Recentemente, o deputado estadual Eduardo Suplicy, de 82 anos, revelou fazer uso da cannabis medicinal para vencer os sintomas do Parkinson. A notícia animou muitas pessoas que esperam por novidades no tratamento dessa doença ainda incurável e que atinge um grande número de brasileiros.
No entanto, é bom destacar que não há ainda estudos científicos que comprovem os efeitos da Cannabis sobre o Parkinson, especificamente. Porém, especialistas apontam que a substância pode ajudar a controlar os indesejáveis sintomas da doença e proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes.
Para esclarecer mais sobre o tema, o Portal ViDA & Ação ouviu dois especialistas: o neurocirurgião Francinaldo Gomes, membro da Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN) e da Sociedade Brasileira de Estereotaxia e Neurocirurgia Funcional (SBENF), e Daniel Pereira Endogen, Medical Science Liaison da Endogen, uma das fabricantes de Cannabis já presentes no Brasil.
O deputado estadual Eduardo Suplicy usa cannabis medicinal para vencer os sintomas do Parkinson (Foto: Reprodução de internet)

Opção a tratamentos convencionais que não surtem efeito após 5 anos

Questionado se a Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN) recomenda o uso de cannabis no tratamento de parkinson, Francinaldo Gomes explica que “o uso aprovado é apenas para pessoas que sofrem com epilepsia, basicamente a síndrome de Lennox-Gastaut, a síndrome de Dravet e a esclerose tuberosa. Para as demais condições, o tratamento é feito como a gente chama de off-label, é feito fora das normas de cada especialidade”.
“Por se tratar de uma doença crônica degenerativa para qual ainda não tem cura, o médico está autorizado a utilizar tratamentos mesmo sem a devida evidência científica, quando os tratamentos convencionais falham em controlar os sintomas e manter a qualidade de vida do paciente”, diz o médico, que também é e CEO e fundador do Instituto de Neuromodulação, Epilepsia e Cannabis Medicinal.
Segundo ele, embora não esteja devidamente aprovado, o médico pode utilizar outras opções terapêuticas quando constata que houve falha de todos outros tratamentos já devidamente respaldados. “Neste caso, ele pode usar não só os derivados da cannabis, mas qualquer outra forma de tratamento mesmo que ainda em fase experimental, para o paciente ter uma melhor qualidade de vida”, ressalta o especialista.

Atualmente, esclarece o médico, as opções de tratamento de Parkinson no país incluem os medicamentos convencionais, boa parte deles à base de dopamina, que é a substância que falta no cérebro das pessoas que sofrem do mal de Parkinson. “Existem outros grupos de medicamentos que não substituem diretamente a dopamina, mas que ajudam a manter a dopamina em níveis elevados, para poder compensar os sintomas das tremedeiras”, esclarece.

Mas o efeito dos medicamentos convencionais geralmente é limitado. “Chega um ponto na evolução da doença, usualmente depois de cinco anos, que os medicamentos convencionais não mais conseguem fazer efeito, então a pessoa passa a requerer doses cada vez mais altas e com isso vem os efeitos colaterais”, enfatiza o especialista.
Quando isso acontece, o neurologista pode indicar o tratamento cirúrgico, por meio da colocação de um estimulador cerebral profundo, que é uma espécie de chip ou marca-passo cerebral, que ajuda a pessoa no controle dos seus movimentos.
“Além desses tratamentos convencionais e cirúrgicos, existem os tratamentos de suporte, como a fisioterapia, a fonoaudiologia, terapia ocupacional. Tratamentos auxiliares, por exemplo, a psicologia e a nutrição, que são muito importantes para ajudar a pessoa com doença de parkinson a ter qualidade de vida”, acrescenta.
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Como o canabidiol ajuda os pacientes que recebem esse diagnóstico?

Recentemente o uso do canabidiol ou de medicamentos derivados da cannabis, passou a fazer parte do tratamento, de uma forma ainda sem evidência completa, mas o uso já está sendo feito, e tem ajudado nos sintomas não motores do Parkinson, que são a insônia, depressão, ansiedade e esquecimento, que acompanham as pessoas com a doença, e proporcionando assim uma melhor qualidade de vida.
“Embora não melhore diretamente os sintomas da doença de parkinson, esse medicamento ajuda a pessoa a dormir melhor, a controlar a ansiedade, controlar depressão, que são condições que acompanham a pessoa com doença de parkinson, que faz elas piorarem com estes sintomas. Então, o tratamento com canabidiol e outros derivados da cannabis ajuda no controle destes sintomas e com isso melhoram a qualidade de vida das pessoas que sofrem da doença de Parkinson”, ressalta o neurologista.

De acordo com Daniel Pereira, Medical Science Liaison da Endogen, “a doença de Parkinson (DP) é uma das doenças neurológicas mais comuns e intrigantes dos dias de hoje, caracterizada por ser uma patologia degenerativa e progressiva cujas alterações motoras decorrem principalmente da morte de neurônios, promovendo tremor de repouso, distúrbios do sono, ansiedade, prejuízos cognitivos, demência entre outros.

“Na DP, é justificável o uso de Canabidiol, pois eles modulam o sistema endocanabinoide, exercendo efeito sintomático benéfico, favorecendo o restabelecimento da autonomia do indivíduo”, defende.

Quais são as principais orientações aos pacientes que desejam fazer este uso?

Para Gomes, a primeira orientação é que o tratamento com canabidiol é complementar aos demais tratamentos que já estão consagrados no mercado. “Ele não é feito isoladamente, não cura a doença. É muito importante frisar isso para os pacientes e também o paciente precisa saber que o tratamento é individualizado.  Ou seja, cada pessoa vai responder e uma determinada forma”.
“Não temos como prever quem vai responder bem, que dose será para cada pessoa. Então, cada paciente é único, ele tem que ser orientado e saber o que ele tende a esperar do tratamento, quais são os resultados, quanto tempo e principalmente com relação a dosagem, que é feita de acordo com a resposta de cada pessoa”, esclarece.
Por conta disso, conforme Daniel Pereira, “é fundamental que o paciente converse com o médico prescritor de Cannabis medicinal para avaliar a possibilidade de utilização do produto na sua condição clínica, acordando pelo Termo e prescrição via notificação de receita B (azul) e por fim, adquirindo o produto registrado pela agência reguladora nas mais variadas farmácias do País”.

Apenas com prescrição médica, para todos os tipos de comprometimento pela doença

Com relação ao tratamento com óleo de cannabis, o médico da SBN alerta que é feito apenas com prescrição médica e não são em todos os comprometimentos da doença e nem em todas as pessoas.
“A decisão de utilizar ou não, que dosagem usar e que composição utilizar, depende de uma avaliação médica criteriosa e de um entendimento por parte do paciente e dos potenciais benefícios que o tratamento pode proporcionar, mas tudo somente com prescrição médica”.
O representante da Endogen destaca que o tratamento de Cannabis medicinal é regulamentado pela dispensação do produto de Cannabis via RDC nº 327/2019, onde descreve o tipo de notificação que a prescrição deve constar.
“Portanto, no Brasil, para obter produtos de cannabis medicinal somente com prescrição médica, por outro lado, as aplicações biológicas se estende às mais variadas problemáticas de saúde e em todos os níveis de comprometimento da doença, sendo necessário o ajuste de dose e sobretudo, o acompanhamento farmacoterapêutico”, destaca o médico.

O uso da Cannabis substitui outras terapias ou é apenas coadjuvante?

Daniel Pereira ressalta que o tratamento da DP tradicionalmente é realizado com fármacos estabelecidos pelo protocolo clínico e diretrizes terapêuticas. No entanto, esses fármacos, além de não promoverem a cura, culminam em diversos efeitos colaterais, como alteração de memória, confusão mental e alucinações.

“Assim, o uso de Cannabis medicinal surge como nova uma alternativa terapêutica no controle da DP com baixo impacto negativo e alto controle dos sintomas, além de atuar positivamente na dor, qualidade do sono e ansiedade do paciente”, afirma.

Francinaldo Gomes reforça, ao dizer que a cannabis não substitui, mas é adicionada aos tratamentos convencionais.
“Uma vez que o objetivo é tratar os sintomas não motores da doença, os principais problemas como tremor, rigidez e a lentidão eles são tratados com os medicamentos à base de dopamina e cirurgia. Agora os sintomas não motores podem melhorar com o uso do óleo de cannabis. Então, não é uma substituição, é uma complementação do tratamento”.

Em quais distúrbios neurológicos esse tratamento é reconhecido?

De tratamento aprovado cientificamente, o canabidiol pode ajudar as formas de epilepsia como a síndrome de Lennox-Gastaut, a síndrome de Dravet e a esclerose tuberosa. Para estas doenças já existem estudos e comprovação científica.
Agora o uso, chamado de off-label, já está sendo feito em pessoas com várias doenças como autismo, TDAH, parkinson, alzheimer, dores crônicas, insônia, distúrbio do sono, pessoas com esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica e algumas doenças psiquiátricas já tem demonstrado resultado benéfico dos derivados da cannabis.
“Mas ainda não há comprovação científica, como tem para as pessoas com epilepsia. O uso pode ser feito se o médico de acordo com a família julgar que pode haver benefícios do uso dos derivados da cannabis”, pondera o neurologista.

Às comprovações científicas de Cannabis medicinal sobre os distúrbios neurológicos reúne um complexo de patologias conhecidas como doença de Parkinson, epilepsia, esclerose múltipla, doença de Alzheimer entre outras.

“É importante esclarecer que o médico avalia cada paciente e atribui uma dose inicial e posteriormente faz o ajuste de doses de modo singular mediante a resposta terapêutica evidenciada após o início da terapia”, acrescente Pereira.

Parkinson: médico diz que cannabis pode atuar na rigidez muscular e tremores

A experiência pessoal do deputado Eduardo Suplicy adiciona um elemento humano à discussão e coloca uma luz intensa sobre a importância de ampliar o acesso à cannabis medicinal no tratamento de condições médicas debilitantes.

“Estudos científicos demonstram a eficácia dos produtos derivados da cannabis na redução da rigidez muscular e no alívio dos tremores em pacientes com Parkinson”, aponta Vitor Brasil, coordenador médico do Centro de Acolhimento em Terapia Canabinoide do Hospital Santa Casa de Curitiba, uma iniciativa da startup Anna Medicina Endocanabinoide.

A doença de Parkinson é caracterizada pela degeneração progressiva das células nervosas no cérebro, levando a sintomas como tremores, rigidez muscular, lentidão nos movimentos e problemas de equilíbrio. No entanto, os tratamentos convencionais, como a levodopa, frequentemente apresentam efeitos colaterais significativos e perda de eficácia ao longo do tempo.

“Pacientes com acompanhamento médico especializado normalmente possuem efeitos colaterais insignificantes com o uso concomitante dos derivados da cannabis, como o CBD, dentre outros”, complementa Dr. Vitor Brasil.

Embora o tratamento já esteja disponível no país, pela proibição de plantio da planta os insumos ou o produto precisam ser importados, aumentando assim o custo do tratamento.

Com Assessorias

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