos plásticos duplos, para as pernas e os braços. A lama que permanecer nos ambientes, utensílios, móveis e outros objetos deve ser removida com escova ou vassoura, sabão e água limpa.
  • Para a limpeza de ambientes e superfícies deve-se utilizar produtos à base de hipoclorito de sódio (como água sanitária). O que não puder ser recuperado deve ser descartado.
  • Alimentos que tiveram contato com a água das enchentes devem ser descartados, pois mesmo quando lavados e secos, ainda podem estar contaminados.
  • Palavra de Especialista

  • 2022 e a dengue continua sendo um problema no Brasil. Por quê? 

    Por Sandra Gomes de Barros*

    Em setembro de 2022, o Ministério da Saúde publicou um boletim epidemiológico registrando aumento de quase 190% em casos de dengue em comparação com o mesmo período em 2021. Trata-se de um aumento importante, mesmo com a dengue sendo considerada uma endemia há tantos anos. 

    Isso ocorreu devido às altas temperaturas que tivemos no Brasil. Altas temperaturas têm uma relação importante com o aumento nos casos de dengue, pois o mosquito transmissor, o infelizmente famoso Aedes aegypti, gosta de temperaturas elevadas. Ele se desenvolve melhor a 28, 30 graus celsius. E, como acontece em muitas regiões neste país tropical, depois da seca e do calor vem a chuva – também intensas neste ano, favorecendo ainda mais a proliferação desse transmissor. 

    Além disso, tem a questão que se relaciona com cuidados que as pessoas precisam ter sem depender de ninguém para lembrar de fazer. Após a chuva, sempre checar se houve acúmulo de água no quintal, manter caixas d’água fechadas e o lixo longe, pois ele pode colaborar com esse acúmulo também. 

    Se houver água parada, vai haver aedes aegypti botando ovos. Se a água for mantida parada, esses ovos vão eclodir e as larvas vão se desenvolver até a fase adulta, disseminando ainda mais a doença. Em um país com tantas pessoas empobrecidas e com dificuldades de moradia como o nosso, esse aumento de casos não foi exatamente uma surpresa. 

    E, não bastasse o número de casos, vale ressaltar que, neste momento, estamos passando pelo período anual de ascensão da dengue, que normalmente ocorre entre outubro e maio. Neste período, é importante estarmos atentos a alguns sintomas. 

    Após a picada da fêmea do mosquito, há um período de incubação de 3 a 14 dias. Depois disso, a pessoa começa a ter o que chamamos de viremia: vem uma febre muito alta e que vai se estender até o quinto dia, associada com dor de cabeça caracterizada por uma dor forte atrás dos olhos, mal-estar, fraqueza, dores musculares e nas articulações, perda de apetite, enjoo, vômitos. Diarreia pode acontecer também.

  • Nesta fase ainda podem aparecer lesões exantemáticas, que são manchas pelo corpo, concentradas na face, tronco e membros. Após esses cinco dias, o paciente pode melhorar ou a doença pode evoluir para uma fase crítica, que ocorre quando a febre diminui, mas começam hemorragias que podem levar ao choque e à disfunção de órgãos. Algo que sempre me questionam é: quem já teve dengue uma vez pode ser contaminado novamente?
  • A resposta é: sim, pois o arbovírus (o nome científico para vírus transmitidos por mosquitos) da dengue apresenta quatro sorotipos, em geral, denominados DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Quando contaminada por um desses sorotipos, a pessoa desenvolve imunidade apenas contra ele, continuando exposta aos outros. Existe uma vacina, mas ela está disponível apenas na rede privada e não é indicada para vacinação em massa em razão de critérios importantes: só pode se vacinar quem já teve dengue, essas pessoas precisam ter entre 9 e 45 anos de idade e a vacina não é indicada a gestantes ou lactantes.
  • Então, embora haja uma vacina, seu alcance ainda não é expressivo da forma que precisamos no Brasil. Por isso, a sociedade e o poder público precisam atuar nesse combate difícil de ser vencido. Saneamento básico e políticas públicas tanto em saúde quanto em educação e conscientização são fundamentais. Enquanto tivermos uma população tão grande na miséria, teremos recordes de dengue
  • * Sandra Gomes de Barros é médica infectologista e professora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa). 

Com Assessorias

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