O câncer de pulmão que vitimou a jornalista Glória Maria, de 73 anos, é um dos tipos que mais leva à morte de pacientes no Brasil. É a segunda doença oncológica que mais afeta a população brasileira. No mundo, esse tumor ocupa a primeira posição tanto em incidência quanto em mortalidade, alcançando 13% de todos os casos novos de câncer. Ele é um grande desafio para a saúde pública, já que os sinais podem ser inespecíficos e frequentemente confundidos com outras patologias pulmonares. Mas, com os avanços da Medicina, desde que seja realizado um diagnóstico precoce, o câncer de pulmão tem cura.

“A informação positiva é que os tratamentos tiveram grandes avanços nas últimas décadas e vêm se tornando mais precisos e personalizados como as terapias-alvo e a imunoterapia”, explica o médico oncologista Ramon Andrade de Mello, professor da disciplina de oncologia clínica do doutorado em medicina da Universidade Nove de Julho (Uninove), em São Paulo, e médico pesquisador honorário do Departamento de Oncologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

O oncologista alerta que a doença pode não apresentar sintomas na sua fase inicial: “Porém, os pacientes devem ficar atentos para alguns sinais como tosse persistente, escarro com sangue, dor no peito e rouquidão. Em alguns casos, a pessoa pode apresentar piora da falta de ar, perda de peso e apetite, pneumonia recorrente ou bronquite, bem como sentir-se cansado ou fraco”.

O tratamento de câncer de pulmão avançou nas últimas décadas. Segundo Ramon Andrade de Mello, os novos medicamentos ampliaram a taxa de sobrevida dos pacientes em 5 anos, que aumentou de 10,7% no início dos anos de 1970 para 19,8% na década de 2010: “Uma das indicações para o tratamento do câncer de pulmão é a terapia-alvo, prescrita para pacientes com determinadas características genéticas”.

“O câncer origina-se de uma célula do organismo que sofreu alterações genéticas e passou a se comportar de forma anormal, proliferando-se mais do que deveria. Assim como você, o seu câncer tem características específicas e, por essa razão, pode não responder da forma esperada aos tratamentos quimioterápicos que são, em sua maioria, padronizados”, afirma Danielle Dias Pinto Ferreira, biomédica com doutorado em neurociências, responsável pelo laboratório da Invitrocue Brasil no Brasil.

Atualmente, as maiores dificuldades dos tratamentos anticâncer são a crescente resistência dos tumores às drogas, a heterogeneidade do tumor e o metabolismo individualizado de quimioterápicos. É necessário levar em conta que cada paciente é único, cada tumor é único e as respostas de tratamento também devem ser assim consideradas.

“Alguns tumores mostram-se resistentes a certos medicamentos e saber previamente quais terapias são mais eficazes para cada caso particular contribui para a tomada de decisão dos médicos oncologistas”, explica a especialista.

Imunoterapia avança no tratamento oncológico

O diagnóstico precoce continua ser a melhor alternativa para a cura do câncer, por isso o rastreio por meio de exames e hábitos de vida saudáveis trazem um bom prognóstico. Na última década, a imunoterapia, um tratamento biológico que potencializa o sistema imunológico, traz qualidade de vida e sobrevida aos pacientes, especialmente em casos de câncer como o da jornalista Glória Maria, que lutava contra a doença desde 2019.
Os novos tratamentos podem mudar para melhor o cenário futuro do câncer. A imunoterapia pode ser complementar à quimioterapia e à radioterapia. A  imunoterapia, tratamento usado por cerca de 4 anos pela jornalista Glória Maria, depois de uma luta contra o câncer, é um tipo de tratamento biológico usado para potencializar o sistema imunológico no combate à doença, aumentando as chances de prolongar a vida do paciente.
Esse tipo de tratamento só é indicado após a realização de diagnósticos do tipo de tumor e testes de patologia molecular, realizado pelo médico patologista – este especialista é o responsável por detectar qualquer tipo de câncer e determinar o melhor tratamento para cada paciente.
A Imunoterapia é uma nova abordagem terapêutica, utilizada no Brasil na última década, que vem se mostrando eficaz em alguns tipos de câncer, como o melanoma, renal e de pulmão.
“A imunoterapia pode ser aplicada quando se tem indicação. Para descobrir o médico patologia faz a análise do material enviado para a biópsia. E determina a partir de testes de patologia molecular, de imuno-histoquímica, entre outros, se o paciente é elegível ao tratamento de imunoterapia”, explica Clóvis Klock, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP).
Durante o diagnóstico é feita toda uma avaliação, com o processo de estadiamento do tumor, localização, etc. “Hoje, muitos cânceres de pulmão, renal e melanoma são beneficiados com a imunoterapia”, acrescenta o presidente da SBP.  “O melhor é quando processo cirúrgico já consegue eliminar o tumor”.

Campanha por cuidados mais justos

A campanha do Dia Mundial do Câncer, 4 de fevereiro, traz exatamente o tema “Por cuidados mais justos”, uma data criada em 2000, pela União Internacional de Combate ao Câncer (UICC) para conscientizar e estimular as pessoas a desenvolver e a conservar hábitos de vida saudáveis, que diminuem as chances de ocorrência da doença.
O presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) destaca a importância do acesso aos exames e ao tratamento pela rede pública de saúde.  “O Brasil tem um serviço nacional e gratuito para atendimento a toda a sua população, o Sistema Único de Saúde (SUS), que faz uma diferença gigantesca”, diz Clóvis Klock.
Como muitos países não contam com um sistema como o SUS, é dramática a diferença entre quem tem e quem não tem acesso aos serviços de diagnóstico e tratamento do câncer. Mais de 3,7 milhões de vidas poderiam ser salvas no mundo a cada ano com estratégias e recursos preventivos mais equitativos para cânceres comuns como o de mama, colo do útero, colorretal e próstata, como vacinação, detecção precoce e tratamento.
É o que apontam dados do estudo “Closing the Cancer Divide”, de Felicia Marie Knaul e outros, com prefácio do Prêmio Nobel de Economia Amartya Sen, publicado pela Universidade de Harvard. Mesmo com o Brasil em situação bem melhor por ter o SUS, há espaço para ampliar o acesso aos serviços médicos de diagnóstico e tratamento do câncer no país. “A imunoterapia tem conseguido aumentar a sobrevida do paciente em alguns anos”, esclarece o Dr. Klock.
Esses tratamentos na grande maioria não são cobertos pelo SUS e os testes de patologia molecular, fundamentais para a utilização dessa nova modalidade terapêutica, também não constam na tabela do SUS. “Ampliar o acesso a esses diagnósticos e tratamentos certamente fará a diferença na vida das pessoas portadoras de algum tipo de câncer”, afirma o presidente da SBP.
Outro problema é a falta de médicos patologistas para o tamanho da população brasileira. “Isso atrasa o diagnóstico porque cada patologista tem que examinar muitos casos, escrever muitos laudos. Na prática, significa uma fila de serviços a fazer e o tempo é importante no combate contra o câncer”.
Assim, o tema da campanha vale também para o Brasil, país que deve ter em média 704 mil casos novos por ano no Brasil até 2025, segundo estima o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A SBP se une à UICC nesta campanha. “Por cuidados mais justos”.

Câncer de pulmão: tratamentos mais eficazes com novos testes

Dentre as novas ferramentas que proporcionam maiores chances de sucesso está o modelo “Organoides Derivados de Pacientes” (PDOs) – um cultivo celular que melhor reflete in vitro as condições observadas in vivo. O teste Onco-PDOTM, trazido para o Brasil pela Invitrocue, permite que as células do paciente sejam cultivadas e testadas para diferentes drogas quimioterápicas e analisa como as células respondem aos diferentes tratamentos.

No caso do teste Onco-PDOTM, “o médico escolhe as drogas que serão testadas entre as 60 disponíveis. O resultado do exame sai em até 21 dias, permitindo a continuidade do tratamento”, afirma Danielle. A Invitrocue é especializada no desenvolvimento de modelos baseados em células 3D como os organoides derivados de pacientes de diversos tipos de câncer. O teste está disponível no país para câncer de mama, pulmão, colorretal, pancreático, gástrico, próstata e ovário.

Com Assessorias

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