Embora o câncer de colo do útero tenha diminuído em muitas regiões do mundo nas últimas três décadas – particularmente na América Latina, Ásia, Europa Ocidental e América do Norte – os números continuam altos em muitos países de baixa e média renda. Por exemplo, no Brasil, a prevalência de câncer de colo do útero no Rio Grande do Sul – a menor do país – é de 7,1. A título de comparação, a Argélia, país de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), são 7,9 mortes pela doença para cada 100 mil mulheres.

A estratégia global da Organização Mundial da Saúde (OMS), lançada em 2020, busca acelerar a eliminação do câncer de colo do útero. A vacinação, rastreamento e tratamento são as três etapas principais delineadas pela entidade. A Iniciativa de Eliminação do Câncer Cervical, mais conhecido como câncer de colo de útero, tem sua data de ação este ano em 17 de novembro.

A data ressalta os três pilares de ação, com suas metas, para que até 2030 este tipo de câncer não seja mais um problema de saúde pública. A medidas são:

1. Vacinação: 90% das meninas até 15 anos totalmente vacinadas contra o HPV

2. Rastreamento: 70% das mulheres até os 35 anos examinadas com testes de alta performance, e novamente até os 45

3. Tratamento: 90% das mulheres com lesões pré-cancerosas ou com câncer invasivo

Os desafios que o Brasil enfrenta para alcançar as metas da OMS

Desde o lançamento do dia de Ação Global para Eliminação do Câncer de Colo do Útero (17 de novembro), o país enfrenta dificuldade para aumentar o índice de vacinação. Embora a vacina seja uma das principais formas de prevenção à infecção que pode levar ao desenvolvimento de diferentes tipos de câncer, o Brasil está abaixo dos índices propostos pela OMS. Em 2020, 55% das meninas brasileiras de 9 a 14 anos tomaram as duas doses da vacina. Entre os meninos de 11 a 14 anos, a taxa dos que completaram o ciclo vacinal foi de apenas 36,4%.

Em razão da baixa adesão às campanhas de vacinação contra HPV e gargalos no acesso ao exame Papanicolau, o Brasil apresenta alta incidência e mortalidade por câncer de colo do útero: 6,5 mil morrem pela doença todos os anos.

Por isso, o dia 17 de novembro  é um reforço e um convite para Ação Global para Eliminação do Câncer de Colo do Útero. No dia 17 de novembro, o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) se engaja neste movimento por conta das evidências que associam maior proteção contra câncer de colo de útero quando, além das meninas, os meninos também são imunizados. E convida a população a refletir sobre ações voltadas para prevenção e o diagnóstico desse tipo de câncer que é evitável.

O desenvolvimento de programas eficazes de vacinação e triagem contra o HPV (papilomavírus humano) tornou o câncer de colo do útero uma doença amplamente evitável. Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou uma meta para acelerar a eliminação do câncer de colo do útero como um problema de saúde pública, a fim de reduzir a incidência abaixo do limiar de quatro casos por 100 mil mulheres por ano em todos os países até 2030.

O câncer de colo do útero é evitável

câncer de colo de útero é o terceiro mais comum em mulheres no Brasil, excetuando-se o câncer de pele não melanoma, mas, ainda, poucas sabem que a vacinação é uma maneira eficaz de preveni-lo. Isso porque cerca de 70% dos casos são associados à infecção persistente do HPV, vírus prevenível com vacina.

O câncer de colo do útero é uma doença evitável e, se diagnosticado precocemente e tratado adequadamente, curável. Hoje é o quarto câncer mais comum entre as mulheres em todo o mundo. Para alcançar o impacto máximo, as intervenções destinadas a alcançar estes três objetivos devem ser realizadas simultaneamente e à escala apropriada.

Para a vice-presidente do EVA, Graziela Zibetti Dal Molin, oncologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, a implementação dos três pilares da estratégia contribuirá para a redução imediata e acelerada das taxas de mortalidade devido aos cânceres invasivos. A incidência diminuirá gradualmente através da implementação em larga escala de serviços de rastreio e tratamento de base populacional, e da vacinação contra o HPV, que oferece proteção contra o câncer de colo do útero.

“Buscamos divulgar conhecimento e incentivar ações de prevenção para o câncer do colo de útero, como a vacinação contra o HPV. Quando se fala de câncer da mulher, fala-se muito no de mama e pouco do ginecológico. O câncer de colo uterino é uma doença extremamente prevenível e a terceira causa de morte pela doença no Brasil”, alerta.

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Entenda a estratégia para eliminar a doença no mundo

São três ações do movimento global para eliminação do Câncer de Colo do Útero da OMS: a vacinação contra o HPV, rastreio e tratamento de lesões pré-cancerosas e manejo do câncer cervical invasivo.

A primeira das três ações, a prevenção primária, exige a introdução da vacina contra o HPV em todos os países para prevenir a infecção, com o objetivo de atingir 90% de cobertura em todas as mulheres antes de completarem 15 anos (dos 9 aos 14 anos), com vacinação completa.

A prevenção secundária consiste na detecção precoce de lesões pré-cancerosas e do câncer em estágios iniciais. Esta estratégia visa garantir que 70% das mulheres sejam examinadas por meio de um teste de alta precisão, equivalente ou superior ao do HPV, antes dos 35 anos e mais uma vez antes dos 45 anos.

Já a prevenção terciária visa alcançar um bom diagnóstico, tratamento adequado e seguimento correto que aumentem a sobrevivência e a qualidade de vida das mulheres com câncer de colo do útero, incluindo o acesso aos cuidados paliativos. O objetivo é que 90% das mulheres com lesões pré-cancerosas e cânceres invasivos tenham acesso ao tratamento, controle e acompanhamento adequados. 

Cobertura vacinal em queda no Brasil

A vacinação contra o HPV em meninos e meninas desempenha um papel crucial na prevenção de doenças relacionadas e na proteção da saúde futura. No Brasil, o Programa Nacional de Imunização (PNI) disponibiliza gratuitamente a vacinação desde 2014, sendo indicada para meninas e meninos de 9 a 14 anos, homens e mulheres até os 45 anos que vivem com HIV/AIDS, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e vítimas de violência sexual.

A Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) também recomendam a vacinação de mulheres de 9 a 45 anos e homens de 9 a 26 anos, o mais precoce possível.

Em 2014, quando a vacina contra o HPV foi incorporada no Calendário Nacional de Vacinação, foram 7.948.224 doses aplicadas. Porém, o número expressivo para o Ministério da Saúde não se manteve nos anos seguintes, caindo vertiginosamente na pandemia. A tabela abaixo mostra as doses aplicadas em meninas e meninos nos últimos quatro anos de ações:

Imunizações – Doses Aplicadas – Brasil*

AnoHPV Quadrivalente – Feminino
20202.647.551 doses aplicadas
20212.241.123 doses aplicadas
20222.223.377 doses aplicadas
2023702.518 doses aplicadas

*Painel Imunizações – Doses Aplicadas Brasil/Datasus 

HPV Quadrivalente – Feminino*

Ano20202021202220232020 x 2023
Doses aplicadas2.647.5512.241.1232.223.377702.518Queda de 73,46*

*Painel Imunizações – Doses Aplicadas Brasil/Datasus

Imunizações – Doses Aplicadas – Brasil*

AnoHPV Quadrivalente – Masculino
20201.817.484 doses aplicadas
20211.617.734 doses aplicadas
20222.091.401 doses aplicadas
2023839.106 doses aplicadas

*Painel Imunizações – Doses Aplicadas Brasil/Datasus 

HPV Quadrivalente – Masculino*

Ano20202021202220232023 x 2023
Doses aplicadas1.817.4841.617.7342.091.401839.106Queda de 53,83%

*Painel Imunizações – Doses Aplicadas Brasil/Datasus 

A importância do exame citopatológico cérvico vaginal – exame Papanicolau

O convite às mulheres é, portanto, que realizem o check-up ginecológico anual com ultrassonografia e exame de Papanicolau mesmo na ausência de sintomas, para diminuir a possibilidade de desenvolver determinada patologia.

O exame Papanicolau pode ser feito por mulheres a partir dos 25 anos, especialmente aquelas que possuem atividade sexual ativa, ou seja, mulheres que estão na faixa de 25 a 64 anos, segundo recomendação do Ministério da Saúde.

Esse exame é ofertado pelo SUS e realizado, com mínimo desconforto, durante a consulta, quando são retiradas células do colo uterino externo e interno e fixando-as em lâmina de vidro. É utilizado para investigar possíveis alterações nas células do colo uterino.

O resultado é entregue ao paciente em aproximadamente de 30 a 40 dias. Apesar das elevadas coberturas de rastreamento alcançadas pelo país, a grande desigualdade no acesso ao exame é um dos gargalos.

AnoExames citopatológicos de colo do útero realizados no SUS
20166.944.756
20176.844.324
20186.956.725
20196.805.670
20203.945.483
20215.770.478

*Relatório do INCA – Dados e números sobre o câncer de colo do útero 

Agenda Positiva

Fabricante de vacina mostra casos bem sucedidos na Austrália e Suécia

Em apoio à iniciativa da OMS e para aumentar a conscientização sobre o tema, a MSD produziu um vídeo, com entrevistados na Austrália e Suécia, países que estão a caminho de alcançar o objetivo de eliminar o câncer de colo do útero.

O conteúdo mostra o desconhecimento da população em geral sobre a possibilidade de eliminação do câncer cervical por meio da vacinação, entre outras ações.

Atualmente, a MSD está no Programa Nacional de Imunização com a vacina quadrivalente contra o HPV. E, este ano, chegou à rede privada no Brasil a vacina nonavalente contra o vírus.

Fonte: EVA

 

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