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Aulas de cidadania digital contra o discurso de ódio nas escolas

Diante do aumento de denúncias de discurso de ódio na Internet e do número crescente de casos de cyberbullying, conforme dados da Central Nacional de Denúncias da Safernet Brasil, a Disciplina de Cidadania Digital, que já faz parte da Base Nacional Comum Curricular, tem ganhado ainda mais relevância. A disciplina já está em salas de aulas de 140 escolas, de 113 cidades, beneficiando mais de 10 mil estudantes, de 12 estados brasileiros.

Criada pela Safernet, em parceria com o Governo do Reino Unido, a disciplina é apresentada no curso EAD “Segurança e Cidadania Digital em sala de aula”, voltado para educadores do ensino básico de todo o país. As inscrições gratuitas para o curso estão abertas. A próxima turma começa dia 30 de outubro. Inscreva-se.

Nos últimos meses, o curso EAD esteve disponível para educadores do ensino médio e dos dois últimos anos do fundamental de escolas e redes que haviam aderido ao programa e estão replicando em sala de aula as sugestões de atividades práticas sobre temas como uso seguro e cidadão das redes numa linguagem que o jovem entenda.

Nessa primeira fase, 545 professores em 9 estados se inscreveram no curso. Santa Catarina, Minas Gerais e Ceará foram os estados com mais adesões. O curso EAD foi criado para preparar professores e outros profissionais da educação para que possam apoiar seus alunos no enfrentamento de situações sensíveis online e também no uso mais seguro e saudável das tecnologias.

Durante o curso, os educadores têm acesso a uma navegação guiada ao caderno de aulas da Disciplina de Cidadania Digital, que oferece planos de aulas completos sobre os temas. Ao navegar pelo conteúdo, eles podem compreender as principais reflexões e conceitos de segurança e cidadania digital, além de dicas para as metodologias ativas e recursos que podem ser experimentados antes de aplicados em sala de aula.

O objetivo é fornecer aos profissionais da educação que o concluírem as ferramentas e conhecimentos necessários para que possam preparar estudantes para enfrentar os desafios e as oportunidades do mundo digital. O curso é destinado a professoras(es), orientadoras(es), gestoras(es) e outras equipes pedagógicas de escolas e secretarias de educação. Também podem se inscrever educadoras(es) sociais de ONGs e projetos que trabalham com adolescentes.

Disponível na plataforma Moodle da Safernet, o curso é autoinstrucional e possui 40 horas/aula. O interessado navega pelos módulos no tempo que tiver disponível e tem 60 dias para concluir as atividades. Um certificado é oferecido aos participantes do curso. O documento é emitido diretamente da plataforma, após a conclusão das avaliações.

“Criar uma cultura de ensino para o uso seguro e consciente da internet e das tecnologias em toda a educação básica já é uma previsão da Base Nacional Comum Curricular e do Marco Civil da Internet. O curso permitirá que mais educadores estejam capacitados para este desafio”, afirma Guilherme Alves, gerente de projetos da Safernet Brasil e coordenador do programa.

Material ajuda professor de Filosofia a debater o uso da internet de forma crítica com alunos

Atualmente, 976 educadores, de 23 estados, estão inscritos. Santa Catarina é o estado com o maior número de educadores inscritos no curso EAD em todo o país: 262, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação. Professor de Filosofia, Ricardo Custódio Machado é um dos professores que já estão usando o material da Disciplina de Cidadania Digital ou a aplicando diretamente em sala de aula pelo Brasil.

Ele conta que encontrou no material a inspiração que faltava para cumprir os objetivos do componente curricular de Cultura Digital, que está sob seu encargo no ano letivo de 2023, na Escola de Educação Básica João Colodel, na pequena cidade de Turvo, de 13 mil habitantes, no sul de Santa Catarina.

“Tive excelente instrução, o curso foi maravilhoso. Ao pensar a cultura digital como disciplina, eu entendi que a Filosofia seria útil para os estudantes, para ajudá-los a analisar a mídia e os meios digitais de forma crítica”, contou Machado.

Ele participou do debate online “Diálogos Transformadores: preparando educadores para os desafios da cidadania digital”, realizado nesta quarta-feira (18) pela Safernet, para marcar o lançamento do curso EAD, voltado para educadores, “Segurança e Cidadania Digital em Sala de Aula”, que os capacita para ministrar a disciplina criada pela ONG.

Segundo Machado, conhecer o material da Safernet o ajudou a pensar as aulas de forma criativa e numa linguagem que “os alunos estão compreendendo e adorando” e ele reforça que professores de qualquer disciplina podem conhecer o material e ministrá-la.

A educadora Renata Abranches, coordenadora do Núcleo de Tecnologia Educacional da Superintendência Regional de Ensino de Itajubá – MG, coordenou a mobilização para que os professores de sua região se inscrevessem no curso. Somente na regional de Renata, 196 professores se matricularam no curso EAD Segurança e Cidadania Digital em Sala de Aula.

Renata também participou do debate, concorda com Machado que a disciplina ajuda o professor na preparação de aulas. Ela defende que os educadores façam o curso independente de ministrar a disciplina de Cidadania Digital ou não.

“Os professores que fazem o curso ficam mais bem preparados e mais empoderados para essas situações do dia a dia que afetam toda a comunidade escolar. Com a capacitação, temos professores com possibilidades ampliadas de planejamento de aulas. São professores e alunos que agora usam a tecnologia em sala de aula e de forma correta, pois, a partir do momento que ele tem esse conhecimento, esse assunto é ampliado para a comunidade escolar como um todo”, afirma.

Mural das Emoções: atividades dispensam computador e internet

Mural das Emoções é uma das atividades do curso de segurança e cidadania digital nas escolas (Foto: Divulgação)

Uma dos aprendizados citados pelo professor Ricardo com o material da Safernet é que é possível falar de cidadania digital ainda que a escola não tenha uma boa conectividade ou um super laboratório de informática.

Uma das atividades sugeridas no curso da disciplina e que ele aplicou em sala de aula não requer computador, nem internet. Para fazer o Mural das Emoções, o professor e seus alunos precisaram apenas de uma folha grande de papel pardo e notas adesivas coloridas.

Na atividade, os alunos escreveram nas notas que emoções lhe causavam certas atividades ou conteúdos que eles acessam nas redes. A partir disso, podem refletir sobre como nosso tempo online afeta nossa saúde mental e de que forma podemos criar rotinas digitais mais saudáveis.

Em outra aula, os alunos foram divididos em grupos e discutiram quais regras deveriam ser observadas por outros jovens ao usar redes sociais e aplicativos de internet. A partir disso elaboraram uma “bula”, onde descreviam a rede ou app, como ele funciona, indicações, contra-indicações e efeitos colaterais.

“A cidadania digital não precisa estar ligada a tecnologia em si, nem ser na sala de informática. Você pode trabalhar o conteúdo com todos os tipos de materiais”, explicou o professor.

O resultado de todo esse conjunto de boas práticas é que os alunos participam das aulas com grande atenção. “Eles demonstram interesse e realizam tudo com empenho, pois são coisas ligadas à sua vida diária, Eles já nasceram nas redes”, conta o professor. Com o avançar das aulas são os alunos que começam a sugerir temas para serem trabalhados e também filmes e séries para verem juntos e analisarem conforme o que aprenderam.

A análise crítica que o professor tanto esperava surgiu em diversas das atividades. Numa delas os alunos foram convidados a refletir sobre como se viam nas redes. “Sou a mesma pessoa na vida real? Se não sou, talvez isso não seja bom. Se eu tiro os filtros eu viro outra pessoa?, contou Ricardo Machado sobre alguns pensamentos surgidos em sala de aula. Filosófico, não?

Fonte: Safernet Brasil

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