O caso do apresentador Fausto Silva, de 73 anos, o Faustão, que está internado num hospital luxuoso de São Paulo e foi colocado na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) para receber um transplante de coração, por conta do agravamento de insuficiência cardíaca, despertou dúvidas sobre o sistema de transplantes no Brasil. Em nota divulgada à imprensa nesta terça-feira (22), o Ministério da Saúde esclarece que “a lista para transplantes é única, valendo tanto para pacientes do SUS, quanto para os da rede privada”.
A pasta reforça que o Brasil tem o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo. A estrutura, gerenciada pelo MS, assegura que 90% das cirurgias atendam à rede pública. Em todo o país, no primeiro semestre de 2023, foram realizados 206 transplantes de coração, aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado, como informou o MS.
“A lista de espera por um órgão funciona por ordem cronológica de cadastro, ou seja, por ordem de chegada e conforme outros critérios como os de compatibilidade, gravidade do caso e o tipo sanguíneo do doador”, esclarece. Ainda de acordo com o MS, esses fatores são levados em consideração para a definição de quem deve ser priorizado. “Pacientes em estado crítico podem ser atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica”.

Como funciona o Sistema Nacional de Transplantes

As listas de espera para transplante são geridas pelas Centrais Estaduais de Transplantes. Os órgãos destinados à doação não utilizados no próprio estado são direcionados para a Central Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, que busca um receptor na lista única.
O Sistema Nacional de Transplantes tem em sua composição a Central Nacional e as Centrais estaduais, dentre outros atores no processo de doação e transplante de órgãos e tecidos.
Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, por meio do SUS, pacientes recebem assistência integral, equânime, universal e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.
É importante lembrar que em apenas uma doação pode haver captação de mais de um órgão. Um único doador pode beneficiar pelo menos oito pessoas que aguardam na lista de espera por um transplante de órgãos e tecidos.
No Brasil, a doação só pode ser realizada com a autorização da família. Portanto, para doação de órgãos, é fundamental que a pessoa interessada deixe claro para a família a sua vontade de doar. Mas a falta de informação e o preconceito podem limitar o número de doações, impedindo que vidas sejam salvas.

No RJ, espera por doação de coração é de 3,6 meses

Equipe do programa RJ Transplante em ação (Foto: Maurício Bazílio / SES-RJ)
O Estado do Rio de Janeiro tem uma espera média por um coração de 3,6 meses, segundo dados de 2022. Até o dia 16 de agosto deste ano, foram realizados no estado 19 transplantes de coração e 19 pacientes aguardam a sua vez de receber um órgão doado.
Rins, pâncreas, córneas, válvulas cardíacas, intestino e/ou multivisceral, pele, osso, coração, esclera (o branco do olho), pulmão e fígado são possíveis de serem transplantados. Atualmente, no Estado do Rio, 5.555 pessoas aguardam por um transplante de órgão – a maioria (4.106) de córnea), 1.306 de rim, 124 de fígado e 10 de coração.
Duas unidades de saúde públicas que fazem o transplante de coração: o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) e o Instituto Nacional de Cardiologia (INC), este o maior centro, que oferece transplantes tanto em crianças quanto em adultos.

O programa estadual RJ Transplantes alcançou recorde de doação de órgãos e transplantes em 2022. Os números foram os maiores da série histórica, iniciada em 2010, quando foi criado.

Após o recuo por conta da pandemia de Covid-19 em 2021, ocorreram 1.152 notificações de possíveis doadores, 349 doações e 2.650 transplantes no ano passado. De janeiro a julho deste ano foram realizados 769 transplantes de órgãos sólidos e córneas.

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Em quais casos é necessário um transplante de coração?

Mas por que é necessário fazer um transplante? Como é a lista única de pacientes à espera de um órgão? Seu caso será prioritário? No Rio de Janeiro, os especialistas do programa RJ Transplantes, vinculado à Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), que fiscaliza e atua em todo o processo de doação e transplantes de órgãos, ajudam a esclarecer a questão.

“Apesar de a lista do estado ser pequena, ela não representa a realidade, pois a doença cardíaca é uma das principais causas de morte no país e no estado. Há, portanto, uma necessidade de se criar um meio para que as pessoas que têm insuficiência cardíaca grave alcancem os centros transplantadores. Além de regular as vagas, o que o Estado já faz hoje, é muito importante que os médicos reconheçam aquele paciente grave e encaminhe para avaliação de transplante”, diz o diretor do RJ Transplantes, o cardiologista pediátrico Alexandre Cauduro.
O médico cardiologista Antonio Ribeiro, responsável pela coordenação da Linha de Cuidados de Doenças Cardiovasculares da SES-RJ explica em quais casos se faz necessário um transplante de coração.

“A insuficiência aparece da forma mais simples até a mais grave e vai evoluindo se não for tratada adequadamente. Por isso, é importante ir ao médico regularmente. Além disso, se o paciente tem histórico familiar de pessoas com diabetes, hipertensão, cardiopata, obesos, infarto ou se alguém já teve história de insuficiência cardíaca é preciso ficar mais atento. Quando a insuficiência cardíaca não responde à medicação, o coração perde todas as funções para contração mínima, necessitando de um transplante cardíaco”, explica ele.

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Como é feita a logística do transplante de órgãos?

A doação de órgãos é um processo complexo, que envolve diferentes instituições e requer agilidade para ser bem-sucedido. Cada órgão tem um período máximo de permanência fora do corpo humano, ao longo do qual o transplante é viável, o chamado de tempo de isquemia. Para o coração, o tempo de isquemia é de apenas quatro horas, o que torna o transplante do órgão ainda mais complexo.
Nos transplantes de órgãos, a logística é iniciada quando a morte do potencial doador é constatada, sendo encerrada com a chegada do órgão doado ao receptor final. Uma equipe de cirurgiões e logística é responsável pela retirada, a conservação, a armazenagem e o transporte, para respeitar o limite de tempo da isquemia de cada órgão. O tempo de duração do pulmão fora da circulação sanguínea, por exemplo, é de quatro horas; do fígado, 12 horas; e dos rins, 24 horas.

Responsável por todo o processo desde a doação, transplantes dos órgãos e capacitação da rede de apoio, o RJ Transplantes credenciou novos centros transplantadores e treinou equipes transplantadoras e de acolhimento às famílias enlutadas, que atuam na sensibilização sobre o gesto da doação de órgãos.

Atualmente, 160 comissões atuam em conjunto com o RJ Transplantes.Para melhorar as condições do transplante no estado do Rio, a SES-RJ tem investido na melhoria da prestação de serviços. Em 2021, disponibilizou um helicóptero exclusivo para o transporte dos órgãos. Em 2 anos de atuação, o helicóptero da Superintendência de Operações Aéreas (SOAer) transportou 367 órgãos para transplante.

Fonte: Ministério da Saúde e SES-RJ

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