Até muitas feministas estão se rendendo a ‘Barbie’, o filme sobre a icônica boneca que se tornou padrão de beleza feminino. Mas o live-action que tem feito sucesso nos cinemas nos últimos dias não é um longa-metragem infantil. O longa não tem classificação livre e não é indicado para crianças menores de 12 anos. O Conar [Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária] indicou o filme para maiores de 12 anos por ter cenas que são consideradas impróprias para crianças menores, como alguns atos violentos e diálogos com teor adulto.

A classificação indicativa poderia ser ainda maior, mas Margot Robbie e a equipe criativa buscaram construir uma Barbie sem sensualidade. “Ela é uma boneca de plástico, ela não tem órgãos. Eu acho que ela não deveria [sentir desejo sexual]. Ela é sexualizada, mas nunca deveria ser sexy”, a atriz explicou em entrevista à Vogue.

A educadora parental Stella Azulay concorda com a restrição e acha que, mesmo acompanhadas dos pais, as crianças não devem assistir. “O motivo é que as personagens abusam do humor ácido e o filme traz reflexões sobre equidade de gênero e patriarcado, tópicos que são mais bem compreendidos por públicos adultos”. No entanto, ela recomenda o live-action para qualquer homem ou marido. “Para que eles tenham noção da imensa distância que precisamos diminuir em termos de equidade de gênero”.

A educadora levantou três questões apontadas pelo filme:

1) Desigualdade de gênero

No filme, a educadora aponta situações em que a mulher ainda é vista como frágil e dependente dos homens. “O filme traz a reflexão sobre o quanto ainda as mulheres são tidas como frágeis, e os homens, como poderosos. O mundo é dos homens”, assinala.

Apesar dos avanços em questões de gênero, ainda há muito a ser feito, argumenta Azulay. “O filmeBarbie’ grita na nossa cara o quanto ainda estamos longe de uma situação de relação igualitária. E isso não tem a ver com feminismo, tem a ver simplesmente com preconceitos enraizados.”

2) Sobrecarga invisível

A educadora chama atenção para um tema que considera bastante sensível, a sobrecarga invisível – as tarefas domésticas e familiares pouco valorizadas que, culturalmente, acabam recaindo sobre as mulheres.

“A mulher está cansada e sobrecarregada. O trabalho invisível é dela e ninguém percebe, não existe qualquer tipo de reconhecimento, nem da própria mulher”, argumenta.

A sobrecarga invisível é um dos enredos centrais e, para a educadora, o filme acerta ao trazer a questão para os holofotes. “As mães e mulheres que trabalham fora ou  não trabalham fora, acumulam as tarefas domésticas e isso ninguém aplaude. E isso cansa muito, suga as nossas energias”, destaca.

3) Estereótipo feminino

Outra mensagem importante do filme é a criação de expectativas irreais geradas por estereótipos femininos, detalha a especialista. Desde seu lançamento, há décadas, a boneca Barbie original possui atributos de beleza considerados inalcançáveis para muitas meninas – loira, olhos azuis e esbelta – e que estão por trás de um sentimento de inadequação.

Para Stella Azulay, tão prejudicial quanto querer corresponder a um estereótipo é se tornar um, mesmo de forma inconsciente.

“A Barbie da atriz principal (Margot Robbie) seria a Barbie perfeita, mas foi chamada no filme de estereotipada. E a Barbie estereotipada como perfeita, chora, fica triste, tem pensamentos sobre morte e se culpa por entender que talvez tenha trazido confusão para o universo da Barbielândia. No final das contas, o que  ela desejava mesmo era ser comum”, argumenta.

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Tsunami rosa já levou 1,2 milhão de pessoas aos cinemas

Cerca de 1,2 milhão de pessoas lotaram as salas de cinema de todo o país para ver o filme da boneca mais famosa do mundo. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), o long-action já conquistou a maior pré-venda de ingressos na história da Warner no Brasil e se tornou a segunda maior abertura de quinta-feira dos últimos tempos, ficando atrás apenas de Vingadores Ultimato.

A renda ultrapassou a casa dos R$ 22 milhões. Mas os resultados ainda estão abaixo dos resultados apresentados antes da pandemia, que registraram média anual de 170 milhões entre 2017 e 2019. Hoje, o número de lançamentos é, ainda, 30% inferior ao do cenário pré-pandemia.

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