Médicos afastaram a possibilidade de a lesão na laringe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ser maligna e estar relacionada a uma possível recidiva do câncer na laringe com o qual foi diagnosticado em 2011, tendo que se submeter a radioterapia e quimioterapia na ocasião.

A chance de a lesão retirada das cordas vocais de Lula ser maligna é “quase zero”, disse ao Estadão Luiz Paulo Kowalski, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Sírio-Libanês e membro da equipe que cuida do petista.

Ele entrada neste domingo (20) no hospital de São Paulo, considerado um dos melhores e mais caros do país, para a realização de uma laringoscopia para retirada de leucoplasia da prega vocal esquerda, uma lesão na laringe. Leucoplasias são lesões que se manifestam como placas brancas nas superfícies da mucosa oral.

De acordo com o especialista, o exame feito durante a cirurgia e que analisou a amostra removida já indicou ausência de neoplasia (tumor maligno). De toda forma, como é praxe nesses casos, a peça cirúrgica foi enviada para exame patológico detalhado, cujo resultado deve sair entre 24 e 48 horas.

O presidente eleito teve alta nesta segunda-feira (21), às 7h45, e foi acompanhado pelas equipes médicas coordenadas pelos especialistas Roberto Kalil Filho, Artur Katz, Rubens Brito, Rui Imamura e Luiz Paulo Kowalski.

“É muito raro o exame definitivo mostrar algo diferente em um caso como esse. O patologista que fez a análise no momento da cirurgia é muito experiente e não ficou com dúvidas (sobre a presença de células cancerígenas). Eu diria que a chance de malignidade é quase zero”, explicou o médico, que também é professor titular de cirurgia de cabeça e pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Leucoplasia tem 10% de se tornar câncer

Lula terá que poupar o uso da voz para a recuperação completa da lesão (Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil)

A lesão, chamada de leucoplasia, foi diagnosticada em 12 de novembro em uma avaliação de rotina no mesmo hospital, que também mostrou completa remissão do tumor diagnosticado no presidente em 2011. Mesmo assim, a equipe médica optou por remover a leucoplasia para análise e por prevenção, já que esse tipo de lesão tem 10% de chance de tornar-se câncer.

De acordo com Kowalski, o fato de o presidente já ter tido tumor na laringe e ser maior de 65 anos aumentam o risco, por isso a decisão pela remoção total.

A cirurgia foi feita sob anestesia geral, começou por volta das 20 horas de domingo e durou cerca de 40 minutos. O procedimento aconteceu sem complicações e o presidente teve alta cerca de 12 horas depois, na manhã desta segunda, 21.

Em publicação no Twitter, Lula afirmou que já está em casa e que passa bem. “Bom dia. Já em casa, depois de um pequeno procedimento ontem. Tudo resolvido e bem. Boa semana para todos”, disse o presidente eleito.

À reportagem da CNN, o médico Roberto Kalil Filho esclareceu que, em sua maioria, os casos de leucoplasia são benignos. Os demais resultados de exames estão normais e apontaram completa remissão do tumor diagnosticado em 2011.

Médicos recomendam repouso vocal

De acordo com o cirurgião, o presidente não deverá abusar do uso da voz na primeira semana de recuperação e terá que passar por sessões de fonoaudiologia por pelo menos duas semanas.

“Ele deverá fazer repouso vocal, mas pode conversar normalmente, participar de reuniões e falar ao telefone. O que ele não pode é exagerar, fazer esforço, gritar em discursos, falar por muito tempo, porque isso pode atrapalhar a cicatrização”, explica o especialista.

“Mas ele pode continuar participando das atividades de transição, isso não vai atrapalhar em nada, poderá opinar nas decisões. Mas terá que ser mais ouvinte para não forçar tanto a voz”, disse o médico.

Com o procedimento, Lula adia a ida a Brasília nesta semana, que poderá definir o desenho do grupo técnico da Defesa na equipe de transição.

A fonoterapia, explica Kowalski, auxiliará o presidente a usar as cordas vocais “com tranquilidade e sem grande esforço”, em especial nesse período de recuperação. Ele deverá começar as sessões nesta terça, 22.

Além dos cuidados pós-operatórios, Lula terá de submeter-se a exames por cinco anos para monitorar o eventual aparecimento de novas lesões. “Ele deverá passar por laringoscopia periódica. No início, será com intervalo de três a quatro meses. Depois de um ano, o período entre um exame e outro poderá ser maior”, comenta o médico.

Como foi a cirurgia

A cirurgia de Lula foi feita sem a necessidade de cortes externos e contou com o auxílio de um aparelho que usa laser para fazer a remoção da leucoplasia de forma mais precisa. A lesão retirada tinha cerca de 5 milímetros, de acordo com o Kowalski. Para se ter uma ideia, uma corda vocal tem cerca de 2,5 centímetros.

Segundo o cirurgião, nesse tipo de procedimento, os instrumentos cirúrgicos são inseridos pela cavidade oral. “A gente insere um laringoscópio e um microscópio cirúrgico pelo qual podemos ter uma visualização muito clara do aspecto e dos limites da lesão. Não é feita nenhuma incisão”, explica o médico. “São instrumentos muito delicados. Por isso que algumas horas depois o paciente já pode se alimentar e falar, desde que sem exageros.”

O cirurgião explica que foi usado ainda um aparelho que utilizar laser para fazer o corte da lesão. “É algo que facilita o procedimento por ter um corte muito preciso e cauterizar pequenos vasinhos, o que ajuda na cicatrização”, diz o médico.

O cirurgião contou ainda que foi necessário retirar “um pedacinho” de uma estrutura da região conhecida como falsa corda vocal. “Ela estava um pouco inchada pelo fato de o paciente já ter passado por radioterapia no passado e pelo uso frequente da voz nas últimas semanas, então tivemos que remover um pedacinho para facilitar a visualização e o acesso à área que seria operada.”

Kowalski explica que a lesão foi retirada por completo e mandada para exame. Na hora da cirurgia, um médico patologista já fez o que chamamos de exame por congelação e verificou que se tratava de uma displasia leve, de baixo risco”, disse.

Sete profissionais participaram do procedimento, além da equipe clínica de apoio que ficou de sobreaviso em caso de qualquer intercorrência. “Pela idade do presidente, temos uma equipe de suporte clínico, liderada pelo dr. Roberto Kalil, mas o procedimento foi muito tranquilo. Ele é um paciente idoso, mas muito saudável”, disse o médico.

O que é a leucoplasia na laringe?

A leucoplasia se caracteriza por placas brancas que podem aparecer em regiões de mucosa, como boca, laringe, faringe ou nariz. São lesões causadas pelo desgaste e inflamação do tecido desses órgãos, principalmente por causa do tabagismo, da doença do refluxo e do consumo de álcool. O quadro também pode ser provocado por uma inflamação crônica causada por outra doença.

“Se a pessoa tem um quadro de infecção de garganta, por exemplo, em que ela tossiu muito e forçou em excesso as cordas vocais, ela pode ter uma leucoplasia”, afirma Luciana Miwa Nita Watanabe, diretora da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) ao Estadão.

De acordo com a especialista, com o tempo, a camada de tecido da região atingida pela leucoplasia vai sendo alterada e, em casos mais graves, pode se tornar um câncer. Por isso, quanto antes a pessoa identificar e tratar a lesão, melhor.

“Para identificar a leucoplasia, precisamos fazer, inicialmente, exames de observação. Quando é na boca, só do paciente abrir a boca, a gente já consegue ver, mas na laringe, geralmente, a gente faz um exame de videolaringoscopia, em que a gente usa uma ótica em um sistema de vídeo para ver a parte da laringe”, explica Luciana.

Homens são os mais atingidos e sintomas podem ser silenciosos

A maioria dos casos de leucoplasia é de faringe e boca. Os homens acima dos 60 anos são os mais afetados pela doença. As leucoplasias, em geral, podem ser silenciosas. Por isso, a médica oncologista Aline Lauda, membro do Comitê de Câncer de Cabeça e Pescoço da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), recomenda que pessoas que fumam há bastante tempo, têm doença do refluxo e/ou bebem com muita frequência visitem um otorrinolaringologista a cada um ou dois anos.

Em alguns casos, sintomas como rouquidão, pigarro, ardência, dor e incômodo no local podem ser um alerta. Pessoas que fumam há muito tempo e têm uma alteração na voz, por exemplo, devem procurar o quanto antes um médico para realizar os exames necessários.

“É importante que as pessoas se atentem a esses sintomas e, principalmente, evitem o cigarro ou parem de fumar para que o quadro não evolua para um tumor maligno”, diz Aline. No caso de pessoas com doença de refluxo, é preciso tratar a doença inicial.

Tratamento varia de paciente para paciente

O tratamento da leucoplasia varia de caso para caso e demanda avaliação médica especializada. Geralmente, é feita uma cirurgia de retirada da lesão junto a uma biópsia, como foi feito em Lula, mas isso depende do tamanho da leucoplasia e do local em que ela está.

“O tratamento varia desde o uso de medicamentos com o objetivo de reduzir a inflamação local, até cirurgias de baixa a alta complexidade”, explica Luciana.

Em casos de tumor maligno, Aline diz que o tratamento é delicado, pois não se pode “tratar de mais, nem de menos”. “A região das cordas vocais, por exemplo, é uma região muito delicada, pois não podemos fazer um procedimento que comprometa a voz do paciente para sempre, mas também não podemos deixar que o tumor cresça”, diz a médica.

Segundo Aline, cânceres de boca e faringe tendem a não se alastrar com facilidade para outras partes do corpo.

Leia o boletim médico na íntegra

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva deu entrada ontem, no Hospital Sírio-Libanês, para a realização de uma laringoscopia para retirada de leucoplasia da prega vocal esquerda. O procedimento mostrou ausência de neoplasia.

Ele teve alta hoje, às 7h45, e foi acompanhado pelas equipes médicas coordenadas pelo Prof. Dr. Roberto Kalil Filho, Dr. Artur Katz, Dr. Rubens Brito, Dr. Rui Imamura e Dr. Luiz Paulo Kowalski.

Com Agência Brasil, Terra, CNN e Estadão

 

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