Muitas doenças oncológicas são potencialmente evitáveis e, mesmo assim, o câncer é a segundo maior causa de morte no mundo, com mais de 10 milhões de óbitos nos cinco continentes, segundo o Globocan, do Instituto de Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS). Apesar dos inúmeros avanços da medicina, estudos preveem que, até 2030, os diversos tipos de cânceres ultrapassarão os problemas cardiovasculares, chegando ao posto de principal causa de morte por doença em todo o mundo.

No Brasil a situação é preocupante. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca) são previstos 704 mil novos casos de câncer para cada ano do triênio 2023-2025. Ao comparar-se com os números do triênio 2020-2022, quando eram esperados 625 mil novos casos por ano, observa-se que a expectativa é que tenhamos 79 mil casos acrescidos anualmente, ou seja, 237 mil novos casos a mais na somatória dos próximos três anos.

Os tipos mais incidentes são os cânceres de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelo câncer de mama (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%). Embora preveníveis, passíveis de serem diagnosticados precocemente e até mesmo evitáveis em muitos casos, os cânceres que surgem em órgãos como mama, próstata, intestino grosso e reto (colorretal), pulmão e colo do útero continuam na lista dos mais incidentes, excetuando-se o mais comum, o câncer de pele não melanoma.

Conheça a lista dos 10 tipos de câncer mais incidentes estimados para 2023 por sexo, exceto o de pele não melanoma*.

HOMENSMULHERES
Localização primáriaCasos%Localização primáriaCasos%
Próstata71.73030,0%Mama feminina73.61030,1%
Cólon e Reto21.9709,2%Cólon e Reto23.6009,7%
Pulmão18.0207,5%Colo do útero17.0107,0%
Estômago13.3405,6%Pulmão14.5406,0%
Cavidade Oral10.9004,6%Glândula Tireoide14.1605,8%
Esôfago8.2003,4%Estômago8.1403,3%
Bexiga7.8703,3%Corpo do útero7.8403,2%
Laringe6.5702,7%Ovário7.3103,0%
Linfoma não Hodgkin6.4202,7%Pâncreas5.6902,3%
Fígado6.3902,7%Linfoma não Hodgkin5.6202,3%

Fonte: Inca

Tipos de câncer preveníveis e diagnosticáveis

Excluindo os casos de câncer de pele não melanoma, os cânceres mais comuns em homens (próstata) e em mulheres (mama feminina) representam três entre 10 casos. Para ambos, há políticas de rastreamento, que incluem, para diagnóstico dos tumores prostáticos, o exame de antígeno prostático específico (PSA) e toque prostático. Para rastrear o câncer de mama é indicada a mamografia, podendo ser complementada pelo ultrassom.

câncer de cólon/intestino grosso e reto (colorretal) é o segundo mais comum tanto em homens, quanto em mulheres. Mais que fazer o diagnóstico precoce, o rastreamento com colonoscopia é capaz de evitar a doença. Por meio do exame é possível retirar pólipos, grudados na parede do intestino, que – caso não fossem expelidos – poderiam evoluir para câncer. O rastreamento inclui o exame de sangue oculto nas fezes.

câncer de pulmão é o terceiro mais incidente em homens e quarto em mulheres. Embora não seja uma política de rastreamento no Brasil, evidências apontam que o exame de tomografia de baixas doses em fumantes reduz as taxas de mortalidade pela doença. Já o câncer de colo do útero, tumor ginecológico mais comum, é uma doença evitável por meio de vacina contra HPV e exame de Papanicolau.

Oportunidade para diagnóstico precoce de outros tumores

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Héber Salvador, aponta a necessidade de ampliar medidas de rastreamento de outros tipos de câncer.

“Olhando para os demais cânceres que estão entre os dez mais comuns em cada gênero enxergamos também uma janela de oportunidade de diagnóstico precoce por meio de endoscopia (estômago e esôfago), de atuação já na cadeira do dentista (cavidade oral) e atenção aos sintomas de tumores como ovário e bexiga. E a principal mensagem, que é a da prevenção primária, por meio de hábitos de vida que evitem os fatores de risco”, ressalta. 

Embora exames de rastreamento como colonoscopia e mamografia tenham apresentado uma retomada em 2022, é preocupante a queda registrada nos dois primeiros anos da pandemia.

“Mesmo no ano passado, com um aumento em relação a 2021 e 2020, ainda não chegamos ao mesmo patamar de exames de rastreamento que registrávamos até 2019. E vale alertar que, antes das pandemia, já predominava o diagnóstico tardio. É um gargalo que precisamos, todos juntos, resolver”, reforça Héber Salvador.

SBOC defende prevenção e agilidade no diagnóstico e tratamento da doença

Diversas instituições ao redor do mundo chamam a atenção para o Dia Mundial do Câncer (4 de fevereiro)– data criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) para conscientizar a população sobre esse conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células.

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) aproveita a data para alertar a população e os tomadores de decisão sobre as medidas de prevenção, rastreio e tratamento do câncer cientificamente eficazes. “Se identificado em estágios iniciais, vários tipos de câncer podem apresentar boas chances de cura”, lembra o presidente da SBOC, Carlos Gil Ferreira.

“Embora as causas do câncer sejam multifatoriais, sabemos que existem diversas medidas eficazes de redução do risco, como proteger-se do sol em excesso, controlar a obesidade, praticar atividade física, vacinar-se contra o HPV, evitar o tabagismo e o consumo exagerado de álcool e alimentos ultraprocessados”, enfatiza o presidente da SBOC. “Ao estimularmos essas práticas preventivas, contribuímos para diminuir o surgimento de novos casos de câncer e, consequentemente, o número de mortes”, acrescenta.

Por mais agilidade na rede pública de saúde

O especialista defende também mais agilidade nos atendimentos oncológicos no sistema público de saúde. A Lei 13.896/19, por exemplo, assegura aos pacientes com suspeita de câncer o direito à realização de exames no prazo máximo de 30 dias no Sistema Único de Saúde (SUS), e um adendo à essa lei estipula o início do tratamento em no máximo 60 dias a partir do diagnóstico. Porém, ainda não vemos essas medidas sendo realizadas na prática em todo o país. “Há muitos entraves que impedem a rapidez no atendimento ao câncer – uma doença que não pode esperar”, comenta Dr. Carlos Gil.

Um estudo divulgado no The British Medical Journal, de 2020, revelou que, a cada quatro semanas de atraso no tratamento do câncer, o risco de morte aumenta em até 13%. “Com uma nova gestão do Ministério da Saúde, nossa esperança é a de que o governo federal trabalhe com um olhar especial para a área da oncologia, garantindo a incorporação e a aplicação de novas terapias para enfrentamento da doença em todo o território nacional”, afirma o oncologista clínico.

Cirurgia oncológica por ser o único tratamento

O presidente da SBCO aponta que 80% dos casos de câncer vão necessitar de alguma cirurgia no transcurso da doença. “A cirurgia oncológica é uma das principais ferramentas para a cura dos tumores sólidos e pode ser o único tratamento em casos diagnosticados mais precocemente. Nesta situação, as taxas de cura são superiores a 90%”, afirma Héber Salvador.

De fato, dados da OPAS/OMS apontam que 70% das mortes por câncer ocorrem em países de baixa e média renda; 40% dos casos poderiam ser prevenidos evitando fatores de risco.

“A Ciência e a Medicina apresentam um histórico de evolução constante em relação a diagnóstico, tratamento e cura de muitas doenças oncológicas. O desafio é fazer este arsenal estar disponível para todos, o que ainda não acontece no Brasil”, afirma Héber.

Outro obstáculo é a falta de informação sobre câncer e pior ainda quando há desinformação patrocinada pela divulgação de fake news, ressalta o presidente da SBCO.

“Nesse cenário o tema deste ano do World Cancer Day nos instiga a refletir sobre a importância de democratizar o acesso à saúde e à informação sobre as doenças oncológicas, como estratégia para diminuir a incidência de todos os tipos de cânceres”, diz.

Por cuidados mais justos

Os números e dados evidenciam a urgência do slogan da campanha World Cancer Day, liderada pela Union for International Cancer Control (UICC). Assim como no passado, o lema é “Close the care gap / Por Cuidados mais justos”, sendo que as principais metas são:

oferecer equidade no acesso ao cuido oncológico;

prevenção e redução de risco;

conscientizar e descontruir mitos e desinformação;

promover ações governamentais;

propiciar bem-estar físico, com impacto mental e emocional;

salvar vidas de forma custo-efetiva;

reduzir as lacunas de habilidade/formação profissional; e

trabalhar junto, como um só.

SBCO e SBOC se mobilizam em diversas frentes

Neste movimento global, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) atua em diferentes frentes, lideradas pela campanha Não dá para esperar. Cuide-se. O câncer não ficou de quarentena. São ações, ao longo de todo o ano, aplicadas com o propósito de conscientizar a população a estar atenta aos sinais do corpo, aos exames indicados para sua faixa etária e, aos pacientes oncológicos, o alerta é que não negligenciem o tratamento.

“Muito além do 4 de fevereiro, a SBCO está em movimento permanente, abraçando as demais campanhas que já são tradicionais ao abordar tipos específicos de câncer, como o Março Azul, Julho Verde, Agosto Branco, Setembro Lilás, Outubro Rosa, Novembro Azul e Dezembro Laranja. Além disso, temos também a tradicional Ação Nacional de Combate ao Câncer da SBCO em todos os meses de novembro”, detalha Héber Salvador.

Desde sua criação, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) tem atuado em diferentes frentes como incentivo à formação e à pesquisa na área oncológica, educação continuada de médicos e outros profissionais que atuam contra o câncer, políticas de saúde, defesa profissional, relações nacionais e internacionais.

A entidade produz e atualiza anualmente Diretrizes com recomendações terapêuticas inteiramente baseadas em evidências clínicas e direcionadas aos médicos oncologistas, assim como materiais informativos sobre prevenção do câncer para a população em geral.

Mensagens-chave do World Cancer Day

câncer é a segunda principal causa de morte no mundo.

10 milhões de pessoas morrem de câncer todos os anos.

Mais de 40% das mortes relacionadas ao câncer poderiam ser evitáveis, pois estão ligadas a fatores de risco modificáveis, como tabagismo, uso de álcool, má alimentação e inatividade física.

Quase pelo menos um terço de todas as mortes relacionadas ao câncer poderiam ser evitadas por meio de exames de rotina, detecção precoce e tratamento.

70% das mortes por câncer ocorrem em países de baixa a média renda.

Milhões de vidas poderiam ser salvas a cada ano com a implementação de estratégias apropriadas de recursos para prevenção, detecção precoce e tratamento.

O custo econômico anual total do câncer é estimado em US$ 1,16 trilhão.

Sinais e sintomas de câncer

Com tantos tipos diferentes de câncer, os sintomas são variados e dependem de onde a doença está localizada. No entanto, existem alguns sinais e sintomas importantes a serem observados, incluindo:

Nódulos ou inchaço incomuns – nódulos cancerígenos geralmente são indolores e podem aumentar de tamanho à medida que o câncer progride.

Tosse, falta de ar ou dificuldade para engolir – fique atento a episódios persistentes de tosse, falta de ar ou dificuldade para engolir.

Alterações no hábito intestinal – como constipação e diarreia e/ou sangue encontrado nas fezes.

Sangramento inesperado – inclui sangramento da vagina, passagem anal ou sangue encontrado nas fezes, na urina ou ao tossir.

Perda de peso inexplicável – uma grande quantidade de perda de peso inexplicável e não intencional durante um curto período de tempo (alguns meses)

Fadiga – que se manifesta como um cansaço extremo e uma forte falta de energia. Se a fadiga for causada por câncer, os indivíduos normalmente também apresentam outros sintomas

Dor ou ardência – inclui dor inexplicável ou contínua, ou dor que vem e vai.

Complicações ao urinar – inclui a necessidade de urinar com urgência, com mais frequência, ou ser incapaz de ir quando precisa ou sentir dor ao urina

Alterações incomuns da mama – procure alterações no tamanho, forma ou sensação, alterações na pele e dor.

Perda de apetite – sentir menos fome do que o habitual por um período prolongado de tempo.

Uma ferida ou úlcera que não cicatriza – incluindo uma mancha, ferida ou úlcera na boca.

Azia ou indigestão – azia ou indigestão persistente ou dolorosa.

Suores noturnos intensos – esteja ciente de suores noturnos muito intensos e encharcados.

Alterações na pele – atenção se a alguma pinta ou mancha altera o seu padrão. Para tanto, uma espécie de autoavaliação leva em conta a Assimetria (se o formato for irregular é motivo de alerta), Bordas (irregularidade também requer atenção), Cor (observe se o sinal tem coloração uniforme ou apresenta mais de uma tonalidade), Dimensão (sinais na pele maiores que seis milímetros requerem atenção máxima. Isso porque, em geral, pintas benignas não ultrapassam essa dimensão) e Evolução (a evolução da pinta, ou seja, quando ela muda de tamanho, cor e formato com o tempo, muitas vezes, de forma veloz, requer bastante atenção).

  • Fonte: SBCO e SBOC
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