Outubro Rosa 2021 se aproxima do fim sem que uma pergunta seja respondida: cadê o mamógrafo móvel do Estado do Rio de Janeiro? O equipamento levava exames gratuitos de mamografia e ultrassonografia a cidades onde esse serviço não existe ou funciona precariamente e não atende à grande demanda.

O serviço itinerante foi visto publicamente pela última vez no Outubro Rosa de 2019, durante uma atividade programada na Praia de Copacabana pela Comissão de Defesa da Mulher da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). De lá para cá, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) alega que o serviço está em fase de licitação.

Na noite de 30 de setembro, nas escadarias do Palácio Tiradentes para a abertura oficial do Outubro Rosa da Alerj, deputadas estaduais cobraram a reativação do equipamento. Procurada pelo Portal ViDA & Ação no dia seguinte (1º de outubro), por meio de sua assessoria de imprensa, a SES não se manifestou oficialmente, nem em contatos posteriores. De modo informal, a Redação foi informada de que o equipamento está recolhido no quartel do Corpo de Bombeiros em Guadalupe, aguardando o processo de licitação.

Entre idas e vindas, o Mamógrafo Móvel – um caminhão adaptado com diversos equipamentos, que foi adquirido pelo poder público em 2014 – , parou de realizar viagens inicialmente em razão da crise financeira do Estado do Rio. No Dia D do Outubro Rosa, em 2017, o Governo anunciou que a unidade itinerante voltaria a percorrer diversas cidades e bairros onde as mulheres têm dificuldade de fazer mamografia, ultrassonografia e biópsia – exames considerados essenciais para a detecção precoce do câncer de mama. Exames também são oferecidos no Rio Imagem, no Centro do Rio.

42 municípios do Estado não têm mamógrafo

Mamógrafo móvel na Praia de Copacabana em ação promovida pela Alerj em 2019 (Foto: Júlia Passos)

A população de 42 municípios do estado que não possuem mamógrafo podia ter acesso ao exame por meio do Mamógrafo Móvel. O serviço itinerante era levado para cidades-pólo, a partir das quais todas as secretarias municipais de saúde de cada região eram mobilizadas para atrair a população até os locais.

Um levantamento da Sociedade Brasileira de Mastologia mostra que, dos equipamentos de mamografia em uso atualmente no Estado do Rio de Janeiro, apenas 184 atendem o Sistema Único de Saúde (SUS). Na cidade do Rio, apenas 42 do total de 207 mamógrafos existentes funcionam na rede pública.
Em Macaé, nenhum dos 15 equipamentos de exame serve ao SUS. Municípios como Arraial do Cabo, Armação dos Búzios, Itaguaí, Japeri, Maricá, Miguel Pereira, Paraty e Piraí não há nenhum mamógrafo. “Quantas vidas perdemos e quantas vamos perder pela falta do exame? Alguma dúvida sobre qual é a classe e da cor dessas vítimas?”, questiona a a deputada Renata Souza (PSOL), que levantou os dados junto à SBM.
Ao Portal ViDA & Ação, as deputadas estaduais Enfermeira Rejane (PCdoB) e Martha Rocha (PDT) se manifestaram. “Absurdo!!! Já acionei até o governador (Claudio Castro). Vamos fazer um requerimento de informações”, disse a Enfermeira Rejane, que preside a Comissão em Defesa da Mulher da Alerj. “Vou questionar o secretário estadual de Saúde (Alexandre Chieppe)”, disse a deputada Martha Rocha, presidente da Comissão de Saúde da Alerj.

Na última vez em que o Mamógrafo Móvel circulou, em 6 de outubro de 2019,  cerca de 60 atendimentos foram realizados na Praia de Copacabana. Na ocasião, Vera Lúcia, de 67 anos, moradora da Rocinha, conseguiu realizar seu exame de mamografia. “Faço um trabalho na favela onde nasci e fui criada para conscientizar as mulheres a se cuidarem. Eu já fiz meu exame, espero que mais mulheres também consigam fazer e que surjam mais caminhões como este para ajudar a nós mulheres”, afirmara.

RJ é o segundo em casos de câncer de mama

Segunda unidade da federação em casos e mortes por câncer de mama, o Estado do Rio de Janeiro não tem muitos motivos para comemorar esse Dia Mundial de Conscientização sobre o Câncer de Mama (19 de outubro). Sequer uma programação foi montada para marcar a data e o Outubro Rosa, mês dedicado à prevenção da doença e também do câncer de colo de útero. Os dois tipos de tumor podem ser tratados e curados se houver diagnóstico precoce.

De acordo com diversos especialistas, sociedades médicas e o próprio Instituto Nacional do Câncer (Inca), a realização de mamografia é importante na identificação precoce da doença e reduz significativamente o risco de mortalidade.  Desde 2012, com a aprovação da Lei 12.732, o tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS) deve começar em até 60 dias após o diagnóstico, independentemente da região do paciente.

O Ministério da Saúde recomenda que mulheres entre 50 e 69 anos façam o exame a cada dois anos, mas alguns especialistas defendem que o intervalo seja de um ano – há controvérsias. De acordo com dados do Inca, são esperados anualmente no Brasil mais de 66,2 mil novos casos de câncer de mama. Apesar de raro em homens, o câncer de mama também acomete a população masculina, representando 1% do total de casos.

Nossas perguntas sem respostas

1 – Deputadas estaduais denunciaram, em ato no Palácio Tiradentes, que o mamógrafo móvel está desativado por falta de licitação. Se confirmada a denúncia, quando venceu o último contrato e pq não foi renovado ou relicitado? E se não o foi ainda, quando será?
2 – Em que anos e quantos exames foram realizados respectivamente em cada um deles? Isso se refletiu em menores registros da doença no estado?

3 — 2019 foi o último ano em que unidade itinerante circulou? Quantos atendimentos pelo mamógrafo móvel foram feitos e em quais cidades naquele ano?

4 – Quantas cidades do Estado não possuem mamógrafo?
5 – Como é feito o agendamento de mamografias no RioImagem e quantos exames de mamografia e ultrassonografia têm de sido feitos lá?
6 – Quais são as políticas desenvolvidas atualmente pela SES para enfrentamento do câncer de mama, câncer do colo do útero e demais tumores ginecológicos?
4 – Qual a programação da SES para Outubro Rosa e quais serviços à população serão oferecidos?

*Atualizado em 28/10/21

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