O câncer de mama ainda é a principal causa de morte por câncer em mulheres, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), foram registrados 2,3 milhões de novos casos e 670 mil mortes em 2022.
Apesar dos avanços terapêuticos, o risco de volta do câncer de mama ainda é um desafio. Mesmo com a terapia endócrina padrão, cerca de 13% das pacientes apresentam recidiva nos três primeiros anos após o tratamento, e o risco pode se estender por até duas décadas.
Foi o caso da jornalista e documentarista Patrícia Terra, que faleceu no Rio de Janeiro em junho de 2019, aos 57 anos, após uma recidiva do câncer de mama. Patrícia teve passagens por diversas emissoras, incluindo a TV Manchete e a TV Globo, e fazia parte do Grupo JornalistasRJ.
Até 2050, a expectativa é de que esses números cresçam para 3,3 milhões de diagnósticos e 1,1 milhão de óbitos anuais, crescimento de 38% e 68%, respectivamente. No Brasil, a projeção da IARC é de 54,5% de aumento de novos casos, passando de 94,7 mil registrados em 2022 para expressivos 146,3 mil em 2050.
O Natalle, um estudo internacional sobre a doença, com participação do Hospital Moinhos de Vento em parceria com a Novartis, foi desenvolvido para enfrentar o desafio de tratar o risco de recidiva no câncer de mama e traz dados promissores.
O Natalle é um ensaio clínico multicêntrico, randomizado e de fase III, conduzido em 20 países. O estudo teve como objetivo avaliar se o ribociclibe, já aprovado para casos avançados com metástase, também poderia prevenir a recidiva quando administrado logo após a cirurgia e os tratamentos iniciais, como radioterapia e quimioterapia em pacientes de alto risco.
A medicação combinada à terapia hormonal padrão tem o potencial de atuar tanto na prevenção do reaparecimento do câncer quanto no controle de casos recorrentes. O que nos permitiu implementar o tratamento às nossas pacientes no Moinhos de Vento”, comemora Sérgio Roithmann, chefe do Serviço de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento.
Estudo reduz em 25% o risco de recidiva com combinação de tratamentos
Ensaio clínico realizado em 20 países aponta que ribociclibe combinado à terapia endócrina, pode mudar padrão de tratamento do subtipo mais prevalente do câncer de mama
A combinação do medicamento ribociclibe com a terapia hormonal reduziu em 25% o risco de recorrência em pacientes com câncer de mama inicial do subtipo hormonal positivo (HR+) e negativo para o receptor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2-) – proteína que se encontra na superfície das células –, o mais prevalente entre as mulheres.
Esse subtipo, HR+/HER2-, representa cerca de três quartos de todos os casos da doença. “Embora os dados de sobrevida global ainda sejam iniciais, as taxas foram altas em ambos os grupos: 97,0% com ribociclibe e 96,1% sem o medicamento, reforçando o potencial de benefício a longo prazo”, afirmam os pesquisadores.
A pesquisa Natalle acompanhou 5.101 mulheres de 20 países com câncer de mama inicial, divididas em dois grupos: o grupo 1 recebeu ribociclibe combinado com hormonioterapia (inibidores da aromatase não esteroidais – AINEs), enquanto o grupo 2 não recebeu o medicamento e foi tratado apenas com hormonioterapia.
Depois de 33 meses de acompanhamento, os resultados mostraram uma redução de 25% no risco de recorrência invasiva da doença no grupo que utilizou ribociclibe. Em três anos, as taxas de sobrevida livre de recidiva foram de 90,7% no grupo 1 que combinou o tratamento com ribociclibe, em comparação a 87,6% de sucesso das pacientes que receberam apenas o tratamento hormonal, representando um benefício absoluto de 3,1%.
O efeito positivo foi consistente entre os principais subgrupos, incluindo pacientes com câncer em estágio II e III, com ou sem linfonodos comprometidos. O principal diferencial do tratamento está na adição dessa medicação ao tratamento padrão, melhorando a perspectiva de diminuir o risco de retorno do câncer.