Em uma entrevista exclusiva transmitida pelo programa ‘Fantástico’ no domingo (31 de março), Ana Maria Braga, de 75 anos, compartilhou informações sobre o seu segundo diagnóstico de câncer em 2001, revelando que a origem da doença foi o Papilomavírus Humano, mais conhecido pela sigla HPV. À época com 52 anos, a apresentadora enfrentou um tumor no ânus em estágio avançado.

“Quando eu consegui descobrir o que eu tinha, ele já estava adiantado. E aí eu tinha uma chance mínima de sobrevivência. Então, é muito assustador”, contou a apresentadora de TV, que foi diagnosticada com um tumor de oito milímetros no estágio 3, numa escala que vai de 1 a 4.

Ela reforçou a importância de não se estigmatizar pessoas infectadas por HPV,  que tem a via sexual como principal forma de transmissão. O vírus é responsável por 100% dos casos de câncer de colo de útero e também está relacionado a outros tipos de câncer em órgãos como vagina e vulva nas mulheres, pênis nos homens e ânus, boca e garganta em homens e mulheres.

“Você não tem que se sentir culpado porque você está com câncer. Você não tem culpa. Porque você é uma mulher sexualmente ativa. Você é mãe, não tem como ser mãe sem ser sexualmente ativa. Eu acho que a sexualidade tem que ser encarada da forma que ela é. É uma coisa natural, feita da natureza, porque senão a gente não estaria aqui”.

A apresentadora também falou sobre o avanço na medicina e a importância da vacinação, que é distribuída há 10 anos na rede pública e privada para crianças e adolescentes d e9 a 14 anos. A vacinação contra o HPV antes de iniciar a vida sexual é fundamental para evitar complicações futuras e reduzir a incidência de vários tipos de câncer.

“Se você tiver filhos menores, você vai estar protegendo pro resto da vida essa pessoinha que você ama. Tem agora a vacina, meu Cristo. Isso é coisa magnífica, isso é ouro puro”, ressaltou Ana Maria.

Como foi o diagnóstico e tratamento de Ana Maria

No caso de Ana Maria, em 2001, um gânglio inchado e ligeiramente dolorido na região da virilha, chamou a atenção do seu ginecologista, que deu início a uma série de exames. Até que, em julho do mesmo ano, o gânglio foi extraído. Uma semana depois, o resultado da biópsia confirmou a suspeita dos médicos: era câncer.

Em seu caso, um chamado carcinoma epidermóide anal, causado pelo vírus HPV. Segundo os médicos do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, responsáveis pelo caso, nessa fase o paciente tem de 50% a 70% de chances de se recuperar. Se atinge o nível 4, quase não há possibilidade de cura.

Ana Maria suspeitou que havia algo errado com a saúde apenas um mês antes, ao notar a presença de nódulos na virilha. Numa consulta com o ginecologista Eduardo Tomioka, seu médico particular, decidiu fazer um exame mais detalhado, uma biópsia, que revelou a presença de tumores malignos.

Orientada pelos oncologistas Antônio Carlos Buzaid e Eduardo Akaishi, ela foi a Miami (EUA) submeter-se a um exame chamado PET scan. O objetivo era descobrir o estágio do tumor e checar se havia outro foco. Na volta iniciou o tratamento por quimioterapia e radioterapia, que durou seis meses.

Dez anos antes, a apresentadora enfrentou um melanoma (tipo de câncer de pele) no antebraço, mas os médicos descartaram a relação ente os dois tumores. Na ocasião, não foi divulgado que Ana Maria foi infectada pelo vírus HPV. Especialistas afirmam que há mais causas para o problema, como infecções, herpes e traumas no local.

Câncer anal, causas e sintomas

O câncer de ânus é raro – nos Estados Unidos, quatro mil casos foram registrados de câncer anal são registrados por ano, contra 190 mil tumores identificados de mama – e costuma atingir mais as mulheres. Segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca), é um câncer raro e representa entre 1% e 2% dos tumores colorretais.

O tumor anal está relacionado em mais 95% das vezes com a infecção pelo HPV. Estudos mostram que o subtipo HPV-16, principalmente, provoca boa parte dos carcinomas de células escamosas anais. Mais comum entre mulheres, a doença é caracterizada pela presença de tumores no canal anal e nas bordas externas do ânus, próximo da extremidade do reto (a parte final do intestino grosso).

Outras possíveis causas são a prática de sexo anal, fístula anal crônica, a má higiene na região e a irritação anal crônica, além do tabagismo. 

Muitas mulheres não apresentam sintomas, como Ana Maria, mas quando surgem, alguns mais comuns a esse tipo de câncer são dores na região afetada, espontânea ou durante a evacuação, sangramento e alteração da forma das fezes. Por isso, é muito importante procurar logo o ginecologista em qualquer sinal, como uma alteração anatômica, principalmente se persistir por mais de um mês.

Dependendo do estágio em que se encontra o tumor, a associação entre quimioterapia e radioterapia pode eliminar a doença em mais de 80% dos casos. Outros casos podem ser tratados com cirurgia e quimioterapia. A solução mais radical é o fechamento do reto (ou colostomia), que leva o paciente a usar uma bolsinha plástica para servir como depósito.

Saiba mais sobre o HPV

O Papilomavírus Humano pode ser transmitido principalmente por meio do contato sexual desprotegido, inclusive no sexo oral, atingindo pele e mucosas da região genital e boca entre homens e mulheres. O HPV sendo responsável por diversas infecções sexualmente transmissíveis, inclusive neoplasias.

De acordo com os dados do Ministério da Saúde cerca de 9 a 10 milhões de indivíduos no Brasil estão atualmente afetados pelo HPV, enquanto aproximadamente 700 mil novas infecções são registradas anualmente no país.

Um recente estudo da Fundação do Câncer revelou que mais de 4 mil mortes e cerca de 6 mil casos de câncer relacionados ao HPV no País poderiam ser evitados por meio da prevenção.

Outras infecções sexualmente transmissíveis podem provocar outros tipos de câncer. O HIV, por exemplo, provoca o sarcoma de Kaposi e também o linfoma. Já o vírus da hepatite B pode provocar o carcinoma hepatocelular.

Mitos e verdades sobre o HPV

Infectologista esclarece as principais dúvidas sobre o assunto e reforça a importância de vacinação

Após Ana Maria Braga ter revelado que o câncer no ânus que enfrentou em 2001 foi proveniente do HPV, muitas dúvidas surgiram sobre a doença. A infectologista e diretora médica do Grupo Alliança, Lorena Faro, esclarece as principais dúvidas sobre a vacinação e a doença.

Só se contrai HPV através de relações sexuais

MITO. Mesmo sem haver relação com penetração, o HPV pode ser transmitido também através do contato de região pubiana com lesão, por exemplo, com uma verruga genital, as formas de transmissão do HPV incluem qualquer tipo de contato íntimo.

Quem já teve HPV precisa se vacinar

VERDADE. O paciente que já teve a doença pode e deve se vacinar. Lorena Faro ressalta que, muitas vezes, não se sabe qual o tipo do vírus afetou o paciente, por isso é importante tomar a vacina para estar protegido com anticorpos contra outros subtipos, que também podem causar câncer.

“Nossa recomendação é que todos tomem a vacina o quanto antes, para que possam gerar uma melhor resposta imune para produção de anticorpos. Essa é a forma mais eficaz para prevenir o câncer e as verrugas genitais, pois o uso do preservativo por si só pode não ser capaz de proteger contra a doença”.

A vacina do HPV é apenas para meninas e mulheres

MITO. De acordo com a infectologista, esse é um ponto importante, já que muitos homens não têm esse cuidado e prevenção. “A vacina HPV Quadrivalente é indicada para meninas e mulheres de 9 a 45 anos de idade e meninos e homens de 9 a 26 anos de idade. Fora dessa faixa de idade, é possível se vacinar com prescrição médica”, explica Dra. Lorena.

Ela ressalta que nos postos de saúde, o imunizante é fornecido até 14 anos, mas na rede particular está disponível para os demais casos, com a aplicação de duas ou três doses, de acordo com a faixa etária.

A vacina do HPV estimula a vida sexual das mulheres

MITO. A vacinação contra o HPV não tem nenhuma relação com o incentivo à atividade sexual. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), diversas pesquisas já mostraram que adolescentes imunizados contra o vírus não são mais propensos a começar a vida sexual precocemente do que aqueles não vacinados. Para a infectologista Lorena Faro, a aplicação da vacina não seria uma forma de incentivo e sim de proteção e segurança para esses jovens:

“A vacina é um imunizante seguro, com grande eficácia e poucos efeitos colaterais observados, como eventual dor e vermelhidão no local da aplicação, dor de cabeça, febre. E é importante lembrar que, de acordo com o Inca, tirando o câncer de pele não melanoma, o câncer de colo do útero é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina (atrás apenas do câncer de mama e do colorretal), e a quarta causa de morte de mulheres no Brasil relacionada à doença. A vacinação é muito importante para evitar a doença., aponta.

O paciente sabe que tem HPV ao verificar feridas na região genital

MITO. A infectologista afirma que a doença pode ser subclínica, ou seja, sem lesões, verrugas ou outros aspectos perceptíveis a olho nu. Dessa forma, ela reforça a importância da consulta de rotina ao médico para a realização de exames preventivos, entre eles o Papanicolau.

Há opções de tratamento para a doença

Verdade. O tratamento do HPV depende do tipo de lesão e da gravidade da infecção, sendo que as principais opções incluem o uso de medicamentos tópicos, laser e cirurgia de alta frequência com utilização de um bisturi elétrico (CAF/ LEEP), assim como o monitoramento das lesões. “Muitas vezes antes de decidir qual a opção de tratamento, pode ser necessário realizar exames complementares como colposcopia, vulvoscopia e biopsias”, complementa Dra. Lorena Faro, que informa também que as lesões podem voltar ou aparecer novas, causadas por diferentes subtipos, por isso é essencial esse acompanhamento do ginecologista e o rastreio.

Com informações de Assessorias e agências

 

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