De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de pele é o mais incidente entre os brasileiros, representando um terço de todos os casos de cânceres diagnosticados no país. O câncer de pele não melanoma corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país.
Entre as notificações de câncer de pele, cerca de 95% são tumores não melanoma, a quinta neoplasia mais frequente no mundo, com mais de 1 milhão de novos casos a cada ano. Este tipo de tumor é menos comum, porém, mais agressivo, e se não é tratado precocemente, pode ser letal, já que têm potencial para se espalhar para outras partes do corpo (metástase).
Apesar de ser o câncer de maior incidência, é o de menor mortalidade, se tratado adequadamente. Por conta disso, no Dezembro Laranja, mês de conscientização sobre o câncer de pele, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) destaca a importância da prevenção da doença, que embora seja a mais frequente, é também evitável.
Oncologista clínico e coordenador do Comitê de Tumores de Pele da SBOC, Rodrigo Villarroel explica que esse tipo de câncer muitas vezes passa despercebido em termos de sintomas, uma vez que, geralmente, não causa dor. Segundo ele, a presença do tumor pode ser notada por meio de manchas ou lesões, especialmente em áreas expostas, como rosto e mãos.
“É essencial que as pessoas prestem atenção a qualquer lesão dermatológica que se assemelhe a uma ferida, que não cicatrize adequadamente. Lesões que persistem indefinidamente ou aquelas que sangram e modificam seu tamanho ao longo do tempo, devem ser observadas de perto e merecem a devida atenção”, enfatiza o especialista.
Informações importantes sobre pele, câncer e melanoma
⮞A pele é o maior órgão do corpo humano;
⮞ A pele protege contra invasores, ajudando a controlar a temperatura corporal e permitindo sensações de toque, calor e frio;
⮞ A melanina é o pigmento (produto químico) da pele que lhe dá cor e a protege dos nocivos raios ultravioletas (UV);
⮞ O melanoma é uma forma grave de câncer de pele, mas também é curável se for diagnosticado precocemente;
⮞ A principal causa do câncer de pele é a exposição à radiação UV, que vem principalmente do bronzeamento excessivo e do uso de aparelhos de bronzeamento;
⮞ Os fatores físicos genéticos que podem aumentar as chances de desenvolver câncer de pele incluempele mais clara, tendência a queimaduras solares e muitas manchas.
⮞ Seu histórico médico pode desempenhar um papel no desenvolvimento do melanoma, incluindo queimaduras solares frequentes, bolhas, antecedentes de câncer de pele e um sistema imunológico enfraquecido;
⮞ Algumas famílias partilham genes anormais que as colocam em risco de melanoma. Seu médico avaliará se você tem melanoma hereditário com base em seu histórico e no histórico de câncer de sua família.
Os diferentes tipos de câncer de pele não melanoma
O câncer de pele é dividido em dois subtipos: melanoma e não melanoma. O melanoma é o subtipo menos recorrente e com maior gravidade, com maiores chances de provocar metástases. O não melanoma é o mais comum no Brasil, com menor mortalidade. Contudo, caso não seja tratado rapidamente e de forma adequada, pode deixar sequelas.
Esses tumores se dividem em outros dois subgrupos: carcinoma basocelular e carcinoma epidermoide. Há diversos outros tipos de câncer não melanoma, porém, são muito raros, representando apenas 1% do total de casos.
O carcinoma basocelular possui origem nas células basais da epiderme, representando 75% dos casos de câncer de pele. Costuma aparecer em áreas mais expostas ao sol no dia a dia, como rosto e pescoço, e se desenvolve de maneira lenta e dificilmente se espalhando para outras áreas do corpo. Mesmo assim, quem já teve câncer de pele deve fazer um acompanhamento permanente.
Já o carcinoma espinocelular ou de células escamosas apresenta origem na camada mais externa da epiderme, com maior risco de atingir outros órgãos. Tende a surgir no rosto, nas orelhas, nos lábios, no pescoço e no dorso da mão. Outra característica comum deste subtipo de câncer de pele é a possibilidade do seu surgimento em cicatrizes antigas ou feridas crônicas da pele em qualquer parte do corpo, até mesmo nos órgãos genitais.
Idade e danos cumulativos ao longo da vida
O maior fator de risco para o desenvolvimento de câncer de pele é o envelhecimento, embora essa enfermidade possa acometer desde a infância e tem o seu pico de incidência a partir dos 45 anos. Os raios UVA, que estão cientificamente associados com desenvolvimento de câncer de pele do tipo espinocelular e também de melanoma, estão presentes do nascer até o pôr do sol.
Além dele, há os raios UVB, que são mais intensos das 10 às 16 horas e que são responsáveis por tumores de pele, principalmente, do tipo basocelular, além de causar queimaduras e vermelhidão. Para a população que não está inserida em um grupo de risco, recomenda-se o uso de filtro solar fator 30, com reaplicações ao longo dia.
Cuidados com a pele
– Evitar exposição solar em qualquer horário, principalmente na faixa entre 10 e 16 horas (horário de verão). – Fazer uso de chapéus, bonés, camisetas e filtros solares;
– É importante que as barracas usadas na praia sejam feitas de algodão ou lona, que absorvem 50% da radiação ultravioleta. As barracas de nylon formam uma barreira pouco confiável: 95% dos raios UV ultrapassam o material;
– Para o uso de filtros solares, é sugerida a reaplicação a cada duas horas. O ideal é que o Fator de Proteção Solar (FPS) seja, no mínimo, 15. O ideal é fator 30, por requer menor reposição;
– Em hipótese alguma o bronzeamento artificial pode ser considerável saudável para a pele.
Maior incidência de raios solares explica números
No Brasil, o número de novos casos de câncer de pele não melanoma estimados, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de cerca de 200 mil, segundo dados do Inca. Esse tipo é mais comum em pessoas acima de 40 anos, porém, sua incidência tem aumentado em adultos mais jovens.
“Como no nosso país temos alta incidência de dias ensolarados e com alta taxa de raios ultravioletas de alta penetrância, observamos um número maior de casos do que em países de clima subtropical ou nos extremos dos hemisférios”, explica Thiago Assunção, médico oncologista especializado em câncer de pele do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC).
No caso das tonalidades de pele, pessoas de pele escura têm taxas maiores de melanina. Essa substância, responsável pela pigmentação, age como uma barreira natural aos raios solares e protege o DNA das células da pele. Por isso, pessoas de pele clara têm maior predisposição a cânceres de pele.
Aumento de casos entre jovens
Qualquer pessoa pode desenvolver o câncer de pele, contudo, é mais comum em pessoas sensíveis ao sol, como por exemplo as de pele clara, albinas ou com vitiligo. Histórico familiar, doenças cutâneas e exposição a câmaras de bronzeamento artificial também são fatores de risco.
“A principal medida para proteção aos cânceres de pele é evitar a exposição aos raios solares, sobretudo nos períodos do dia os quais a incidência de raios ultravioletas é maior, ou seja entre 9h e 16h. Faz-se fundamental o uso de filtros solares adequados, ou mesmo roupas e chapéus que possam barrar a radiação”, ressalta o Dr. Assunção.
Caso diagnosticado por um dermatologista por meio de exame clínico direto ou com o uso de aparelhos específicos, o tratamento das lesões iniciais é cirúrgico. Em alguns casos utilizam-se medicamentos, tópicos, orais, imunoterapia ou mesmo radioterapia complementares.
“Tendo em vista um aumento, principalmente de jovens, à exposição de raios solares, deve-se atentar para manchas novas no corpo ou pequenas feridas que passam a sangrar ou não cicatrizam, pintas que mudaram suas características no decorrer do tempo, entre outros”, finaliza o especialista.
Diferença entre os cânceres não-melanoma e melanoma
A principal diferença entre o câncer de pele não melanoma e melanoma está nos tipos de células da pele que são afetadas. O melanoma se desenvolve nos melanócitos, que são as células responsáveis pela produção de melanina, o pigmento que dá cor à pele.
O câncer de pele não melanoma engloba uma variedade de tumores, destacando-se o carcinoma basocelular, o tipo mais frequente e menos invasivo, além do carcinoma epidermóide e o carcinoma espinocelular (CEC), que são originados nas células da epiderme, a camada mais superficial da pele.
“Estes são considerados cânceres de menor agressividade, especialmente o basocelular, responsável por 80% dos casos. Este tipo permite um crescimento ao longo de meses ou até mesmo anos, sem a capacidade de se espalhar para outras partes do corpo”, explica o oncologista Rodrigo Villarroel.
De acordo com o Dr. Thiago Assunção, todos os tipos de câncer de pele estão associados à exposição solar, agentes ocupacionais e uso de medicamentos, como por exemplo imunossupressores.
“Os cânceres de pele espinocelulares, basocelulares e melanoma são os mais frequentes. Os dois primeiros têm, por característica, o caráter de invasão local e raramente geram metástases. O melanoma, contudo, difere pelo seu maior potencial de disseminação sistêmica, ou seja, tem maior chance de gerar metástases e, por isso, traz consigo alta mortalidade”, afirma o médico.
O melanoma pode se manifestar em diversas regiões do corpo, seja na pele ou em mucosas, apresentando-se sob a forma de manchas e pintas.
Diagnóstico precoce
Já o câncer de pele não melanoma, tipo mais predominante no Brasil, possui uma elevada probabilidade de cura quando identificado e tratado de forma precoce. Apesar de ser o tipo mais frequente e menos letal entre os tumores de pele, a falta de tratamento adequado pode resultar em mutilações.
No entanto, essa aparente menor gravidade do câncer de pele não melanoma pode levar a diagnósticos tardios. “Algumas pessoas negligenciam o diagnóstico, permitindo que o tumor evolua por um longo período, por vezes resultando em lesões extensas. O câncer de pele é localizável e, com o tratamento adequado, muitas vezes é curável. Esse diagnóstico não tão precoce pode não impactar significativamente na mortalidade, mantendo-a em níveis baixos”, completa o médico.
Fatores de risco
Entre os principais fatores de risco apresentados pelo especialista, a exposição excessiva e sem proteção aos raios ultravioletas UVA e UVB são os mais significativos. Queimaduras de sol podem gerar graves lesões e o desenvolvimento de algum tipo de câncer de pele ao longo da vida, e essas queimaduras não estão restritas à luz natural, câmaras de bronzeamento artificial também podem ter influência no desenvolvimento da neoplasia.
O tipo de pele também é um fator de risco, já que pessoas com peles claras têm mais chances de desenvolver a doença do que outros grupos porque possuem uma menor concentração de melanina que protege a pele.
Prevenção
Dezembro é o início do verão e das férias, ou seja, uma época do ano em que as pessoas estão expostas ao sol, e consequentemente à radiação ultravioleta, mas o câncer de pele é evitável. Conhecida como ‘Dezembro Laranja’, a campanha se destaca como o período de conscientização acerca do câncer de pele, ao dialogar sobre a prevenção do tipo de tumor mais prevalente no Brasil e no mundo. A exposição inadequada e desprotegida ao sol pode desencadear modificações celulares, o que contribui para o surgimento desse câncer.
“Dada a natureza tropical do país, a exposição solar ocorre ao longo do ano em diversas regiões. O câncer de pele pode ser evitado com pequenas ações, que não se restringem ao verão, mas que devem ser adotadas ao longo de todo o ano. Por isso, é tão importante proteger a pele, e em caso de alterações procurar imediatamente um médico, porque o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura”, completa Rodrigo Villarroel.
Ele explica que especialmente neste período é necessário redobrar o cuidado com a pele, evitando a exposição solar entre às 10h e 16h, usando sempre protetor solar no corpo todo, FPS mínimo 30, reaplicando a cada 2h, e sempre após um mergulho no mar ou piscina, e sempre que não for possível evitar a exposição solar, usar roupas de proteção solar, como camisas de manga longa, calças compridas, chapéus de abas largas e óculos de sol com proteção UV.
“A principal precaução para prevenir os cânceres de pele é evitar a exposição aos raios solares, especialmente durante os períodos em que a incidência de raios ultravioletas é mais intensa, ou seja, entre as 9h e às 16h. O uso de filtros solares apropriados é essencial, assim como o uso de roupas e chapéus que possam bloquear a radiação”, finaliza Dr. Assunção.
Com Assessorias