O “Agosto Dourado” é o mês dedicado ao incentivo e conscientização sobre o aleitamento materno, ressaltando os inúmeros benefícios dessa prática. Quando se fala em amamentação, o foco é o bem-estar do bebê, uma vez que pesquisas apontam que o aleitamento materno reduz em 13% a mortalidade até os cinco anos de idade, evita diarreias, diminui o risco de alergias, além de garantir melhor nutrição.

Contudo, o aleitamento também promove benefícios para a mãe pois diminui o risco de desenvolver câncer de mama e ainda pode ajudar no pós-parto, além de ser um importante vínculo afetivo entre mãe e filho. Mas e quando essa mãe descobre um tumor no seio? Ou tem HIV e não pode amamentar para não transmitir o vírus para o filho/a?

A ex-modelo Flávia Flores não pôde amamentar o filho Lyon em virtude de uma mastectomia dupla. Flavia teve um câncer de mama em outubro de 2012 (tinha 42 anos) e, hoje, dez anos desde o diagnóstico, comemora também os quatro anos do filho, que nasceu depois do tratamento oncológico, fruto de uma gravidez natural.

Flavia lembra que a primeira pergunta que as pessoas faziam, quando contava que estava grávida, era como ela iria amamentar o filho, uma vez que não tinha as mamas e sentia dores nos seios.

“Teoricamente não era para eu sentir dores nos seios durante a gravidez – porque eu não tenho seios – mas eu senti! Nas primeiras semanas, antes de saber que estava grávida, senti os seios sensíveis e achei que doíam por causa de uma massagem que eu havia feito. Meus seios não aumentaram de tamanho como acontece com todas as grávidas, mas eu os sentia grandes”, relata Flavia.

Amamentar é muito importante, mas o alimento que o meu filho recebeu foi um leite de formulação e muito amor. Na época, eu pensei: ‘não é por não produzir leite que Lyon vai se privar daquele momento mamãe e bebê’. Eu esquentava uma mamadeira, sentávamos juntinhos perto da janela, eu cantava para ele e a gente curtia muito esse momento. O importante é se conectar nesse tempo só nosso, sem celular por perto, sem estresse e com muitos beijinhos”, finaliza Flavia, fundadora do Instituto Quimioterapia e Beleza.

Foto: arquivo pessoal. Flavia Flores e seu filho Lyon
  • ‘Decidi que faria o possível para amamentar minha filha’

Aos 31 anos, enquanto planejava a gravidez, Marília Biscuola descobriu um câncer de mama estágio 1. Por recomendação médica, adiou a vinda do primeiro filho para iniciar o tratamento, que contou com cirurgia, radioterapia e hormonioterapia, cuja parte mais intensa durou 4 meses e incluiu a realização de uma quadrantectomia unilateral, ou seja, a retirada parcial de uma das mamas.

Aos 33 anos, Marília decidiu, com orientação médica, engravidar e não se preocupou com o aleitamento materno durante a gestação pois sabia da existência de fórmulas para a alimentação do bebê. “Só fui atentar ao tema quando comecei a ler mais sobre a importância do aleitamento materno, período em que também foi crescendo a vontade de amamentar”, conta Marília.

“Desde que engravidei, passei a ouvir e entender os benefícios da amamentação e decidi que faria o possível para amamentar a minha filha, ainda que fosse somente com uma mama e complementação com fórmula.

No primeiro ano, ela amamentou, complementando com fórmula e, nesse período, suspendeu o uso de um medicamento oncológico para não interferir no leite, sem prejuízo para o seu tratamento.

“Foi muito importante esse momento da amamentação pois não se trata somente de nutrição. É afeto e conexão entre mãe e bebê, por isso fico muito feliz por ter amamentado, ainda que parcialmente”, finaliza Marília, que é mãe de uma menina de 1 ano e 7 meses.

Agosto Dourado: amamentação e trabalho

A psiquiatra Giuliana Cividanes, da Santa Casa de São Paulo, confirma que o aleitamento fortalece o vínculo afetivo entre a mãe e o bebê, diminui os riscos de a mulher desenvolver depressão, além de ser um ato de amor e carinho que traz contentamento e aumenta a autoestima.

Agosto é o mês que celebra a amamentação e inicia com a Semana Mundial do Aleitamento Materno (1 a 7 de agosto). A ação que, desde 1992, promove o movimento pelos direitos da mulher de amamentar de forma segura e saudável, debate e encoraja a participação da sociedade, de profissionais da saúde e da educação nessa iniciativa liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com o apoio do Unicef que, neste 2023, tem como tema amamentação e trabalho.

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Para mães vivendo com HIV/Aids, não amamentar é um ato de amor

A transmissão vertical pelo aleitamento materno pode ser evitada, caso sejam seguidas todas as orientações médicas

Assim como mulheres que passaram pelo câncer de mama, muitas mães vivendo com HIV/Aids também enfrentam a impossibilidade de vivenciar esse momento de conexão com seus bebês, uma vez que são orientadas a não amamentar para evitar a transmissão vertical do vírus.

Durante a gestação e o parto, há o risco de transmissão do HIV, assim como de outras doenças. É importante destacar que o HIV pode ser transmitido através da amamentação. Diante dessa realidade, a infectologista dos Hospitais Samaritano e Indianápolis, Rafaela Arvai Pereira, enfatiza que orientar as mães a não amamentar em caso de infecção é uma medida de proteção ao bebê.

“Médicos prescrevem medicamentos para a mãe não produzir leite, evitando o ingurgitamento mamário, a mastite ou outros problemas, e recomendamos o uso de fórmula láctea”, explica a infectologista.

Essa fórmula é fornecida gratuitamente pelo governo, assegurando o acesso a uma alternativa segura e adequada para a alimentação do recém-nascido.

Diagnóstico durante a gestação

O Boletim Epidemiológico de HIV/Aids de 2022 do Ministério da Saúde revelou que, em 2021, 45,6% das novas infecções pelo HIV ocorreram em mulheres entre 15 e 34 anos, faixa etária em idade reprodutiva. Além disso, mais da metade das gestantes com HIV (57,4%) realizaram o diagnóstico da infecção antes do pré-natal no mesmo ano.

Nesse contexto, é essencial que as gestantes realizem testes para HIV, sífilis e hepatites durante os três primeiros meses de gestação, nos três últimos meses e em casos de exposição de risco e/ou violência sexual, respectivamente. Além disso, o teste para HIV deve ser realizado no momento do parto, independentemente de exames anteriores.

Para as gestantes diagnosticadas com HIV durante a gestação, é recomendado o início imediato do tratamento com medicamentos antirretrovirais, que deve se estender por toda a gestação e, se orientado pelo médico, também no momento do parto. Essa abordagem visa prevenir a transmissão vertical do HIV para o bebê.

“É de extrema importância que todas as pessoas vivendo com HIV, incluindo as mães, tomem os medicamentos antirretrovirais diariamente, de preferência no mesmo horário e também sem pular nenhum dia, uma vez que essa disciplina resulta em uma carga viral indetectável, o que significa intransmissibilidade”, ressalta Dra. Rafaela.

O recém-nascido também deve receber o medicamento antirretroviral (xarope) e ser acompanhado regularmente por um profissional de saúde.

Prevenção e cuidado para o crescimento saudável do bebê

É fundamental enfatizar que mulheres com diagnóstico negativo para o HIV durante o pré-natal ou parto devem utilizar camisinha (masculina ou feminina) nas relações sexuais, inclusive durante o período de amamentação, como medida preventiva para evitar a infecção e garantir o crescimento saudável do bebê.
A presidente do Projeto Criança Aids (PCA), ONG de São Paulo que atua com crianças e famílias de crianças que vivem com HIV/Aids, Adriana Galvão Ferrazini, frisa que o ato de não amamentar é uma prova de amor e de direito à vida.

“Mulheres amamentando podem ser infectadas e só ter conhecimento do fato quando já estiverem doentes da Aids, quando os sintomas das comorbidades aparecem nelas e em seus filhos também infectados, através do leite materno”, salienta Adriana. “Por isso a importância da testagem periódica para o vírus HIV, do uso de preservativos masculino ou feminino e da PrEP (profilaxia pré-exposição), durante a amamentação

Casos de HIV em crianças

Os dados oficiais divulgados pelo Boletim Epidemiológico de HIV/Aids revelam que os casos de HIV em crianças menores de 5 anos de idade têm se mantido estáveis nos últimos dois anos. Entre 2019 e 2021, a taxa de detecção nessa faixa etária registrou uma significativa queda de 35,4%, passando de 1,8 para 1,2 casos por 100 mil crianças.

“Em nossa ONG temos diversos casos de crianças que foram infectadas através do aleitamento materno e infelizmente a descoberta do ocorrido foi tardia, algumas dessas crianças já têm sequelas irreversíveis por conta das doenças causadas pela Aids”, pontua a presidente do PCA.

O “Agosto Dourado” é um momento oportuno para reforçar a importância da não amamentação em casos de infecção por HIV/Aids e promover a conscientização sobre a prevenção, o diagnóstico precoce e o cuidado adequado para as mães e seus bebês. A adoção de medidas preventivas e a busca por assistência médica qualificada são fundamentais para garantir a saúde e o bem-estar de todos.
Sobre o PCA – O Projeto Criança Aids (PCA) é uma Organização Não Governamental (ONG) sem fins lucrativos que atende famílias em vulnerabilidade social responsáveis por crianças e adolescentes vivendo e convivendo com HIV/AIDS.

O PCA atua desde 1991 no auxílio e no resgate da dignidade das crianças e seus familiares. Por meio de uma equipe de assistentes sociais, o Projeto visita regularmente as casas de todas as famílias responsáveis para conferir a frequência escolar, condições de saúde e moradia, além de ofertar cestas básicas mensais com produtos de higiene pessoal, limpeza doméstica e alimentos.

Atualmente, o Projeto atende cerca de 40 crianças, propiciando acolhimento e reflexão voltadas para o resgate psicossocial e educativo realizados por equipe interdisciplinar composta por: psicólogo, assistente social, farmacêutica, enfermeira, pedagoga, psicopedagoga e estagiários das áreas afins.

Com Assessorias

 

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