Causa de muito preconceito entre os homens e inúmeras piadas de gosto duvidoso, o exame de toque retal é um importante método de diagnóstico do câncer de próstata. Mas nem todos acham isso porque o machismo não deixa. Pesquisa realizada em 2017 pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), encomendada pelo Datafolha, indica que 21% do público masculino acreditam que o exame de toque retal “não é coisa de homem”. Considerando aqueles com mais de 60 anos (grupo de risco), 38% disse não achar o procedimento relevante.

Esses dados revelam uma realidade preocupante, que colocam o preconceito e o machismo como os principais entraves para o diagnóstico precoce e combate ao câncer de próstata. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil esse tipo de tumor é o segundo mais comum entre os homens, correspondendo a 68 mil novos casos entre 2018 e 2019, perdendo apenas para o câncer de pele não melanoma. A doença muito raramente acomete homens jovens, entretanto, existem casos de doentes com menos de 45 anos de idade.

Conscientizar a população masculina sobre a importância de exames preventivos no combate a problemas de saúde, em especial o câncer, ainda é um grande desafio. Dois em cada dez pacientes com câncer de próstata são diagnosticados em fases mais avançadas da doença, o que torna o tratamento ainda mais difícil. Por isso, a principal forma de prevenir o câncer de próstata ainda é com detecção precoce.

O homem acredita que, ao consultar o médico e ser submetido ao exame da próstata, estará colocando em xeque sua masculinidade, esse preconceito é reforçado ainda, por piadas e brincadeiras no ambiente do trabalho, entre amigos e até parentes próximos”, aponta Rafael Buta, médico urologista oncológico da Aliança Instituto de Oncologia.

O Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata é lembrado neste sábado, 17 de novembro, com o objetivo de conscientizar os homens sobre a importância do diagnóstico precoce para o segundo câncer mais comum entre os homens no Brasil. Atrás apenas do câncer de pele não-melanoma, o câncer de próstata é o mais frequente na cidade de São Paulo, seguido do intestinal.

Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, as estimativas de novos casos para 2018 em homens da capital são de 4.230 de câncer de próstata e 2.040 de câncer de intestino. A taxa de incidência da doença na capital é de 61,71 casos por 100 mil habitantes, e mortalidade de 12,3 por 100 mil habitantes em 2018.

A data é lembrada em meio ao Novembro Azul, iniciativa mundial que busca ainda desconstruir o preconceito dos pacientes quanto à consulta com urologista e o exame para o diagnóstico da doença.

Mas o que é a próstata e para que serve?

próstata é a glândula sexual masculina, situada em torno da porção inicial da uretra, que, junto com as vesículas seminais, produz o esperma. Quando ocorre a multiplicação desordenada e acelerada de suas células, é caracterizado o câncer de próstata.

Apesar da gravidade, na maioria das vezes, a doença tem instalação e desenvolvimento lento. Nas fases iniciais o paciente não apresenta sintomas relacionados ao câncer de próstata, porém com o passar do tempo, o tumor cresce e pode ocasionar sangramentos, obstrução do jato urinário e dor na pelve. “Em fases mais avançadas, as células malignas podem espalhar-se pelo corpo, causando lesões nos ossos, pulmões e outros órgãos”, finaliza.

Pelo fato de, no estágio inicial, não existirem sintomas (mesmo por anos), é importante a visita regular ao médico especialista. “Nessa fase, a chance de cura chega a 90%”, explica o urologista do Consulta Aqui, Rodrigo W Andrade.

Nos casos de doença avançada, os sintomas vão desde dor no corpo (óssea), até dor ao urinar, sangue na urina ou no sêmen. “Nesse estágio,, a doença já está em fase avançada e os sintomas são bastante inespecíficos”, complementa o Dr. Andrade.

Não existem causas determinantes para o câncer de próstata, porém, a grande incidência, um em cada seis homens, tem fatores de risco como a hereditariedade e a obesidade. Além disso, indivíduos da raça negra tem maiores probabilidades de desenvolverem a doença.

A partir dos 40 anos é hora de procurar o urologista

Tiago Kenji, oncologista do Hospital Santa Paula (SP), recomenda uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais, e com menos gordura, principalmente as de origem animal. “Além disso, é importante cultivar hábitos saudáveis como fazer, no mínimo, 30 minutos diários de atividade física, diminuir o consumo de álcool e não fumar”, ressalta.

Segundo ele, todos os homens acima de 40 anos devem procurar um médico urologista e fazer o exame preventivo anualmente. De maneira geral, os principais sintomas são presença de sangue na urina, necessidade frequente de urinar – principalmente à noite, e dor associada à queimação ao urinar.

Por não haver métodos preventivos, meu conselho aos homens é visitar regularmente o urologista a partir dos 50 anos, caso não tenha incidência da doença na família. Caso haja e em se tratando de pacientes negros e/ou obesos, a dica é procurar o especialista aos 45 anos”, adverte o Dr. Rodrigo.

O diagnóstico é por meio do exame clínico (toque retal) combinados com o resultado da dosagem do antígeno prostático específico (PSA, na sigla em inglês) no sangue. Para confirmação, é indicada a ultrassonografia pélvica (ou prostática transretal, se disponível). Quando necessário, é feita a biópsia prostática transretal.

A idade é um fator de risco importante para o câncer de próstata, uma vez que tanto a incidência como a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos. O aumento da expectativa de vida está completamente relacionado ao crescimento do número de casos ao longo dos anos”, explica o especialista.

Quais os exames mais indicados para diagnóstico?

Por meio desta avaliação inicial, que inclui análise dos fatores de risco, o médico define a periodicidade de realização dos exames. “Caso o paciente seja negro ou tenha parentes de primeiro grau com história de câncer de próstata, o indicado é que a avaliação seja iniciada aos 45 anos”, destaca Rafael Buta.

Exames iniciais como dosagens do PSA (sigla em inglês para Antígeno Prostático Específico) e o exame físico da próstata são fundamentais. “Quando a próstata sofre algum dano, seja ele decorrente de inflamação, infecção, crescimento benigno ou surgimento de câncer, o PSA é detectado em valores mais altos no sangue”, comenta o urologista.

“Para um diagnóstico precoce é recomendável que homens a partir de 50 anos (e 45 anos para quem tem histórico da doença na família) façam exame clínico (toque retal) e o teste de antígeno prostático específico (PSA) anualmente para rastrear o aparecimento da doença”, destaca Andrey Soares, oncologista do Centro Paulista de Oncologia – unidade de São Paulo do Grupo Oncoclínicas.

“Existem os exames laboratoriais, como o PSA, porém, cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente pelo exame de toque retal feito pelo urologista”, explica o médico do Consulta Aqui.

Caso o PSA e o exame físico estejam alterados, o urologista solicita uma biópsia da próstata. Nesse procedimento são retirados fragmentos da glândula e analisados pelo patologista. Somente assim é possível afirmar com certeza o diagnóstico do câncer de próstata.

 

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Tratamento vai depender do estágio da doença

Os principais sintomas do câncer de próstata podem ser semelhantes ao crescimento benigno da glândula, tendo como características dificuldade para urinar seguida de dor e/ou ardor, gotejamento prolongado no final, frequência urinária aumentada durante o dia ou à noite. Quando a doença já está em fase mais avançada, pode ocorrer a presença de sangue no sêmen, impotência sexual, além de outros desconfortos decorrentes da metástase em outros órgãos.

O tratamento depende do estágio e da agressividade em que o tumor de próstata se encontra e de uma opção que melhor sirva ao estilo de vida do paciente. Existe hoje uma gama muito variada de tratamentos, de acordo com o estágio do tumor. Os mais frequentes são vigilância ativa, hormonioterapia, quimioterapia, cirurgia e radioterapia.

Em casos iniciais e com características de baixa agressividade, o acompanhamento vigilante com consultas e exames periódicos deve ser discutido com o paciente, uma vez que é possível poupar os mesmos de algumas toxicidades que o tratamento causa.

Nos outros casos de doença localizada, a cirurgia, a radioterapia associadas ou não a bloqueio hormonal e a braquiterapia (também conhecida como radioterapia interna) pode ser realizada com boas taxas de resposta. “Após realizarem a cirurgia, em alguns casos é necessário realizar o procedimento de radioterapia pós-operatória para a diminuição do risco de recidiva da doença”, finaliza Dr. Andrey.

Da Redação, com Assessorias

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