O futebol baiano amanheceu de luto nesta quarta-feira (2). Morreu o ex-jogador Leandro Domingues, de 41 anos, ídolo do Esporte Clube Vitória. Ele lutava desde 2022 contra um câncer de testículo, tendo passado por diversas etapas de tratamento, incluindo um transplante. Sua partida reacende a necessidade de atenção a esse tipo de neoplasia, que, embora considerada rara, é o tumor mais frequente entre homens jovens. 

Segundo dados atualizados para 2025 pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil deve registrar aproximadamente 1.700 novos casos de câncer de testículo este ano. A doença representa cerca de 1% de todos os tumores malignos masculinos, mas lidera entre homens na faixa etária de 15 a 35 anos, podendo ocorrer até os 50.

A doença, que acomete principalmente adolescentes e adultos jovens,  muitas vezes causa desconforto no momento da investigação, impactando no diagnóstico precoce. O tabu, a timidez e o machismo ainda são os principais vilões contra o câncer de testículo. Por ser um tema pouco comentado, a desinformação também é parte da barreira quando o assunto é o cuidado com a saúde masculina. 

Desinformação compromete diagnóstico precoce da doença

Se descoberta em estágio inicial, neoplasia ultrapassa 95% das chances de cura

Diagnosticado em 2022, Leandro enfrentou inicialmente um tratamento oncológico convencional, mas evoluiu com recorrência, exigindo abordagens mais complexas.  Casos como esse mostram o quanto o diagnóstico precoce pode fazer a diferença no desfecho da doença. Neste Abril Lilás, mês de conscientização sobre a doença, ouvimos dois especialistas sobre o caso.

 O câncer de testículo costuma evoluir de forma silenciosa e, muitas vezes, só é diagnosticado em fases mais avançadas. Sinais como aumento do volume testicular ou dor local devem ser sempre investigados”, alerta o urologista Nilo Jorge Leão, coordenador e fundador do Instituto Brasileiro de Cirurgia Robótica (IBCR).

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Autoexame testicular é aliado na prevenção

Nilo Jorge Leão, médico urologista, alerta sobre diagnóstico precoce do câncer de testículo (Foto: Divulgação)

 

Infelizmente, não existe uma maneira de prevenir que o câncer de testículo ocorra, mas o autoexame dos testículos uma vez por mês, logo após um banho quente, pode auxiliar no diagnóstico precoce. “O autoexame testicular é um aliado importante, mas não substitui o acompanhamento regular com um urologista”, destaca Leão, que também coordena os serviços de Urologia dos Hospitais Mater Dei Salvador e Municipal.

De acordo com Denis Jardim, oncologista especialista em tumores urológicos, o paciente pode perceber um nódulo, que na grande maioria das vezes é indolor, ou ainda um aumento e endurecimento do testículo. “A temperatura irá ajudar com que o escroto fique relaxado e seja possível identificar se há alterações na região. Caso algum sintoma seja percebido, um profissional deve ser consultado o quanto antes”,

Apesar de não haver nenhum incômodo ao urinar, é possível notar um volume maior no local da bolsa escrotal. “Já durante a higiene, o autoexame periódico pode permitir a detecção de uma eventual alteração na região, identificando que algo está fora do normal e necessita de maior investigação”, comenta o médico.

Atenção aos principais sintomas

De acordo com Jardim, é fundamental estar atento aos sintomas, que podem ser confundidos ou até mesmo mascarados por processos infecciosos ou inflamatórios na região dos testículos.

Muitas vezes, quando os sintomas aparecem, os jovens sentem vergonha em se abrir com os pais ou parceiro sobre o assunto. Contudo, conversar sobre o tema e alertar sobre o autoexame é uma maneira que a família pode transmitir confiança e informação de qualidade”, orienta o oncologista..

Outros sintomas que devem despertar a atenção são:

  • Aumento ou diminuição no tamanho dos testículos;
  • Dor imprecisa na parte baixa do abdômen;
  • Sangue na urina;
  • Sensibilidade dos mamilos (raro); e
  • Puberdade precoce, com crescimento de pelos faciais e corporais antes do esperado.

Primeira fase do diagnóstico ocorre pelo exame clínico

Menos incidente quando falamos dos tumores que afetam a população do gênero masculino, o câncer de testículo é o mais frequente tumor maligno a acometer o homem jovem. Apesar da gravidade potencial, o câncer de testículo apresenta altas taxas de cura — superiores a 95% quando diagnosticado precocemente. Por isso, ações de conscientização e educação em saúde são fundamentais.

Entre os fatores de risco estão infecções testiculares prévias, histórico familiar – principalmente em parentes de primeiro grau – ou pessoal da doença e ainda crianças que tiveram criptorquidia, uma disfunção congênita no qual o testículo nasce fora da bolsa escrotal e não migrou adequadamente para o escroto na infância).

Em casos de criptorquidia, apesar da correção na infância, ainda existe a possibilidade do desenvolvimento do tumor no futuro. Por isso, o recomendado é realizar acompanhamentos periódicos até, mais ou menos, 30 anos”, explica Denis Jardim.

Após a verificação de nódulos, o oncologista explica que é pedido uma ultrassonografia da bolsa escrotal. Em seguida, são realizados também exames laboratoriais para identificação dos marcadores tumorais.

Com a confirmação, definimos em qual momento a tomografia computadorizada do tórax, abdômen e pelve deve ser realizada. O exame nos permite analisar o estadiamento do tumor e ainda definir qual será o tratamento mais indicado para aquele paciente”, comenta o oncologista.

Abordagem terapêutica irá depender do estágio do tumor

O tratamento depende diretamente do estágio da doença. É fundamental analisar o estadiamento, classificação de risco e tipo histológico da doença. Em fases iniciais, a orquiectomia (remoção cirúrgica do testículo afetado) pode ser curativa.  Nos estágios mais avançados, associações com quimioterapia, radioterapia ou até transplantes, como o de medula óssea, podem ser necessários.

Contudo, vale lembrar que cada estágio do tumor exige uma abordagem terapêutica diferente, incluindo a retirada do testículo por via inguinal (orquiectomia radical), que costuma ter uma recuperação bastante rápida e sem comprometer a potência sexual do paciente – caso apenas um testículo seja retirado. A cirurgia robótica surge como uma aliada importante nesses contextos.

A cirurgia robótica proporciona maior precisão, menor sangramento e recuperação mais rápida. Em casos como as linfadenectomias retroperitoneais, por exemplo, ela é especialmente vantajosa”, explica o médico, que também lidera o Núcleo de Uro-Oncologia das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID).

Os principais protocolos são:

  • Quimioterapia – existem diversos esquemas quimioterápicos descritos para o tratamento do câncer de testículo. Por ser um tratamento sistêmico, feito por via venosa, tem mais efeitos colaterais porque afeta também as células saudáveis;
  • Radioterapia – o tratamento radioterápico fica reservado aos tumores seminomatosos, por serem mais sensíveis a esta terapia. A aplicação pode ser indicada em tumores localizados (Estadio I) e tumores retroperioneais de baixo volume (Estadios II a e b);
  • Orquiectomia parcial – procedimento cirúrgico em que é removido um ou os dois testículos a partir de um pequeno corte no escroto. Deve ser indicada em tumores menores que 2 cm na ausência de testículo contralateral ou déficit funcional acentuado devido a elevado risco de recorrência local; e
  • Orquiectomia radical – este procedimento cirúrgico, mesmo isoladamente, cura a maioria dos pacientes. Nesta técnica cirúrgica, o corte é feito na região abdominal, e não no escroto. O implante de prótese testicular pode ser feito na mesma cirurgia.

Tratamento x fertilidade

Durante a definição da escolha terapêutica, é muito importante que o paciente converse com o médico sobre o desejo de ter filhos futuramente, se houver. “Um dos principais procedimentos a serem realizados para preservação da fertilidade é o congelamento de esperma, que deve ser discutido preferencialmente antes do início do tratamento”, explica.

Contudo, vale lembrar que a questão da fertilidade pode ser tanto definitiva, como temporária, dependendo do tratamento indicado. “Mesmo nos casos em que a fertilidade seja temporária, o armazenamento de esperma é um cuidado importante, pois recomendamos que o paciente aguarde um período após o final do tratamento quimioterápico para ter filhos”.

A maioria dos homens procura por atendimento médico apenas quando já estão doentes. Por isso, devemos investir na informação de qualidade para eliminar o maior número possível de tabus, principalmente quando falamos sobre os cuidados com a saúde masculina”, finaliza Denis Jardim.

Enquanto o futebol se despede de um talento inesquecível, o episódio reforça um recado claro: o cuidado com a saúde masculina precisa entrar em campo com seriedade e prioridade.

Com Assessorias

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