A pandemia da Covid-19 encontra-se atualmente em uma segunda onda bastante agressiva infectando milhões de brasileiros e fazendo com que entidades discutam com veemência os grupos prioritários para a vacinação. Existem comorbidades que já estão cristalizadas como potenciais fatores determinantes para que a doença se agrave, como obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes. No entanto, uma nova condição tem sido alvo de discussões quanto a seu risco para o contágio pelo Coronavírus.
O grupo Genit, de Estudos de Neuroinflamação e Neurotoxicologia da Uece, a Universidade Estadual do Ceará, publicou o trabalho “Como os Distúrbios do Espectro do Autismo Podem Ser Um Fator de Risco Para a Covid-19?“, que analisou possibilidades de pacientes com graus de autismo serem classificados como grupo com maiores chances de desenvolver um caso preocupante de Covid-19.
De acordo com Erasmo Barbante Casella, chefe do Departamento de Neurologia Infantil do Instituto da Criança HCFMUSP e membro do conselho da ONG Friendship Circle, a maioria dos indivíduos com TEA (Transtorno do Espectro Autista) não apresenta deficiência imunológica, embora isso possa ocorrer em algumas síndromes que podem estar associadas a este transtorno, como a Síndrome Velo-cárdio-facial e a Síndrome de Down.
“Nos últimos anos têm surgido estudos demonstrando alterações no sistema de regulação humoral em alguns grupos com TEA, que não necessariamente implicaria em uma resposta anormal diante do Coronavírus”.
Dr. Erasmo ainda afirma que pessoas com TEA têm, também, mais propensão a comorbidades como problemas gastrointestinais, alergias, asma, doença celíaca e outras doenças autoimunes, que poderiam estar associadas às alterações citadas de regulação imunológica”.
O médico diz que as vacinas ainda não estão liberadas para crianças e que também não é fácil para os responsáveis pelas políticas públicas decidirem por prioridades deste ou aquele grupo, lembrando o movimento dos motoristas de ônibus, que ocorreu recentemente, expondo os riscos que eles estão expostos no dia a dia.
“As crianças com TEA apresentam características que predispõem a maiores riscos de contaminação, como dificuldade para controle em tocar em objetos que possam estar contaminados, frequentemente não aceitarem o uso de máscaras, além de levarem as mãos à boca com muita frequência”.
O médico também frisa que o contato diário com pacientes com este transtorno e familiares e todas as dificuldade apresentadas, faz com que ele fique sensibilizado e que assim, ”gostaria que eles tivessem prioridade na fila de vacinação, assim como outras categorias mais suscetíveis, desde que seja demonstrada a segurança da vacina para crianças”.
Dr. Casella também destaca (em relação a obrigatoriedade do uso de máscaras) a lei federal 14.019 de 2 de julho de 2020, que estabelece que os portadores de TEA sejam dispensados do uso do utensílio em ambientes públicos, mediante apresentação de atestado médico. Para ele, também está claro que esta quarentena estendida é bem mais desafiante para as crianças com TEA.
‘Tenho acompanhado de perto este grupo e vejo que o comportamento destas crianças piorou com a quarentena. Um grande número de crianças está mais irritada, inclusive os pais. Assim, recomendo muita paciência e que os pais ou adultos responsáveis usem da criatividade para propor atividades lúdicas como pintura, jogos e música,procurando ocupar melhor o tempo das crianças e disponibilizando uma maior interação”, afirma.